Boa noite.
Eu sempre gostei muito de comer,
mas eu nunca fui de cozinhar.
Quando era pequena, eu adorava ver
minha avó cozinhar e trabalhar na cozinha.
Ela que tomava conta das ceias
de Natal, Ano Novo e Páscoa.
E ela fazia tudo com muito amor e carinho.
Quem gostava de botar a mão na massa
junto com ela era o meu irmão.
Tanto que até hoje ela me pergunta
como, quando e por que
eu fui parar na cozinha.
E essa é a resposta
que eu quero dar pra vocês hoje.
Porque se tem alguma coisa
que pode mudar o futuro da alimentação,
é o ato de cozinhar.
Na adolescência, mais precisamente
quando eu tinha 14 anos,
eu comecei a praticar ioga.
E a ioga me transformou.
Transformou a minha vida completamente.
Mudou a minha visão de mundo,
mudou a minha alimentação
e com ela eu percebi
que os alimentos tinham poderes,
digamos assim.
Eu decidi também estudar
filosofias alimentares
que utilizassem o alimento
como forma de prevenção,
cura e tratamento de doenças,
como forma de remédio mesmo.
Eu resolvi então estudar um pouco
sobre a ayurveda e a macrobiótica.
Porque essas filosofias
resgataram em mim uma coisa
que eu acho que a modernização
tirou de muitos de nós, jovens,
que é o zelo, o cuidado
e o respeito pela natureza.
Então, eu decidi que a gente poderia mudar
o jeito que a gente
constrói o sistema alimentar
através da alimentação.
Eu acredito que um dos efeitos
colaterais da modernização
é o afastamento do homem com a natureza,
o afastamento da vida
urbana e da vida rural.
Acredito que se a gente trouxer
um pouco da vida rural pra cidade,
a gente pode fortalecer os laços
entre o homem e a natureza.
Por exemplo, plantando hortas urbanas.
É um jeito pelo qual a gente
pode se reconectar com a natureza.
E anos depois, já com 18 anos,
eu fui morar fora e lá aprendi a cozinhar.
Eu me apaixonei pela culinária,
me apaixonei pela cozinha
e entendi que a gente podia usar a comida,
a alimentação, como uma ferramenta,
não só pra melhorar a qualidade
de vida em termos de saúde,
mas também usar como uma ferramenta
política, econômica, social e ambiental,
e com isso conseguir
reestruturar o sistema alimentar,
mudar a dinâmica da alimentação
e o processo de produção,
distribuição e consumo dos alimentos.
Eu vou dar um exemplo
do processo de produção de carne.
Existem dois princípios que conduzem
a produção de carne em escala industrial:
a quantidade e a velocidade.
Quanto mais se produz,
quanto mais barato se produz,
pior é a qualidade e maior é o custo
pro meio ambiente e pra nossa saúde.
Em termos de velocidade,
o ciclo do animal
é acelerado artificialmente,
o ciclo de vida do animal
é acelerado artificialmente,
e ele começa a crescer
e produzir de uma maneira
que chega uma hora
que seus corpos não aguentam,
e ele começa a diminuir drasticamente
a sua qualidade de vida,
a sua saúde e o seu tempo de vida.
Acredito que a gente pode e deve mudar
esse sistema alimentar.
Eu estava outro dia
passando no supermercado,
e percebi que o quilo do frango
estava mais barato que o quilo do tomate.
Eu falei: "Gente, como pode?"
Isso é muito complexo.
Como pode custar tão pouco
você criar um animal
desde o nascimento até o abate?
Isso não entrava na minha cabeça.
Em termos de legumes e verduras,
o processo de produção
em escala industrial
também é muito, digamos assim,
danoso pra nossa vida,
pra nossa saúde e pro meio ambiente,
porque hoje em dia o Brasil é o maior
consumidor de agrotóxicos do mundo.
Cada brasileiro consome em média
cinco quilos de agrotóxicos por ano.
É uma quantidade exorbitante.
