Estou com um pequeno problema, mas o show tem que continuar. Meu sangue é vermelho. O sangue vienense é vermelho? (Risos) Eu suspeito que sim. Porque o sangue é vermelho? Alguém sabe? Pode me dizer? Plateia: É ferro. Jocelyn Bell Burnell: É ferro, sim. É o ferro na hemoglobina, em nossa corrente sanguínea, que faz o sangue ficar vermelho. Ferro é um dos elementos químicos, e vou falar sobre ele daqui a pouco. Mas, primeiro... (Risos) Ketchup. Vamos ouvir mais sobre tomates depois. (Risos) (Aplausos) Voltando aos elementos químicos e ferro. Ele é, de fato, um dos elementos químicos, e, mesmo que você não seja um químico, você provavelmente conhece outros. Uma resposta dada por um estudante em uma prova. [H2O é água quente e CO2 é água fria.] (Risos) Então, você sabe o que é H2O? Plateia: Água. JBB: Água. CO2? Plateia: Dióxido de carbono. JBB: Dióxido de Carbono. Então, aqui temos mais três elementos químicos: hidrogênio, oxigênio e carbono. E já que estamos lidando com questões de prova, aqui está outra sobre a água: A água é composta de dois gins. ["Oxiginio" e "hidroginio".] ["Oxiginio" é puro gim. "Hidroginio" é água e gim.] (Risos) Essas respostas vêm dos Estados Unidos da América, mas... (Risos) (Aplausos) É uma fonte maravilhosa de todo tipo de coisas incríveis que viram realidade. Talvez alguns de vocês se lembrem de ver um diagrama como este nos laboratórios de química da escola. Vocês pode vê-lo também em outros lugares, até os dias de hoje, em toalhas de chá, canecas, mochilas, canetas. É uma tabulação dos mais de 100 elementos químicos que conhecemos. Em Oxford, de onde eu venho, temos isso em táxis e ônibus também - mas é Oxford. (Risos) Agora, em nossos corpos, há claramente ferro na corrente sanguínea, também há hidrogênio e oxigênio, porque somos dois terços de água. Há carbono em nossos tecidos, cálcio em nossos ossos. Vou focar no ferro porque essa é uma palestra curta. De onde o ferro e, de fato, de onde as outras coisas vêm? Como isso entrou em nossos corpos? Não está no ar... não muito. Vem do que comemos: plantas e animais. Como o ferro entrou nas plantas e animais? Bom, veio da terra. Como isso entrou na terra? De onde veio antes disso? O que eu vou falar para vocês é como as estrelas criaram os elementos químicos, os ingredientes-chave para a vida: oxigênio, carbono, cálcio, ferro, com uma ênfase particular no ferro. Estrelas são formadas em alguns dos lugares mais escuros da galáxia, as manchas escuras. Lá há partículas de gás e poeira perambulando, por acaso como um pequeno nó, ela ganha gravidade extra, atrai um pouco mais, mais gravidade, atrai mais. E depois de alguns milhões de anos, esse pequeno nó cresce para o que será uma estrela plenamente desenvolvida. Quando a temperatura no meio deste nódulo alcançar quase 10 milhões de graus, reações nucleares começam, e, em particular, uma reação nuclear do hidrogênio sendo convertido em hélio. E há energia de sobra, e isso é expelido como luz de estrela. Nosso sol está ocupado fazendo isso: nosso sol queima cerca de 600 milhões de toneladas de hidrogênio por segundo. Tem feito isso por 5 bilhões de anos. Fará isso por cerca de mais 5 bilhões de anos. E logo depois disso, vai acabar. Na verdade essa história não adianta nada. (Risos) Temos que focar em uma minoria bem pequena de estrelas, as extremamente massivas, 10, 20, 30 vezes o tamanho do nosso sol. Exemplos que você talvez conheça: as Plêiades, que estão no céu de inverno próximas à constelação de Órion, e Betelgeuse, que é uma estrela vermelha, acima e à esquerda da constelação de Órion. Essas grandes estrelas não apenas convertem hidrogênio em hélio, depois o hélio em carbono, mas seguem seu caminho através da tabela