Audrey Tang: Estou feliz por me juntar
a vocês e bom dia ou boa noite, pessoal.
David Biello: Nos fale
das ferramentas digitais e a COVID.
AT: Claro.
Estou muito feliz em compartilhar
como Taiwan reagiu com sucesso à COVID
usando o poder das ferramentas
da democracia digital.
Como sabemos, a democracia melhora
à medida que mais pessoas participam.
E a tecnologia digital é uma das melhores
maneiras de melhorar a participação,
contanto que o foco esteja
em entrar em consenso,
isto é, rede pró-social
em vez de rede antissocial.
E há três ideias principais
que quero compartilhar hoje
sobre democracia digital
para que seja rápida, justa e divertida.
Primeiro a parte rápida.
Enquanto muitas jurisdições começaram
a combater o coronavírus apenas este ano,
Taiwan começou no ano passado.
Em dezembro passado, quando
o Dr. Li Wenliang, denunciante da RPC,
postou que havia novos casos de SARS,
ele recebeu indagações
e, finalmente, punições
das instituições policiais da RPC.
Mas ao mesmo tempo, no equivalente
de Taiwan ao Reddit, o Ptt,
havia alguém chamado "nomorepipe"
repostando o relato do Dr. Li Wenliang.
Nossos médicos notaram
imediatamente esta postagem
e emitiram uma ordem dizendo
que todos os passageiros
que voavam de Wuhan para Taiwan
precisavam iniciar inspeções
de saúde no dia seguinte,
primeiro dia de janeiro.
E isso me diz duas coisas.
Primeiro, a sociedade civil
confia no governo o bastante
para falar de possíveis novos surtos
de SARS no fórum público.
E o governo confia nos cidadãos
o bastante para levar a sério
e tratar como se a SARS
tivesse acontecido novamente,
algo para o que nos preparamos desde 2003.
E por causa dessa sociedade civil aberta,
de acordo com o "Monitor CIVICUS"
após o Movimento Girassol,
Taiwan é agora a sociedade
mais aberta em toda a Ásia.
Gozamos da mesma liberdade
de expressão e de reunião
de outras democracias liberais,
mas com ênfase em manter a mente aberta
para ideias novas da sociedade.
É por isso que nossas escolas e empresas
ainda permanecem abertas hoje,
não houve confinamento,
há um mês não temos casos confirmados.
Então a parte rápida.
Todos os dias, o "Central Epidemic
Command Center", ou CECC,
realiza uma entrevista coletiva
transmitida ao vivo,
trabalhamos com os jornalistas,
o CECC responde a todas as perguntas
e sempre que surge
uma nova ideia da sociedade,
qualquer um pode ligar para 1922
e contar essa ideia ao CECC.
Por exemplo, um dia em abril
um menino não queria ir à escola
porque os colegas podiam rir dele
por só ter uma máscara médica rosa.
No dia seguinte,
todos na entrevista coletiva da CECC
usavam máscaras médicas cor-de-rosa,
garantindo que todos aprendessem
sobre a integração de gênero.
Esse tipo de sistema de resposta rápida
constrói confiança entre o governo
e a sociedade civil.
E o segundo foco é a justiça.
Garantir que todos usem o cartão
de seguro de saúde nacional
para receber máscaras
de farmácias próximas.
Não só publicamos o estoque disponível
de máscaras em todas as 6 mil farmácias,
mas publicamos isso a cada 30 segundos.
É por isso que nossos hackers civis,
os engenheiros civis no espaço digital,
criaram mais de 100 ferramentas permitindo
que as pessoas visualizem um mapa.
E pessoas cegas que conversam
com "chatbots", assistentes de voz,
obtêm o mesmo acesso
inclusivo à informação
de quais farmácias próximas
ainda têm máscaras.
E como o pagador individual
do seguro de saúde nacional
é mais de 99,9% da cobertura de saúde,
pessoas que apresentam sintomas
podem pegar a máscara médica
e ir a uma clínica local,
com a certeza de que serão
tratadas de maneira justa
sem nenhum encargo financeiro.
E assim as pessoas criaram um painel
que permite que todos vejam
se o estoque está crescendo
ou se há excesso ou falta de estoque,
para planejarmos o sistema de distribuição
com as farmácias e toda a sociedade.
Então, com base nessa análise,
mostramos que havia
um pico de 70% das pessoas
e os outros 20% eram frequentemente
jovens, que trabalham até tarde,
e quando saem do trabalho,
as farmácias já estão fechadas.
Trabalhamos com lojas de conveniência
pra que todos recebam
máscaras 24 horas por dia.
Assim, garantimos justiça para todos,
com base no retorno da democracia digital.
E, finalmente, gostaria de reconhecer
que este é um momento muito estressante.
As pessoas se sentem ansiosas, indignadas,
há compra excessiva causada pelo pânico,
muitas teorias da conspiração
em todas as economias.
E em Taiwan,
a estratégia contra a desinformação
é muito simples.
É chamada "humor versus rumor".
Quando houve pânico pela compra de lenço
de papel, por exemplo, o boato era:
"Aumentamos a produção de máscaras,
com o mesmo material dos lenços de papel.
Ficaremos sem esses lenços em breve".
E o nosso primeiro-ministro
mostrou uma imagem muito memética
que simplesmente tenho que compartilhar.
Em letras muito grandes,
ele mostra o traseiro,
mexendo um pouco,
e então as letras grandes dizem:
"Cada um de nós tem apenas
um par de nádegas".
E, claro, a tabela séria mostra
que o lenço de papel vem
de materiais sul-americanos,
e máscaras médicas vêm do mercado interno,
e que aumentar a produção de um
não prejudicará a produção do outro.
E tornou-se absolutamente viral.