E as pessoas sabem
dos malefícios dos agrotóxicos,
mas mesmo assim elas continuam tolerando
esse abuso no uso e no consumo.
E eu queria entender por quê.
Mas a resposta é porque
a nossa sociedade atual
tem os valores invertidos.
Há uma inversão de valores.
Por que uma pessoa se preocupa
em não comprar um perfume falsificado
porque acha que vai ter alguma reação
alérgica, porque não sabe a procedência,
ou não sabe que tipo
de química tem ali dentro,
e não se preocupa em comer
um vegetal intoxicado?
Por que isso?
Eu queria entender e descobri
que é essa mudança de valores.
E a gente precisa ensinar as pessoas
a valorizar os produtos orgânicos,
porque quando você compra,
por exemplo, um pé de alface orgânico,
você está pagando...
não só você está investindo na sua saúde,
mas você está pagando
pelo bem-estar do produtor,
que é uma coisa que muitas vezes
as pessoas não pensam,
não sabem que por trás daquela alface teve
alguém que cuidou com todo amor e carinho
e levou essa alface até você.
Então a gente paga
pelo bem-estar do produtor,
a gente investe na saúde
e a gente respeita a natureza.
Por isso eu acho que me apaixonei
pela culinária e pela nutrição.
Em termos de distribuição,
também não é eficiente.
Eu acho que vocês devem saber
que a gente produz muita comida.
Um terço da comida que a gente produz
é simplesmente desperdiçado, jogado fora.
E a gente se pergunta
por que ainda tem gente passando fome.
E o motivo é uma má
política de distribuição.
A gente tem que rever isso.
Em termos de consumo,
o modo que a gente consome
os alimentos hoje é assustador.
A minha avó é paulista.
Ela mora em São Paulo.
Se eu pegasse ela e a colocasse
no meio da Avenida Paulista,
eu tenho certeza que ela
ia ficar muito assustada,
vendo aqueles executivos
ou aquelas pessoas apressadas,
andando na rua, falando no celular,
engolindo um pedaço de pizza, por exemplo.
Porque também mastigar é uma coisa
que as pessoas acham que é perda de tempo,
mas que, na verdade, é muito importante.
Enfim, ela ia ter quase uma síncope,
porque ela não reconhece aquilo
como uma forma de refeição,
como uma forma de se nutrir
e de se alimentar.
Esses fast-foods, essas comidas rápidas,
foram feitas pra isso mesmo,
pra gente poder comer
em conjunto com outra atividade,
ou falando no celular,
teclando, ou assistindo TV.
Isso faz com que a gente
perca a noção de saciedade.
A gente acaba abrindo espaço pra gula,
que é muito danosa
e prejudicial pra nossa saúde.
Então, a gente precisa rever o modo
como a gente consome os alimentos.
E esses salgadinhos, biscoitinhos e tal,
também têm muitos aditivos químicos
e um nível exagerado de sal, gordura
e açúcar, que é o trio viciante.
Principalmente os realçadores de sabor
acabam destruindo o nosso paladar,
eles degeneram o nosso sistema nervoso
e eles acabam criando uma dependência,
não só física, mas também
uma dependência mental,
uma dependência psicológica
e uma dependência fisiológica.
Ou seja, os produtos industrializados
em excesso são muito prejudiciais.
Eu nem chamo eles de comida.
Pra mim são comidas maquiadas de alimento,
porque você pode até
consumir e se satisfazer,
mas ele não vai ter nutrir
e não vai te alimentar.
E quem é que ainda faz pipoca de panela?
Pipoca de panela em lugar de micro-ondas?
Olha! Metade e metade. (Risos)
Quem ainda faz bolo em vez de comprar
aquele bolinho pronto de pacotinho?
Oh! Também metade e metade. (Risos)
Essas duas perguntas
podem parecer um pouco inofensivas
e não querer dizer nada, mas,
na verdade, querem dizer muito.
Só de você trocar a pipoca de panela
pela pipoca de micro-ondas
você já está causando
um dano pra sua saúde,
porque você vai estar consumindo químicos
que você não colocaria,
tenho certeza, na sua pipoca de panela,
e você também está poluindo
com a embalagem da pipoca de micro-ondas.
