Theranos, a denúncia e a defesa da verdade
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0:00 - 0:04Há sete anos, quando me formei
na Universidade de Berkeley -
0:04 - 0:09com uma licenciatura dupla em biologia
molecular e celular e em linguística, -
0:09 - 0:11fui a uma feira de emprego
no "campus" universitário, -
0:12 - 0:15para ir a uma entrevista
com uma "start-up" chamada Theranos. -
0:16 - 0:17Nessa altura,
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0:17 - 0:20não havia muita informação
sobre essa empresa -
0:20 - 0:24mas o pouco que se sabia
era impressionante. -
0:24 - 0:28Basicamente, a empresa estava a criar
um dispositivo médico -
0:28 - 0:33capaz de ler todo o nosso painel sanguíneo
-
0:33 - 0:35numa gota de sangue
tirada na ponta do dedo. -
0:35 - 0:38Já não seria necessário espetar
uma agulha enorme no braço -
0:38 - 0:40para fazer uma análise ao sangue.
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0:40 - 0:44Isto era interessante porque
não só era menos doloroso -
0:44 - 0:49mas também podia abrir a porta
a diagnósticos antecipados. -
0:49 - 0:50Se houvesse um dispositivo
-
0:51 - 0:55que permitisse diagnósticos
mais frequentes e contínuos, -
0:55 - 1:01poderíamos diagnosticar uma doença
antes de alguém adoecer. -
1:01 - 1:05Isto foi confirmado numa entrevista
que a fundadora, Elizabeth Holmes, -
1:05 - 1:07dera ao Wall Street Journal.
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1:07 - 1:09"A realidade de hoje
no nosso sistema de saúde -
1:10 - 1:13"é que, quando um ente querido
fica muito doente, -
1:13 - 1:16"quando se descobre,
já é tarde demais para se fazer algo. -
1:17 - 1:18"É desolador."
-
1:18 - 1:20Eu queria fazer parte
daquele projeto inovador -
1:20 - 1:23e queria ajudar na sua construção.
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1:23 - 1:28Acho que houve outro motivo
por que a história da Elizabeth -
1:28 - 1:29mexeu comigo.
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1:30 - 1:32A certa altura, alguém disse-me:
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1:32 - 1:34"Erika, há dois tipos de pessoas.
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1:34 - 1:37"Há os que prosperam e os que sobrevivem.
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1:37 - 1:40"E tu, minha querida,
és uma sobrevivente." -
1:40 - 1:42Antes de ir para a universidade,
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1:42 - 1:46cresci numa caravana com um só quarto
juntamente com seis familiares -
1:46 - 1:49e, quando dizia que queria
estudar em Berkeley, diziam-me: -
1:49 - 1:52"E eu gostava de ser astronauta,
por isso, boa sorte." -
1:53 - 1:56Não desisti, trabalhei muito
e consegui entrar. -
1:56 - 1:59Sinceramente, o meu primeiro ano
foi muito duro. -
1:59 - 2:01Fui vítima de uma série de crimes.
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2:01 - 2:04Fui assaltada com uma arma,
fui agredida sexualmente -
2:04 - 2:07e fui agredida sexualmente
uma terceira vez, -
2:07 - 2:10o que levou a vários graves
ataques de pânico, -
2:10 - 2:12que me levaram a faltar às aulas
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2:12 - 2:13e a desistir da faculdade.
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2:14 - 2:16Nesse momento, disseram-me:
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2:16 - 2:19"Erika, se calhar, não foste feita
para as ciências. -
2:19 - 2:22"Devias pensar em fazer outra coisa."
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2:22 - 2:24Eu pensei: "Sabem que mais?
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2:24 - 2:26"Se não chegar lá, não cheguei
-
2:26 - 2:29"mas não posso desistir
e vou lutar por isso -
2:29 - 2:33"e mesmo que não seja a melhor,
vou tentar com que aconteça." -
2:33 - 2:37Felizmente, continuei,
consegui o diploma e licenciei-me. -
2:38 - 2:40(Aplausos)
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2:41 - 2:42Obrigada.
