Há 50 anos, a humanidade iniciou a guerra contra o câncer. Quando ela começou, dependíamos de quimioterapia como principal tratamento. Agora, quase 50 anos depois, ainda dependemos dela. O que está acontecendo? Nós gastamos bilhões de dólares com pesquisa em câncer, e parece que não vemos resultados produtivos desse investimento. Ainda dependemos da quimioterapia, radioterapia e cirurgia como principais tratamentos contra o câncer apesar de todos os bilhões gastos e apesar de todos os anos que passaram. O que está acontecendo na pesquisa do câncer? Será possível que não queremos tratá-lo? Isso seria absurdo. Será que estamos abordando a pesquisa de maneira errada? Felizmente, o número de sobreviventes está aumentando. Mas ainda não ganhamos a guerra contra o câncer. Cientistas estão trabalhando na segunda geração de tratamentos. Naqueles que poderão substituir a quimioterapia, radioterapia e cirurgia. Na verdade, dois desses tratamentos foram aprovados no ano passado. Um deles é chamado imunoterapia. e o outro, terapia gênica. A imunoterapia funciona assim: você pega células imunes de um paciente com câncer; elas são chamadas células T. Elas vão para o laboratório onde serão geneticamente modificadas para combater o câncer. Depois você as injeta no paciente. Três meses depois, o paciente está sem câncer. Tão impressionante quanto parece, muitas pessoas e cientistas acreditam que a imunoterapia é o futuro do tratamento contra o câncer. Eu não concordo. Existem três problemas, na verdade, quatro problemas com esse tratamento. O primeiro é que, até agora, só funciona contra um tipo de câncer, chamado leucemia linfoblástica. Todos sabemos que temos muitos tipos de câncer com que lidar: de mama, cerebral, de pele, e a lista continua. O segundo problema com esse tratamento é que só funciona em pessoas com menos de 25 anos. E todos sabemos que o câncer pode aparecer em qualquer idade. O terceiro problema, com os dois tratamentos que foram aprovados, é que são extremamente caros. O custo da imunoterapia é US$ 475 mil. Esse não é o telefone da sua companhia de seguro de saúde. Esse é o custo para apenas um paciente contra apenas um tipo de câncer. Por que eles são tão caros? Por quê? Por que as pessoas têm que vender um órgão para tratar outro? Estamos caminhando para um futuro devastador, a menos que façamos algo. O que realmente precisamos é de um tratamento que seja eficiente, que funcione a longo prazo, e que esteja disponível quando você precisar. O outro problema com esses tratamentos é que, quando eles forem suficientemente baratos, já não serão mais eficientes. Levará anos até que alguém da classe média possa pagar por imunoterapia. E quando isso acontecer, não será mais eficiente, porque no futuro as células cancerígenas não responderão da mesma forma que respondem hoje. Precisamos de algo que funcione a longo prazo. Se eu lhes disser que em vez de gastar US$ 475 mil para tratar apenas um paciente contra apenas um tipo de câncer, poderíamos, com o mesmo custo, prevenir quase todos os tipos de câncer em 15 indivíduos. O corpo humano é equipado com um mecanismo de defesa natural que nos protege do câncer. Está trabalhando no seu corpo agora mesmo. É chamado mecanismo de reparo do DNA. Quando o DNA faz cópias dele mesmo, há chance de erros chamados mutações. Essas mutações podem ser aceleradas quando você se expõe a produtos químicos, radiação, quando adota hábitos não saudáveis, e às vezes o histórico familiar e a genética também influenciam. Mas existem proteínas com a tarefa de reparar essas mutações assim que elas surgem. Isso está acontecendo agora nas suas células. E se houver uma maneira de aumentar a capacidade da célula de reparar o DNA ao máximo de eficiência? Nós poderíamos fazer isso. Sabemos quais proteínas estão envolvidas no mecanismo de reparo do DNA, e sabemos como controlá-las com a ajuda da técnica de edição gênica chamada CRISPR, da qual vocês devem ter ouvido falar. CRISPR é a técnica de edição gênica mais precisa já inventada na história da humanidade. Ela está se mostrando muito eficiente. Podemos usar essa técnica para aumentar a capacidade da célula de reparar DNA em todos os momentos, a todo