É uma embalagem extra que poderia ser
um lixo a menos no mundo.
Então, eu acho que o consumo excessivo
de produtos industrializados
é muito prejudicial mesmo.
Pra resumir
essa questão do processo
de produção de comida,
eu acho que essa dinâmica alimentar,
esse sistema alimentar
não é nada sadio.
Não está funcionando.
E a gente deve mudar. Mas como mudar?
A principal resposta é voltando pro fogão.
Cozinhar é sinônimo de arte,
cultura, lazer, saúde.
Cozinhar traz independência,
traz autoconhecimento, traz autonomia,
traz segurança, traz liberdade.
Cozinhar é a arte fundamental da vida.
Se a gente não cozinha,
alguém vai cozinhar pela gente.
Eu espero que não seja a indústria.
Porque a indústria não cozinha,
ela simplesmente processa os alimentos.
Se você deixar a indústria te alimentar,
ela vai escolher pra você
o que você vai ter pro jantar:
lasanha congelada, batata frita,
hambúrguer, cachorro quente.
Que tal uma pizza?
E dá-lhe o Disk Pizza! Porque
nem pizza a gente sabe fazer mais.
Eu acredito que a gente...
Ah, não! Espera aí! Cadê o arroz e feijão?
Cadê o arroz e feijão de cada dia
que enchia a nossa barriga e a nossa alma?
Eu acho que muita gente que não tem
interesse e nem apreço pela cozinha,
deve pensar que fazer comida
é muito trabalhoso,
é antiprático e uma perda de tempo.
Mas, se você deixar o feijão
de molho da noite pro dia,
acorda de manhã, em 20 minutos você tem
o feijão pronto na panela de pressão.
Ou você pode simplesmente
pegar um dia, fazer o feijão,
e deixar congelado pro resto da semana.
Juntando com arroz fresquinho
que você faz em 20 ou 30 minutos,
e mais os legumes que você já deixou
cortados e lavados na geladeira
quando você chegou da feira,
em meia hora você tem a refeição pronta.
Esse seria talvez o mesmo tempo
que levaria para esperar a pizza chegar,
esperar o "delivery" de pizza.
Então, eu acredito que a gente deve mudar
a maneira como a gente enxerga a cozinha,
como a gente enxerga o ato de cozinhar.
Todo mundo pode e deve cozinhar.
Homem, mulher, menino,
menina, criança, adulto, idoso.
Não tem idade, não tem sexo
e não tem gênero.
Todo mundo pode cozinhar.
Todo mundo deve cozinhar.
Mudando a educação,
a gente ensinando as crianças,
levando as crianças à feira pra escolher
o legume que vai ter pro jantar,
botando as crianças pra descascar
uma batata, lavar a louça,
coisas simples do dia a dia,
a gente pode construir um futuro melhor.
Essas crianças vão crescer
com uma visão holística de mundo.
Elas vão saber de onde vem a comida,
que muita gente acha que vem
da prateleira do supermercado.
As crianças vão crescer independentes
da indústria alimentícia,
porque elas vão saber cozinhar.
Elas vão crescer independentes
da indústria farmacêutica,
porque elas vão ficar muito menos doentes,
crescendo e comendo uma comida
caseira, uma comida saudável.
Eu acredito que a gente tem que mudar
a dinâmica da alimentação.
A gente tem que mudar
a valorização que a gente
tem com a comida.
A gente tem que valorizar mais a comida,
valorizar o ato de comer e de cozinhar.
Educação não é só falar
"por favor", "obrigado" e "dá licença".
Educação não significa
entender que hospital
é sinônimo de saúde.
Eu acho que ter uma qualidade de vida,
um estilo de vida saudável
e uma alimentação saudável
pra que a gente tenha menos hospitais,
isso sim é educação.
É educação e prevenção.
Então, o futuro da comida
vai decidir o futuro da humanidade.
