Se usaram uma garrafa de plástico
na semana passada
e não a reciclaram,
há uma forte hipótese
de que, daqui a 450 anos,
essa garrafa de plástico
ainda esteja neste planeta.
Isso porque investigadores da NOAA
descobriram há pouco tempo
que demora uns assustadores 450 anos
para uma garrafa de PET,
politereftalato de etileno
uma garrafa de PET,
se decompor totalmente.
Posso imaginar a cena
daqui a 450 anos
quando qualquer pobre alma
apanhe a vossa garrafa do chão,
e se vire para falar com um amigo.
Pode ser qualquer coisa do género:
"Ei, mano" — eles ainda dizem mano,
daqui a 450 anos —
"Acreditas nisto?
"Espera aí, eles usaram
um recurso natural finito,
"combustíveis fósseis,
"e transformaram-no num recipiente
"que só usaram uma vez?"
"E, depois de terem
usado esse recipiente,
"deitaram-no fora?
"Isto é de loucos!
"Que raio de civilização
avançada faz isso?"
Acho que vão procurar uma explicação.
Se eu quisesse oferecer-lhes
uma explicação,
virava-me para este logotipo.
Um logotipo que sempre nos rodeou
desde que andávamos na primária,
uma coisa que vemos todos os dias.
É o logotipo da reciclagem, claro,
e foi criado em 1970
por um estudante universitário
chamado Gary Anderson
que andava na Universidade
da Califórnia do Sul.
A reciclagem estava a aparecer
"online" nessa época
e ele queria arranjar uma forma
de descrever esse sistema
que fosse este tipo de laço fechado.
Percebem, um sistema
em que tudo no seu interior
fosse usado vezes sem conta.
Teríamos um mundo sem desperdícios.
Parece ótimo e sentimo-nos
muito bem, segundo penso,
quando vamos ao ecoponto
e colocamos as coisas ali.
Mas o problema com esta imagem
é que isto é uma mentira.
Porque hoje, só cerca de 30%,
30% das garrafas de plástico PET
usadas neste país são recicladas.
Isso significa que 70% dessas garrafas
acabam em aterros, nos nossos rios,
e, por fim, nos oceanos.
Isto está a contribuir
para um problema de proporção épica.
Os cientistas disseram e previram
que, em 2050,
pode haver mais plástico
nos oceanos do que peixes,
o que é uma loucura.
Se pensarmos em todo o plástico
que por aí anda,
um dos problemas é que as partículas
estão a acabar no abastecimento de água.
Microplásticos.
Um estudo que foi realizado recentemente
mostrou que 94% da água da torneira
analisada neste país
continha microplásticos.
Estamos a bebê-los.
Por outras palavras, não é uma coisa
que exista apenas nos oceanos.
É uma coisa que já está dentro de nós.
É uma coisa que temos de perceber.
Como acabamos com esta praga
da poluição do plástico que enfrentamos?
Para responder a isto, vou sugerir
que não precisamos duma nova tecnologia
nem um novo artefacto
para resolver este problema.
Precisamos é de uma melhor
compreensão do nosso passado,
uma melhor compreensão da história.
Quando penso em recipientes de plástico,
penso que não há melhor história
do que a história desta empresa,
a Coca-Cola Company.
Passei 10 anos a viajar pelo mundo,
para o Peru, a Índia, e não só,
para perceber a pegada ecológica
desta empresa
que começou na minha cidade natal.
E consegui.
É um ponto invulgar para começar
quando pensamos numa solução
para o problema do plástico.
Porque acho que, quando pensamos
na Coca-Cola, pensamos numa má empresa.
Este plástico, estas garrafas
que estão a produzir.
A Greenpeace, por exemplo,
disse que a Coca-Cola produz
uns 100 000 milhões
de garrafas de plástico por ano.
É cerca de 1/5 de todas as garrafas
de plástico, produzidas no planeta.
Portanto, fazem parte do problema.
Mas, se olharmos para o seu passado,
se nos virarmos
para a história da Coca-Cola
enterrada nos seus arquivos,
penso que há soluções para o futuro.
Então, recuemos para o passado
e façamos uma visita a John Pemberton
que foi o criador da fórmula da Coca-Cola.
John Pemberton era farmacêutico.
Chegou a Atlanta nos anos 70,
do século XIX,
a tentar enriquecer no mercado
da medicina patenteada.
Mas, infelizmente, o negócio
não singrou, por duas vezes.
Acabou na falência
no final dessa década.
Não parece o tipo
que vai ser a marca mais vendida
em todo o mundo, não é?
Parece alguém que nunca vai conseguir.
O que é que fazemos, quando não temos
sorte e queremos ganhar dinheiro?
Olhamos para o mundo e dizemos:
"Ok, qual é a bebida que é genial?
"Vou tentar imitá-la".