E, com isso, o pânico da compra
diminuiu em um ou dois dias.
Finalmente, descobrimos
que o primeiro a espalhar o boato
foi o revendedor de lenço de papel.
E este não foi um evento
isolado nas redes sociais.
Todo dia, a entrevista
coletiva diária é traduzida
pelo porta-voz do ministério
da Saúde e Bem-Estar,
que traduz muitas coisas.
Por exemplo, nosso distanciamento físico
é expresso da seguinte maneira:
"Se estiver ao ar livre, mantenha
'dois cachorros de distância',
se estiver num local fechado,
'três cachorros de distância'".
Regras de higienização das mãos, etc.
Então, como tudo isso se torna viral,
garantimos que o humor real
se espalhe mais rápido do que o boato.
Serve como vacina, como inoculação,
de modo que quando
há teorias da conspiração,
o valor R0 disso estará abaixo de um,
o que significa que essas ideias
não se espalharão.
Só tenho esse briefing de cinco minutos,
o resto será direcionado
pelas perguntas e respostas,
mas fiquem à vontade para ler mais
sobre a estratégia de combate
ao coronavírus de Taiwan
em taiwancanhelp.us.
Obrigada.
DB: Isso é incrível.
Adoro esse "humor versus rumor".
O problema aqui nos EUA, talvez,
é que os rumores parecem circular
mais rápido do que qualquer reação,
humorística ou não.
Como você vence esse aspecto em Taiwan?
AT: Descobrimos que, é claro,
o humor implicitamente significa
que há uma sublimação
do aborrecimento, da indignação.
E como mostrei no exemplo
do nosso primeiro-ministro,
ele tira sarro de si mesmo.
Não faz piada à custa de outras pessoas.
E esse foi o segredo.
Porque as pessoas acham hilário,
elas compartilham, mas sem intenções
maliciosas ou tóxicas.
As pessoas se lembram da informação real,
aquela tabela de materiais usados
para produzir máscaras,
muito mais facilmente.
Se eles fazem uma piada
que exclui partes da sociedade,
a parte excluída se sente ultrajada
e acabamos criando mais divisão,
em vez de comportamento pró-social.
Então, o humor neutro,
não excluindo nenhuma parte da sociedade,
acho que esse foi o segredo.
DB: Também é incrível porque Taiwan
tem laços estreitos com o ponto de origem.
AT: A RPC, sim.
DB: O continente.
Com esses laços econômicos estreitos,
como vocês sobrevivem
a esse tipo de perturbação?
AT: Neste momento,
há quase um mês agora,
não tivemos casos locais confirmados,
então estamos indo bem.
O que fazemos, essencialmente,
é apenas responder mais rápido
do que praticamente qualquer um.
Começamos a reagir no ano passado,
enquanto praticamente todo mundo
começou a reagir este ano.
Tentamos alertar o mundo
no ano passado, mas...
A questão é: começando cedo o suficiente,
garante-se que o controle de fronteira
seja o ponto principal onde coloca em
quarentena todos os residentes que voltam,
em vez de esperar até
que a comunidade se espalhe,
e ainda mais técnicas
de invasão de direitos humanos
teriam que ser implantadas
de um jeito ou de outro.
Em Taiwan não declaramos
situação de emergência.
Estamos firmemente sob lei constitucional.
Todas as medidas que a administração
está tomando também são aplicáveis
mesmo sem o coronavírus.
E isso nos força a inovar.
Assim como a ideia de que:
"somos uma democracia liberal aberta"
evitou que precisássemos
remover conteúdo da internet.
E, portanto, temos que inovar
o "humor versus rumor",
porque o caminho fácil
de remover conteúdo on-line
não é acessível para nós.
Nossos critérios de concepção,
que não incluem o confinamento,
também evitaram
que usássemos qualquer tipo
de sistema de resposta
muito invasivo de privacidade.
Então temos que inovar na fronteira,
nos certificar de que temos
um número suficiente
de hotéis de quarentena
ou as chamadas "barreiras digitais",
nas quais seu telefone fica conectado
às telecomunicações próximas,
e se ultrapassar o raio de 15 metros,
um SMS é enviado aos gerentes
locais ou à polícia.
Focando todas essas medidas na fronteira,
a grande maioria vive uma vida normal.
DB: Vamos falar um pouco disso.
Então me explique as ferramentas digitais
e como elas foram aplicadas à COVID.
AT: Sim.
Há três partes que acabei de resumir.
A primeira é o sistema
de inteligência coletiva.
Através de espaços on-line
projetados sem botões de "Responder",
porque vimos que, quando há esses botões,
as pessoas se concentram no rosto,
não na parte do assunto,
e sem os botões "Responder",
podemos obter inteligência coletiva
trabalhando para um consenso geral
quanto à direção a ser tomada
com as estratégias de resposta.
Usamos novas tecnologias, como a "Polis",
um fórum que permite votos
positivos e negativos
sobre os sentimentos dos outros,
mas se reunindo em tempo real,
de modo que, se visitar o cohack.tw,
vemos seis dessas conversas,
falando sobre como proteger
as pessoas mais vulneráveis,
como fazer uma transição suave,
como fazer uma distribuição
justa de suprimentos, etc.
As pessoas são livres pra expressar ideias
e votar contra ou a favor
das ideias dos outros.
Mas o truque é mostrar às pessoas
os principais pontos de divisão
e os principais pontos consensuais,
e nós respondemos apenas às ideias
que podem convencer
todos os diferentes grupos de opinião.
As pessoas são encorajadas
a postar ideias mais ecléticas e sutis
e descobrem, no final desta consulta,
que todos concordam em quase tudo,
com a maioria dos vizinhos
em muitos dos problemas.