Cozinhar e escolher bem os alimentos
são escolhas que a gente pode fazer
pra mudar o mundo pra melhor.
Obrigada.
(Aplausos)
Good evening.
I've always really liked eating,
but I was never really into cooking.
When I was little, I loved watching
my granny cook and work in the kitchen.
She was in charge of Christmas dinner,
New Year's and Easter.
She made all with so much love and care.
My brother was the one who liked
to go hands-on with her.
Even today, she still asks me
how, when and why
did I end up in the kitchen?
And that's the answer
I want to give you today.
Because if something can change
the future of eating habits,
that's cooking.
As a teenager, precisely at 14,
I began to do yoga.
And yoga changed me.
It completely changed my life.
It changed my vision of the world,
it changed my diet,
and with that I realized
that food has power,
so to speak.
I also decided to study
eating philosophies
that used food as forms of prevention,
healing, and disease treatment,
even as kinds of medicine.
So I decided to study a little
about Ayurveda and macrobiotics.
These philosophies
brought back something in me
that I think modern times
have taken from many of us young people,
which is care, zeal,
and respect for nature.
So, I decided that we could change the way
we build the food system
through eating habits.
I believe one of the side effects
of modern times
is humans getting distant from nature,
the distance between urban and rural life.
I believe that if we bring
a little of rural life to the city,
we can strengthen the bonds
between man and nature.
For example, by planting urban gardens.
It's a way to reconnect with nature.
Some years later, when I was 18,
I lived abroad, and there
I learned how to cook.
I fell in love with the art of culinary,
I fell in love with the kitchen,
and I realized we could use food
and eating habits as a tool,
not only to improve the quality
of life in terms of health
but also to use it as as tool
in political, economic,
social, and environmental terms,
and then manage
to restructure the food system,
change the diet dynamics
and the production, distribution,
and food consumption processes.
I'll give you an example
of the meat production process.
There are two principles
that conduct the meat production
at an industrial scale:
quantity and speed.
The more you produce
and the cheaper it gets,
the worse the quality,
and the cost is higher
for our health and environment.
In terms of speed,
the animal cycle
is artificially accelerated,
the animal life cycle
is artificially accelerated,
and it starts growing
and producing in such a way
that at some point
their bodies can't take it anymore,
and it drastically decreases
its life quality,
its health and lifetime.
I believe that we can and must change
this food system.
The other day I was at the supermarket,
and I noticed that a pound of chicken
was cheaper than a pound of tomatoes.
And I said, "How can that be?"
This is very complex.
How can it cost so little
to raise an animal
from birth to slaughter?
I couldn't understand that.
In terms of vegetables and greens,
the industrial scale production process
is also very harmful to our lives,
our health, and to the environment
because, today, Brazil is the biggest
agrochemical consumer in the world.
Each Brazilian consumes around
11 pounds of agrochemicals per year.
It's a steep amount.
And people know
the hazards of agrochemicals,
but they still put up with this abuse
of usage and consumption.
And I wondered why.
But the answer is that our current society
has twisted values.
Our values are twisted.
Why does someone worry
about not buying fake perfume
because they worry
about some allergic reaction,
as they don't know its origin,
they don't know what sort
of chemicals are in the bottle,
and they don't care about eating
intoxicated vegetables?
Why is that?
I wondered about this and realized
that this is the change of values.
We need to teach people
to value organic products,
because when you buy
organic lettuce, for example,
you're not only investing in your health
but also paying
for the producer's well-being,
which is something
people don't usually think of,
they don't know that behind that lettuce
is someone who cares for it with love
and brought that lettuce to you.
So we pay for the producer's well-being,
we invest in our health,
and we respect nature.
I think that's why I fell in love
with cooking and nutrition.
In terms of distribution,
it's not efficient either.
I think you know we produce a lot of food.
One third of the food we produce
is simply wasted, thrown out.
And we ask ourselves
why so many people are still starving.
The reason is bad distribution policy.
We have to rethink that.
In consumption terms,
the way we consume food
today is frightening.
My grandma is from São Paulo,
and she lives there.
