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Reclamando a narrativa: Ruanda, 20 anos depois | Debra Kamin | TEDxPorto

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    Sentada no bar do Hotel Rwanda,
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    um local que estudei
    extensivamente na universidade
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    quando era aluna de mestrado
    e estudava teoria do trauma
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    e as atrocidades do
    genocídio no Ruanda,
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    pensei, como é que este local
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    que deu guarida a mais de
    um milhar de refugiados Tutsi
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    durante a hora mais sombria
    da sua nação,
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    como se tornou num local na moda
    para beber "cocktails",
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    com destaque no New York Times?
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    E mais estranho ainda,
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    como sou eu a autora que decide
    que este local merece essa honra?
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    Passaram mais de duas décadas
    desde o genocídio no Ruanda,
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    quando cerca de um milhão de civis
    Tutsi foram brutalmente assassinados
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    numa revolta que durou cem dias
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    organizada pela etnia maioritária Hutu.
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    Duas décadas.
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    Bill Clinton era presidente
    durante o genocídio.
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    A World Wide Web estava
    nos seus primeiros passos.
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    Apesar disso, perguntem
    a quem quiserem neste auditório
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    no que pensam imediatamente
    quando ouvem a palavra "Ruanda"
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    e garanto-vos que para a maioria
    a resposta vai ser "genocídio".
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    Portanto, em maio de 2017,
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    quando um amigo me disse
    que devia abordar o Ruanda
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    como um destino turístico emergente,
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    fiquei intrigada.
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    Sou jornalista
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    e embora tenha estudado
    o genocídio extensivamente
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    estava também a ouvir muito falar
    acerca da nova Kigali,
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    com as suas ruas limpas
    e bares na moda.
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    O Ruanda é uma história
    de sucesso em África
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    e jornalistas como eu
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    gostam de histórias de sucesso.
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    São fáceis de apresentar aos editores
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    e dão esperança aos leitores,
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    o que faz com que sejam peças poderosas.
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    O Ruanda tem mais mulheres no governo
    que qualquer outra nação no mundo.
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    Tem a menor
    taxa de criminalidade em África.
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    É progressista e amigável.
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    Então comprei o meu bilhete e fui lá.
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    Encontrei imensas histórias incríveis
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    acerca do Ruanda como destino turístico
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    mas o que me fascinou acerca do país
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    não foi a crescente "cena" gastronómica
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    ou as iniciativas ambientais
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    como a proibição de utilização
    de sacos plásticos.
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    O que me fascinou acerca do Ruanda
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    foi como todos abordavam
    o genocídio de forma aberta
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    e quão honestos eram,
    independentemente do lado onde estiveram.
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    O que me fascinou foi a clareza
    com que o Ruanda percebeu
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    que só conseguirá triunfar sobre
    o trauma se continuar a dialogar.
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    No meu primeiro dia em Kigali,
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    contratei um motorista chamado
    Charles para me conduzir.
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    O Charles é alto e esguio,
    com um ar elegante
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    e traços físicos típicos
    de um Tutsi do Ruanda.
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    O Charles tem 28 anos,
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    o que significa que nasceu em 1990.
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    Isso quer dizer que ele tinha
    quatro anos durante o genocídio
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    e sobreviveu a um trauma na infância
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    mais horrível que qualquer coisa
    que eu conseguia entender.
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    Mas eu não estava a pensar nisto
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    quando ele me abriu a porta do carro
    e me perguntou qual era o destino.
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    Sou principalmente
    uma jornalista de viagens
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    e queria ver as vistas.
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    Depois de um dia inteiro em viagem
    parámos num café chique em Kigali
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    e o Charles ficou a aguardar no carro
    enquanto entrei para pedir alguma cafeína.
  • 3:16 - 3:20
    Queria ser simpática, então
    pedi um café para lhe levar.
  • 3:20 - 3:24
    Não sabia como o Charles gostava do café
    portanto pedi um "cappuccino" normal
  • 3:24 - 3:25
    e quando regressei ao carro disse:
  • 3:25 - 3:27
    "Trouxe-te um café.