E é isso que chamamos de função social,
ou função democrática,
que então informa o desenvolvimento
da nossa estratégia contra o coronavírus
e ajuda o mundo com essas ferramentas.
Então esta é a primeira parte:
escutar em escala para obter
um consenso aproximado.
A segunda parte é o registro distribuído:
todos podem ir a uma farmácia próxima,
apresentar o cartão de seguro saúde,
comprar nove ou dez máscaras
e ver o estoque
dessa farmácia pelo celular,
diminuindo em nove ou dez
em questão de alguns minutos.
E se o estoque aumenta,
você telefona para o 1922
e denuncia a farmácia.
Mas isso é responsabilidade participativa.
É publicado a cada 30 segundos.
Então todo mundo se responsabiliza
e isso aumenta enormemente a confiança.
E finalmente, a terceira,
o humor versus rumor:
o importante aqui é que se há tendência
de desinformação ou teoria da conspiração,
você responde com humor
dentro de duas horas.
Descobrimos que respondendo nesse prazo,
mais pessoas veem a correção
do que a teoria da conspiração.
Mas se você responder
quatro horas ou um dia depois,
então é uma causa perdida.
Não dá mais para combater isso com humor,
você tem que convidar a pessoa
que espalhou essas mensagens
para oficinas de cocriação.
Mas também estamos bem com isso.
DB: Sua velocidade é incrível.
Vejo que Whitney se juntou a nós
com algumas perguntas.
Whitney Pennington Rodgers: Sim,
já temos algumas chegando do público.
Olá, Audrey.
E começaremos com uma do membro
da nossa comunidade, Michael Backes.
"Há quanto tempo a estratégia
do 'humor versus rumor' foi implementada?
Comediantes foram consultados
para fazer o humor?"
AT: Sim, definitivamente.
Comediantes são
nossos colegas mais queridos.
Todos os ministérios têm uma equipe
que chamamos de oficiais de participação
encarregada de se envolver
com tópicos de tendências.
E agora é uma equipe
com mais de 100 pessoas.
Nos encontramos todo mês
e também a cada duas semanas
para tópicos específicos.
Tem sido assim desde o final de 2016,
mas foi quando o nosso
porta-voz anterior, Kolas Yotaka,
entrou cerca de um ano e meio atrás,
que os comediantes profissionais
entraram na equipe.
Anteriormente, tratava-se de convidar
pessoas que postam citações como:
"Nosso sistema de declaração
de impostos é explosivamente hostil",
que acabavam se tornando populares.
Antes, só essas pessoas eram convidadas.
Todo mundo que reclama
da declaração de impostos
do ministro das Finanças
é convidado para a cocriação
da declaração de impostos.
Anteriormente era assim.
Mas Kolas Yotaka e o primeiro-ministro
Su Tseng-chang disseram:
"Não seria muito melhor
e alcançaria mais pessoas
se adicionássemos alguns cães
ou fotos de gatos?"
E isso existe há um ano e meio.
(Risos)
WPR: Definitivamente, acho que faz
muita diferença apenas vê-los
sem fazer parte do processo
de pensamento por trás disso.
E temos outra pergunta de G. Ryan Ansin:
"Como classificaria o nível de confiança
que a comunidade tinha antes da pandemia,
para que o governo tenha uma chance
de controlar adequadamente esta crise?"
AT: Diria que há confiança na comunidade.
E esse é o ponto principal
da democracia digital.
Não se trata de pessoas
confiando mais no governo.
Mas do governo confiar mais nos cidadãos,
tornando o Estado transparente para eles,
e não eles transparentes para o Estado,
o que seria como qualquer outro regime.
Tornar o Estado transparente
para os cidadãos
nem sempre gera mais confiança,
porque você pode ver
algo errado ou faltante,
ou algo exclusivamente hostil
à sua experiência de usuário
por parte do Estado.
Portanto, isso não necessariamente leva
a mais confiança do cidadão ao governo.
Mas sempre leva a mais confiança entre
as partes interessadas do setor social.
Então eu diria que o nível
de confiança entre as pessoas
que estão trabalhando em, por exemplo,
consultórios médicos,
e pessoas que estão trabalhando
com respostas pandêmicas,
as que fabricam máscaras médicas,
o nível de confiança
entre elas é muito alto.
E não necessariamente confiam no governo.
Mas não precisamos disso para obter
uma resposta bem-sucedida.
Se perguntar a alguém na rua,
ele dirá que Taiwan está
se saindo bem por causa das pessoas.
Quando o CECC nos diz para usar
a máscara, nós a usamos.
Se disserem para não usarmos a máscara
se mantivermos distância física,
nós a usaremos mesmo assim.
E por isso,
a confiança do setor social é a chave
entre as diferentes partes interessadas.
WPR: Voltarei em breve com mais perguntas.
Vou deixar que continuem a conversa.
AT: Ótimo.
DB: Claramente, parte dessa
confiança no governo
talvez não existia em 2014
durante o Movimento Girassol.
Então fale sobre isso
e como levou a esse tipo
de transformação digital.
AT: É verdade.
Antes de março de 2014, se perguntasse
a alguém nas ruas de Taiwan
se era possível para um ministro, como eu,
ter o escritório literalmente num parque,
onde qualquer um pode entrar
e falar comigo 40 minutos por vez,
no "Social Innovation Lab",
diriam que isso é loucura.
Nenhum funcionário público trabalha assim.
Mas isso porque em 18 de março de 2014,
centenas de jovens ativistas,
a maioria universitários,
ocupou o parlamento
para expressar profunda oposição
a um pacto comercial com Pequim
que estava sob consideração,
e a maneira secreta
com que foi forçado no parlamento
por Kuomintang,
o partido no poder na época.
