Quando meu filho Miles
tinha três anos, ele se apaixonou.
O objeto da paixão dele
era uma brincadeira:
esconde-esconde.
Embora eu ame demais o Miles,
preciso admitir pra vocês
que ele era muito ruim nisso.
(Risos)
Primeiro, porque ele contava
onde ia se esconder.
Ele dizia: "Papai, você conta até dez,
e eu me escondo aqui".
(Risos)
A segunda razão de ele ser
tão ruim no esconde-esconde
é que, depois de achar
um lugar pra se esconder,
ele se escondia
e ficava rindo o tempo todo
no esconderijo.
(Risos)
Bom, se você brinca de esconde-esconde
e fica fazendo barulho sem parar,
você simplesmente é ruim.
(Risos)
E a terceira razão de ele ser
ruim no esconde-esconde
é por causa do que acontecia
depois da contagem.
Ele saía pra se esconder,
eu apoiava o rosto na parede...
e vocês sabem como funciona, né?
"... 6, 7, 8, 9, 10! Posso ir?"
(Plateia) Lá vou eu!
"Pode vir!"
(Risos)
Certa noite, antes de dormir,
estávamos brincando de esconde-esconde.
Ele se escondeu no quarto da irmã
enquanto eu contava.
Passei pelo corredor procurando por ele
e entrei no quarto da irmã dele,
e o que vi diante de mim
me deu vontade de rir.
Fiquei muito feliz na hora
por estar com meu celular no bolso
porque peguei o celular e bati uma foto.
Vou mostrar a vocês a foto agora,
e quero que olhem bem pra ela.
Me desculpem, ela está
meio escura e desfocada,
mas vejam se conseguem achar o Miles.
(Risos)
Eu disse que ele era ruim.
(Risos)
Se não perceberam, ele está deitado
no enorme unicórnio rosa da irmã
com um travesseiro das princesas
da Disney sobre o rosto...
Quantos aqui têm filhos?
E já viram algo assim antes? Já?
Então sabem o que está acontecendo aqui.
Miles acredita que...?
Que, como ele não consegue me ver,
eu também não vou conseguir vê-lo.
Se você tiver filhos,
você sabe que ele vai melhorar
conforme for crescendo, né?
Bem...
(RIsos)
Na verdade, só em parte.
Na verdade,
Miles vai acabar
desenvolvendo a capacidade
de ver as coisas a partir
da perspectiva do outro,
pelo menos no que tange
ao fisicamente visível.
Mas será realmente difícil para ele
ver as coisas sob o ponto
de vista do outro
no sentido de entender por que
o outro diz o que diz
e faz o que faz.
Acontece que, quando adultos,
deixamos muito a desejar nesse aspecto.
Quase nunca fazemos isso.
E não somos bons nisso.
E isso tem tudo a ver com por que a fofoca
começa e se espalha no trabalho.
Bem, vou falar um pouco
sobre a psicologia por trás disso,
mas antes quero falar
sobre o que ocorre no trabalho
quando uma pessoa está
um pouco incomodada com outra.
Ah, e pra ser justo com o Miles,
devo dizer que ele não é o único filho
que não sabia brincar de esconde-esconde.
A irmã mais velha dele, Lilly,
também não era lá essas coisas.
(Risos)
Vamos falar sobre
o que acontece no trabalho
quando uma pessoa fica aborrecida
por algo dito ou feito por outra.
Quando o funcionário A
fica aborrecido ou incomodado com algo
dito ou feito pelo funcionário B,
será que o funcionário A
procura o funcionário B e diz:
"Com licença..."
(Risos)
"Aconteceu isso,
estou meio incomodado.
Vamos sentar pra conversar, como adultos?"
É assim onde vocês trabalham?
(Plateia) Não.
O que o funcionário A faz em vez disso?
Procura outro funcionário,
liga pra um amigo... isso mesmo.
Ele procura um colega,
um amigo, um confidente,
e diz: "Ei, quero te contar uma coisa".
Bem, para os fins educativos de hoje,
vamos fingir que essas pessoas
trabalham juntas num consultório médico.
A funcionária A procura uma colega
e diz: "Ei, quero te contar uma coisa.
Acredita que atendi
14 pacientes hoje de manhã,
e aquela ali só atendeu 3?
Não sei qual é a dela,
mas não aguento mais ela".
Agora, vejam só que interessante:
a outra pessoa quase sempre
tem a mesma reação,
independentemente
da empresa em que trabalhe,
do cargo que exerça,
ou da natureza da queixa
que acabou de ouvir.
Quase sempre,
quando o funcionário A procura um amigo,
um companheiro no trabalho,
ele diz: "Ouve só isso",
a outra pessoa ouve a queixa,
entra na onda e diz:
"Tô sabendo!"
(Risos)
"Ela também fez isso comigo
semana passada!"
"Ahã." "Ahã." Ahã."
Aí, de repente,
surge um pequeno triângulo do drama.