custo. Mas há um problema. Se queremos nos proteger de todos os tipos de câncer, temos que ter certeza que todo o nosso corpo seja geneticamente modificado, que cada tipo de célula seja programada para resistir ao câncer. Não podemos fazer isso em humanos adultos porque nossos corpos consistem em 37 trilhões de células, e seria impossível modificar tudo isso. Não há nenhum tipo de tecnologia que possa colocar genes nesse número massivo de células. E se pudéssemos fazer isso em embriões humanos? Por quê? Porque embriões humanos têm apenas oito células no terceiro dia depois da fertilização. Nós podemos administrar, na verdade, podemos modificar oito células no embrião humano. Nós já estamos fazendo isso. Vejam esses incríveis resultados. Cientistas modificaram geneticamente embriões humanos. Eles conseguiram corrigir uma mutação responsável por uma condição cardíaca grave em embriões humanos. Também conseguiram tratar uma condição responsável por uma doença sanguínea. E, o mais incrível, eles conseguiram introduzir resistência a HIV. Tecnicamente falando, se esses embriões pudessem se desenvolver em adultos, a chance de eles serem infectados por HIV é tão baixa que pode nunca acontecer. Se podemos fazer isso com essas doenças, também podemos fazer isso com câncer. Isso é chamado terapia embrionária, que eu acredito ser a cura definitiva do câncer. O belo na terapia embrionária do câncer é que só precisamos modificar oito células nos embriões. Eles vão se transformar em adultos com 37 trilhões de células geneticamente modificadas. E só precisamos fazer isso uma vez em uma geração. Porque as próximas já terão essas mudanças genética pré-definidas. Elas vão passá-las para as próximas gerações. Outra coisa boa nesse tratamento é o custo benefício. Já estamos fazendo parte do tratamento. Vocês conhecem fertilização in-vitro: coletamos espermas, óvulos, os juntamos no laboratório, criamos embriões, e os implantamos. Esse é o procedimento para quem não consegue engravidar. É muito parecido, só estamos adicionando um passo, a engenharia genética. Estamos modificando o embrião humano antes de implantá-lo. O custo não é tão alto. Quero dizer, comparando com US$ 475 mil. O custo não é mais que US$ 15 mil. Pode custar menos em alguns países. O custo de embriões geneticamente modificados não é mais do que US$ 10 mil. Você pode comprar um kit CRISPR por US$ 1,5 mil e usá-lo para modificar ao menos 100 embriões. Pensem nas possibilidades aqui. Talvez vamos depender de fertilização in-vitro no início, mas, no fim, vamos encontrar um modo que permita modificar embriões dentro do corpo. Existem muitas maneiras de melhorar os embriões para atacarem o câncer. Podemos ajustar processos moleculares. Temos muito conhecimento sobre as moléculas envolvidas no câncer, e poderíamos manipulá-las antes do nascimento. Poderíamos manipular células humanas. Ao invés de imunoterapia depois do nascimento, poderíamos usá-la antes. O que é mais fascinante é que poderíamos adquirir características de outros seres vivos. Você devem ter ouvido falar do tardígrado, o animal mais resistente da Terra. Os tardígrados conseguem sobreviver na radiação espacial e no vácuo. Eles sobrevivem a radiação extrema, e podem se transformar em vidro em condições sem água. Mas o mais incrível é que eles sobrevivem a radiações extremas que causam câncer em humanos. Cientistas estudaram porque isso acontece. Por quê eles estão protegidos da radiação? E encontraram um gene responsável por isso. Adicionaram esse gene às células humanas, resultando numa célula humana com um gene de um outro ser. Essas células modificadas foram expostas a radiação UV, e o que aconteceu? As células imunes estavam resistentes à radiação. Elas ganharam 40% de resistência. Poderíamos adquirir esse traço. Poderíamos adicioná-lo aos embriões humanos, algo que, com certeza, ajudaria contra o câncer. Existem muitas outras criaturas com forças incríveis que poderíamos adicionar ao nosso genoma. Vamos imaginar um futuro onde erradicamos o câncer e ele já não existe mais. Vocês sabem quanto dinheiro gastamos em medicamentos para câncer? Em 2015, o mundo gastou US$ 107 bilhões nesses remédios. Em 2020, o gasto