Os manifestantes exigiam
que o pacto fosse adiado
e que o governo implementasse um processo
de ratificação mais transparente.
E isso atraiu amplo apoio público.
Terminou em pouco mais de três semanas,
depois que o governo prometeu e concordou
com as quatro demandas
da supervisão legislativa.
Uma pesquisa divulgada após a ocupação
mostrou que mais de 75%
permaneciam insatisfeitos
com o governo dominante,
ilustrando a crise de confiança causada
por uma disputa de acordo comercial.
E para curar essa fenda
e se comunicar melhor
com cidadãos comuns,
o governo procurou as pessoas
que apoiaram os ocupantes,
como a comunidade "g0v",
que busca melhorar
a transparência do governo
com a criação de ferramentas
de código aberto.
Jaclyn Tsai, ministra do governo na época,
participou de nossa "hackathon"
e propôs a criação de novas plataformas
com a comunidade on-line
para a troca de ideias políticas.
E nasceu um experimento chamado "vTaiwan",
que usou ferramentas pioneiras como Polis,
que permite o "concordo" ou "discordo"
sem botão de "Responder",
obtendo um maior consenso das pessoas
sobre temas como financiamento coletivo,
baseado em ações, para ser mais preciso,
teletrabalho e muitas outras leis
relacionadas à cibernética,
para as quais não existem
sindicatos ou associações.
Foi muito bem-sucedido, eles resolveram
o problema do Uber, por exemplo.
Agora, qualquer um pode chamar um Uber;
eu mesmo já usei.
Mas eles estão operando como táxis,
como uma empresa local chamada "Q Taxi",
porque na plataforma as pessoas
se preocupavam com seguros,
com o registro e todo tipo
de proteção aos passageiros.
Então, mudamos os regulamentos de táxi,
e agora a Uber é apenas mais uma empresa,
juntamente com as outras cooperativas.
DB: Então, de certa forma, você está
"crowdsourcing" leis que se tornam leis.
AT: Sim, saiba mais no crowd.law.
É um site de verdade.
(Risos)
DB: Alguns podem dizer
que isso parece mais fácil
porque Taiwan é uma ilha,
o que talvez ajude a controlar a COVID,
ajude a promover a coesão social,
talvez seja um país menor do que outros.
Você acha que isso poderia ser
escalado além de Taiwan?
AT: Bem, 23 milhões de habitantes
não deixa de ser bastante gente.
Não é uma cidade,
como alguns costumam dizer:
"Taiwan é uma cidade-estado".
Bem, 23 milhões de pessoas
não é exatamente uma cidade-estado.
Quero dizer que a alta densidade
populacional e uma variedade de culturas,
temos mais de 20 idiomas nacionais,
não necessariamente levam
à coesão social, como você disse.
Acho que é a humildade
de todos os ministros
na resposta contra o coronavírus.
Todos eles adotaram uma atitude
de aprendizado com a SARS,
muitos eram encarregados
da SARS naquela época,
mas isso foi epidemiologia clássica.
Esta é a SARS 2.0,
com características diferentes.
Usamos ferramentas muito diferentes,
por causa da transformação digital.
E por isso estamos empenhados
em aprender com os cidadãos.
Nosso vice-presidente na época,
Dr. Chen Chien-jen, um acadêmico,
literalmente escreveu
o livro sobre epidemiologia.
No entanto, ele ainda diz:
"Gravarei um curso intensivo
de epidemiologia on-line",
que é compartilhado com mais de 20 mil
inscritos apenas no primeiro dia,
inclusive eu,
para aprender ideias importantes,
sobre o R0 e a transmissão básica
e como as várias medidas
diferentes funcionam,
e depois pediram às pessoas que inovassem.
Se você considera um novo caminho
que o vice-presidente não considerou,
basta ligar para 1922
e a ideia estará na entrevista
coletiva do dia seguinte.
E essa é a estratégia de coaprendizado
que, mais do que tudo, permitiu
a coesão social que você mencionou.
Mas isso é uma sociedade civil
mais robusta do que a uniforme.
Não há uniformidade alguma em Taiwan,
todo mundo tem direito às próprias ideias
e todas as inovações sociais,
variando de usar uma panela
de arroz tradicional
a revitalizar, desinfetar a máscara,
ao uso da máscara médica rosa.
Há toda uma variedade
de ideias bem interessantes
que são reforçadas
pela entrevista coletiva diária.
DB: Isso é lindo.
Agora a Whitney está de volta,
então ela fará a próxima pergunta.
WPR: Temos mais algumas perguntas.
De um membro da comunidade, Aria Bendix:
"Como garante que as campanhas
digitais ajam rapidamente
sem sacrificar a precisão?
Nos EUA, havia um medo de incitar o pânico
sobre a COVID-19 no início de janeiro".
AT: Ótima pergunta.
A maioria das ideias científicas
sobre a COVID está evoluindo, certo?
A eficácia das máscaras
é um exemplo muito bom,
porque as diferentes características
das doenças respiratórias anteriores
respondem de forma diferente
à máscara facial.
E assim, nossas campanhas digitais
concentram-se na ideia de obter
um consenso aproximado.
Basicamente, é um reflexo da sociedade,
através da Polis, do Slido,
da plataforma conjunta,
das várias ferramentas
que vTaiwan prototipou,
sabemos que as pessoas estão sentindo
um consenso aproximado sobre tudo
e estamos respondendo à sociedade:
"Isto é o que todos vocês sentem
e é assim que estamos respondendo
a esses sentimentos".
E o consenso científico
ainda está em desenvolvimento,
mas sabemos, por exemplo,
que muitos acham que o uso da máscara
oferece proteção porque nos lembra
que não devemos tocar o rosto
e devemos lavar as mãos corretamente.
