Reclamando a narrativa: Ruanda, 20 anos depois | Debra Kamin | TEDxPorto
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0:10 - 0:12Sentada no bar do Hotel Rwanda,
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0:13 - 0:16um local que estudei
extensivamente na universidade -
0:16 - 0:20quando era aluna de mestrado
e estudava teoria do trauma -
0:20 - 0:22e as atrocidades do
genocídio no Ruanda, -
0:23 - 0:26pensei, como é que este local
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0:26 - 0:30que deu guarida a mais de
um milhar de refugiados Tutsi -
0:30 - 0:32durante a hora mais sombria
da sua nação, -
0:32 - 0:35como se tornou num local na moda
para beber "cocktails", -
0:35 - 0:37com destaque no New York Times?
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0:37 - 0:39E mais estranho ainda,
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0:39 - 0:43como sou eu a autora que decide
que este local merece essa honra? -
0:44 - 0:47Passaram mais de duas décadas
desde o genocídio no Ruanda, -
0:47 - 0:51quando cerca de um milhão de civis
Tutsi foram brutalmente assassinados -
0:51 - 0:53numa revolta que durou cem dias
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0:53 - 0:55organizada pela etnia maioritária Hutu.
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0:56 - 0:57Duas décadas.
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0:57 - 1:00Bill Clinton era presidente
durante o genocídio. -
1:00 - 1:03A World Wide Web estava
nos seus primeiros passos. -
1:03 - 1:06Apesar disso, perguntem
a quem quiserem neste auditório -
1:06 - 1:09no que pensam imediatamente
quando ouvem a palavra "Ruanda" -
1:09 - 1:12e garanto-vos que para a maioria
a resposta vai ser "genocídio". -
1:13 - 1:16Portanto, em maio de 2017,
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1:16 - 1:18quando um amigo me disse
que devia abordar o Ruanda -
1:18 - 1:20como um destino turístico emergente,
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1:20 - 1:22fiquei intrigada.
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1:23 - 1:24Sou jornalista
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1:24 - 1:27e embora tenha estudado
o genocídio extensivamente -
1:27 - 1:29estava também a ouvir muito falar
acerca da nova Kigali, -
1:29 - 1:32com as suas ruas limpas
e bares na moda. -
1:33 - 1:35O Ruanda é uma história
de sucesso em África -
1:35 - 1:37e jornalistas como eu
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1:37 - 1:40gostam de histórias de sucesso.
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1:40 - 1:42São fáceis de apresentar aos editores
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1:42 - 1:43e dão esperança aos leitores,
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1:43 - 1:46o que faz com que sejam peças poderosas.
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1:46 - 1:50O Ruanda tem mais mulheres no governo
que qualquer outra nação no mundo. -
1:50 - 1:53Tem a menor
taxa de criminalidade em África. -
1:53 - 1:55É progressista e amigável.
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1:56 - 1:58Então comprei o meu bilhete e fui lá.
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1:58 - 2:01Encontrei imensas histórias incríveis
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2:01 - 2:03acerca do Ruanda como destino turístico
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2:03 - 2:05mas o que me fascinou acerca do país
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2:05 - 2:07não foi a crescente "cena" gastronómica
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2:07 - 2:09ou as iniciativas ambientais
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2:09 - 2:11como a proibição de utilização
de sacos plásticos. -
2:11 - 2:13O que me fascinou acerca do Ruanda
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2:13 - 2:17foi como todos abordavam
o genocídio de forma aberta -
2:17 - 2:21e quão honestos eram,
independentemente do lado onde estiveram. -
2:21 - 2:24O que me fascinou foi a clareza
com que o Ruanda percebeu -
2:24 - 2:29que só conseguirá triunfar sobre
o trauma se continuar a dialogar. -
2:30 - 2:32No meu primeiro dia em Kigali,
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2:32 - 2:35contratei um motorista chamado
Charles para me conduzir. -
2:35 - 2:38O Charles é alto e esguio,
com um ar elegante -
2:38 - 2:41e traços físicos típicos
de um Tutsi do Ruanda. -
2:42 - 2:44O Charles tem 28 anos,
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2:44 - 2:46o que significa que nasceu em 1990.