É assim que o drama tem início
no ambiente de trabalho.
Para deixar claro, não estou usando
o termo "triângulo do drama" como ironia.
Trata-se de um padrão
de comportamento humano
que existe há décadas,
e foi demonstrado no fim dos anos 60
por um psicoterapeuta
chamado Stephen Karpman.
Ao publicar seu trabalho,
ele o chamou de "Triângulo do Drama".
Esses tipos de padrão de comportamento
não ocorrem apenas no trabalho,
mas em grupos de todas formas e tamanhos.
Se você vai à igreja, acontece lá.
No bairro onde você mora também acontece.
Acontece até dentro
da sua própria família.
Seja sincero:
quando você fica chateado com sua mãe,
você liga pra ela ou pra sua irmã?
(Risos)
"Olha, cansei da mamãe. Fale com ela."
(Risos)
E esse padrão de comportamento
é tão previsível e comum
que esses personagens têm nome.
Chamamos o funcionário A de "A Vítima".
É assim que ele se enxerga.
"Estou sendo injustiçado
de alguma forma pelo funcionário B."
A outra pessoa é chamada
de "O Socorrista".
É assim que ela se enxerga.
"Meu colega precisa de mim,
da minha ajuda, conselho, opinião.
Ele precisa que eu o ouça e o apoie."
E isso é bobagem.
Ela só está ali por dois motivos.
Primeiro, é legal quando te incluem
e te contam uma fofoca
e, segundo:
"Eu meio que fico contente
por não ser eu o objeto da fofoca".
Aí, chamamos a terceira pessoa
de "O Perseguidor".
E me perdoem pela caligrafia,
mas é assim que essa pessoa é vista
pelos outros nesse triângulo do drama.
É uma pessoa má, de mau caráter,
que faz escolhas ruins.
Bem, os triângulos do drama
se formam por duas razões.
A mais fácil de entender
é que eles são simplesmente mais fáceis.
Quase sempre é mais fácil
para o funcionário A
buscar o conforto da validação dos outros
do que entrar no desconforto do confronto.
É mais fácil achar alguém
que diga que você tem razão
do que ter uma conversa desconfortável
em que talvez você
possa estar errado ou parecer tolo.
Mas, na verdade, tem muito
mais coisa acontecendo aqui,
que ocorre antes de qualquer
um neste padrão procurar alguém.
Na verdade, nosso cérebro
pega alguns atalhos
que nos levam a esse padrão
de comportamento previsível
sem que nem sequer percebamos
que isso aconteceu.
Vou dar um exemplo.
O que você acha de uma pessoa
que chega atrasada no trabalho?
"Preguiçoso." "Não está nem aí."
"Egoísta."
Vejam só as repostas que surgem.
Quando faço essa pergunta em oficinas
ou em trabalhos de desenvolvimento
de equipes em empresas,
as respostas que surgem a essa pergunta
são praticamente uma lista
de falhas de caráter.
"Preguiçoso". "Não veste a camisa."
"Não está nem aí." "Desorganizado".
São versões de: "Ele não fez
o que tinha que fazer
pra estar onde tinha que estar
na hora em que tinha que estar".
Mas e quando é você que chega atrasado?
Aí qual é o motivo?
O trânsito?
(Risos)
Seja qual for a razão,
é uma das boas, não?
(Risos)
A verdade é que somos programados
para julgar a nós mesmos
de forma mais favorável que aos outros.
São atalhos que nosso cérebro
toma todos os dias,
vieses que nosso cérebro tem a nosso favor
e contra todos os demais.
O primeiro deles, que quero salientar
e que leva à fofoca no trabalho,
chama-se "o viés
da superioridade ilusória".
Não preciso que se lembrem do nome;
só que saibam o que significa.
Somos programados para inflar
e superestimar nossos talentos,
capacidades, julgamento.
O exemplo mais conhecido disso
é um estudo feito com motoristas,
em que lhes foi pedido que avaliassem
sua própria habilidade ao volante.
E sabem que 93% deles
se avaliaram como acima da média?
Vou deixar vocês com essa um instante.
(Risos)
Em outras palavras, 93% dos motoristas
se avaliaram como melhores
do que 50% de todos os motoristas.
Vocês sabem como é.
Isso acontece no trabalho também.
Vamos imaginar que eu trouxesse
todos da sua empresa pra esta sala
e dissesse: "Parabéns, todos aqui
vão receber um aumento;
algo entre 2% e 4%,
com base em merecimento.
Peguem este cartão.
Escrevam nele
o percentual de aumento de salário
que acreditam que devem receber".
De primeira, o que ninguém vai escrever?
Ninguém vai escrever 2%.
Sabe o que ninguém mais vai escrever?
3%.
(Risos)
Ninguém levanta a mão
e diz: "Sou mediano".
(Risos)
Vão escrever 3,1%.
E vocês têm alguns funcionários
que escreveriam 4%.
