Vocês não as conhecem. Vocês não as veem. Mas elas estão sempre à nossa volta, sussurrando, fazendo planos secretos, organizando exércitos com milhões de soldados. Quando decidem atacar, atacam todas ao mesmo tempo. Estou a falar das bactérias. (Risos) De quem julgavam que eu estava a falar? As bactérias vivem em comunidades, tal como os seres humanos. Têm famílias, conversam, e planeiam as suas atividades. Tal como os seres humanos, iludem, enganam, e algumas até se enganam umas às outras. E se eu vos disser que podemos escutar as conversas das bactérias e traduzir essas informações confidenciais em linguagem humana? E se eu vos disser que essas conversas bacterianas traduzidas podem salvar vidas? Tenho um doutoramento em nanofísica e usei a nanotecnologia para desenvolver um instrumento de tradução em tempo real que pode espiar as comunidades bacterianas e dar-nos registos do que as bactérias estão a preparar. As bactérias vivem em toda a parte. Estão no solo, nos móveis e dentro do nosso corpo. Com efeito, 90% de todas as células vivas neste teatro são bacterianas. Algumas bactérias são-nos úteis; ajudam-nos a digerir os alimentos ou produzem antibióticos. Algumas bactérias são-nos prejudiciais; provocam doenças e morte. Para coordenar todas as funções que as bactérias têm elas precisam de se organizar e fazem o mesmo que nós, seres humanos, através da comunicação. Mas, em vez de usarem palavras, usam moléculas de sinalização para comunicarem entre si. Quando as bactérias são poucas, as moléculas de sinalização dispersam-se, como os gritos de um homem sozinho no deserto. Mas, quando há muitas bactérias, as moléculas de sinalização acumulam-se e as bactérias começam a sentir que não estão sozinhas. Escutam-se umas às outras. Deste modo, ficam a saber quantas são e quando são em número suficiente para iniciar uma nova ação. Quando as moléculas de sinalização atingem um certo nível, todas as bactérias sentem imediatamente que precisam de agir numa ação comum. Assim, a conversa bacteriana consiste numa iniciativa e numa reação, a produção de uma molécula e a resposta a isso. Na minha investigação, concentrei-me em espiar as comunidades bacterianas no interior do corpo humano. Como é que isso funciona? Temos uma amostra de um doente que pode ser uma amostra de sangue ou de cuspo. Disparamos eletrões na amostra, os eletrões vão interagir com quaisquer moléculas de comunicação presentes e essa interação vai dar-nos informações sobre a identidade das bactérias, o tipo de comunicação e até que ponto as bactérias estão a falar. Mas o que é que se passa quando as bactérias comunicam? Antes de eu desenvolver o instrumento de tradução, a minha suposição era que as bactérias teriam uma linguagem primitiva, como bebés que ainda não desenvolveram palavras e frases. Quando riem, estão felizes, quando choram, estão tristes. Tão simples como isso. Mas acontece que as bactérias não são tão primitivas como eu julgava. Uma molécula não é apenas uma molécula. Pode significar várias coisas, consoante o contexto, tal como o choro dos bebés pode significar coisas diferentes: umas vezes o bebé tem fome, outras vezes está molhado, outras vezes está magoado ou está assustado. Os pais sabem descodificar esses choros. Para o instrumento de tradução ser real, tinha de poder descodificar as moléculas de sinalização e traduzi-las, consoante o contexto. E quem sabe? Talvez o Tradutor Google possa adaptar isso brevemente. (Risos) Vou dar-vos um exemplo. Trouxe dados de algumas bactérias que podem ser difíceis de perceber para quem não tem formação, mas tentem dar uma olhadela. (Risos) Esta é uma família bacteriana feliz que infetou um doente. Chamemos-lhe a família Montague. Partilham recursos, reproduzem-se, crescem. Um dia, aparece um novo vizinho, a família bacteriana Capuleto. (Risos) Tudo corre bem, enquanto trabalham em conjunto. Mas, depois, acontece uma coisa não programada. Romeo, dos Montagues, tem uma relação com Julieta, dos Capuletos. (Risos) E, claro, trocam material genético. (Risos) Esta transferência de genes pode ser perigosa para os Montagues que têm a ambição de serem a única família no doente que infetaram e os genes partilhados contribuem para que os Capuletos desenvolvam resistência aos anticorpos. Assim, os Montagues começam a conspirar para se verem livres dessa outra família, libertando esta molécula. (Risos) E com legendas: [Vamos coordenar um ataque] (Risos) Vamos coordenar um ataque. Então, toda a gente reage ao mesmo tempo libertando um veneno que vai matar a outra família. [Eliminar!] (Risos) Os Capuletos reagem apelando a um contra-ataque. [Contra-ataque] E trava-se uma batalha. Isto é um vídeo de bactérias reais num duelo com organelas tipo espadas, em que tentam matar-se umas às outras literalmente apunhalando-se e rompendo-se umas às outras. A família que ganhar esta batalha torna-se na bactéria dominante. Assim, o que eu posso fazer é detetar conversas bacterianas que levam a diferentes