If I dropped her in the middle
of Paulista Avenue,
I'm sure she would be really scared
seeing all those executives,
or those people in a hurry,
walking along the street,
talking on their cell phones,
swallowing a slice of pizza -
because chewing is something
people also think is a waste of time,
but it's actually very important.
Anyway, she would freak out
because she doesn't see that as a meal,
as a way to nurture and feed oneself.
Fast food is made for this purpose,
so we can eat while doing something else,
talking on the phone, typing, watching TV.
This makes us lose
our notion of satiation.
We make room for gluttony,
which is very harmful to our health.
So, we need to rethink
the way we consume food.
These snacks, biscuits, and so on
also have a lot of chemical additives,
and too much salt, fat, and sugar,
which is the addictive trio.
Flavor enhancers end up
destroying our sense of taste,
they degenerate our nervous system
and create addiction,
not only physical but also mental,
psychological,
and physiological addiction.
That is, excessive industrialized products
are very harmful.
I don't even call them food.
To me, they are fake food,
because you may feel full eating them,
but they won't nurture or feed you.
And who still makes popcorn in a pan?
Pan popcorn instead of microwave?
Look! Half and half. (Laughter)
Who still makes cakes
instead of buying mixtures?
Oh! Also half and half. (Laughter)
These two questions
may seem a little harmless
and not mean anything,
but actually they mean a lot.
By just switching from pan popcorn
to microwave popcorn,
you're already harming your health,
because you're consuming chemicals
that you surely wouldn't add
to your pan popcorn,
and you're also polluting
with the microwave popcorn packaging.
It's an extra packaging that could
be less trash in the world.
I think the excessive consumption
of industrialized products
is really harmful.
To sum up
this food production issue,
I think this food dynamics,
this food system
is not healthy at all.
It's not working.
And we have to change.
But how can we change?
The main answer
is going back to the kitchen.
Cooking is synonym of art,
culture, leisure, health.
Cooking brings independence,
self-knowledge, autonomy,
safety, freedom.
Cooking is life's fundamental art.
If we don't cook,
someone will do it for us.
I hope it's not the industry.
Because the industry doesn't cook,
it simply processes food.
If you let the industry feed you,
it'll choose what to give you for dinner:
frozen lasagna, French fries,
burgers, hot dogs.
How about pizza?
Give us delivery pizza
because we can't even make
pizza anymore!
I believe that we...
Oh, no! Wait! Where's rice and beans?
The everyday rice and beans
that filled up our stomachs and souls?
I think a lot of people
who are not interested in
or fond of cooking
must think it's a lot of work,
not practical, and a waste of time.
But if you leave the beans
soaking overnight,
in the morning, in 20 minutes you'll have
them ready in the pressure cooker.
Or you just take one day to make beans
and freeze them for the week.
Along with fresh rice
that you make in 20 or 30 minutes
and vegetables that you have prewashed
and cut up in the fridge
when you came back from the market,
you have a whole meal ready
in half an hour.
It might be the same time
you would wait for a pizza,
from the pizza delivery.
So, I think we must change
the way we see cooking,
the way we see the act of cooking.
Everybody can and must cook:
men, women, boys, girls,
kids, adults, the elderly.
There's no age, sex, or gender.
Everybody can cook. Everybody should cook.
By changing education, teaching kids,
taking kids to the market to choose
the vegetables they'll have for dinner,
having kids peel potatoes, do the dishes,
simple day-to-day things,
we can build a better future.
These kids will grow up
with a holistic view of the world.
They'll know where the food comes from,
because many people think it comes
from the supermarket shelf.
Kids will grow up independent
of the food industry
because they will learn to cook.
They will grow up independent
of the pharmaceutical industry
because they will be less sick,
growing up and eating
homemade food, healthy food.
I believe we have to change
the food dynamics.
We have to change
how we value food.
We have to value food more,
value the act of eating and cooking.
Education isn't just saying
"please," "thank you," and "excuse me."
Education doesn't mean
seeing a hospital as synonym of health.