E o cara que, tipo, escreve 7%,
o cara que limpou a geladeira suja
da copa essa semana?
Este cara aqui.
Bum!
(Risos)
Nós superestimamos nossas próprias
habilidades e desempenho.
Até em casa somos assim.
Quantos já planejaram consertar
algo em casa no fim de semana
e pensaram: "Isso vai levar
umas quatro horas",
e levou quatro finais de semanas?
(Risos)
Somos programados para julgar
a nós mesmos de forma mais favorável.
É quase como se houvesse um anjo
sentado em nosso ombro,
sussurrando todo dia em nosso ouvido:
"Você é o melhor".
(Risos)
"Você é uma pessoa muito legal."
(Risos)
"Você é incrível!"
E nós acreditamos nele.
(Risos)
Mas o problema é o seguinte:
esse anjo não está só.
No outro ombro, fica um diabinho
que também sussurra em nosso ouvido
e cuja função é avaliar todos os outros.
O diabinho é outro viés
que carregamos conosco todo dia
chamado "erro fundamental de atribuição".
Cientistas sociais descobriram
que, quando avaliamos as escolhas
e o comportamento dos outros,
decidimos que eles se devem
não a situações mas ao caráter.
Em outras palavras, quando vemos
alguém fazer algo questionável,
decidimos imediatamente
que seu caráter é questionável.
Aquele cara que te fecha no trânsito?
"Quem ele pensa que é?
Deve ser egoísta, se acha. Um idiota!"
Aquele colega de trabalho
que está molengando hoje?
"Não está nem aí, não se esforça."
O que você pensa de alguém
que chega atrasado no trabalho?
"Preguiçoso." "Desorganizado."
"Não veste a camisa."
Temos um diabinho sussurrando
todos os dias em nosso ouvido,
e ele sussurra uma história inventada
sobre por que os outros agem como agem,
e essa história quase sempre
presume má-fé.
Então, por que a fofoca começa
e se espalha no trabalho?
Porque, como uma criança
brincando de esconde-esconde,
ficamos tão distraídos
que não paramos pra enxergar a situação
sob a perspectiva do outro,
para entender melhor
por que ele fez o que fez
e disse o que disse.
Em vez disso, os vieses do nosso cérebro
sussurram em nosso ouvido todo dia:
"Numa escala de 1 a 10,
eu sou 7, 'brother',
e todos os outros são 4".
E quando começamos a acreditar nisso,
quando damos ouvido a esses vieses,
quando decidimos que nossas escolhas
e comportamentos são virtuosos
e que os dos outros nem tanto,
isso no faz começar a julgar os outros.
E aí, convidamos outras pessoas
para se juntarem a nós nesse ciclo.
A verdade é que, se quisermos
diminuir a fofoca no trabalho,
existem dois comportamentos principais
com que sua equipe tem que se comprometer:
presumir boa-fé
e procurar a fonte.
Presumir boa fé é simplesmente parar
e fazer uma pergunta muito importante:
"Que explicação seria perfeitamente
legítima pro comportamento dessa pessoa?"
"O que faria um pessoa boa
agir dessa forma?"
O cara que te fechou no trânsito?
Talvez ele seja um babaca idiota,
ou talvez esteja correndo pro hospital
numa emergência médica de família.
A colega de trabalho molengando?
Tá, talvez ela não esteja nem aí,
ou talvez o chefe dela
tenha lhe pedido pra desacelerar.
Aquele colega que chegou atrasado?
Talvez o filho tenha entornado
suco nas calças dele
justo quando estava saindo de casa.
Presumindo boa-fé, calamos
o diabinho em nosso ouvido
porque assim afastamos o julgamento,
e nos forçamos a buscar a empatia.
"Por que uma pessoa boa agiria assim?"
é uma pergunta a fazermos a nós mesmos
que imediatamente nos torna membros mais
inteligentes emocionalmente numa equipe.
O outro comportamento é buscar a fonte,
é fazer exatamente o que descrevi antes,
ir ao colega de trabalho e dizer:
"Olha, aconteceu isso,
está me incomodando, não foi legal.
Precisamos conversar".
E se você conseguir fazer
com que sua equipe
adote somente esses dois comportamentos,
bem, você terá plantado neles
a essência do trabalho em equipe,
porque esses são os comportamentos-chave
para conflitos saudáveis no trabalho
e para nos desviar dos padrões
de conflitos não saudáveis.
Ah, e a fofoca continuará pelos cantos,
a rádio-corredor continuará existindo,
mas será um pouco diferente.
Agora, o funcionário A
procurará um colega pra dizer:
"Ei,
acredita que a Jane chamou o Jack
na chincha hoje de manhã
e disse que estava incomodada
com o fato de ele molengar o trabalho?
E a reação dele até que foi tranquila".
E, nessa hora, o colega
pode responder baixinho:
"Tô sabendo!"
(Risos)
Obrigado.
(Aplausos)