Acredito que há beleza em ouvirmos as vozes das pessoas que não foram ouvidas. [Abrindo as cortinas, 2014] [O projeto de Jerome (asfalto e giz) III, 2014] [Sob um sol que não perdoa (de um espaço tropical] É uma ideia complexa, porque as coisas que têm de ser ditas nem sempre são agradáveis. [A distância entre o que temos e o que queremos (num espaço tropical)] Mas ainda assim, se reflectem a verdade, acho que, fundamentalmente, isso as torna belas. Há a beleza estética do trabalho [Terra e céu, 2012] que, às vezes, funciona como um cavalo de Troia. [Custo da retirada, 2017] Permite-nos abrir os nossos corações a conversas difíceis. [Vendo através do tempo, 2019] Talvez nos sintamos atraídos pela beleza, e enquanto a técnica nos obriga, a cor, a forma ou composição, talvez a conversa difícil se intrometa. [Retratos de alcatrão de Billy Lee e Ona Judge, 2016] Aprendi a pintar sozinho, passando tempo em museus e olhando para as pessoas — ou melhor, os artistas — de quem me disseram ser os mestres. Ao olhar para os Rembrandt [A Ronda da Noite], os Renoir [O Almoço dos Barqueiros], os Manet [Almoço na relva], torna-se evidente que, se quero aprender a pintar um auto-retrato ao estudar estes pintores, vou ter um problema quando tiver de misturar a cor da minha pele ou da pele das pessoas na minha família. Há fórmulas históricas, escritas, a dizerem-me como pintar pele branca, — que cores devo usar para a sub-pintura, que cores devo usar para os realces do impasto — coisa que não existe para a pele escura. Não há nada. Não há nada, porque a realidade é que a nossa pele não era considerada bela. A imagem, o mundo representado na história da pintura não me reflecte. Não reflecte as coisas a que dou valor, e esse é o conflito com que me deparo com tanta frequência. Adoro a técnica destes quadros, aprendi com a técnica destes quadros, e apesar disso, sei que eles não têm nada a ver comigo. E por isso há tantos de nós a corrigir esta história, só para podermos dizer que lá estivemos. Lá porque não conseguem ver-nos não significa que não estivéssemos lá. Estivemos ali, sim. Estivemos aqui. Continuámos a ser vistos como se não fôssemos belos, mas somos, e estamos aqui. Tantas das coisas que produzo acabam por ser tentativas falhadas de reforçar essa ideia. [Abrindo as cortinas, 2014] [Ver através do tempo, 2018] Embora a minha formação tenha sido ocidental, os meus olhos continuam atentos às pessoas que se parecem comigo. Por isso, às vezes, no meu trabalho, tenho usado estratégias como branquear o resto da composição para pôr o foco numa personagem que, de outro modo, ficaria invisível. Já recortei outras figuras da pintura, primeiro, para realçar a sua ausência, ou segundo, para colocar o foco nas outras figuras da composição. [Intravenoso (de um espaço tropical), 2020] "O Projecto Jerónimo", esteticamente, bebe em centenas de anos de pinturas de iconografia religiosa, [O projecto Jerónimo (a minha perda), 2014] um tipo de estrutura estética que era reservada para a Igreja, reservada para os santos. [Madona com o menino] [Folha dum salmo grego e Novo Testamento"] [Cristo Todo-Poderoso] É um projecto que explora o sistema de justiça criminal, sem perguntar "Estas pessoas são inocentes ou culpadas?", mas antes "É assim que devemos lidar com os nossos cidadãos?" Comecei este trabalho porque, depois de estar separado do meu pai durante quase 15 anos, voltei a estar em contacto com ele. Não sabia como arranjar espaço para ele na minha vida. Tal como a maioria das coisas que não entendo, tento compreendê-las no estúdio. Por isso comecei a fazer uns retratos criminais, que comecei a fazer porque pesquisei o meu pai no Google, perguntando-me que teria acontecido durante aqueles 15 anos. Onde é que ele tinha ido? E encontrei o retrato criminal dele, o que não me surpreendeu. Mas nessa primeira pesquisa, encontrei mais 97 homens negros exactamente com o mesmo primeiro e último nome, e encontrei os retratos criminais deles, e isso sim, foi uma surpresa. Não sabendo o que fazer, acabei por começar a pintá-los. Inicialmente, o alcatrão era uma fórmula para entender quanto das vidas destes homens se tinha perdido na prisão. Mas desisti disso, e o alcatrão tornou-se bem mais simbólico à medida que continuei, porque o que entendi foi que a quantidade de tempo que perdemos na prisão é apenas o início de todo o tempo em que sofreremos o seu impacto ao longo da vida. Então, em termos de beleza