Audrey Tang: Estou feliz por me juntar a vocês e bom dia ou boa noite, pessoal. David Biello: Nos fale das ferramentas digitais e a COVID. AT: Claro. Estou muito feliz em compartilhar como Taiwan reagiu com sucesso à COVID usando o poder das ferramentas da democracia digital. Como sabemos, a democracia melhora à medida que mais pessoas participam. E a tecnologia digital é uma das melhores maneiras de melhorar a participação, contanto que o foco esteja em entrar em consenso, isto é, rede pró-social em vez de rede antissocial. E há três ideias principais que quero compartilhar hoje sobre democracia digital para que seja rápida, justa e divertida. Primeiro a parte rápida. Enquanto muitas jurisdições começaram a combater o coronavírus apenas este ano, Taiwan começou no ano passado. Em dezembro passado, quando o Dr. Li Wenliang, denunciante da RPC, postou que havia novos casos de SARS, ele recebeu indagações e, finalmente, punições das instituições policiais da RPC. Mas ao mesmo tempo, no equivalente de Taiwan ao Reddit, o Ptt, havia alguém chamado "nomorepipe" repostando o relato do Dr. Li Wenliang. Nossos médicos notaram imediatamente esta postagem e emitiram uma ordem dizendo que todos os passageiros que voavam de Wuhan para Taiwan precisavam iniciar inspeções de saúde no dia seguinte, primeiro dia de janeiro. E isso me diz duas coisas. Primeiro, a sociedade civil confia no governo o bastante para falar de possíveis novos surtos de SARS no fórum público. E o governo confia nos cidadãos o bastante para levar a sério e tratar como se a SARS tivesse acontecido novamente, algo para o que nos preparamos desde 2003. E por causa dessa sociedade civil aberta, de acordo com o "Monitor CIVICUS" após o Movimento Girassol, Taiwan é agora a sociedade mais aberta em toda a Ásia. Gozamos da mesma liberdade de expressão e de reunião de outras democracias liberais, mas com ênfase em manter a mente aberta para ideias novas da sociedade. É por isso que nossas escolas e empresas ainda permanecem abertas hoje, não houve confinamento, há um mês não temos casos confirmados. Então a parte rápida. Todos os dias, o "Central Epidemic Command Center", ou CECC, realiza uma entrevista coletiva transmitida ao vivo, trabalhamos com os jornalistas, o CECC responde a todas as perguntas e sempre que surge uma nova ideia da sociedade, qualquer um pode ligar para 1922 e contar essa ideia ao CECC. Por exemplo, um dia em abril um menino não queria ir à escola porque os colegas podiam rir dele por só ter uma máscara médica rosa. No dia seguinte, todos na entrevista coletiva da CECC usavam máscaras médicas cor-de-rosa, garantindo que todos aprendessem sobre a integração de gênero. Esse tipo de sistema de resposta rápida constrói confiança entre o governo e a sociedade civil. E o segundo foco é a justiça. Garantir que todos usem o cartão de seguro de saúde nacional para receber máscaras de farmácias próximas. Não só publicamos o estoque disponível de máscaras em todas as 6 mil farmácias, mas publicamos isso a cada 30 segundos. É por isso que nossos hackers civis, os engenheiros civis no espaço digital, criaram mais de 100 ferramentas permitindo que as pessoas visualizem um mapa. E pessoas cegas que conversam com "chatbots", assistentes de voz, obtêm o mesmo acesso inclusivo à informação de quais farmácias próximas ainda têm máscaras. E como o pagador individual do seguro de saúde nacional é mais de 99,9% da cobertura de saúde, pessoas que apresentam sintomas podem pegar a máscara médica e ir a uma clínica local, com a certeza de que serão tratadas de maneira justa sem nenhum encargo financeiro. E assim as pessoas criaram um painel que permite que todos vejam se o estoque está crescendo ou se há excesso ou falta de estoque, para planejarmos o sistema de distribuição com as farmácias e toda a sociedade. Então, com base nessa análise, mostramos que havia um pico de 70% das pessoas e os outros 20% eram frequentemente jovens, que trabalham até tarde, e quando saem do trabalho, as farmácias já estão fechadas. Trabalhamos com lojas de conveniência pra que todos recebam máscaras 24 horas por dia. Assim, garantimos justiça para todos, com base no retorno da democracia digital. E, finalmente, gostaria de reconhecer que este é um momento muito estressante. As pessoas se sentem ansiosas, indignadas, há compra excessiva causada pelo pânico, muitas teorias da conspiração em todas as economias. E em Taiwan, a estratégia contra a desinformação é muito simples. É chamada "humor versus rumor". Quando houve pânico pela compra de lenço de papel, por exemplo, o boato era: "Aumentamos a produção de máscaras, com o mesmo material dos lenços de papel. Ficaremos sem esses lenços em breve". E o nosso primeiro-ministro mostrou uma imagem muito memética que simplesmente tenho que compartilhar. Em letras muito grandes, ele mostra o traseiro, mexendo um pouco, e então as letras grandes dizem: "Cada um de nós tem apenas um par de nádegas". E, claro, a tabela séria mostra que o lenço de papel vem de materiais sul-americanos, e máscaras médicas vêm do mercado interno, e que aumentar a produção de um não prejudicará a produção do outro. E tornou-se absolutamente viral. E, com isso, o pânico da compra diminuiu em