Foi o que John Pemberton fez.
Olhou para uma bebida, Vin Mariani,
vinda de França.
Chamava-se assim, devido
a um tipo chamado Angelo Mariani.
Vendia-se como milho.
Porque era um vinho de Bordéus,
um vinho tinto,
misturado com a folha de coca
da América do Sul
que tinha estado em infusão
com pequenas concentrações de cocaína.
Estamos a falar de um vinho
com infusão de cocaína.
(Risos)
Era estimulante
(Risos)
e muito revigorante.
O nosso presidente,
Ulysses S. Grant, bebia isso:
"Hum, faz-me sentir bem".
Claro que faz, Ulysses S. Grant,
contém cocaína.
(Risos)
E há outra coisa,
ele está ali a dizer que é muito bom.
Era como o Four Loko,
do século XIX, se pensarmos nisso.
Até o Papa bebia isto.
Se não são católicos, imaginem isto.
Se a comunhão tivesse Vin Mariani,
penso que passávamos todos
a ser católicos.
O azarento John Pemberton
a tentar imaginar como ganhar dinheiro
viu isso e pensou:
"Ok, vamos avançar com isto".
Isto é o precursor
do que virá a ser a Coca-Cola.
É o primeiro anúncio nos anos 1880.
Chamava-se o Vinho de Coca
de Pemberton.
Não era muito original,
copiava aquela bebida, o Vin Mariani.
Era um vinho tinto,
misturado com a folha de coca.
Mas tinha de conter algum vinho.
Tinha de ter pequenas
quantidades de cocaína.
Ele fabricou-a!
Esta ótima bebida vendia-se!
Mas havia um problema.
O problema não era a cocaína.
O problema era o álcool
porque a cidade de Atlanta aderiu
à proibição da venda de álcool em 1885.
Oh, meu Deus, ele arranjara
aquela ótima bebida
e agora tinha de desistir dela!
O que é que havia de fazer?
Vocês sabem o que é que ele fez:
criou a Coca-Cola.
É uma versão sem álcool,
uma versão moderada
daquela bebida inicial de vinho.
Tornou-se nesta coisa ótima,
anos mais tarde.
Pemberton não a meteu em garrafas.
Era vendida em máquinas de refrigerantes
em pequenos copos, como os que vemos aqui.
Nunca chegou a ver
esta bebida engarrafada
ou a vender-se mundialmente,
porque morreu.
É uma história triste.
Quando finalmente consegue, morre.
A pessoa que lhe sucede
é Asa Candler, o seu sucessor.
Este é o verdadeiro êxito da Coca-Cola.
Asa Candler é farmacêutico
que regista a Coca-Cola em 1892.
Vai criar esta ótima marca.
A propósito, Asa Candler,
era uma espécie de catequista
puritano, viciado no trabalho.
Esquadrinhei os arquivos
para encontrar a imagem
mais feliz de Asia Candler.
Este é Asa Candler, num dia feliz.
Este é Asa Candler a sorrir.
O importante aqui
é que, como Pemberton, estes tipos
estavam na Reconstrução do Sul.
Não tinham muito dinheiro.
Não tinham muito dinheiro,
por isso sabiam que a única forma
de poderem difundir esta bebida
era associarem-se a outras pessoas.
A brilhante ideia de Asa Candler
foi engarrafar a Coca-Cola.
Em 1899, toma a decisão
de engarrafar a Coca-Cola.
Isso iria mudar não só a Coca-Cola,
iria mudar o mundo,
criando uma das maiores redes
de distribuição
que o mundo já vira,
que se estendia do Alabama ao Zimbabué.
Era um sistema incrível.
Mas a única forma de funcionar
era se pequenos negociantes
em pequenas cidades em todo o país
e depois, em todo o globo,
avançassem com algum dinheiro
para criar as instalações
de engarrafamento nas caves,
em pequenos edifícios,
por todo o país.
Mais uma vez, eram pessoas
sem muito dinheiro.
Preocupavam-se com tudo,
com todos os custos, com as garrafas,
os trabalhadores, os camiões.
Tinham de pensar em tudo isso.
No que se referia à embalagem,
não podiam desperdiçar a embalagem.
Tinham de voltar a utilizá-la
vezes sem conta, para pouparem nos custos.
Portanto, usavam garrafas
de vidro reembolsáveis,
garrafas de vidro reembolsáveis
no início do século XX,
para pouparem nos custos.
E o segredo era este.
Como é que funcionava esse sistema?
Punham um depósito nessas garrafas.
Um depósito de um a dois cêntimos.
Se os consumidores devolvessem
a garrafa ao distribuidor,
recebia um ou dois cêntimos de volta.
Eram pagos!
Era um sistema incrível!
Funcionava.
Percorri os arquivos
para analisar este sistema.
