Boa tarde. Eu quero começar pedindo que vocês experimentem visualizar a primeira imagem que aparece na mente de vocês se eu falo de um homem ganancioso. Tenta visualizar aí um homem ganancioso. Agora, eu vou tentar ver se eu adivinho, mais ou menos, a imagem que vocês visualizaram. Foi alguma coisa tipo assim? Talvez não, talvez uma coisa um pouco mais ostentação, tipo isso aqui. Ou talvez algo mais sexy, tipo isso? Talvez uma coisa mais lúdica, mais conhecida, tipo o nosso querido Mr. Burns. Pois é. Essas foram imagens que eu encontrei ao pesquisar sobre o termo "ganância" na internet, e elas são muito compatíveis à percepção que eu também tinha desse termo. Eu aprendi sobre a ganância mais ou menos o que vocês provavelmente também aprenderam. Que querer mais e desejar mais coisas era uma coisa egoísta, era mau-caratismo, era falta de empatia. Que você olhar pra um mundo tão ruim, tão cheio de dor e de tristeza, e desejar abundância e conforto era egoísmo. E que você ser ganancioso era basicamente sua culpa, todos os males da humanidade. Mas vocês sabiam que, originalmente, a palavra ganância vem do termo castelhano "gana", que significa desejo, vontade. O verbo "ganar", do castelhano, significa só vencer, conquistar, ganhar. Só isso, nada de pisar em ninguém, nada de queimar dinheiro no charuto, nada do tipo. Eu vou compartilhar com vocês hoje um pouquinho da minha história e vou explicar pra vocês o quanto mudar profundamente a minha percepção sobre o termo "ganância" foi transformador e libertador no meu caminho em busca da minha felicidade. Eu vou deixar esse sentido aqui pra gente lembrar que sempre que eu falar em ganância, eu estou falando dessa daqui. Eu comecei a trabalhar aos quatro anos de idade como atriz e eu trabalhei durante toda a minha infância, minha adolescência, minha juventude... Mas, mesmo trabalhando bastante, eu nunca me senti bem em gastar o meu dinheiro, em comprar coisas pra mim. Eu sempre me senti meio mal com isso, eu me sentia como se fosse injusto que eu pudesse comprar coisas, que talvez fossem supérfluas, e outras pessoas não pudessem comprar nem comida, nem água. Eu ganhava bem, eu era bem remunerada, mas eu não era feliz naquele trabalho. E eu aos poucos fui me aproximando da psicologia e fui percebendo que realmente eu não via sentido naquele trabalho, eu não admirava aquela função, e o que eu queria fazer da minha vida era trabalhar desenvolvendo pessoas, ajudando pessoas a se tornarem as melhores versões que elas pudessem ser de si mesmas, e eu decidi trocar de carreira. Migrei, segui esse meu chamado interno. Só que eu percebi que, mesmo trabalhando em algo que eu amava, e que eu via um sentido enorme, eu continuava não me sentindo à vontade em ganhar dinheiro. Aí eu falei: "Puxa vida, se antes eu trabalhava em algo que eu não via muito sentido e eu não me sentia bem ao receber meu dinheiro, hoje eu trabalho em algo que acho que tem uma importância enorme pro mundo e eu continuo não me sentindo bem ao receber? Então tem alguma coisa a ver comigo. Com a minha relação com o dinheiro, com o meu merecimento." Eu comecei a investigar quem eu era, o que eu queria, entrei naquela fase de crise existencial. E eu encontrei o meu propósito de vida, a minha missão, o que fazia sentido pra mim. Eu queria ajudar o maior número possível de pessoas a se tornarem a melhor pessoa que elas poderiam ser. Eu queria alcançar não só aquelas pessoas que viriam até o meu consultório, pessoas que já tinham abertura pra um processo terapêutico. Eu queria pessoas que tinham preconceito, que achavam isso besteira, que achavam isso bobagem. Eu queria quebrar essas barreiras. Eu queria mostrar que o autoconhecimento não precisa ser chato. E aí, eu me dei conta de uma coisa. Eu era gananciosa. Eu estava me visualizando sendo ouvida pelas pessoas. Eu estava me visualizando dando cursos, fazendo cursos fora, dando palestras… Eu falei: "Meu Deus, eu sou gananciosa! Eu estou querendo coisas grandes. Eu não quero só o necessário, não quero só coisas simples, quero mais. Eu quero usar minha visibilidade". Só que eu tinha aprendido que pessoas gananciosas eram pessoas más. Então eu era uma pessoa má? Só que eu nunca me vi como uma pessoa má! Esse maniqueísmo não estava fazendo sentido pra mim. Então, foi quando eu comecei a decidir estudar a riqueza, a abundância, a ação humana, como se dão as trocas entre os indivíduos, como