um ou dois dias. Finalmente, descobrimos que o primeiro a espalhar o boato foi o revendedor de lenço de papel. E este não foi um evento isolado nas redes sociais. Todo dia, a entrevista coletiva diária é traduzida pelo porta-voz do ministério da Saúde e Bem-Estar, que traduz muitas coisas. Por exemplo, nosso distanciamento físico é expresso da seguinte maneira: "Se estiver ao ar livre, mantenha 'dois cachorros de distância', se estiver num local fechado, 'três cachorros de distância'". Regras de higienização das mãos, etc. Então, como tudo isso se torna viral, garantimos que o humor real se espalhe mais rápido do que o boato. Serve como vacina, como inoculação, de modo que quando há teorias da conspiração, o valor R0 disso estará abaixo de um, o que significa que essas ideias não se espalharão. Só tenho esse briefing de cinco minutos, o resto será direcionado pelas perguntas e respostas, mas fiquem à vontade para ler mais sobre a estratégia de combate ao coronavírus de Taiwan em taiwancanhelp.us. Obrigada. DB: Isso é incrível. Adoro esse "humor versus rumor". O problema aqui nos EUA, talvez, é que os rumores parecem circular mais rápido do que qualquer reação, humorística ou não. Como você vence esse aspecto em Taiwan? AT: Descobrimos que, é claro, o humor implicitamente significa que há uma sublimação do aborrecimento, da indignação. E como mostrei no exemplo do nosso primeiro-ministro, ele tira sarro de si mesmo. Não faz piada à custa de outras pessoas. E esse foi o segredo. Porque as pessoas acham hilário, elas compartilham, mas sem intenções maliciosas ou tóxicas. As pessoas se lembram da informação real, aquela tabela de materiais usados para produzir máscaras, muito mais facilmente. Se eles fazem uma piada que exclui partes da sociedade, a parte excluída se sente ultrajada e acabamos criando mais divisão, em vez de comportamento pró-social. Então, o humor neutro, não excluindo nenhuma parte da sociedade, acho que esse foi o segredo. DB: Também é incrível porque Taiwan tem laços estreitos com o ponto de origem. AT: A RPC, sim. DB: O continente. Com esses laços econômicos estreitos, como vocês sobrevivem a esse tipo de perturbação? AT: Neste momento, há quase um mês agora, não tivemos casos locais confirmados, então estamos indo bem. O que fazemos, essencialmente, é apenas responder mais rápido do que praticamente qualquer um. Começamos a reagir no ano passado, enquanto praticamente todo mundo começou a reagir este ano. Tentamos alertar o mundo no ano passado, mas... A questão é: começando cedo o suficiente, garante-se que o controle de fronteira seja o ponto principal onde coloca em quarentena todos os residentes que voltam, em vez de esperar até que a comunidade se espalhe, e ainda mais técnicas de invasão de direitos humanos teriam que ser implantadas de um jeito ou de outro. Em Taiwan não declaramos situação de emergência. Estamos firmemente sob lei constitucional. Todas as medidas que a administração está tomando também são aplicáveis mesmo sem o coronavírus. E isso nos força a inovar. Assim como a ideia de que: "somos uma democracia liberal aberta" evitou que precisássemos remover conteúdo da internet. E, portanto, temos que inovar o "humor versus rumor", porque o caminho fácil de remover conteúdo on-line não é acessível para nós. Nossos critérios de concepção, que não incluem o confinamento, também evitaram que usássemos qualquer tipo de sistema de resposta muito invasivo de privacidade. Então temos que inovar na fronteira, nos certificar de que temos um número suficiente de hotéis de quarentena ou as chamadas "barreiras digitais", nas quais seu telefone fica conectado às telecomunicações próximas, e se ultrapassar o raio de 15 metros, um SMS é enviado aos gerentes locais ou à polícia. Focando todas essas medidas na fronteira, a grande maioria vive uma vida normal. DB: Vamos falar um pouco disso. Então me explique as ferramentas digitais e como elas foram aplicadas à COVID. AT: Sim. Há três partes que acabei de resumir. A primeira é o sistema de inteligência coletiva. Através de espaços on-line projetados sem botões de "Responder", porque vimos que, quando há esses botões, as pessoas se concentram no rosto, não na parte do assunto, e sem os botões "Responder", podemos obter inteligência coletiva trabalhando para um consenso geral quanto à direção a ser tomada com as estratégias de resposta. Usamos novas tecnologias, como a "Polis", um fórum que permite votos positivos e negativos sobre os sentimentos dos outros, mas se reunindo em tempo real, de modo que, se visitar o cohack.tw, vemos seis dessas conversas, falando sobre como proteger as pessoas mais vulneráveis, como fazer uma transição suave, como fazer uma distribuição justa de suprimentos, etc. As pessoas são livres pra expressar ideias e votar contra ou a favor das ideias dos outros. Mas o truque é mostrar às pessoas os principais pontos de divisão e os principais pontos consensuais, e nós respondemos apenas às ideias que podem convencer todos os diferentes grupos de opinião. As pessoas são encorajadas a postar ideias mais ecléticas e sutis e descobrem, no final desta consulta, que todos concordam em quase tudo, com a maioria dos vizinhos em muitos dos problemas. E é isso