Estamos a falar de cerca
de 80% de fornecedores de Coca-Cola
que usavam um sistema
de depósito, em 1929.
As revistas comerciais da época
diziam que a única coisa
"sã e lógica" a fazer
era pôr um preço na embalagem
se queríamos que ela fosse devolvida.
Naquela época,
a bebida vendia-se por cinco cêntimos.
Portanto, estamos a falar
de um depósito de dois cêntimos,
numa bebida de cinco cêntimos.
"Oiça. Estou a devolver isto!
Quero que me devolva dois cêntimos!
Uma margem de 40%. Incrível!
Tenho provas, nos anos 60,
que mostram garrafas
que fazem 40 ou 50 viagens
entre o fornecedor e o cliente.
A coisa funcionava realmente bem.
Então, o que aconteceu?
Nos anos 60 e 70,
a Coca-Cola começa a mudar
para as garrafas de usar e deitar fora
que temos hoje.
Primeiro, latas de aço,
depois latas de alumínio
e, por fim, garrafas de plástico,
nos anos 70.
Quando mudaram para este sistema,
disseram:
"Isto é uma nova era de automóveis.
As pessoas estão em movimento,
querem comodidade.
Querem poder pôr as embalagens
onde lhes apetecer.
Não precisamos de um sistema
de depósito ou de devoluções.
Vamos acabar com esses depósitos.
Como era de prever, o lixo começou
a empilhar-se por toda a parte,
nos parques nacionais,
nos rios, nos oceanos.
As pessoas disseram que havia um problema.
Mas a Coca-Cola, uma das indústrias
de bebidas mais influentes disse:
"Não se preocupem.
"porque há uma coisa chamada reciclagem",
que estava a surgir nos anos 70.
"É isso que vai tratar
de todos esses desperdícios.
"Não precisamos de um sistema de depósito.
"Essa tecnologia de reciclagem
pode recuperar tudo".
Foi uma aposta enorme.
Foi uma grande jogada.
Pensaram que compensaria.
Mas agora, os historiadores
podem olhar para quatro décadas de dados
e ver se essa jogada compensou.
Olhando para o final dos anos 90,
quando a reciclagem
avançava aqui a todo o vapor,
nos EUA, até hoje,
é esta a realidade do que aconteceu.
Não só a taxa de reciclagem
não subiu em flecha
quando começámos a impor
estes sistemas de reciclagem,
como diminuiu durante muitos anos.
Nos últimos anos, estamos
a assistir a uma estagnação
com esta taxa por volta dos 30%.
É um sistema numa crise total.
Estão a ver este ciclo?
Não é um ciclo.
Como é que consertamos isto?
Conhecemos as respostas, não é?
Sabemos, pela história, que,
quando pomos um preço na embalagem,
quando damos valor à embalagem,
ele será reclamado.
Não temos de adivinhar
se esse sistema funcionará hoje.
Podemos vê-lo em ação.
Refiro-me a Michigan,
no estado de Ohio.
Mas isto é Michigan a fazer
aqui uma coisa ótima.
Arranjaram um sistema
que disponibiliza locais de depósito.
Os cidadãos desse estado e do Maine
aprovaram os depósitos,
através da lei,
para dizerem que temos de pôr
um preço num recipiente.
Nesses estados, se entregarmos
esses recipientes,
recebemos algum dinheiro de volta.
Queria mostrar-vos que as taxas
já atingiram o máximo
— 80 a 90% de taxas de reciclagem.
Se formos à Dinamarca
ou à Alemanha,
— eu podia listar muitos países diferentes
cujas nações assumiram
adotar este sistema —
vemos que as taxas de reciclagem
atingiram o máximo.
Funciona.
Podemos pôr isso a funcionar
em toda a nação.
A Coca-Cola disse que, em 2030,
vão receber e reciclar todas as garrafas
que puserem no meio ambiente.
Esta é a promessa que fizeram
há pouco tempo.
Vão reclamar todos os recipientes.
Vai ser um mundo
sem desperdícios, é o que dizem.
E aplaudo-os por isso.
Há muitas pessoas
bem intencionadas nas empresas
que pensam nestas estratégias ótimas.
Mas o problema é que, em 2016,
já em 2016,
num documento empresarial divulgado
a Coca-Cola dizia que ia
"contrariar os sistemas de depósito
na União Europeia".
Meus amigos, não temos de esperar
que a Coca-Cola acorde.
(Risos)
Os cidadãos deste país
podem fazer uma escolha conscienciosa
para acabar com a prática inadmissível
de não pôr um preço na embalagem,
especialmente, de recursos finitos
como o plástico.
Se o fizermos, se aprendermos
com a História,
penso que faremos História.
Será uma história de que os nossos
descendentes se orgulharão
daqui a 450 anos.
Obrigado.
(Aplausos)