comportamentos coletivos como a luta que acabaram de ver. O meu trabalho era espiar as comunidades bacterianas no interior do corpo humano em doentes num hospital. Acompanhei 62 doentes numa experiência em que testei as amostras dos doentes para uma determinada infeção, sem saber os resultados da tradicional análise de diagnóstico. Nos diagnósticos bacterianos, coloca-se um esfregaço numa placa. Se as bactérias crescem no prazo de cinco dias, o doente é diagnóstico como infetado. Quando acabei o estudo e comparei os resultados do instrumento com a tradicional análise de diagnóstico e a análise de validação, fiquei chocada. Era muito mais espantoso do que eu tinha previsto. Mas, antes de vos dizer o que o instrumento revelara, gostava de vos falar de uma doente específica que acompanhei, uma rapariga. Ela tinha fibrose cística, uma doença genética que torna os pulmões suscetíveis a infeções bacterianas. Essa rapariga não fazia parte do teste clínico. Acompanhei-a porque eu sabia pelo seu registo médico que ela nunca tinha tido uma infeção antes. Uma vez por mês, a rapariga ia ao hospital cuspir para um copo uma amostra de expetoração. Essa amostra era transferida para análise bacteriana no laboratório central para os médicos poderem agir rapidamente se descobrissem uma infeção. Isso permitiu-me testar o meu aparelho também naquelas amostras. Nos dois primeiros meses em que medi as amostras dela, não havia nada. mas, no terceiro mês. descobri alguma conversa bacteriana na amostra dela. As bactérias estavam a coordenar-se para danificar o tecido dos pulmões. Mas o diagnóstico bacteriano tradicional não mostrava nenhumas bactérias. Voltei a medir no mês seguinte, e observei que as conversas bacterianas estavam ainda mais agressivas. Mas o diagnóstico tradicional não mostrava nada. O meu estudo terminou mas, meio ano depois, verifiquei a situação, para ver se as bactérias que só eu conhecia tinham desaparecido sem intervenção médica. Não tinham. A rapariga já tinha sido diagnosticada com uma grave infeção de bactérias mortíferas. Eram as mesmas bactérias que o meu aparelho tinha descoberto mais cedo. Apesar de um agressivo tratamento com antibióticos, foi impossível erradicar a infeção. Os médicos consideraram que ela não ultrapassaria os 20 anos. Quando eu medi as amostras daquela rapariga, o meu instrumento ainda estava numa fase inicial. Eu nem sequer sabia se o meu método funcionava mesmo. Assim, tinha um acordo com os médicos para não dizer o que o meu instrumento revelava a fim de não comprometer o seu tratamento. Assim, quando vi os resultados que ainda não estavam validados, não me atrevi a revelá-los, porque tratar um doente sem haver uma infeção também tem consequências negativas para o doente. Mas agora, já sabemos mais, e há muitos rapazes e raparigas que ainda podem ser salvos porque, infelizmente, este cenário ocorre com muita frequência. Os doentes ficam infetados, as bactérias não aparecem nas análises de diagnóstico tradicionais e, de repente, a infeção irrompe no doente com sintomas graves. Nessa altura, já é tarde demais. O resultado surpreendente dos 62 doentes que acompanhei foi que o meu aparelho apanhou as conversas bacterianas em mais de metade das amostras dos doentes que eram diagnosticados como negativas pelos métodos tradicionais. Por outras palavras, mais de metade desses doentes iam para casa pensando que estavam isentos duma infeção, embora já contivessem bactérias perigosas. Dentro desses doentes, incorretamente diagnosticados, as bactérias estavam a coordenar um ataque sincronizado. Sussurravam entre si. Chamo "bactérias sussurrantes" às bactérias que os métodos tradicionais não conseguem diagnosticar. Até aqui, só o instrumento de tradução consegue captar esses sussurros. Creio que a altura em que as bactérias ainda estão a sussurrar é uma janela de oportunidades para um tratamento direcionado. Se a rapariga tivesse sido tratada durante essa janela de oportunidade, teria sido possível matar as bactérias na sua fase inicial, antes de a infeção ficar fora de controlo. A experiência que tive com esta rapariga decidiu-me a fazer tudo o que posso para introduzir esta tecnologia no hospital. Juntamente com os médicos, já estou a trabalhar na implementação deste instrumento em clínicas para diagnosticar infeções precoces. Embora ainda não se saiba como é que os médicos devem tratar os doentes durante a fase dos sussurros, este instrumento pode ajudar os médicos a ter mais atenção a pacientes em risco. Pode ajudá-los a confirmar se um tratamento funcionou ou não, e pode ajudar a responder a perguntas simples. O doente está infetado? O que é que as bactérias estão a preparar? As bactérias falam, fazem planos secretos e enviam informações confidenciais entre si. Mas não só podemos ouvi-las a sussurrar, como podemos aprender a sua língua secreta e participar nos sussurros bacterianos. E, como as bactérias diriam: "3-oxo-C12-anilina". ["Fim".] (Risos) (Aplausos) Obrigada. (Aplausos)