periódica até acabarem com ferro no centro de seu núcleo. e esse é o primeiro lugar em que temos ferro no universo, no núcleo de algumas estrelas. Não é muito útil pra nós se estiver no núcleo das estrelas. Mas a morte da estrela, a morte dramática da estrela vem para resgatá-lo. Um par de fotos aqui: uma antes e uma depois. Estamos olhando para um objeto do hemisfério sul chamado Grande Nuvem de Magalhães. É uma galáxia pequena, externa à nossa, mas bem próxima. Acima, à esquerda, vemos uma massa de gás brilhante, bastante gás hidrogênio rosa, milhões de pequenas estrelas, e uma delas, embaixo à direita, apontada por uma seta. Para aqueles que não são astrofísicos, a seta foi adicionada depois que a foto foi tirada. (Risos) Mas essa estrela imperceptível, que tivemos que apontar com uma seta, se torna isto, e você não precisa de seta para ver essa coisa abaixo à direita. A estrela explodiu catastroficamente. Essa era uma dessas grandes estrelas como aquelas em Plêiades, ou Betelgeuse. Passou por todo o caminho através dos vários elementos químicos. Ela tem essa gama de camadas com ferro no meio e outros elementos químicos do lado de fora, e explodiu. A física da explosão é muito complicada, então não vou entrar em detalhes sobre ela, mas é uma explosão catastrófica. Costumamos assumir que foi totalmente catastrófica. Sabemos agora que os pulsares que Vlad mencionou em sua introdução são formados no núcleo dessas estrelas explodindo. Mas 95% da estrela é jogada para o espaço, o que significa que estão sendo espalhados através do espaço os elementos químicos úteis que estavam dentro da estrela: oxigênio, cálcio, carbono, ferro, espalhados, tornando-se disponíveis pela explosão catastrófica e terminal dessa estrela em particular. Agora, chegar de lá até nós é uma longa história, e vou fazer isso com um pouco de mímica. Você provavelmente compreende que professores de física têm uma reputação ligeiramente duvidosa. (Risos) As professoras são totalmente loucas! E estou prestes a provar isso! (Aplausos) Então, este palco é a Via Láctea, nossa galáxia, e esta é uma história que envolve toda a Via Láctea. Por aqui na Via Láctea há uma dessas nuvens escuras onde às vezes as estrelas se formam, partículas de gás, moléculas e poeira perambulando por lá. Por acaso, há um pequeno nó, ele tem gravidade extra, ele atrai um pouco mais de poeira e gás, aumenta a massa, aumenta a gravidade, atrai mais um pouco. Para economizar tempo, galera, esta será uma daquelas estrelas muito massivas, ou ficaríamos aqui por muito tempo. Então, ela gradualmente cresce, gradualmente cresce. E no momento em que ela cresceu tanto que a temperatura em seu núcleo alcançou cerca de 10 milhões de graus, ela começa sua sequência de reações nucleares, e ela queima, convertendo hidrogênio em hélio. Brrrr! Ela começa a ficar sem hidrogênio em seu núcleo. Então começa a converter hélio em carbono. Brrrr! Isso não dura muito tempo. Então ela fica sem hélio em seu núcleo, então converte o carbono em oxigênio, oxigênio em... Brrr! Brrr! Brrr! Brrr! Bum! (Risos) E milhões e milhões de toneladas de materiais, de gás, se espalham a partir do local da explosão em uma parte da nossa Via Láctea. Isso se infiltra, devagar, mas temos eras, não há pressa. (Risos) Isso pode viajar, e viaja mesmo, gradualmente, em todas as direções, mas estamos interessados nesta parte. E um pouco vem pra cá onde existe outra dessas nuvens escuras com partículas de gás e poeira perambulando por lá. E alguns dos materiais da distante explosão encontram seu caminho por aqui, e esse material é rico em carbono e cálcio e ferro e oxigênio, e assim por diante. Então eles se juntam a essa nuvem, e por acaso um pequeno nó se forma, ganha