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2:46 - 2:49Isso quer dizer que ele tinha
quatro anos durante o genocídio -
2:50 - 2:52e sobreviveu a um trauma na infância
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2:53 - 2:56mais horrível que qualquer coisa
que eu conseguia entender. -
2:57 - 2:59Mas eu não estava a pensar nisto
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2:59 - 3:03quando ele me abriu a porta do carro
e me perguntou qual era o destino. -
3:03 - 3:05Sou principalmente
uma jornalista de viagens -
3:05 - 3:08e queria ver as vistas.
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3:08 - 3:12Depois de um dia inteiro em viagem
parámos num café chique em Kigali -
3:12 - 3:16e o Charles ficou a aguardar no carro
enquanto entrei para pedir alguma cafeína. -
3:16 - 3:20Queria ser simpática, então
pedi um café para lhe levar. -
3:20 - 3:24Não sabia como o Charles gostava do café
portanto pedi um "cappuccino" normal -
3:24 - 3:25e quando regressei ao carro disse:
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3:25 - 3:27"Trouxe-te um café.
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3:27 - 3:30"Espero que não te importes
mas não coloquei açúcar." -
3:31 - 3:34O que ele me disse de seguida
deixou-me de rastos: -
3:35 - 3:37"Normalmente ponho açúcar no café,"
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3:37 - 3:38disse Charles,
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3:38 - 3:40"mas durante o genocídio,
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3:40 - 3:42"fui a pé com a minha família
até ao Uganda, -
3:42 - 3:45"portanto consigo
tomar o café sem açúcar." -
3:45 - 3:47(Risos)
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3:48 - 3:49Foi nesse momento
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3:49 - 3:51que percebi que era ingénua ao pensar
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3:51 - 3:54que podia cair de paraquedas no Ruanda
e escrever sobre o seu brilhante futuro -
3:54 - 3:57sem entender o seu passado corretamente.
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3:58 - 4:01Se quiserem entender
o genocídio no Ruanda, -
4:01 - 4:04é importante saberem que
não aconteceu de um dia para o outro. -
4:04 - 4:06O Ruanda teve sempre
dois grupos étnicos distintos: -
4:06 - 4:08Os Hutu, que são a maioria
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4:08 - 4:13e os Tutsi, que são minoritários mas
há muito governavam sobre os Hutu. -
4:13 - 4:17Durante séculos, os colonizadores europeus
favoreceram os Tutsi -
4:17 - 4:20o que alargou ainda mais
o fosso entre ambos. -
4:20 - 4:24Em 1994, foi abatido
o avião do presidente Hutu -
4:24 - 4:27e os rebeldes Tutsi
foram responsabilizados. -
4:27 - 4:29Foi esse ato
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4:29 - 4:33que agitou esta chaleira de ódio
que esteve a ferver durante séculos -
4:33 - 4:35e a fez transbordar.
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4:35 - 4:38Foi aí que os homicídios começaram.
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4:38 - 4:42O que aconteceu no Ruanda foi
uma nação inteira a autodestruir-se. -
4:42 - 4:44Homens Hutu pegaram em catanas
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4:44 - 4:47e mataram as mulheres e crianças
da casa ao lado. -
4:47 - 4:50Maridos viraram-se contra
as famílias das suas esposas. -
4:51 - 4:52Após cem dias,
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4:52 - 4:54quando a chacina finalmente cessou,
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4:54 - 4:57o banho de sangue era tão abrangente
e a devastação tão horrível -
4:58 - 5:01que não havia precedente
que pudesse instruir uma recuperação. -
5:02 - 5:06Como levar criminosos a julgamento
se há mais assassinos que tribunais? -
5:06 - 5:08Como recuperar de um trauma e superá-lo
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5:08 - 5:09se as próprias pessoas
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5:09 - 5:11que nos deviam ajudar nesse trabalho
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5:11 - 5:13— os médicos, as enfermeiras,
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5:13 - 5:15os especialistas em trauma,
os agentes sociais — -
5:15 - 5:18estão em igual estado de choque?
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5:19 - 5:21Parecia grande demais para ter solução.
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5:22 - 5:25De facto, nos dias e meses
que se seguiram ao genocídio, -
5:25 - 5:30os jornalistas que chegavam ao Ruanda
reportavam um cenário muito pessimista. -
5:30 - 5:33"O Ruanda acabou", escreveram.
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5:33 - 5:36A comunidade internacional resignou-se
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5:36 - 5:39com a perspetiva de o Ruanda ser
mais um falhanço anónimo em África -
5:39 - 5:42cujas cicatrizes o definiriam para sempre.