Estas, independentemente de todo o resto,
são as duas coisas
com as quais todos concordam.
Então, capitalizamos isso e dizemos:
"Lavem bem as mãos,
não toquem o rosto
e usem máscara para se lembrar disso".
E isso nos permite cortar
o tipo de debates
muito ideologicamente carregados
e nos concentrarmos no que as pessoas
geralmente ressoam umas com as outras.
E é assim que agimos rapidamente,
sem sacrificar a precisão científica.
WPR: E essa próxima pergunta
também parece conectada a isso.
É de um membro anônimo da comunidade:
"Alguma dessas políticas pode ser aplicada
nos EUA sob o atual governo Trump?"
AT: Algumas, na verdade.
Trabalhamos com muitos estados
nos EUA e no exterior
com o que chamamos
de "epicentro a epicentro da diplomacia".
Essencialmente,
por exemplo, havia um chatbot em Taiwan
que permite que qualquer um,
mas principalmente pessoas em quarentena,
perguntem qualquer coisa.
E se houver um consultor científico
que já respondeu uma pergunta semelhante,
o chatbot apenas responde com isso,
mas, caso contrário, chamarão
o conselho consultivo científico,
darão uma resposta acessível
e o porta-voz traduz isso
num meme fofo de cachorro.
E esse ciclo de feedback
de pessoas acessando,
encontrando e perguntando
com facilidade a um cientista,
uma "API" aberta
que permite assistência por voz
e outros desenvolvedores
de terceiros para conectar isso,
ressoa com muitos estados dos EUA,
e muitos estão implementando isso.
E acho que três dias antes
da Assembleia Mundial da Saúde,
fizemos uma reunião lateral de 14 países,
um tipo de pré-assembleia,
na qual compartilhamos muitas vitórias
pequenas e rápidas como essa.
Muitas jurisdições tomaram parte nisso,
incluindo o humor versus rumor.
Muitas deles disseram
que vão recrutar comediantes agora.
WPR: Adoro isso.
DB: Espero que sim.
WPR: Eu também espero.
Temos uma pergunta de Michael Backes,
que complementa a pergunta anterior dele:
"O ministério planeja publicar
os planos num 'White Paper'?"
Você já está compartilhando seus planos,
mas tem um plano para publicar no papel?
AT: Claro.
Sim, vários White Papers.
(Risos)
Se você acessar taiwancanhelp.us,
verá a maior parte da nossa estratégia,
é também um site crowdsourcing
e mostra acho que mais de 5 milhões
de máscaras médicas foram doadas
à ajuda humanitária.
Pessoas que têm máscaras em casa,
que não pegaram as máscaras racionadas,
podem usar um aplicativo, do tipo:
"Quero destinar isso à ajuda
humanitária internacional",
e metade escolhe publicar seus nomes,
para que também possam ver o nome
das pessoas que participaram disso.
E também há o site "Ask Taiwan Anything",
em fightcovid.edu.tw,
que descreve, na forma de white paper,
todas as estratégias de resposta,
então acessem lá.
WPR: Ótimo. Voltarei mais tarde
com algumas outras perguntas.
DB: É como uma tempestade de white papers.
Eu gostaria de focar um pouco você.
Como uma anarquista conservadora
se torna ministra do Digital?
AT: Ocupando o parlamento e através disso.
(Risos)
Mais interessante,
eu diria que trabalho com o governo,
mas nunca para o governo.
Trabalho "com" e não "para" as pessoas.
Eu sou como os Pontos de Lagrange
entre os movimentos das pessoas de um lado
e o governo do outro.
Às vezes bem no meio,
atuando como treinadora ou tradutora.
Às vezes, em um tipo de ponto triangular,
tentando fornecer aos dois lados
ferramentas para comunicação pró-social.
Mas sempre com essa ideia
de ter valores compartilhados
de diferentes posições,
de posições variadas.
Com frequência a democracia é construída
como um confronto entre valores opostos.
Mas na pandemia, na infodemia,
na mudança climática,
em muitas dessas questões estruturais,
o vírus ou o dióxido de carbono
não se sentam e negociam com você.
É uma questão estrutural
que requer valores comuns
oriundos de posições diferentes.
E é por isso que meu princípio de trabalho
é a transparência radical.
Toda conversa, como essa, é registrada,
assim como minhas reuniões internas.
Dá pra ver todas as diferentes
transcrições de reuniões
no meu canal do YouTube,
na plataforma SayIt,
em que as pessoas podem ver
desde que me tornei ministra,
realizei 1,3 mil reuniões
com mais de 5 mil pessoas,
com mais de 260 mil enunciados.
E cada uma tem um URL
que se torna um objeto social
no qual as pessoas podem conversar.
E por causa disso,
por exemplo, quando David Plouffe
do Uber me visitou para fazer lobby,
por causa da transparência radical,
ele estava muito ciente disso,
e apresentou todos os argumentos baseados
no bem público e na sustentabilidade,
porque sabia que outros lados
veriam as posições dele
de forma muito clara e transparente.
Isso incentiva as pessoas a somarem
nos argumentos umas das outras,
em vez de se atacarem,
atribuindo os devidos créditos e tal.
Então acho que, mais do que tudo,
é o princípio fundamental
de conservar o anarquismo da internet,
ou seja, ninguém pode forçar
ninguém a se conectar
ou aderir a um novo protocolo da internet.
Tudo precisa ser feito usando
consenso e código de execução.
DB: Gostaria que você tivesse
mais parceiros no mundo todo.
Talvez deseje ter mais parceiros.
AT: É por isso que essas são ideias
que valem a pena ser espalhadas.
DB: É isso aí.
Um dos desafios que pode surgir
com algumas ferramentas digitais
é o acesso.