que chamamos de função social, ou função democrática, que então informa o desenvolvimento da nossa estratégia contra o coronavírus e ajuda o mundo com essas ferramentas. Então esta é a primeira parte: escutar em escala para obter um consenso aproximado. A segunda parte é o registro distribuído: todos podem ir a uma farmácia próxima, apresentar o cartão de seguro saúde, comprar nove ou dez máscaras e ver o estoque dessa farmácia pelo celular, diminuindo em nove ou dez em questão de alguns minutos. E se o estoque aumenta, você telefona para o 1922 e denuncia a farmácia. Mas isso é responsabilidade participativa. É publicado a cada 30 segundos. Então todo mundo se responsabiliza e isso aumenta enormemente a confiança. E finalmente, a terceira, o humor versus rumor: o importante aqui é que se há tendência de desinformação ou teoria da conspiração, você responde com humor dentro de duas horas. Descobrimos que respondendo nesse prazo, mais pessoas veem a correção do que a teoria da conspiração. Mas se você responder quatro horas ou um dia depois, então é uma causa perdida. Não dá mais para combater isso com humor, você tem que convidar a pessoa que espalhou essas mensagens para oficinas de cocriação. Mas também estamos bem com isso. DB: Sua velocidade é incrível. Vejo que Whitney se juntou a nós com algumas perguntas. Whitney Pennington Rodgers: Sim, já temos algumas chegando do público. Olá, Audrey. E começaremos com uma do membro da nossa comunidade, Michael Backes. "Há quanto tempo a estratégia do 'humor versus rumor' foi implementada? Comediantes foram consultados para fazer o humor?" AT: Sim, definitivamente. Comediantes são nossos colegas mais queridos. Todos os ministérios têm uma equipe que chamamos de oficiais de participação encarregada de se envolver com tópicos de tendências. E agora é uma equipe com mais de 100 pessoas. Nos encontramos todo mês e também a cada duas semanas para tópicos específicos. Tem sido assim desde o final de 2016, mas foi quando o nosso porta-voz anterior, Kolas Yotaka, entrou cerca de um ano e meio atrás, que os comediantes profissionais entraram na equipe. Anteriormente, tratava-se de convidar pessoas que postam citações como: "Nosso sistema de declaração de impostos é explosivamente hostil", que acabavam se tornando populares. Antes, só essas pessoas eram convidadas. Todo mundo que reclama da declaração de impostos do ministro das Finanças é convidado para a cocriação da declaração de impostos. Anteriormente era assim. Mas Kolas Yotaka e o primeiro-ministro Su Tseng-chang disseram: "Não seria muito melhor e alcançaria mais pessoas se adicionássemos alguns cães ou fotos de gatos?" E isso existe há um ano e meio. (Risos) WPR: Definitivamente, acho que faz muita diferença apenas vê-los sem fazer parte do processo de pensamento por trás disso. E temos outra pergunta de G. Ryan Ansin: "Como classificaria o nível de confiança que a comunidade tinha antes da pandemia, para que o governo tenha uma chance de controlar adequadamente esta crise?" AT: Diria que há confiança na comunidade. E esse é o ponto principal da democracia digital. Não se trata de pessoas confiando mais no governo. Mas do governo confiar mais nos cidadãos, tornando o Estado transparente para eles, e não eles transparentes para o Estado, o que seria como qualquer outro regime. Tornar o Estado transparente para os cidadãos nem sempre gera mais confiança, porque você pode ver algo errado ou faltante, ou algo exclusivamente hostil à sua experiência de usuário por parte do Estado. Portanto, isso não necessariamente leva a mais confiança do cidadão ao governo. Mas sempre leva a mais confiança entre as partes interessadas do setor social. Então eu diria que o nível de confiança entre as pessoas que estão trabalhando em, por exemplo, consultórios médicos, e pessoas que estão trabalhando com respostas pandêmicas, as que fabricam máscaras médicas, o nível de confiança entre elas é muito alto. E não necessariamente confiam no governo. Mas não precisamos disso para obter uma resposta bem-sucedida. Se perguntar a alguém na rua, ele dirá que Taiwan está se saindo bem por causa das pessoas. Quando o CECC nos diz para usar a máscara, nós a usamos. Se disserem para não usarmos a máscara se mantivermos distância física, nós a usaremos mesmo assim. E por isso, a confiança do setor social é a chave entre as diferentes partes interessadas. WPR: Voltarei em breve com mais perguntas. Vou deixar que continuem a conversa. AT: Ótimo. DB: Claramente, parte dessa confiança no governo talvez não existia em 2014 durante o Movimento Girassol. Então fale sobre isso e como levou a esse tipo de transformação digital. AT: É verdade. Antes de março de 2014, se perguntasse a alguém nas ruas de Taiwan se era possível para um ministro, como eu, ter o escritório literalmente num parque, onde qualquer um pode entrar e falar comigo 40 minutos por vez, no "Social Innovation Lab", diriam que isso é loucura. Nenhum funcionário público trabalha assim. Mas isso porque em 18 de março de 2014, centenas de jovens ativistas, a maioria universitários, ocupou o parlamento para expressar profunda oposição a um pacto comercial com Pequim que estava sob consideração, e a maneira secreta com que foi