se dá, enfim... a distribuição de recursos no mundo. E eu percebi algo que, pra mim, foi muito transformador. A ganância está presente na humanidade desde sempre e foi ela que nos trouxe até aqui. O homem tem um desejo inerente por mais, por algo maior, por realizar coisas que ultrapassem o limite físico, a finitude do nosso corpo. Ele quer deixar legado, ele quer fazer algo a mais, ele que agregar sentido pra vida dele. Viktor Frankl afirma que o suposto equilíbrio que nós buscamos, na verdade, ele está justamente nesse desequilíbrio, nessa tensão que se estabelece entre o homem e o sentido, entre o ser e sua busca eterna. Isso é a ganância. E ela não tem nada de mal, muito pelo contrário. Quando nós temos nosso direito à ganância negado ou cerceado de alguma forma... Quando nós aprendemos que a ganância é o mal da humanidade, é o grande mal, é a imoralidade, o mal de todos os males, nós acabamos fazendo o quê? Nós pegamos os nossos desejos mais profundos e guardamos numa caixinha. Nós negamos isso. E pior, nós transformamos esses desejos em rancor, em frustração, em vitimização, em uma sensação de que nós não somos mais protagonistas da nossa vida. Nós somos vítimas passivas. Nós não podemos permitir que isso aconteça. O homem precisa de liberdade pra construir, pra desejar e pra fazer o que for necessário pra chegar a esse lugar que ele desejou. Eu fui percebendo ao longo desse processo, que mesmo que eu quisesse ter uma vida puramente 100% dedicada à filantropia e a caridade, eu precisaria de recursos. Pra poder acabar com a fome no mundo, com a sede no mundo, com as doenças… tudo isso necessita de recursos. E pra conquistar esses recursos, a ganância é necessária, é absolutamente necessária. E olha, se a gente for olhar pra esse sentido, mesmo que você diga: “Eu não sou ganancioso, eu só quero uma casinha simples pra viver com meus animaizinhos e plantar tomates”. Você também tem um desejo. Também é um desejo. E esse desejo deve ser valorizado e respeitado tanto quanto quem deseja comprar uma lancha e ser o rei do camarote. A gente precisa respeitar isso. A ganância precisa ser desculpabilizada. Ela só passa a ser um problema quando ela vem acompanhada da falta de ética, da falta de moralidade, da falta de caráter. Então, ela não é um problema por si só. Pelo contrário, foi ela que mobilizou e fez com que a humanidade caminhasse. O comércio, ele é motivado pela ganância. Como nos diz Adam Smith, ele nos explica que não é da benevolência do padeiro que nós esperamos o nosso pãozinho. É do interesse que ele tem de suprir as próprias necessidades dele. É muito importante que a gente entenda que a humanidade, ela tem esse desejo e que a gente precisa respeitar essa necessidade humana. A Paula Pfeifer, hoje, esteve aqui, compartilhando com a gente, a linda história que ela passou que, claro, foi uma história de dor, mas de superação. Paula passou anos mergulhada em um profundo silêncio! E graças à tecnologia, graças ao implante coclear, ela pode voltar a ouvir. Assim como o marca-passo, o implante coclear só se tornou possível quando a tecnologia permitiu que as peças ficassem muito pequenininhas pra incluir. Vocês já pensaram quão ganancioso foi o primeiro homem que disse: “Vou inventar um aparelho para colocar na cabeça dos surdos pra que eles possam voltar a ouvir.” Não é fascinante? Ele foi muito ganancioso. E aí, eu pergunto: será que ele, lá no fundo, queria ganhar dinheiro? Ou será que ele, lá no fundo, estava puramente interessado no bem dos surdos que estavam sem ouvir? Ou será que as duas coisas? Eu não sei. Eu só sei que hoje a Paula esteve aqui conversando com a gente e ela está aqui ouvindo a minha voz, graças a esses homens. Nós não podemos romantizar o primitivismo humano. Viktor Frankl afirma, e mais uma vez, eu concordo com ele, que o homem, ele só consegue se realizar plenamente quando ele consegue encontrar qual é a sua missão no mundo e começa a caminhar pra colocar essa missão de verdade, concreta, pra realizar esse objetivo. É isso que é a maior potência humana. E se a gente nega isso, a gente nega o nosso maior poder, que é avaliar o contexto em que a gente se encontra, visualizar uma solução e um futuro da maneira que a gente deseja e caminhar de forma ética, de forma civilizada pra colocar esse sonho no mundo real. É muito importante a gente aceitar e acolher e assumir a nossa ganância. Somos