nesse contexto, sei através dos familiares dum amigo meu que estiveram na prisão, ou que lá estão actualmente, as pessoas querem ser lembradas. Querem ser vistas. Nós prendemos as pessoas durante muito tempo, em certos casos, pela única coisa pior que alguma vez fizeram. Até certo ponto, é uma forma de dizer, "Estou a ver-te. "Estamos a ver-te." E acho que esse gesto é belo. Na pintura "Por trás do mito da benevolência", há uma cortina com Thomas Jefferson pintada e repuxada para revelar uma mulher negra escondida. Esta mulher negra é, simultaneamente, Sally Hemings, mas também todas as outras mulheres negras na plantação de Monticello e todas as demais. Aquilo que sabemos sobre Thomas Jefferson é que ele acreditava na liberdade, talvez com mais força do que todos os outros que escreveram sobre isso. E se sabemos que isso é verdade, se acreditarmos nisso, então a única coisa benevolente para fazer nesse contexto seria estender essa liberdade. E então, neste trabalho, uso duas pinturas diferentes que são forçadas a conviver uma sobre a outra para realçar a relação tumultuosa entre negros e brancos nestas composições. E então, essa contradição, essa realidade devastadora que está sempre por trás da cortina, o que sucede nas relações raciais neste país — esta pintura é sobre isso. Este quadro chama-se Outra luta pela memória. O título fala de repetição. O título fala dum tipo de violência contra negros pela polícia que já aconteceu e continua a acontecer, e agora temo-la visto acontecer outra vez. O quadro é mais ou menos editado como um quadro sobre Ferguson. Não deixa de ser sobre Ferguson, mas também não deixa de ser sobre Detroit, nem deixa de ser sobre Minneapolis. Comecei o quadro porque, durante uma viagem a Nova Iorque, em que tinha ido ver a minha arte com o meu irmão, passámos horas e horas a entrar e a sair de galerias, o dia culminou com um carro de polícia à paisana a mandar-nos parar no meio da rua. Estes dois polícias com as mãos nas armas mandaram-nos parar. Puseram-nos contra a parede. Acusaram-me de roubar obras de arte duma galeria onde, na verdade, eu estava a exibir as minhas obras. E enquanto eles estavam ali com as mãos nas armas, perguntei ao polícia o que era diferente da minha cidadania da de todas as outras pessoas que não estavam a ser incomodadas naquele momento. Ele informou-me que nos andavam a seguir há duas horas e que tinham recebido queixas acerca de dois homens negros dois homens negros a entrar e a sair de galerias. O quadro é sobre a realidade, que nem sequer é uma questão de se isto vai acontecer outra vez, é uma questão de quando. Este trabalho mais recente chama-se De um espaço tropical. Esta série de quadros é sobre mães negras. Esta série de quadros tem lugar no mundo super saturado, talvez surrealista, não distante daquele em que vivemos. Mas neste mundo, os filhos destas mulheres negras estão a desaparecer. O tema deste trabalho é o trauma, aquilo que as mulheres negras e de cor, em particular, na nossa comunidade têm de enfrentar para encaminharem os filhos para o caminho da vida. O mais encorajador para mim é que esta prática deu-me a oportunidade de trabalhar com os jovens da minha comunidade. Tenho a certeza de que as respostas não estão em mim, mas se tenho esperança, é de que essas respostas estejam neles. O NXTHVN é um projecto que começou há cerca de cinco anos. O NXTHVN é uma incubadora de arte com uns 3700 metros quadrados no centro do bairro de Dixwell em New Haven, Connecticut. Este bairro é predominantemente negro. É um bairro com a história do "jazz" em cada esquina. O nosso bairro tem sido privado de investimento. As escolas têm tido dificuldades na preparação da nossa população para o futuro. Eu sei que a criatividade é uma competência essencial. É preciso criatividade para conseguirmos imaginar um futuro muito diferente do que aquele que temos à nossa frente. Por isso, todos os artistas do programa têm um assistente estudante do secundário um estudante do ensino secundário que vem da cidade de New Haven para trabalhar e aprender com eles o ofício, a prática deles. E temos visto as formas como mostrando às pessoas o poder da criatividade isso as pode mudar. A beleza é complicada, por causa da forma como a definimos. Eu acredito que a beleza e a verdade de certa forma estão ligadas. Há algo belo em dizer a verdade. Ou seja: esse acto de dizer a verdade e a miríade de formas como isso se manifesta , há beleza nisso.