Como você aborda essa parte
para pessoas que talvez não tenham
a melhor conexão de banda larga,
o celular mais moderno
ou o que for necessário?
AT: Em qualquer lugar de Taiwan,
mesmo na parte mais alta,
com quase 4 mil metros de altura,
o Saviah, ou o Jade Mountain,
as pessoas têm garantidos
10 megabits por segundo
no 4G, fibra ou cabo,
por apenas US$ 16 ao mês,
um plano ilimitado.
E, na verdade, no topo
da montanha é mais rápido,
menos pessoas usam essa banda larga.
E se não tiverem acesso, assumo a culpa.
Em Taiwan, a banda larga
é um direito humano.
E quando implantamos o 5G,
procuramos lugares onde o 4G
tem o sinal mais fraco,
e começamos a implantação do 5G na área.
Apenas implantando a banda larga
como um direito humano
podemos dizer que ela é para todos.
Essa democracia digital
fortalece a democracia.
Caso contrário, estaríamos
excluindo partes da sociedade.
E isso também se aplica, por exemplo,
a ir a um centro local
de oportunidades digitais
para alugar um tablet garantido
e fabricado nos últimos três anos,
para possibilitar, também,
os diferentes acessos digitais
pelos centros de oportunidades digitais,
universidades e escolas,
e bibliotecas públicas, muito importante.
E se as pessoas preferem
conversar na prefeitura,
vou pessoalmente com um gravador 360°,
transmito ao vivo para Taipei
e outros municípios,
onde funcionários públicos
do governo podem participar
em uma sala conectada,
mas escutando as pessoas locais
que definem a agenda.
Elas ainda fazem reuniões presenciais,
não fazemos isso para substitui-las.
Trazemos mais partes interessadas
do governo central nas prefeituras locais,
e estamos amplificando suas vozes
para que transcrições e mapas mentais
se espalhem pela internet em tempo real.
Mas nunca pedimos aos idosos
que aprendam a digitar
ou não farão parte da democracia;
não é nosso estilo.
Mas isso requer banda larga, pois sem ela,
você fica limitado e é forçado a usar SMS.
DB: Isso mesmo.
Bem, esse acesso, é claro,
também vai para pessoas
que talvez usem mal a plataforma.
Você falou um pouco sobre desinformação
e usar o humor para vencer os boatos.
Mas, às vezes, a desinformação
está mais bem-armada.
Como você combate esse tipo de ataque?
AT: Você está falando de desinformação.
Essencialmente, informações projetadas
para causar danos intencionais ao público.
E isso não é engraçado.
Para isso, temos o que chamamos
de "notice and public notice".
Esta é uma foto da Reuters,
lerei a manchete original, que diz:
"Um manifestante adolescente
contra a lei de extradição em Hong Kong
é visto durante uma marcha para exigir
democracia e reforma política",
uma manchete muito neutra da Reuters.
Mas houve disseminação de desinformação
em novembro passado,
pouco antes da nossa eleição presidencial,
que mostra algo completamente diferente.
Esta é a mesma foto que diz:
"Este bandido de 13 anos
comprou iPhones novos,
consoles de jogos e tênis de marca,
e recrutou seus irmãos
para assassinar policiais
e receber US$ 200 mil".
E isso, é claro, é uma arma
projetada para semear discórdia
e provocar nos eleitores de Taiwan
uma espécie de aversão a Hong Kong.
E porque eles sabem
que esta é a questão principal.
E se tivéssemos removido o conteúdo,
não teria funcionado,
apenas despertaria mais indignação.
Então não fizemos isso.
Trabalhamos com verificadores
de fatos e jornalistas profissionais
para imputar a mensagem original de volta
ao primeiro dia em que foi postada.
E veio de Zhongyang Zhengfawei,
a principal unidade política
e jurídica do partido central,
a Central do Partido Comunista, a CCP.
E sabemos que a conta do Weibo
foi a primeira a dar essa nova manchete.
Então enviamos um aviso público,
com os parceiros
em empresas de rede social,
praticamente todos eles,
que colocam um alerta bem pequeno
ao lado da manchete, cada vez que for
compartilhada com a chamada errada:
"Isso veio da unidade
central de propaganda
da CCP.
Clique aqui para saber toda a história".
E descobrimos que isso funcionou,
porque as pessoas entendem
que não é um material de notícia.
É uma apropriação do material da Reuters,
uma violação de direitos autorais,
e acho que isso faz parte da ideia.
Quando as pessoas entendem
que esta é uma narrativa intencional,
não a compartilham aleatoriamente.
Elas podem compartilhar,
mas com um comentário que diz:
"É isso que o Zhongyang Zhengfawei está
tentando fazer com a nossa democracia".
DB: Parece que algumas
empresas globais de mídia social
poderiam aprender algo
com esse aviso público.
AT: Isso mesmo.
DB: Que conselho você daria ao Twitter,
Facebook, LINE, WhatsApp
e qualquer outra mídia social do mundo?
AT: Pouco antes da nossa eleição,
dissemos a todas elas
que não estamos fazendo
uma lei para puni-las.
No entanto, compartilhamos
esse fato muito simples
de que existe essa norma em Taiwan
que temos um ramo do controle
separado do governo,
que publicou as doações
e as despesas da campanha.
E ocorreu-nos
que na eleição anterior
havia muitos candidatos que não incluíram
nenhum anúncio de rede social
em suas despesas para o Controle Yuan.
E então, essencialmente, isso significa
que existe um montante separado
de doação e despesa política
que escapa ao escrutínio público.
E nosso Control Yuan publicou dados brutos
isto é, não são estatísticas,
mas registros individuais de quem,
quando e onde doou por qual causa,
e os jornalistas investigativos
estão muito felizes,
porque eles podem fazer
relatórios investigativos
sobre as conexões entre os candidatos
e as pessoas que os financiam.