I think having life quality,
a healthy lifestyle, and a healthy diet,
so that we need fewer hospitals -
that is education.
It's education and prevention.
So, the future of food
will decide the future of humanity.
Cooking and choosing food well
are choices we can make
to make a better world.
Thank you.
(Applause)
Buenas noches.
Siempre me gustó mucho comer,
pero nunca fui de cocinar.
De pequeña, adoraba ver a mi abuela
cocinar y trabajar en la cocina.
Ella se ocupaba de las cenas
de Navidad, Año Nuevo y Pascua.
Y lo hacía con mucho amor y cariño.
A quien le gustaba meter las manos
en la masa con ella era mi hermano.
Tanto es así que hasta hoy
todavía me pregunta
cómo, cuándo y por qué
se me dio por la cocina.
Y esa es la respuesta
que quiero darles hoy.
Porque si existe algo que puede
cambiar el futuro de la alimentación,
es el acto de cocinar.
En la adolescencia, precisamente
cuando tenía 14 años,
comencé a practicar yoga.
Y el yoga me transformó.
Transformó completamente mi vida.
Cambió mi visión del mundo,
cambió mi alimentación,
y con ella aprendí
que los alimentos tenían poderes,
pongámoslo así.
También decidí estudiar
filosofías alimentarias
que utilizaran los alimentos
como forma de prevención,
cura y tratamiento de enfermedades;
como remedios incluso.
Decidí entonces estudiar
un poco de Ayurveda y macrobiótica.
Porque esas filosofías
rescataron en mi una cosa
que creo que la modernización nos quitó
a muchos de nosotros, los jóvenes,
que es el celo, el cuidado
y el respeto por la naturaleza.
Entonces, decidí que podríamos cambiar
la manera en que construimos
el sistema alimentario
a través de la alimentación.
Creo que uno de los efectos
colaterales de la modernización
es el alejamiento entre
el ser humano y la naturaleza,
entre la vida urbana y la vida rural.
Creo que si trajéramos
un poco de vida rural a las ciudades,
podríamos fortalecer los lazos
entre el ser humano y naturaleza.
Por ejemplo, plantando huertas urbanas.
Es una forma en que podríamos
reconectarnos con la naturaleza.
Y años después, ya con 18 años,
me fui a vivir afuera
y allí aprendí a cocinar.
Me apasioné por la gastronomía,
me apasioné por la cocina,
y entendí que podíamos utilizar
la comida, la alimentación,
como herramienta,
no solo para mejorar la calidad
de vida en términos de salud,
sino también utilizarla como herramienta
política, económica, social y ambiental
y así conseguir reestructurar
el sistema alimentario,
cambiar la dinámica de la alimentación
y el proceso de producción,
distribución y consumo de alimentos.
Voy a dar un ejemplo
del proceso de producción de la carne.
Hay dos principios que guían la producción
de carne a escala industrial:
cantidad y velocidad.
Cuanto más se produce,
cuanto más barato se produce,
peor es la calidad y mayor el costo
para el medioambiente y nuestra salud.
En términos de velocidad,
el ciclo del animal
es acelerado artificialmente,
el ciclo de vida del animal
es acelerado artificialmente,
y empieza a crecer
y a producir de una manera
que llega a un punto
en que sus cuerpos no aguantan,
y empiezan a disminuir drásticamente
su calidad de vida,
su salud y su tiempo de vida.
Creo que podemos y debemos cambiar
ese sistema alimenticio.
El otro día estaba en el supermercado,
y me di cuenta de que el kilo de pollo
estaba más barato que el kilo de tomates.
Dije: "¿Cómo puede ser?"
Eso es muy complejo.
¿Cómo puede costar tan poco
criar un animal desde
el nacimiento hasta el sacrificio?
Eso no me entraba en la cabeza.
En términos de las verduras y hortalizas,
el proceso de producción
en escala industrial
también es muy, pongámoslo así,
dañino para nuestra vida,
para nuestra salud y el medio ambiente,
porque actualmente Brasil es el mayor
consumidor de agrotóxicos del mundo.