forçado no parlamento por Kuomintang, o partido no poder na época. Os manifestantes exigiam que o pacto fosse adiado e que o governo implementasse um processo de ratificação mais transparente. E isso atraiu amplo apoio público. Terminou em pouco mais de três semanas, depois que o governo prometeu e concordou com as quatro demandas da supervisão legislativa. Uma pesquisa divulgada após a ocupação mostrou que mais de 75% permaneciam insatisfeitos com o governo dominante, ilustrando a crise de confiança causada por uma disputa de acordo comercial. E para curar essa fenda e se comunicar melhor com cidadãos comuns, o governo procurou as pessoas que apoiaram os ocupantes, como a comunidade "g0v", que busca melhorar a transparência do governo com a criação de ferramentas de código aberto. Jaclyn Tsai, ministra do governo na época, participou de nossa "hackathon" e propôs a criação de novas plataformas com a comunidade on-line para a troca de ideias políticas. E nasceu um experimento chamado "vTaiwan", que usou ferramentas pioneiras como Polis, que permite o "concordo" ou "discordo" sem botão de "Responder", obtendo um maior consenso das pessoas sobre temas como financiamento coletivo, baseado em ações, para ser mais preciso, teletrabalho e muitas outras leis relacionadas à cibernética, para as quais não existem sindicatos ou associações. Foi muito bem-sucedido, eles resolveram o problema do Uber, por exemplo. Agora, qualquer um pode chamar um Uber; eu mesmo já usei. Mas eles estão operando como táxis, como uma empresa local chamada "Q Taxi", porque na plataforma as pessoas se preocupavam com seguros, com o registro e todo tipo de proteção aos passageiros. Então, mudamos os regulamentos de táxi, e agora a Uber é apenas mais uma empresa, juntamente com as outras cooperativas. DB: Então, de certa forma, você está "crowdsourcing" leis que se tornam leis. AT: Sim, saiba mais no crowd.law. É um site de verdade. (Risos) DB: Alguns podem dizer que isso parece mais fácil porque Taiwan é uma ilha, o que talvez ajude a controlar a COVID, ajude a promover a coesão social, talvez seja um país menor do que outros. Você acha que isso poderia ser escalado além de Taiwan? AT: Bem, 23 milhões de habitantes não deixa de ser bastante gente. Não é uma cidade, como alguns costumam dizer: "Taiwan é uma cidade-estado". Bem, 23 milhões de pessoas não é exatamente uma cidade-estado. Quero dizer que a alta densidade populacional e uma variedade de culturas, temos mais de 20 idiomas nacionais, não necessariamente levam à coesão social, como você disse. Acho que é a humildade de todos os ministros na resposta contra o coronavírus. Todos eles adotaram uma atitude de aprendizado com a SARS, muitos eram encarregados da SARS naquela época, mas isso foi epidemiologia clássica. Esta é a SARS 2.0, com características diferentes. Usamos ferramentas muito diferentes, por causa da transformação digital. E por isso estamos empenhados em aprender com os cidadãos. Nosso vice-presidente na época, Dr. Chen Chien-jen, um acadêmico, literalmente escreveu o livro sobre epidemiologia. No entanto, ele ainda diz: "Gravarei um curso intensivo de epidemiologia on-line", que é compartilhado com mais de 20 mil inscritos apenas no primeiro dia, inclusive eu, para aprender ideias importantes, sobre o R0 e a transmissão básica e como as várias medidas diferentes funcionam, e depois pediram às pessoas que inovassem. Se você considera um novo caminho que o vice-presidente não considerou, basta ligar para 1922 e a ideia estará na entrevista coletiva do dia seguinte. E essa é a estratégia de coaprendizado que, mais do que tudo, permitiu a coesão social que você mencionou. Mas isso é uma sociedade civil mais robusta do que a uniforme. Não há uniformidade alguma em Taiwan, todo mundo tem direito às próprias ideias e todas as inovações sociais, variando de usar uma panela de arroz tradicional a revitalizar, desinfetar a máscara, ao uso da máscara médica rosa. Há toda uma variedade de ideias bem interessantes que são reforçadas pela entrevista coletiva diária. DB: Isso é lindo. Agora a Whitney está de volta, então ela fará a próxima pergunta. WPR: Temos mais algumas perguntas. De um membro da comunidade, Aria Bendix: "Como garante que as campanhas digitais ajam rapidamente sem sacrificar a precisão? Nos EUA, havia um medo de incitar o pânico sobre a COVID-19 no início de janeiro". AT: Ótima pergunta. A maioria das ideias científicas sobre a COVID está evoluindo, certo? A eficácia das máscaras é um exemplo muito bom, porque as diferentes características das doenças respiratórias anteriores respondem de forma diferente à máscara facial. E assim, nossas campanhas digitais concentram-se na ideia de obter um consenso aproximado. Basicamente, é um reflexo da sociedade, através da Polis, do Slido, da plataforma conjunta, das várias ferramentas que vTaiwan prototipou, sabemos que as pessoas estão sentindo um consenso aproximado sobre tudo e estamos respondendo à sociedade: "Isto é o que todos vocês sentem e é assim que estamos respondendo a esses sentimentos". E o consenso científico ainda está em desenvolvimento, mas sabemos, por exemplo, que muitos acham que o uso da máscara oferece proteção porque nos lembra que