Mas eles não podem trabalhar
com o mesmo material
das empresas globais de rede social.
Então eu disse: "Isso é muito simples.
Esta é a norma social aqui,
não me importo com outras jurisdições.
Você adere à norma social
definida pelo Controle Yuan
e os jornalistas investigativos,
ou pode enfrentar sanções sociais.
E este não é o mandato do governo,
mas das pessoas cansadas da caixa-preta,
e isso também faz parte das exigências
do Movimento Girassol.
E então o Facebook publicou na Ad Library,
naquela época uma das estratégias
de resposta mais rápidas,
que todo mundo que tem
qualquer anúncio "dark pattern"
é revelado muito rapidamente.
Jornalistas investigativos trabalham
com os tecnólogos civis
para garantir que se alguém usar
as redes sociais de forma tão divisiva,
em uma hora, há um relatório
condenando isso.
Ninguém tentou isso durante a temporada
anterior das eleições presidenciais.
DB: Então a mudança é possível.
AT: Sim.
WPR: Temos mais algumas
perguntas da comunidade.
Há uma anônima:
"Acredito que Taiwan esteja
inteiramente fora da OMS
e que tenha um programa
de preparação de 130 partes,
desenvolvido por conta própria.
Em que medida ele credita a preparação
para criar o próprio sistema?"
AT: Bem, um pouco, eu acho.
Tentamos avisar a OMS,
mas, nesse ponto,
não estamos totalmente de fora,
temos acesso científico limitado.
Mas não temos acesso ministerial.
E isso é muito diferente.
Tendo apenas acesso científico limitado,
a menos que o principal epidemiologista
do outro lado seja o vice-presidente,
como no caso de Taiwan,
eles nem sempre fazem
a narrativa bem o suficiente
para traduzir isso em ação política
como o fez nosso vice-presidente.
Acho que a falta de acesso ministerial
age em detrimento da comunidade global,
pois, caso contrário, as pessoas
poderiam ter reagido como nós
no primeiro dia de janeiro,
em vez de terem que esperar semanas
até a OMS declarar coisas como:
que com certeza há
transmissão entre humanos,
que se deve inspecionar as pessoas
que vêm de Wuhan,
o que finalmente fizeram,
mas duas ou três semanas depois de nós.
WPR: Faz muito sentido.
DB: Mais cientistas
e tecnólogos na política.
Parece que essa é a solução.
AT: Sim.
WPR: Temos outra pergunta
aqui de Kamal Srinivasan
sobre estratégia de reabertura:
"Como restaurantes e varejistas
abrirão com segurança?"
AT: Ah, eles nunca fecharam, então...
AT: Sim, eles nunca fecharam,
não houve confinamento nem fechamento.
Acabamos de dizer algo muito simples
na conferência de imprensa da CECC:
haverá distanciamento físico.
Manter um metro e meio
em ambientes fechados
ou usar máscara.
E é isso.
Acho que alguns restaurantes
puseram cortinas vermelhas,
alguns têm ursinhos muito fofos
nas cadeiras e assim por diante,
garantindo que as pessoas
se espalhem uniformemente,
e alguns instalaram divisórias
de vidro ou plástico
entre os assentos.
Há várias inovações sociais acontecendo.
E acho que os únicos locais
que ficaram fechadas por um tempo,
por não conseguirem inovar rápido
o suficiente para atender essas regras,
foram os bares de acompanhantes.
Mas, finalmente, até eles
inventaram novos caminhos,
distribuindo protetores de plástico,
mas que ainda permite
que se possa beber por baixo dele.
Então reabriram com essa inovação social.
DB: Isso é incrível.
WPR: Temos muito a aprender
com suas estratégias lá.
Obrigado, voltarei com perguntas finais.
DB: Estou muito feliz em saber
que os restaurantes não foram fechados,
porque acho que Taipei
tem a melhor comida do mundo,
de qualquer cidade que eu visitei.
Parabéns a vocês por isso.
A grande preocupação quando se trata
de usar ferramentas digitais para a COVID
ou para a democracia
é sempre a privacidade.
Você falou um pouco sobre isso,
mas com certeza os cidadãos de Taiwan
talvez estejam igualmente
preocupados com privacidade,
especialmente dado o contexto geopolítico.
AT: Sem dúvida.
DB: Como você lida com essas demandas?
AT: Criamos não só estratégia defensiva,
como minimização da coleta de dados,
mas também medidas proativas,
como tecnologias
para melhorar a privacidade.
Uma das principais equipes
que surgiram do nosso "cohack",
a resposta do "TW" da Polis,
como facilitar o rastreamento de contatos,
focado não nos marcadores de contato,
não nos oficiais médicos, mas na pessoa.
Basicamente disseram:
"Você tem um telefone,
pode gravar sua temperatura,
seu paradeiro, etc.,
mas isso fica restrito ao seu telefone".
Nem usa o Bluetooth.
Portanto, não há transmissão.
A tecnologia usa software livre,
você pode consultar e usar no modo avião.
E quando o rastreador de contato
finalmente lhe disser
que faz parte de um grupo de alto risco,
e eles quiserem seu histórico de contatos,
essa ferramenta pode gerar
um URL de uso único
que contém apenas
as informações precisas e anônimas
que os rastreadores de contato querem.
Mas não será como
numa entrevista tradicional,
quando fazem uma pergunta
e só querem saber o seu paradeiro,
mas você responde com tanta precisão
que acaba comprometendo
a privacidade de outras pessoas.
Então, basicamente, trata-se de projetar
com o objetivo de melhorar
a privacidade de outras pessoas,
porque os dados pessoais
nunca são realmente pessoais.