Cada brasileño consume un promedio
de cinco kilos de agrotóxicos al año.
Es una cantidad exorbitante.
Y las personas conocen
el perjuicio de los agrotóxicos,
pero aun así continúan tolerando
ese abuso en el uso y en el consumo.
Y quería entender el porqué.
Pero la respuesta es porque
nuestra sociedad actual
tiene los valores invertidos.
Los valores están invertidos.
¿Por qué una persona se preocupa
por no comprar un perfume falsificado,
porque teme una posible reacción alérgica,
porque no conoce su procedencia
y no sabe qué tipo de químicos contiene,
pero después no le preocupa
comer un vegetal intoxicado?
¿Por qué es eso?
Deseaba entender y descubrí
que se debe a ese cambio de valores.
Tenemos que enseñarle a la gente
a valorar los productos orgánicos,
porque cuando uno compra, por ejemplo,
una planta de lechuga orgánica,
uno está pagando...
no solo está invirtiendo en su salud,
sino también está pagando
por el bienestar del productor,
algo en lo que muchas veces
ni siquiera pensamos,
no sabemos que esa lechuga tuvo alguien
que la cuidó con amor y cariño,
y la trajo hasta nosotros.
Entonces pagamos
por el bienestar del productor,
invertimos en la salud
y respetamos la naturaleza.
Creo que fue por eso que me apasioné
por la gastronomía y la nutrición.
En términos de distribución,
tampoco es eficiente.
Supongo que Uds. sabrán
que producimos mucha comida.
Un tercio de la comida que producimos
es simplemente desperdiciada, tirada.
Y nos preguntamos
por qué hay personas pasando hambre.
Y el motivo es una mala
política de distribución.
Tenemos que rever eso.
En términos de consumo,
la forma en que consumimos
los alimentos actualmente, da miedo.
Mi abuela es paulista. Vive en San Pablo.
Si yo la agarrara y la pusiera
en el medio de la Avenida Paulista,
estoy segura de que se asustaría mucho
viendo esos ejecutivos
o esas personas apuradas,
caminando por la calle,
hablando por el celular,
engullendo una porción
de pizza, por ejemplo.
Porque el masticar es algo que muchos
creen que es una pérdida de tiempo,
pero que, en verdad, es muy importante.
En fin, casi que le daría un síncope,
porque ella no reconoce eso
como una forma de comer,
una forma de nutrirse, de alimentarse.
Y entonces, esas comidas rápidas
fueron creadas justamente para eso,
para que podamos comer
mientras hacemos otra actividad,
ya sea hablar por el celular,
teclear, o ver televisión.
Eso hace que perdamos
la noción de saciedad.
Acabamos abriendo espacio para la gula,
que es muy dañina
y perjudicial para la salud.
Entonces, necesitamos rever la manera
en que consumimos los alimentos.
Y esos saladitos, bizcochitos y demás,
también tienen muchos aditivos químicos,
y un nivel exagerado de sal, grasa,
y azúcar, que son un trío adictivo.
Principalmente los realzadores de sabor,
acaban destruyendo nuestro paladar,
degeneran nuestro sistema nervioso
y acaban creando dependencia,
no solamente física, pero también mental,
una dependencia psicológica
y una dependencia fisiológica.
O sea, los productos industrializados
en exceso son muy perjudiciales.
Y ni siquiera los llamo comida.
Para mi son comidas
disfrazadas de alimentos,
porque se pueden consumir
e incluso pueden saciarnos,
per no van a nutrirnos ni alimentarnos.
¿Y quién hace todavía
las palomitas en la olla?
¿Palomitas en la olla
en vez del microondas?
¡Mira! Mitad y mitad. (Risas)
¿Y quién hace tortas todavía
en lugar de comprar esas envasadas?
¡Oh! También mitad y mitad. (Risas)
Estas dos preguntas
pueden resultar inofensivas,
y no significar nada,
pero en verdad, significan mucho.