não devemos tocar o rosto e devemos lavar as mãos corretamente. Estas, independentemente de todo o resto, são as duas coisas com as quais todos concordam. Então, capitalizamos isso e dizemos: "Lavem bem as mãos, não toquem o rosto e usem máscara para se lembrar disso". E isso nos permite cortar o tipo de debates muito ideologicamente carregados e nos concentrarmos no que as pessoas geralmente ressoam umas com as outras. E é assim que agimos rapidamente, sem sacrificar a precisão científica. WPR: E essa próxima pergunta também parece conectada a isso. É de um membro anônimo da comunidade: "Alguma dessas políticas pode ser aplicada nos EUA sob o atual governo Trump?" AT: Algumas, na verdade. Trabalhamos com muitos estados nos EUA e no exterior com o que chamamos de "epicentro a epicentro da diplomacia". Essencialmente, por exemplo, havia um chatbot em Taiwan que permite que qualquer um, mas principalmente pessoas em quarentena, perguntem qualquer coisa. E se houver um consultor científico que já respondeu uma pergunta semelhante, o chatbot apenas responde com isso, mas, caso contrário, chamarão o conselho consultivo científico, darão uma resposta acessível e o porta-voz traduz isso num meme fofo de cachorro. E esse ciclo de feedback de pessoas acessando, encontrando e perguntando com facilidade a um cientista, uma "API" aberta que permite assistência por voz e outros desenvolvedores de terceiros para conectar isso, ressoa com muitos estados dos EUA, e muitos estão implementando isso. E acho que três dias antes da Assembleia Mundial da Saúde, fizemos uma reunião lateral de 14 países, um tipo de pré-assembleia, na qual compartilhamos muitas vitórias pequenas e rápidas como essa. Muitas jurisdições tomaram parte nisso, incluindo o humor versus rumor. Muitas deles disseram que vão recrutar comediantes agora. WPR: Adoro isso. DB: Espero que sim. WPR: Eu também espero. Temos uma pergunta de Michael Backes, que complementa a pergunta anterior dele: "O ministério planeja publicar os planos num 'White Paper'?" Você já está compartilhando seus planos, mas tem um plano para publicar no papel? AT: Claro. Sim, vários White Papers. (Risos) Se você acessar taiwancanhelp.us, verá a maior parte da nossa estratégia, é também um site crowdsourcing e mostra acho que mais de 5 milhões de máscaras médicas foram doadas à ajuda humanitária. Pessoas que têm máscaras em casa, que não pegaram as máscaras racionadas, podem usar um aplicativo, do tipo: "Quero destinar isso à ajuda humanitária internacional", e metade escolhe publicar seus nomes, para que também possam ver o nome das pessoas que participaram disso. E também há o site "Ask Taiwan Anything", em fightcovid.edu.tw, que descreve, na forma de white paper, todas as estratégias de resposta, então acessem lá. WPR: Ótimo. Voltarei mais tarde com algumas outras perguntas. DB: É como uma tempestade de white papers. Eu gostaria de focar um pouco você. Como uma anarquista conservadora se torna ministra do Digital? AT: Ocupando o parlamento e através disso. (Risos) Mais interessante, eu diria que trabalho com o governo, mas nunca para o governo. Trabalho "com" e não "para" as pessoas. Eu sou como os Pontos de Lagrange entre os movimentos das pessoas de um lado e o governo do outro. Às vezes bem no meio, atuando como treinadora ou tradutora. Às vezes, em um tipo de ponto triangular, tentando fornecer aos dois lados ferramentas para comunicação pró-social. Mas sempre com essa ideia de ter valores compartilhados de diferentes posições, de posições variadas. Com frequência a democracia é construída como um confronto entre valores opostos. Mas na pandemia, na infodemia, na mudança climática, em muitas dessas questões estruturais, o vírus ou o dióxido de carbono não se sentam e negociam com você. É uma questão estrutural que requer valores comuns oriundos de posições diferentes. E é por isso que meu princípio de trabalho é a transparência radical. Toda conversa, como essa, é registrada, assim como minhas reuniões internas. Dá pra ver todas as diferentes transcrições de reuniões no meu canal do YouTube, na plataforma SayIt, em que as pessoas podem ver desde que me tornei ministra, realizei 1,3 mil reuniões com mais de 5 mil pessoas, com mais de 260 mil enunciados. E cada uma tem um URL que se torna um objeto social no qual as pessoas podem conversar. E por causa disso, por exemplo, quando David Plouffe do Uber me visitou para fazer lobby, por causa da transparência radical, ele estava muito ciente disso, e apresentou todos os argumentos baseados no bem público e na sustentabilidade, porque sabia que outros lados veriam as posições dele de forma muito clara e transparente. Isso incentiva as pessoas a somarem nos argumentos umas das outras, em vez de se atacarem, atribuindo os devidos créditos e tal. Então acho que, mais do que tudo, é o princípio fundamental de conservar o anarquismo da internet, ou seja, ninguém pode forçar ninguém a se conectar ou aderir a um novo protocolo da internet. Tudo precisa ser feito usando consenso e código de execução. DB: Gostaria que você tivesse mais parceiros no mundo todo. Talvez deseje ter mais parceiros. AT: É por isso que essas são ideias que valem a pena ser espalhadas. DB: É isso aí. Um