É sempre social e interseccional.
Se eu tirar uma "selfie" em uma festa,
inadvertidamente também
capto praticamente todo mundo
que está na foto, nos arredores, etc.
E se eu fizer o upload disso numa nuvem,
na verdade, cancelo o poder de negociação
de todos ao meu redor,
porque aí os dados farão parte da nuvem
e ela não precisa compensá-los
ou fazer um acordo com eles.
Apenas projetando as ferramentas
com a privacidade aprimorada
como um valor positivo,
e não melhorando apenas
a privacidade da pessoa,
assim como a máscara médica protege você,
mas principalmente também
protege os outros.
Se projetarmos ferramentas com essa ideia
de código aberto e com uma API aberta,
então temos uma forma muito melhor
do que os serviços centralizados
ou baseados em nuvem.
DB: Você está vivendo no futuro,
acho até que literalmente,
já que é amanhã de manhã aí.
AT: Doze horas adiante.
DB: Sim.
Diga-me, o que você vê no futuro?
O que vem a seguir?
AT: Vejo o coronavírus
como um ótimo amplificador.
Numa sociedade autoritária,
o coronavírus, com todos
os seus confinamentos,
tem o potencial de torná-la
ainda mais totalitária.
Contudo, se as pessoas depositam confiança
no setor social, na engenhosidade
dos inovadores sociais,
então a pandemia, como em Taiwan,
na verdade fortalece a democracia,
para que todos sintam, de verdade,
que podem pensar em algo
que melhore o bem-estar
não apenas em Taiwan,
mas em praticamente todo o mundo.
E então, meu ponto aqui
é que o grande amplificador vem,
se quisermos ou não,
mas a sociedade pode fazer
o que Taiwan fez depois da SARS.
Em 2003, quando a SARS chegou,
tivemos que fechar um hospital inteiro,
barricando-o sem data de término definida.
Foi muito traumático,
todos acima de 30 anos
se lembram de como foi.
Os municípios
e o governo central diziam
coisas muito diferentes,
e é por isso que depois da SARS,
os tribunais constitucionais
incumbiram o legislador
de configurar o sistema como o vemos hoje,
e também é por isso que,
quando as pessoas reagiram
a essa crise em 2003,
construíram um sistema de resposta
muito robusto, com ações rápidas.
Então, assim como no Movimento Girassol,
por causa da crise de confiança
nos levou a criar novas ferramentas
que põem a confiança em primeiro lugar,
o coronavírus é a chance
para todos que sobreviverem
à primeira onda
estabelecerem um novo conjunto de normas
que reforçarão seus valores fundamentais,
em vez de assumirem valores externos
em nome da sobrevivência.
DB: Assim espero.
Vamos torcer para que o resto do mundo
esteja tão preparado quanto Taiwan
da próxima vez.
Quando se trata de democracia digital
e cidadania digital,
como você vê isso caminhando
tanto em Taiwan quanto no resto do mundo?
AT: Vou ler a descrição
das minhas funções para você,
e ela é, literalmente,
a resposta para essa pergunta.
Aqui vai:
Ao vermos a internet das coisas,
vamos torná-la a internet dos seres.
Ao vermos a realidade virtual,
vamos torná-la a realidade compartilhada.
Ao vermos o aprendizado de máquina,
vamos torná-lo o aprendizado colaborativo.
Ao vermos a experiência do usuário,
vamos fazer dela uma experiência humana.
E ao escutarmos
que a singularidade está próxima,
vamos sempre nos lembrar
que a pluralidade está aqui.
Obrigado por escutarem.
DB: Uau.
Eu tenho que aplaudir, isso foi lindo.
(Risos)
Bela descrição de funções.
Então, anarquista conservadora,
ministra do Digital
e com essa descrição do cargo,
isso é impressionante.
AT: Uma poeta política.
(Risos)
DB: É difícil imaginar
a adoção dessas técnicas nos EUA,
e esse pode ser o meu pessimismo falando.
Mas que palavras de esperança você tem
para os EUA, enquanto lidamos com a COVID?
AT: Como eu mencionei,
durante a SARS em Taiwan,
ninguém imaginou que poderíamos
ter o CECC e um porta-voz fofo.
Antes do Movimento Girassol,
durante um grande protesto,
havia meio milhão de pessoas na rua.
Ninguém pensou que poderíamos ter
um sistema de inteligência coletiva
que colocaria dados abertos do governo
como uma maneira de recuperar
a participação do cidadão.
E assim, nunca percam a esperança.
Como meu cantor favorito, Leonard Cohen,
também poeta, gosta de dizer:
"Toque os sinos que ainda podem tocar
e esqueça qualquer oferta perfeita.
Há uma fenda em tudo isso
e é por ela que a luz entra".
WPR: Isso é tão bonito,
parece uma ótima mensagem
para deixar para o público,
com o sentimento
de que estão todos muito gratos
pelo que você compartilhou, Audrey,
e todas as ótimas informações e percepções
sobre as estratégias de Taiwan.
AT: Obrigada.
WPR: David.
DB: Agradeço muito
por essa bela descrição do cargo
e por toda a sabedoria que você
compartilhou de forma tão rápida.
Eu acho que não foi
só uma ideia que compartilhou,
mas talvez umas 20, 30, 40?
Eu perdi a conta.
AT: Isso se chama Ideias que Valem
a Pena Espalhar, é uma forma plural.
(Risos)
DB: É verdade. Muito obrigado
por se juntar a nós.
WPR: Obrigada, Audrey.
DB: E desejo-lhe sorte com tudo.
AT: Obrigado e tenham
uma boa manhã ou boa noite.
Fiquem seguros.