  • 3:27 - 3:30
    "Espero que não te importes
    mas não coloquei açúcar."
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    O que ele me disse de seguida
    deixou-me de rastos:
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    "Normalmente ponho açúcar no café,"
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    disse Charles,
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    "mas durante o genocídio,
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    "fui a pé com a minha família
    até ao Uganda,
  • 3:42 - 3:45
    "portanto consigo
    tomar o café sem açúcar."
  • 3:45 - 3:47
    (Risos)
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    Foi nesse momento
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    que percebi que era ingénua ao pensar
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    que podia cair de paraquedas no Ruanda
    e escrever sobre o seu brilhante futuro
  • 3:54 - 3:57
    sem entender o seu passado corretamente.
  • 3:58 - 4:01
    Se quiserem entender
    o genocídio no Ruanda,
  • 4:01 - 4:04
    é importante saberem que
    não aconteceu de um dia para o outro.
  • 4:04 - 4:06
    O Ruanda teve sempre
    dois grupos étnicos distintos:
  • 4:06 - 4:08
    Os Hutu, que são a maioria
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    e os Tutsi, que são minoritários mas
    há muito governavam sobre os Hutu.
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    Durante séculos, os colonizadores europeus
    favoreceram os Tutsi
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    o que alargou ainda mais
    o fosso entre ambos.
  • 4:20 - 4:24
    Em 1994, foi abatido
    o avião do presidente Hutu
  • 4:24 - 4:27
    e os rebeldes Tutsi
    foram responsabilizados.
  • 4:27 - 4:29
    Foi esse ato
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    que agitou esta chaleira de ódio
    que esteve a ferver durante séculos
  • 4:33 - 4:35
    e a fez transbordar.
  • 4:35 - 4:38
    Foi aí que os homicídios começaram.
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    O que aconteceu no Ruanda foi
    uma nação inteira a autodestruir-se.
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    Homens Hutu pegaram em catanas
  • 4:44 - 4:47
    e mataram as mulheres e crianças
    da casa ao lado.
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    Maridos viraram-se contra
    as famílias das suas esposas.
  • 4:51 - 4:52
    Após cem dias,
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    quando a chacina finalmente cessou,
  • 4:54 - 4:57
    o banho de sangue era tão abrangente
    e a devastação tão horrível
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    que não havia precedente
    que pudesse instruir uma recuperação.
  • 5:02 - 5:06
    Como levar criminosos a julgamento
    se há mais assassinos que tribunais?
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    Como recuperar de um trauma e superá-lo
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    se as próprias pessoas
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    que nos deviam ajudar nesse trabalho
  • 5:11 - 5:13
    — os médicos, as enfermeiras,
  • 5:13 - 5:15
    os especialistas em trauma,
    os agentes sociais —
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    estão em igual estado de choque?
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    Parecia grande demais para ter solução.
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    De facto, nos dias e meses
    que se seguiram ao genocídio,
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    os jornalistas que chegavam ao Ruanda
    reportavam um cenário muito pessimista.
  • 5:30 - 5:33
    "O Ruanda acabou", escreveram.
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    A comunidade internacional resignou-se
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    com a perspetiva de o Ruanda ser
    mais um falhanço anónimo em África
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    cujas cicatrizes o definiriam para sempre.
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    Mas o Ruanda tinha outras ideias.
  • 5:47 - 5:49
    A transformação deste país
  • 5:49 - 5:54
    da desolação de campos de matança
    para a nação mais progressista de África
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    é algo com que
    todos os países podem aprender.
  • 5:57 - 5:59
    Uma década após o genocídio,
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    a própria ideia de etnia foi ilegalizada.
  • 6:02 - 6:06
    Os cartões de identificação que
    diziam se as pessoas eram Hutu ou Tutsi
  • 6:06 - 6:08
    foram destruídos
  • 6:08 - 6:09
    e substituídos por novos cartões
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    com uma única palavra na linha da etnia:
  • 6:12 - 6:14
    Ruandês.
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    Os livros de história que, durante séculos
    tinham ensinado aos estudantes
  • 6:18 - 6:20
    todas as diferenças entre os dois grupos
  • 6:20 - 6:23
    foram para o lixo
    e foram publicados novos livros.