dos desafios que pode surgir com algumas ferramentas digitais é o acesso. Como você aborda essa parte para pessoas que talvez não tenham a melhor conexão de banda larga, o celular mais moderno ou o que for necessário? AT: Em qualquer lugar de Taiwan, mesmo na parte mais alta, com quase 4 mil metros de altura, o Saviah, ou o Jade Mountain, as pessoas têm garantidos 10 megabits por segundo no 4G, fibra ou cabo, por apenas US$ 16 ao mês, um plano ilimitado. E, na verdade, no topo da montanha é mais rápido, menos pessoas usam essa banda larga. E se não tiverem acesso, assumo a culpa. Em Taiwan, a banda larga é um direito humano. E quando implantamos o 5G, procuramos lugares onde o 4G tem o sinal mais fraco, e começamos a implantação do 5G na área. Apenas implantando a banda larga como um direito humano podemos dizer que ela é para todos. Essa democracia digital fortalece a democracia. Caso contrário, estaríamos excluindo partes da sociedade. E isso também se aplica, por exemplo, a ir a um centro local de oportunidades digitais para alugar um tablet garantido e fabricado nos últimos três anos, para possibilitar, também, os diferentes acessos digitais pelos centros de oportunidades digitais, universidades e escolas, e bibliotecas públicas, muito importante. E se as pessoas preferem conversar na prefeitura, vou pessoalmente com um gravador 360°, transmito ao vivo para Taipei e outros municípios, onde funcionários públicos do governo podem participar em uma sala conectada, mas escutando as pessoas locais que definem a agenda. Elas ainda fazem reuniões presenciais, não fazemos isso para substitui-las. Trazemos mais partes interessadas do governo central nas prefeituras locais, e estamos amplificando suas vozes para que transcrições e mapas mentais se espalhem pela internet em tempo real. Mas nunca pedimos aos idosos que aprendam a digitar ou não farão parte da democracia; não é nosso estilo. Mas isso requer banda larga, pois sem ela, você fica limitado e é forçado a usar SMS. DB: Isso mesmo. Bem, esse acesso, é claro, também vai para pessoas que talvez usem mal a plataforma. Você falou um pouco sobre desinformação e usar o humor para vencer os boatos. Mas, às vezes, a desinformação está mais bem-armada. Como você combate esse tipo de ataque? AT: Você está falando de desinformação. Essencialmente, informações projetadas para causar danos intencionais ao público. E isso não é engraçado. Para isso, temos o que chamamos de "notice and public notice". Esta é uma foto da Reuters, lerei a manchete original, que diz: "Um manifestante adolescente contra a lei de extradição em Hong Kong é visto durante uma marcha para exigir democracia e reforma política", uma manchete muito neutra da Reuters. Mas houve disseminação de desinformação em novembro passado, pouco antes da nossa eleição presidencial, que mostra algo completamente diferente. Esta é a mesma foto que diz: "Este bandido de 13 anos comprou iPhones novos, consoles de jogos e tênis de marca, e recrutou seus irmãos para assassinar policiais e receber US$ 200 mil". E isso, é claro, é uma arma projetada para semear discórdia e provocar nos eleitores de Taiwan uma espécie de aversão a Hong Kong. E porque eles sabem que esta é a questão principal. E se tivéssemos removido o conteúdo, não teria funcionado, apenas despertaria mais indignação. Então não fizemos isso. Trabalhamos com verificadores de fatos e jornalistas profissionais para imputar a mensagem original de volta ao primeiro dia em que foi postada. E veio de Zhongyang Zhengfawei, a principal unidade política e jurídica do partido central, a Central do Partido Comunista, a CCP. E sabemos que a conta do Weibo foi a primeira a dar essa nova manchete. Então enviamos um aviso público, com os parceiros em empresas de rede social, praticamente todos eles, que colocam um alerta bem pequeno ao lado da manchete, cada vez que for compartilhada com a chamada errada: "Isso veio da unidade central de propaganda da CCP. Clique aqui para saber toda a história". E descobrimos que isso funcionou, porque as pessoas entendem que não é um material de notícia. É uma apropriação do material da Reuters, uma violação de direitos autorais, e acho que isso faz parte da ideia. Quando as pessoas entendem que esta é uma narrativa intencional, não a compartilham aleatoriamente. Elas podem compartilhar, mas com um comentário que diz: "É isso que o Zhongyang Zhengfawei está tentando fazer com a nossa democracia". DB: Parece que algumas empresas globais de mídia social poderiam aprender algo com esse aviso público. AT: Isso mesmo. DB: Que conselho você daria ao Twitter, Facebook, LINE, WhatsApp e qualquer outra mídia social do mundo? AT: Pouco antes da nossa eleição, dissemos a todas elas que não estamos fazendo uma lei para puni-las. No entanto, compartilhamos esse fato muito simples de que existe essa norma em Taiwan que temos um ramo do controle separado do governo, que publicou as doações e as despesas da campanha. E ocorreu-nos que na eleição anterior havia muitos candidatos que não incluíram nenhum anúncio de rede social em suas despesas para o Controle Yuan. E então, essencialmente, isso significa que existe um montante separado de doação e despesa política que escapa ao