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5:43 - 5:46Mas o Ruanda tinha outras ideias.
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5:47 - 5:49A transformação deste país
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5:49 - 5:54da desolação de campos de matança
para a nação mais progressista de África -
5:54 - 5:57é algo com que
todos os países podem aprender. -
5:57 - 5:59Uma década após o genocídio,
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5:59 - 6:02a própria ideia de etnia foi ilegalizada.
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6:02 - 6:06Os cartões de identificação que
diziam se as pessoas eram Hutu ou Tutsi -
6:06 - 6:08foram destruídos
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6:08 - 6:09e substituídos por novos cartões
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6:10 - 6:12com uma única palavra na linha da etnia:
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6:12 - 6:14Ruandês.
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6:14 - 6:18Os livros de história que, durante séculos
tinham ensinado aos estudantes -
6:18 - 6:20todas as diferenças entre os dois grupos
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6:20 - 6:23foram para o lixo
e foram publicados novos livros. -
6:23 - 6:26E apesar de ser verdade
que, 20 anos após o genocídio, -
6:26 - 6:29ainda é relativamente fácil
identificar fisicamente -
6:29 - 6:31se a pessoa é Hutu ou Tutsi
-
6:31 - 6:33— recordem, eu fui capaz
de dizer que Charles era Tutsi -
6:33 - 6:36antes de ele me contar algo acerca de si —
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6:36 - 6:39avisaram-me antes de viajar para o Ruanda
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6:39 - 6:41para não perguntar às pessoas
qual a sua etnia -
6:42 - 6:44e não esperar que elas a revelassem.
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6:45 - 6:46O país inteiro
-
6:46 - 6:50uniu-se na ideia
"agora somos todos Ruandeses." -
6:50 - 6:52E esse foi o primeiro passo crítico
em avançar -
6:52 - 6:55e colocar séculos de ódio para trás.
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6:57 - 6:59E como foi a justiça para os homicidas?
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7:01 - 7:04Após o genocídio, o Ruanda
enfrentava um tsunami legal. -
7:04 - 7:07Tantas pessoas tinham
participado na matança -
7:07 - 7:09que, se todos os casos fossem
julgados tradicionalmente, -
7:09 - 7:13seriam necessários 200 anos
para serem todos ouvidos. -
7:13 - 7:15Em vez disso,
-
7:15 - 7:18o país recorreu a uma forma comunitária
de justiça chamada "Gacaca" -
7:18 - 7:22na qual os anciãos da aldeia ouviam
o testemunho de sobreviventes e assassinos -
7:22 - 7:25e decidiam a sentença internamente.
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7:25 - 7:28A grande diferença entre um
tribunal tradicional e um tribunal Gacaca -
7:28 - 7:32é que os tribunais tradicionais
focam-se na punição -
7:32 - 7:35e os tribunais Gacaca
procuram a reconciliação -
7:35 - 7:37e a descoberta da verdade.
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7:37 - 7:41Sim, muitos assassinos foram condenados
a penas de prisão nos tribunais Gacaca -
7:41 - 7:43mas mais importante ainda
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7:43 - 7:46muitos outros foram perdoados
em troca da sua confissão. -
7:46 - 7:49Não é, de todo, um sistema perfeito
-
7:49 - 7:52mas proporcionou a oportunidade
de um país inteiro passar por uma catarse -
7:52 - 7:54e uma forma de avançar.
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7:54 - 7:57Como resultado direto do
sistema judicial Gacaca -
7:57 - 7:59há hoje no interior do Ruanda
-
7:59 - 8:01aldeias de reconciliação
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8:01 - 8:05nas quais sobreviventes Tutsi
e atacantes Hutu -
8:06 - 8:07vivem lado a lado.
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8:07 - 8:09Partilham água,
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8:09 - 8:10partilham terras,
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8:10 - 8:12partilham memórias dolorosas.
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8:12 - 8:15E estas aldeias
estão a fazer o impossível: -
8:15 - 8:17estão a funcionar.
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8:17 - 8:20Têm também Paul Kagame.
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8:20 - 8:23Kagame tem sido o verdadeiro
líder do Ruanda desde 1994 -
8:23 - 8:26e é simultaneamente
complicado e controverso. -
8:27 - 8:28Sob a sua liderança,
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8:28 - 8:30o Ruanda tornou-se mais limpo e forte.