mais gravidade, atrai mais algumas partículas, a massa aumenta, a gravidade aumenta, atrai mais algumas partículas, a massa aumenta, a gravidade aumenta, e depois de 1 milhão de anos, 10 milhões de anos, ela cresce, cresce e cresce. E mais uma vez, eu tenho que implorar por sua clemência, essa também será uma destas estrelas grandes, de outra forma ficaríamos aqui a noite toda. Então essa estrela grande cresce, as reações nucleares começam, ela queima, convertendo hidrogênio em hélio. Brrr! Fica sem hidrogênio, queima o hélio. Brrr! Fica sem hélio, queima carbono. Brrr! Brrr! Brrr! Bum! (Risos) Agora, você sabe a continuação da história. Milhões e milhões e milhões de toneladas de material são espalhadas pelo espaço, e um pouco disso vem pra cá, para outra parte escura da galáxia, da Via Láctea, onde há uma estrela começando a se formar. O material que vem de lá é duplamente enriquecido de carbono em cálcio e ferro, e assim por diante, por causa dos materiais que aquela estrela gerou, mais os materiais que ela pegou da outra estrela. Então, o que está chegando aqui é uma dose dupla de carbono, cálcio, ferro, e assim por diante. E nesta nuvem, uma estrela chamada Sol está se formando, e é feita de materiais que por acaso estavam nesta parte da galáxia, mais os materiais que vieram daquela estrela, mais os materiais que vêm diretamente dali, e talvez de outras estrelas que também explodiram. Nosso sol é uma estrela de terceira geração. Nosso sol é um estrela tardia, e ela tinha que ser ou então não estaríamos aqui. Nós só podemos existir perto de uma estrela jovem que foi enriquecida por ciclos solares prévios. Então, o sol se formou, alguns materiais são sobras. Você talvez tenha visto fotos do planeta Saturno com seus anéis ao redor. Isso é uma versão gigante daquilo. Então você tem um sol e alguns detritos em um anel gigante ao redor dele. Vamos focar nos detritos - pequenos pedaços por aí. Pequenos pedaços ocasionalmente colidem com outros, e eles vão por aí e colidem com outros pedaços e vão por aí. E enfim, você termina com planetas e o anel, o resto do anel desapareceu. Os planetas são feitos dos mesmos materiais que o sol, que, lembre-se, é feito dos materiais que estavam aqui, mais materiais dali, mais materiais dali. Ele fez oito planetas, não Plutão. (Risos) Plutão foi agarrado depois. Você pode pensar em Plutão como um filho adotado, se quiser. O resto são filhos biológicos. Então, esses planetas são, basicamente, feitos da mesma coisa que o Sol, que foi feito das coisas que estavam aqui, mais detritos de estrelas que explodiram e estão por toda nossa galáxia. Não podemos dizer: "Aquela e aquela". Foi aquela e aquela e aquela e aquela e aquela e aquela e aquela e aquela; duplamente enriquecida com todos os elementos químicos úteis. E os planetas, do mesmo modo, são feitos da mesma coisa. Houve algumas mudanças nos planetas mais perto do sol, eles ficaram quentes, e o material que mais facilmente evapora se evaporou. Mais longe, você pode ver melhor ainda a composição original. Mas de modo geral foi isso que aconteceu. Então nós, que comemos plantas e animais que absorvem elementos da terra, somos feitos das mesmas coisas que a Terra, e a Terra é feita das mesmas coisas que o Sol, que é feito do resto da galáxia. Então, o ferro foi criado nessas estrelas super massivas, as que passaram por muitas reações nucleares. E este ferro ficou disponível pelas catastróficas mortes dessas grandes estrelas. Então já havia vida e morte. Se não fosse por essas estrelas, particularmente as que morreram, não estaríamos aqui. E nós somos intimamente e finalmente filhos das estrelas, a tal ponto que, na verdade, nós somos estrelas. Obrigada. (Aplausos)