escrutínio público. E nosso Control Yuan publicou dados brutos isto é, não são estatísticas, mas registros individuais de quem, quando e onde doou por qual causa, e os jornalistas investigativos estão muito felizes, porque eles podem fazer relatórios investigativos sobre as conexões entre os candidatos e as pessoas que os financiam. Mas eles não podem trabalhar com o mesmo material das empresas globais de rede social. Então eu disse: "Isso é muito simples. Esta é a norma social aqui, não me importo com outras jurisdições. Você adere à norma social definida pelo Controle Yuan e os jornalistas investigativos, ou pode enfrentar sanções sociais. E este não é o mandato do governo, mas das pessoas cansadas da caixa-preta, e isso também faz parte das exigências do Movimento Girassol. E então o Facebook publicou na Ad Library, naquela época uma das estratégias de resposta mais rápidas, que todo mundo que tem qualquer anúncio "dark pattern" é revelado muito rapidamente. Jornalistas investigativos trabalham com os tecnólogos civis para garantir que se alguém usar as redes sociais de forma tão divisiva, em uma hora, há um relatório condenando isso. Ninguém tentou isso durante a temporada anterior das eleições presidenciais. DB: Então a mudança é possível. AT: Sim. WPR: Temos mais algumas perguntas da comunidade. Há uma anônima: "Acredito que Taiwan esteja inteiramente fora da OMS e que tenha um programa de preparação de 130 partes, desenvolvido por conta própria. Em que medida ele credita a preparação para criar o próprio sistema?" AT: Bem, um pouco, eu acho. Tentamos avisar a OMS, mas, nesse ponto, não estamos totalmente de fora, temos acesso científico limitado. Mas não temos acesso ministerial. E isso é muito diferente. Tendo apenas acesso científico limitado, a menos que o principal epidemiologista do outro lado seja o vice-presidente, como no caso de Taiwan, eles nem sempre fazem a narrativa bem o suficiente para traduzir isso em ação política como o fez nosso vice-presidente. Acho que a falta de acesso ministerial age em detrimento da comunidade global, pois, caso contrário, as pessoas poderiam ter reagido como nós no primeiro dia de janeiro, em vez de terem que esperar semanas até a OMS declarar coisas como: que com certeza há transmissão entre humanos, que se deve inspecionar as pessoas que vêm de Wuhan, o que finalmente fizeram, mas duas ou três semanas depois de nós. WPR: Faz muito sentido. DB: Mais cientistas e tecnólogos na política. Parece que essa é a solução. AT: Sim. WPR: Temos outra pergunta aqui de Kamal Srinivasan sobre estratégia de reabertura: "Como restaurantes e varejistas abrirão com segurança?" AT: Ah, eles nunca fecharam, então... AT: Sim, eles nunca fecharam, não houve confinamento nem fechamento. Acabamos de dizer algo muito simples na conferência de imprensa da CECC: haverá distanciamento físico. Manter um metro e meio em ambientes fechados ou usar máscara. E é isso. Acho que alguns restaurantes puseram cortinas vermelhas, alguns têm ursinhos muito fofos nas cadeiras e assim por diante, garantindo que as pessoas se espalhem uniformemente, e alguns instalaram divisórias de vidro ou plástico entre os assentos. Há várias inovações sociais acontecendo. E acho que os únicos locais que ficaram fechadas por um tempo, por não conseguirem inovar rápido o suficiente para atender essas regras, foram os bares de acompanhantes. Mas, finalmente, até eles inventaram novos caminhos, distribuindo protetores de plástico, mas que ainda permite que se possa beber por baixo dele. Então reabriram com essa inovação social. DB: Isso é incrível. WPR: Temos muito a aprender com suas estratégias lá. Obrigado, voltarei com perguntas finais. DB: Estou muito feliz em saber que os restaurantes não foram fechados, porque acho que Taipei tem a melhor comida do mundo, de qualquer cidade que eu visitei. Parabéns a vocês por isso. A grande preocupação quando se trata de usar ferramentas digitais para a COVID ou para a democracia é sempre a privacidade. Você falou um pouco sobre isso, mas com certeza os cidadãos de Taiwan talvez estejam igualmente preocupados com privacidade, especialmente dado o contexto geopolítico. AT: Sem dúvida. DB: Como você lida com essas demandas? AT: Criamos não só estratégia defensiva, como minimização da coleta de dados, mas também medidas proativas, como tecnologias para melhorar a privacidade. Uma das principais equipes que surgiram do nosso "cohack", a resposta do "TW" da Polis, como facilitar o rastreamento de contatos, focado não nos marcadores de contato, não nos oficiais médicos, mas na pessoa. Basicamente disseram: "Você tem um telefone, pode gravar sua temperatura, seu paradeiro, etc., mas isso fica restrito ao seu telefone". Nem usa o Bluetooth. Portanto, não há transmissão. A tecnologia usa software livre, você pode consultar e usar no modo avião. E quando o rastreador de contato finalmente lhe disser que faz parte de um grupo de alto risco, e eles quiserem seu histórico de contatos, essa ferramenta pode gerar um URL de uso único que contém apenas as informações precisas e anônimas que os rastreadores de contato querem. Mas não será como numa entrevista tradicional, quando fazem uma pergunta e só querem saber o seu