  • 6:23 - 6:26
    E apesar de ser verdade
    que, 20 anos após o genocídio,
  • 6:26 - 6:29
    ainda é relativamente fácil
    identificar fisicamente
  • 6:29 - 6:31
    se a pessoa é Hutu ou Tutsi
  • 6:31 - 6:33
    — recordem, eu fui capaz
    de dizer que Charles era Tutsi
  • 6:33 - 6:36
    antes de ele me contar algo acerca de si —
  • 6:36 - 6:39
    avisaram-me antes de viajar para o Ruanda
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    para não perguntar às pessoas
    qual a sua etnia
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    e não esperar que elas a revelassem.
  • 6:45 - 6:46
    O país inteiro
  • 6:46 - 6:50
    uniu-se na ideia
    "agora somos todos Ruandeses."
  • 6:50 - 6:52
    E esse foi o primeiro passo crítico
    em avançar
  • 6:52 - 6:55
    e colocar séculos de ódio para trás.
  • 6:57 - 6:59
    E como foi a justiça para os homicidas?
  • 7:01 - 7:04
    Após o genocídio, o Ruanda
    enfrentava um tsunami legal.
  • 7:04 - 7:07
    Tantas pessoas tinham
    participado na matança
  • 7:07 - 7:09
    que, se todos os casos fossem
    julgados tradicionalmente,
  • 7:09 - 7:13
    seriam necessários 200 anos
    para serem todos ouvidos.
  • 7:13 - 7:15
    Em vez disso,
  • 7:15 - 7:18
    o país recorreu a uma forma comunitária
    de justiça chamada "Gacaca"
  • 7:18 - 7:22
    na qual os anciãos da aldeia ouviam
    o testemunho de sobreviventes e assassinos
  • 7:22 - 7:25
    e decidiam a sentença internamente.
  • 7:25 - 7:28
    A grande diferença entre um
    tribunal tradicional e um tribunal Gacaca
  • 7:28 - 7:32
    é que os tribunais tradicionais
    focam-se na punição
  • 7:32 - 7:35
    e os tribunais Gacaca
    procuram a reconciliação
  • 7:35 - 7:37
    e a descoberta da verdade.
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    Sim, muitos assassinos foram condenados
    a penas de prisão nos tribunais Gacaca
  • 7:41 - 7:43
    mas mais importante ainda
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    muitos outros foram perdoados
    em troca da sua confissão.
  • 7:46 - 7:49
    Não é, de todo, um sistema perfeito
  • 7:49 - 7:52
    mas proporcionou a oportunidade
    de um país inteiro passar por uma catarse
  • 7:52 - 7:54
    e uma forma de avançar.
  • 7:54 - 7:57
    Como resultado direto do
    sistema judicial Gacaca
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    há hoje no interior do Ruanda
  • 7:59 - 8:01
    aldeias de reconciliação
  • 8:01 - 8:05
    nas quais sobreviventes Tutsi
    e atacantes Hutu
  • 8:06 - 8:07
    vivem lado a lado.
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    Partilham água,
  • 8:09 - 8:10
    partilham terras,
  • 8:10 - 8:12
    partilham memórias dolorosas.
  • 8:12 - 8:15
    E estas aldeias
    estão a fazer o impossível:
  • 8:15 - 8:17
    estão a funcionar.
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    Têm também Paul Kagame.
  • 8:20 - 8:23
    Kagame tem sido o verdadeiro
    líder do Ruanda desde 1994
  • 8:23 - 8:26
    e é simultaneamente
    complicado e controverso.
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    Sob a sua liderança,
  • 8:28 - 8:30
    o Ruanda tornou-se mais limpo e forte.
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    Nunca teve uma situação económica tão boa
  • 8:32 - 8:35
    ou uma posição tão boa
    no plano internacional.
  • 8:35 - 8:39
    Mas ele tem sido também
    acusado de autoritarismo
  • 8:39 - 8:40
    de censura à imprensa
  • 8:40 - 8:43
    e de operar uma falsa democracia.