gananciosos sim! E isso é muito importante pra humanidade. Na minha prática clínica, muitas vezes, eu encontro frases como: "A humanidade é terrível, é um vírus no planeta". "O homem deu errado, tem que explodir tudo e começar de novo." "Eu tenho vergonha de fazer parte do ser humano". Algumas tirinhas como essas são muito encontradas na internet, não é? "O mundo é uma coisa horrível. Deus me livre estar presente neste lugar". Como uma pessoa que enxerga a humanidade dessa forma vai conseguir se apropriar de todos os seus recursos e se tornar uma pessoa fantástica, se ela abomina a espécie a qual ela pertence? Se ela acha o mundo um lugar horrível e se ela acredita que é justamente essa sensação de “eu quero ser mais, eu sou ganancioso e eu desejo mais” que faz com que o mundo seja esse lugar tão horrível? Ela não vai. E aliás, essa visão de que o mundo é um lugar horrível... Muitas palestras do TED já falaram sobre isso, mas eu faço questão de falar de novo porque é muito importante. O mundo não é um lugar tão horrível quanto vocês imaginam! Nós somos humanos, nosso cérebro tem um dispositivo de procura de sobrevivência, preservação da espécie, então, isso é natural. É natural que nós tendamos a olhar mais pro que não está funcionando bem, pro que é perigoso, do que pro que está funcionando bem. Então, tudo bem, é compreensível. Mas quando a gente acredita que o mundo é um lugar tão tenebroso e que a culpa disso é a ganância, nós pegamos a nossa ganância e a escondemos de nós mesmos. E isso vai paralisando o mundo! Só que não é... O mundo não é um lugar tão horrível assim! Vamos avaliar alguns dados muito simples. Basicamente, a expectativa de vida subiu de 30 pra mais de 70 anos, em menos de um século. O número de mortes de crianças, anualmente, caiu de mais de 20 milhões pra menos de 8 milhões, em menos de 60 anos. Nós erradicamos doenças. A nossa jornada de trabalho era mais de 65 horas semanais. E hoje, ela está em, basicamente, 40. O mundo está melhorando. A humanidade está, aos poucos, aprendendo a usar os recursos que tem. Eu sei que existem problemas, sim, muitos, eu concordo. Mas será que a solução é regredir, é estagnar? A gente tem que se apropriar da nossa ganância. E usá-la de forma ética. Quanto mais nós, os gananciosos éticos, que estão dispostos a correr atrás dos seus sonhos sem pisar em ninguém e sem colocar de lado a moralidade… Quanto mais nós abandonamos o mundo, quanto mais nós damos de mão, nós entregamos de bandeja todos os recursos e todo o universo pra essas pessoas que são gananciosas e que não têm ética. Nós precisamos nos apropriar disso. E construir o nosso caminho. Fazer tudo o que nós podemos pra conquistar o que desejamos, sabendo que nós não só não estamos fazendo mal a ninguém, como mais do que isso, estamos ajudando a roda do mundo a girar. Estamos fazendo bem aos próximos. Ok, eu sei, a palavra ganância já foi denegrida. Não dá mais pra gente resgata-lá, mas eu vou procurar um outro verbo. Existe uma palavra em inglês que designa a pessoa que pensa grande, que deseja coisas grandes, que almeja muitas coisas, mas que não quer pisar em ninguém para chegar aonde deseja. Esse verbo se chama "thrive". Em português, ele é prosperar. Eu quero prosperar. Eu quero um futuro cheio de abundância pra mim e pra minha família. Eu quero conseguir lutar por tudo o que eu desejo, por todos os meus objetivos. Eu quero conquistar estabilidade financeira. Eu quero conquistar conforto e abundância pra minha família. Eu quero poder passar muito mais tempo com os meus filhos. E pra isso, eu preciso de estabilidade financeira, familiar, profissional… Eu quero ajudar pessoas que não tenham recursos, a se desenvolverem como pessoas, se desenvolverem como profissionais. Esses são os meus objetivos. Eles são compatíveis aos meus valores, as coisas importantes pra mim. E eu vou precisar de recursos pra fazer isso tudo. E eu estou disposta a conquistá-los sem pisar em ninguém, sem fazer nada de errado pra ninguém e sem me sentir culpada por estar almejando coisas. Eu quero prosperar e ajudar pessoas a prosperarem porque eu acredito verdadeiramente que essa é a melhor forma de fazer o mundo prosperar. Eu quero saber se vocês querem entrar nessa jornada comigo. Público: Sim! Cecília Dassi: Vamos nos libertar do nosso preconceito com a palavra ganância e vamos aceitar a prosperidade nas nossas vidas. Boa noite. (Aplausos)