esperado é de US$ 105 bilhões. Isso só com medicamentos. Muitos outros bilhões são gastos na pesquisa em câncer. Estamos gastando muito dinheiro na pesquisa do câncer, e ignorando outras doenças importantes, como Alzheimer, esclerose múltipla, insuficiência cardíaca, lesões na medula espinhal, etc. Essas doenças também matam pessoas e as deixam em estado terminal. Se seguirmos alocando todos os recursos em pesquisa do câncer, não estaremos nos encaminhando para o futuro certo. Imaginem um mundo onde não precisamos mais gastar dinheiro com pesquisa em câncer. O câncer foi erradicado. Todos nascem com um mecanismo embutido que os protege do câncer. Agora podemos usar esse dinheiro para estudar outras doenças e aprender sobre suas genéticas. Em alguns poucos anos, usaremos o que aprendemos para aplicar as mesmas técnicas e tratá-las. Essa será nossa entrada não apenas para tratar câncer, mas também outras doenças. Se temos o conhecimento e a tecnologia para fazermos algo tão extraordinário, o que está nos impedindo? Existem alguns desafios que temos que superar antes de tornar isso realidade. O primeiro é a bioética. Estamos usando embriões, e a maioria dos países, agora, não autoriza pesquisa em embriões humanos além de 14 dias. Ou seja, depois de 14 dias, os embriões são destruídos, não podem mais ser utilizados. Como vamos entender o potencial desse tratamento, se não formos menos rigorosos com as regras? O problema da bioética é que as regras estabelecidas para pesquisa científica não mudam. Ciência e tecnologia continuam evoluindo, mas as regras estabelecidas há 50 anos não mudam. Elas não são revistas. E isso é um grande problema. É por isso que acredito que a regra dos 14 dias para terapia embrionária deveria ser revista, deveríamos discuti-la mais, e sermos menos rígidos para que possamos entender o potencial de tratamentos embrionários. Vamos revelar seu potencial ilimitado, se formos menos rígidos com as regras. O segundo desafio é o interesse comercial. Está claro que o câncer é uma fonte de renda estável. É um problema e, enquanto ele existir, algumas pessoas vão continuar lucrando. São essas pessoas que investem seu dinheiro na pesquisa do câncer. Por que eles investiriam na área que poderia erradicar o câncer? Interesse comercial é um grande problema. Se o câncer fosse erradicado, destruiríamos muitos interesses comerciais de empresas e indivíduos que lucram nessa condição. Ainda bem que parte do dinheiro gasto em pesquisas no câncer também vem de financiamento público, dos governos. De onde eles tiram esse dinheiro? De você, pagador de impostos. Parte do seu dinheiro vai para pesquisa em câncer. Temos controle sobre isso, se gastarmos dinheiro em novas áreas de pesquisa do câncer, podemos descobrir algo, em vez de manter o monopólio que foca nas mesmas áreas. Como eu disse, por quase 50 anos, não vimos progresso significativo. O último desafio é o conhecimento do público. O problema da sociedade hoje é que mantemos nossa cabeças fechadas. Não somos abertos em relação a novas revoluções em tecnologia. Não aceitamos, mesmo sem saber nada, mesmo sem nos educar. Isso é um grande problema. Vemos em fóruns online o crescimento da ignorância, comentários, pessoas negando o conhecimento científico, o avanço da tecnologia, simplesmente porque não os entendem, porque não os aprendem, ou talvez porque nós não estamos educando direito essas pessoas. É muito importante que as pessoas mantenham a mente aberta à tecnologia e à ciência. Aprendem mais sobre as opções disponíveis antes de dizer sim ou não. É sua responsabilidade, agora que vocês sabem sobre isso, levar essa discussão a pessoas que não a conhecem. Mais pessoas vão saber. Podemos influenciar os que têm poder de decisão a quebrar a regra dos 14 dias para que cientistas possam estudem embriões. Podemos revelar o potencial dos tratamentos embrionários e derrotar o câncer. As aplicações da ciência são infinitas, não há limites para as possibilidades, a decisão é apenas nossa agora. Ou mantemos o câncer como um amigo, abraçando a ignorância e ganância, ou derrotamos o inimigo de uma vez por todas, adotando a abnegação e o pensamento racional. Obrigado. (Aplausos)