  • 8:43 - 8:46
    Mas mesmo Kagame, uma vez por ano,
    sai do seu local de trabalho
  • 8:46 - 8:49
    e vai à rua para o Dia Nacional de Serviço
  • 8:49 - 8:52
    em que cada ruandês
    trabalha em conjunto
  • 8:52 - 8:54
    a limpar, varrer,
    construir, cavar valetas,
  • 8:54 - 8:57
    aplicar o trabalho físico
    para construir a nação.
  • 8:57 - 8:59
    Este dia chama-se "Umuganda"
  • 8:59 - 9:02
    e pode-se traduzir como
    "unirmo-nos num propósito comum".
  • 9:02 - 9:05
    O Umuganda é talvez
    o melhor exemplo atual
  • 9:05 - 9:07
    da força com a qual todos os ruandeses
  • 9:07 - 9:10
    — do presidente aos homens do lixo —
  • 9:10 - 9:12
    acreditam que o seu futuro
    só pode ser radioso
  • 9:12 - 9:15
    se todos colaborarem nele
    em igual medida.
  • 9:16 - 9:19
    Regressei ao Uganda uns meses depois,
  • 9:19 - 9:20
    desta vez destacada
  • 9:20 - 9:23
    para fazer a tal peça turística
    para o New York Times
  • 9:23 - 9:24
    e percebi,
  • 9:24 - 9:28
    quando cheguei ao luminoso
    e brilhante aeroporto de Kigali
  • 9:28 - 9:31
    e fui saudada por um
    agente da alfândega sorridente,
  • 9:31 - 9:33
    percebi que o que o Ruanda fez
  • 9:33 - 9:35
    não é natural.
  • 9:35 - 9:38
    Não é natural responder
    ao mais extremo ódio
  • 9:38 - 9:41
    eliminando as clivagens entre povos.
  • 9:41 - 9:43
    Não é natural enfrentar um trauma extremo
  • 9:43 - 9:46
    e reagir com compaixão
    e sentido comunitário.
  • 9:46 - 9:49
    E este é o segredo do sucesso ruandês.
  • 9:49 - 9:52
    O Ruanda aceitou a sua história
    enquanto abandonou o ódio.
  • 9:53 - 9:55
    Enfrentou um trauma extremo e avançou
  • 9:55 - 9:59
    mas recusou esquecer
    qualquer detalhe horrífico.
  • 9:59 - 10:02
    Triunfou sobre as vicissitudes
    da emoção humana.
  • 10:04 - 10:07
    Na universidade estudei teoria do trauma
  • 10:07 - 10:10
    e a forma como o cérebro humano
    processa eventos horríveis.
  • 10:10 - 10:13
    É que o trauma é um evento
    tão forte na sua abrangência
  • 10:13 - 10:16
    que o cérebro
    não o consegue processar de uma vez
  • 10:16 - 10:19
    e então continua a reprocessá-lo
    uma e outra vez
  • 10:19 - 10:21
    até estar completamente resolvido.
  • 10:21 - 10:24
    É daí que surgem as memórias
    do "stress" pós-traumático
  • 10:24 - 10:26
    e é por isso que um trauma coletivo,
  • 10:26 - 10:29
    no qual um grupo inteiro
    ou um país inteiro
  • 10:29 - 10:31
    estão todos em choque ao mesmo tempo,
  • 10:31 - 10:34
    é por isso
    que é tão difícil ultrapassá-lo.
  • 10:34 - 10:39
    Fico fascinada pela abertura com que
    os ruandeses falam do genocídio.
  • 10:39 - 10:40
    Na minha segunda viagem,
  • 10:40 - 10:44
    contratei uma facilitadora chamada Annie
    para ser a minha tradutora
  • 10:44 - 10:48
    e ela contou-me serenamente ao jantar,
    meras horas após nos conhecermos,
  • 10:48 - 10:51
    que tinha sido abandonada
    pela mãe quando nasceu
  • 10:51 - 10:53
    e que só a conheceu quando tinha 18 anos.
  • 10:54 - 10:56
    É que a Anne é tutsi.