paradeiro, mas você responde com tanta precisão que acaba comprometendo a privacidade de outras pessoas. Então, basicamente, trata-se de projetar com o objetivo de melhorar a privacidade de outras pessoas, porque os dados pessoais nunca são realmente pessoais. É sempre social e interseccional. Se eu tirar uma "selfie" em uma festa, inadvertidamente também capto praticamente todo mundo que está na foto, nos arredores, etc. E se eu fizer o upload disso numa nuvem, na verdade, cancelo o poder de negociação de todos ao meu redor, porque aí os dados farão parte da nuvem e ela não precisa compensá-los ou fazer um acordo com eles. Apenas projetando as ferramentas com a privacidade aprimorada como um valor positivo, e não melhorando apenas a privacidade da pessoa, assim como a máscara médica protege você, mas principalmente também protege os outros. Se projetarmos ferramentas com essa ideia de código aberto e com uma API aberta, então temos uma forma muito melhor do que os serviços centralizados ou baseados em nuvem. DB: Você está vivendo no futuro, acho até que literalmente, já que é amanhã de manhã aí. AT: Doze horas adiante. DB: Sim. Diga-me, o que você vê no futuro? O que vem a seguir? AT: Vejo o coronavírus como um ótimo amplificador. Numa sociedade autoritária, o coronavírus, com todos os seus confinamentos, tem o potencial de torná-la ainda mais totalitária. Contudo, se as pessoas depositam confiança no setor social, na engenhosidade dos inovadores sociais, então a pandemia, como em Taiwan, na verdade fortalece a democracia, para que todos sintam, de verdade, que podem pensar em algo que melhore o bem-estar não apenas em Taiwan, mas em praticamente todo o mundo. E então, meu ponto aqui é que o grande amplificador vem, se quisermos ou não, mas a sociedade pode fazer o que Taiwan fez depois da SARS. Em 2003, quando a SARS chegou, tivemos que fechar um hospital inteiro, barricando-o sem data de término definida. Foi muito traumático, todos acima de 30 anos se lembram de como foi. Os municípios e o governo central diziam coisas muito diferentes, e é por isso que depois da SARS, os tribunais constitucionais incumbiram o legislador de configurar o sistema como o vemos hoje, e também é por isso que, quando as pessoas reagiram a essa crise em 2003, construíram um sistema de resposta muito robusto, com ações rápidas. Então, assim como no Movimento Girassol, por causa da crise de confiança nos levou a criar novas ferramentas que põem a confiança em primeiro lugar, o coronavírus é a chance para todos que sobreviverem à primeira onda estabelecerem um novo conjunto de normas que reforçarão seus valores fundamentais, em vez de assumirem valores externos em nome da sobrevivência. DB: Assim espero. Vamos torcer para que o resto do mundo esteja tão preparado quanto Taiwan da próxima vez. Quando se trata de democracia digital e cidadania digital, como você vê isso caminhando tanto em Taiwan quanto no resto do mundo? AT: Vou ler a descrição das minhas funções para você, e ela é, literalmente, a resposta para essa pergunta. Aqui vai: Ao vermos a internet das coisas, vamos torná-la a internet dos seres. Ao vermos a realidade virtual, vamos torná-la a realidade compartilhada. Ao vermos o aprendizado de máquina, vamos torná-lo o aprendizado colaborativo. Ao vermos a experiência do usuário, vamos fazer dela uma experiência humana. E ao escutarmos que a singularidade está próxima, vamos sempre nos lembrar que a pluralidade está aqui. Obrigado por escutarem. DB: Uau. Eu tenho que aplaudir, isso foi lindo. (Risos) Bela descrição de funções. Então, anarquista conservadora, ministra do Digital e com essa descrição do cargo, isso é impressionante. AT: Uma poeta política. (Risos) DB: É difícil imaginar a adoção dessas técnicas nos EUA, e esse pode ser o meu pessimismo falando. Mas que palavras de esperança você tem para os EUA, enquanto lidamos com a COVID? AT: Como eu mencionei, durante a SARS em Taiwan, ninguém imaginou que poderíamos ter o CECC e um porta-voz fofo. Antes do Movimento Girassol, durante um grande protesto, havia meio milhão de pessoas na rua. Ninguém pensou que poderíamos ter um sistema de inteligência coletiva que colocaria dados abertos do governo como uma maneira de recuperar a participação do cidadão. E assim, nunca percam a esperança. Como meu cantor favorito, Leonard Cohen, também poeta, gosta de dizer: "Toque os sinos que ainda podem tocar e esqueça qualquer oferta perfeita. Há uma fenda em tudo isso e é por ela que a luz entra". WPR: Isso é tão bonito, parece uma ótima mensagem para deixar para o público, com o sentimento de que estão todos muito gratos pelo que você compartilhou, Audrey, e todas as ótimas informações e percepções sobre as estratégias de Taiwan. AT: Obrigada. WPR: David. DB: Agradeço muito por essa bela descrição do cargo e por toda a sabedoria que você compartilhou de forma tão rápida. Eu acho que não foi só uma ideia que compartilhou, mas talvez umas 20, 30, 40? Eu perdi a conta. AT: Isso se chama Ideias que Valem a Pena Espalhar, é uma forma plural. (Risos) DB: É verdade. Muito obrigado por se juntar a nós. WPR: Obrigada, Audrey. DB: E desejo-lhe sorte com tudo. AT: Obrigado e tenham uma boa manhã ou boa noite. Fiquem seguros.