Solo con cambiar las palomitas de olla
por las palomitas de microondas,
ya están dañando su salud,
porque van a estar consumiendo químicos
que seguramente no pondrían
en sus palomitas de olla,
y también estarán contaminando
con el envase de palomitas de microondas.
Es un envase extra que podría ser
menos basura en el mundo.
Entonces, creo que el consumo
excesivo de productos industrializados,
es realmente muy perjudicial.
Entonces, para resumir,
esta cuestión del proceso
de producción de la comida,
creo que esta dinámica alimenticia,
este sistema alimenticio,
no es nada saludable.
No está funcionando.
Y debemos cambiarlo, pero ¿cómo cambiar?
La respuesta fundamental
es regresar a la cocina.
Cocinar es sinónimo de arte,
cultura, placer, salud.
Cocinar trae independencia,
trae autoconocimiento, trae autonomía,
trae certeza, trae libertad.
Cocinar es el arte fundamental de la vida.
Si no cocinamos, alguien
va a hacerlo por nosotros.
Espero que no sea la industria.
Porque la industria no cocina,
simplemente procesa los alimentos.
Si uno deja que la industria lo alimente,
la industria va a elegir lo que comemos:
lasaña congelada, papas fritas,
hamburguesa, perrito caliente.
¿Y por qué no una pizza?
¡Y dale con la pizza para llevar!
Porque ni pizza sabemos hacer más.
Creo que nosotros...
¡Ah, no! ¡Esperen!
¿Dónde está el arroz con frijoles?
El arroz con frijoles que nos llenaba
la barriga y el alma todos los días.
Pienso que mucha gente
que no tiene interés
ni aprecio por la cocina,
debe pensar que cocinar es muy trabajoso,
que no es práctico y es
una pérdida de tiempo.
Pero, si se dejan los frijoles
en remojo toda la noche,
a la mañana, en 20 minutos
en la olla a presión están listos.
O incluso se pueden hacer un día
y dejarlos congelados para toda la semana.
Junto con un arroz fresco
que se hace en 20 ó 30 minutos,
y las verduras que dejamos
cortadas y lavadas en el refrigerador
a la vuelta del mercado,
en media hora ya está la comida lista.
Ese sería quizás el mismo tiempo
que tardaría la pizza en llegar,
si pedimos una pizza.
Entonces, creo que debemos cambiar
nuestro modo de ver a la cocina,
nuestro modo de ver el acto de cocinar.
Todo el mundo puede y debe cocinar.
Hombre, mujer, chico, chica,
niño, adulto y anciano.
No tiene edad, no tiene sexo,
y no tiene género.
Todo el mundo puede cocinar,
todo el mundo debe cocinar.
Cambiando la educación,
enseñándole a los niños,
llevando los niños a la feria para elegir
las verduras que tendrán para la cena,
poniendo a los niños a pelar
una papa, a lavar los platos,
cosas simples del día a día,
podemos construir un futuro mejor.
Esos niños crecerán
con una visión holística del mundo.
Sabrán de dónde viene la comida,
que muchas personas creen que proviene
de los estantes del supermercado.
Los niños crecerán independientes
de la industria alimenticia,
porque van a saber cocinar.
Crecerán independientes
de la industria farmacéutica,
porque estarán mucho menos enfermos,
creciendo y comiendo una comida
casera, una comida saludable.
Creo que debemos cambiar
la dinámica de la alimentación.
Tenemos que cambiar
la valorización que tenemos de la comida.
Tenemos que valorizar más la comida,
el acto de comer y de cocinar.
Educación no es solamente decir
"por favor", "gracias" y "disculpe".
Educación no significa
entender que hospital
es sinónimo de salud.
Creo que tener una calidad de vida,
un estilo de vida saludable,
y una alimentación saludable
para que tengamos menos hospitales,
eso sí es educación.
Es educación y prevención.
Entonces, el futuro de la comida
va a decidir el futuro de la humanidad.
Cocinar y elegir bien los alimentos,
son elecciones que podemos hacer
para llevar el mundo a un lugar mejor.
Gracias.
(Aplausos)