  • 10:56 - 10:59
    A mãe dela, quando estava grávida,
    sabia que o genocídio estava perto,
  • 10:59 - 11:01
    viajou para o interior
    do país e deu à luz,
  • 11:01 - 11:03
    deixando-a com um familiar
  • 11:03 - 11:04
    na esperança de maior segurança.
  • 11:04 - 11:06
    Mãe e filha demoraram
    quase 20 anos
  • 11:06 - 11:08
    até perceberem
    que ambas estavam vivas
  • 11:08 - 11:11
    e se reencontrarem.
  • 11:11 - 11:12
    O meu amigo Heppo,
  • 11:12 - 11:16
    dedicou a sua vida à missão
    que chama "Sê a paz".
  • 11:16 - 11:18
    Ele tinha sete anos
  • 11:18 - 11:22
    quando viu o pai ser morto
    e dado como alimento a cães.
  • 11:23 - 11:26
    Ele contou-me isto, calma e claramente
    num restaurante de bifes
  • 11:26 - 11:28
    antes de acrescentar
  • 11:28 - 11:32
    que ele insiste que a sua
    geração seja a última no Ruanda
  • 11:32 - 11:35
    a transmitir ódio de pais para filhos.
  • 11:36 - 11:38
    Portanto, apesar de,
    no Ruanda de hoje,
  • 11:38 - 11:41
    ser tabu perguntar a alguém
    qual a sua etnia,
  • 11:41 - 11:45
    na realidade, também
    é tabu ficar em silêncio.
  • 11:46 - 11:48
    Enquanto estava no Hotel Rwanda,
  • 11:48 - 11:50
    a apreciar que este edifício,
  • 11:50 - 11:53
    que viu tantas coisas dolorosas,
  • 11:53 - 11:56
    é de novo um simples hotel bonito,
  • 11:56 - 11:59
    eu percebi que, se há alguma coisa
  • 11:59 - 12:02
    que vocês e eu podemos
    aprender com o Ruanda, é isto:
  • 12:03 - 12:05
    A verdade pode não vos libertar
  • 12:05 - 12:07
    mas seguramente
    ajudar-vos-á na reconstrução.
  • 12:07 - 12:10
    E se outras nações querem
    aprender com o Ruanda,
  • 12:10 - 12:12
    o caminho mais simples para começar
  • 12:12 - 12:15
    é encontrar a sua verdade
    e falar acerca dela.
  • 12:15 - 12:16
    Obrigada.
  • 12:16 - 12:18
    (Aplausos)
Title:
Reclamando a narrativa: Ruanda, 20 anos depois | Debra Kamin | TEDxPorto
Description:

Duas décadas após o horrível genocídio, o Ruanda é uma história de sucesso em África. As suas cidades têm excelentes infraestruturas tecnológicas e hotéis luxuosos. O interior está povoado por aldeias de reconciliação nas quais Hutus e Tutsis vivem lado a lado. Mas num país onde ninguém emergiu ileso do genocídio, o trauma não impediu o triunfo. Pelo contrário, é a causa para esse mesmo triunfo.
Debra Kamin é jornalista e escritora de viagens americana premiada. Escreve habitualmente no New York Times e teve peças suas publicadas nas revistas Newsweek, Variety, TIME, Foreign Policy e nos jornais The Guardian, The Los Angeles Times, The Chicago Tribune entre outros. Kamin escreveu extensivamente acerca do turismo no Ruanda moderno e em 2017 foi enviada pelo New York Times para escrever a peça "36 Horas em Kigali" que fez parte da prestigiada e longa série de guias para destinos em todo o mundo.
Karmin tem o grau de mestre pela Universidade de Chicago, onde apresentou a sua tese acerca da recuperação das sociedades após traumas em massa e conflitos. Vive em Tel Aviv com o marido e as filhas gémeas e está a trabalhar atualmente nas suas memórias.

Esta palestra foi feita num evento TEDx usando o formato de palestras TED, mas organizado independentemente por uma comunidade local. Saibam mais em http://ted.com/tedx

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDxTalks
Duration:
12:26

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