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8:30 - 8:32Nunca teve uma situação económica tão boa
-
8:32 - 8:35ou uma posição tão boa
no plano internacional. -
8:35 - 8:39Mas ele tem sido também
acusado de autoritarismo -
8:39 - 8:40de censura à imprensa
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8:40 - 8:43e de operar uma falsa democracia.
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8:43 - 8:46Mas mesmo Kagame, uma vez por ano,
sai do seu local de trabalho -
8:46 - 8:49e vai à rua para o Dia Nacional de Serviço
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8:49 - 8:52em que cada ruandês
trabalha em conjunto -
8:52 - 8:54a limpar, varrer,
construir, cavar valetas, -
8:54 - 8:57aplicar o trabalho físico
para construir a nação. -
8:57 - 8:59Este dia chama-se "Umuganda"
-
8:59 - 9:02e pode-se traduzir como
"unirmo-nos num propósito comum". -
9:02 - 9:05O Umuganda é talvez
o melhor exemplo atual -
9:05 - 9:07da força com a qual todos os ruandeses
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9:07 - 9:10— do presidente aos homens do lixo —
-
9:10 - 9:12acreditam que o seu futuro
só pode ser radioso -
9:12 - 9:15se todos colaborarem nele
em igual medida. -
9:16 - 9:19Regressei ao Uganda uns meses depois,
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9:19 - 9:20desta vez destacada
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9:20 - 9:23para fazer a tal peça turística
para o New York Times -
9:23 - 9:24e percebi,
-
9:24 - 9:28quando cheguei ao luminoso
e brilhante aeroporto de Kigali -
9:28 - 9:31e fui saudada por um
agente da alfândega sorridente, -
9:31 - 9:33percebi que o que o Ruanda fez
-
9:33 - 9:35não é natural.
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9:35 - 9:38Não é natural responder
ao mais extremo ódio -
9:38 - 9:41eliminando as clivagens entre povos.
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9:41 - 9:43Não é natural enfrentar um trauma extremo
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9:43 - 9:46e reagir com compaixão
e sentido comunitário. -
9:46 - 9:49E este é o segredo do sucesso ruandês.
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9:49 - 9:52O Ruanda aceitou a sua história
enquanto abandonou o ódio. -
9:53 - 9:55Enfrentou um trauma extremo e avançou
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9:55 - 9:59mas recusou esquecer
qualquer detalhe horrífico. -
9:59 - 10:02Triunfou sobre as vicissitudes
da emoção humana. -
10:04 - 10:07Na universidade estudei teoria do trauma
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10:07 - 10:10e a forma como o cérebro humano
processa eventos horríveis. -
10:10 - 10:13É que o trauma é um evento
tão forte na sua abrangência -
10:13 - 10:16que o cérebro
não o consegue processar de uma vez -
10:16 - 10:19e então continua a reprocessá-lo
uma e outra vez -
10:19 - 10:21até estar completamente resolvido.
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10:21 - 10:24É daí que surgem as memórias
do "stress" pós-traumático -
10:24 - 10:26e é por isso que um trauma coletivo,
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10:26 - 10:29no qual um grupo inteiro
ou um país inteiro -
10:29 - 10:31estão todos em choque ao mesmo tempo,
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10:31 - 10:34é por isso
que é tão difícil ultrapassá-lo. -
10:34 - 10:39Fico fascinada pela abertura com que
os ruandeses falam do genocídio. -
10:39 - 10:40Na minha segunda viagem,
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10:40 - 10:44contratei uma facilitadora chamada Annie
para ser a minha tradutora -
10:44 - 10:48e ela contou-me serenamente ao jantar,
meras horas após nos conhecermos, -
10:48 - 10:51que tinha sido abandonada
pela mãe quando nasceu -
10:51 - 10:53e que só a conheceu quando tinha 18 anos.
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10:54 - 10:56É que a Anne é tutsi.
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10:56 - 10:59A mãe dela, quando estava grávida,
sabia que o genocídio estava perto, -
10:59 - 11:01viajou para o interior
do país e deu à luz, -
11:01 - 11:03deixando-a com um familiar
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11:03 - 11:04na esperança de maior segurança.
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11:04 - 11:06Mãe e filha demoraram
quase 20 anos -
11:06 - 11:08até perceberem
que ambas estavam vivas -
11:08 - 11:11e se reencontrarem.
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11:11 - 11:12O meu amigo Heppo,
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11:12 - 11:16dedicou a sua vida à missão
que chama "Sê a paz". -
11:16 - 11:18Ele tinha sete anos
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11:18 - 11:22quando viu o pai ser morto
e dado como alimento a cães. -
11:23 - 11:26Ele contou-me isto, calma e claramente
num restaurante de bifes -
11:26 - 11:28antes de acrescentar
-
11:28 - 11:32que ele insiste que a sua
geração seja a última no Ruanda -
11:32 - 11:35a transmitir ódio de pais para filhos.
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11:36 - 11:38Portanto, apesar de,
no Ruanda de hoje, -
11:38 - 11:41ser tabu perguntar a alguém
qual a sua etnia, -
11:41 - 11:45na realidade, também
é tabu ficar em silêncio. -
11:46 - 11:48Enquanto estava no Hotel Rwanda,
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11:48 - 11:50a apreciar que este edifício,
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11:50 - 11:53que viu tantas coisas dolorosas,
-
11:53 - 11:56é de novo um simples hotel bonito,
-
11:56 - 11:59eu percebi que, se há alguma coisa
-
11:59 - 12:02que vocês e eu podemos
aprender com o Ruanda, é isto: -
12:03 - 12:05A verdade pode não vos libertar
-
12:05 - 12:07mas seguramente
ajudar-vos-á na reconstrução. -
12:07 - 12:10E se outras nações querem
aprender com o Ruanda, -
12:10 - 12:12o caminho mais simples para começar
-
12:12 - 12:15é encontrar a sua verdade
e falar acerca dela. -
12:15 - 12:16Obrigada.
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12:16 - 12:18(Aplausos)
- Title:
- Reclamando a narrativa: Ruanda, 20 anos depois | Debra Kamin | TEDxPorto
- Description:
-
Duas décadas após o horrível genocídio, o Ruanda é uma história de sucesso em África. As suas cidades têm excelentes infraestruturas tecnológicas e hotéis luxuosos. O interior está povoado por aldeias de reconciliação nas quais Hutus e Tutsis vivem lado a lado. Mas num país onde ninguém emergiu ileso do genocídio, o trauma não impediu o triunfo. Pelo contrário, é a causa para esse mesmo triunfo.
Debra Kamin é jornalista e escritora de viagens americana premiada. Escreve habitualmente no New York Times e teve peças suas publicadas nas revistas Newsweek, Variety, TIME, Foreign Policy e nos jornais The Guardian, The Los Angeles Times, The Chicago Tribune entre outros. Kamin escreveu extensivamente acerca do turismo no Ruanda moderno e em 2017 foi enviada pelo New York Times para escrever a peça "36 Horas em Kigali" que fez parte da prestigiada e longa série de guias para destinos em todo o mundo.
Karmin tem o grau de mestre pela Universidade de Chicago, onde apresentou a sua tese acerca da recuperação das sociedades após traumas em massa e conflitos. Vive em Tel Aviv com o marido e as filhas gémeas e está a trabalhar atualmente nas suas memórias.Esta palestra foi feita num evento TEDx usando o formato de palestras TED, mas organizado independentemente por uma comunidade local. Saibam mais em http://ted.com/tedx
- Video Language:
- English
- Team:
- closed TED
- Project:
- TEDxTalks
- Duration:
- 12:26
Margarida Ferreira approved Portuguese subtitles for Reclaiming the narrative: Rwanda, twenty years later | Debra Kamin | TEDxPorto | ||
Margarida Ferreira edited Portuguese subtitles for Reclaiming the narrative: Rwanda, twenty years later | Debra Kamin | TEDxPorto | ||
Norberto Amaral accepted Portuguese subtitles for Reclaiming the narrative: Rwanda, twenty years later | Debra Kamin | TEDxPorto | ||
Norberto Amaral edited Portuguese subtitles for Reclaiming the narrative: Rwanda, twenty years later | Debra Kamin | TEDxPorto | ||
Norberto Amaral edited Portuguese subtitles for Reclaiming the narrative: Rwanda, twenty years later | Debra Kamin | TEDxPorto | ||
Nuno Monteiro edited Portuguese subtitles for Reclaiming the narrative: Rwanda, twenty years later | Debra Kamin | TEDxPorto |