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2:42 - 2:44(Aplausos)
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2:45 - 2:50Quando ouvi que a Elizabeth Holmes
tinha desistido de Stanford aos 19 anos -
2:50 - 2:52para começar esta empresa
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2:52 - 2:54e que estava a ter muito sucesso,
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2:54 - 2:57para mim, foi um sinal
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2:57 - 3:00de que não importava de onde vínhamos,
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3:00 - 3:03desde que nos dedicássemos
a trabalhar muito e de forma inteligente, -
3:03 - 3:06isso era o que bastava
para ter impacto no mundo. -
3:06 - 3:08Isto era algo em que eu, pessoalmente,
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3:08 - 3:10tinha de acreditar na minha vida
-
3:10 - 3:13porque era uma das poucas
âncoras que eu tinha -
3:13 - 3:15para sobreviver no dia a dia.
-
3:16 - 3:17Podem imaginar
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3:17 - 3:20como fiquei feliz
quando recebi aquela carta. -
3:21 - 3:24Fiquei radiante.
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3:24 - 3:28Finalmente, tinha chegado a minha
hipótese de contribuir para a sociedade, -
3:28 - 3:32de resolver os problemas
que tinha visto no mundo -
3:32 - 3:34e, quando pensava na Theranos,
-
3:34 - 3:37esperava que ela seria
a primeira e última empresa -
3:37 - 3:40para a qual eu ia trabalhar.
-
3:41 - 3:44Mas comecei a reparar nalguns problemas.
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3:45 - 3:50Comecei como colaboradora
de nível básico, no laboratório. -
3:50 - 3:53Quando estávamos
em reuniões de laboratório, -
3:53 - 3:57a rever os dados para confirmar
se a tecnologia funcionava ou não, -
3:57 - 3:59recebíamos conjuntos de dados como estes,
-
3:59 - 4:01e diziam-me:
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4:01 - 4:04"Vamos eliminar o valor atípico
-
4:04 - 4:07"e ver como isso afeta
a taxa de precisão." -
4:07 - 4:09O que é um valor atípico neste caso?
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4:09 - 4:12Qual é o valor atípico?
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4:12 - 4:14A resposta é que não se sabe.
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4:14 - 4:17Não se sabe. Não é?
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4:17 - 4:19E apagar dados
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4:19 - 4:22é violar uma das coisas
que eu considerava mais belas -
4:22 - 4:24no processo científico
-
4:24 - 4:29— permitir que os dados revelem a verdade.
-
4:29 - 4:33Por mais tentador que possa ser
em certos cenários, -
4:33 - 4:37pôr a nossa história nos dados
para confirmar a nossa narrativa -
4:37 - 4:43há consequências futuras muito graves.
-
4:43 - 4:47Isto foi, para mim,
um sinal imediato de alerta -
4:47 - 4:50que se repetiu na experiência seguinte
-
4:50 - 4:51e no sinal de alerta seguinte
-
4:51 - 4:54que comecei a ver no laboratório clínico.
-
4:54 - 4:56Um laboratório clínico
-
4:56 - 4:59é onde se processam
as amostras dos pacientes. -
4:59 - 5:02Antes de analisar
uma amostra de um paciente, -
5:02 - 5:05eu tinha uma amostra em que sabia
qual era a concentração, -
5:05 - 5:08e, neste caso, era 0,2 para o tPSA,
-
5:08 - 5:11que é um indicador de que alguém
pode ter cancro na próstata -
5:11 - 5:14ou se corre o risco ou não
de um cancro na próstata. -
5:14 - 5:17Quando eu a punha
no dispositivo da Theranos, -
5:17 - 5:19dava-me um valor de 8,9.
-
5:19 - 5:22Depois, voltava a analisar e dava-me 5,1
-
5:22 - 5:25e depois, voltava a analisar e dava-me 0,5
-
5:25 - 5:28o que estava tecnicamente
dentro dos valores normais. -
5:28 - 5:31Mas o que é que se faz neste cenário?
-
5:31 - 5:33Qual é a resposta exata?
-
5:34 - 5:38Este exemplo não estava a ocorrer
só uma vez. -
5:38 - 5:41Isto estava a ocorrer
quase todos os dias, -
5:41 - 5:44em muitos testes diferentes.
-
5:45 - 5:51E, reparem, isto para uma amostra
em que sei qual é a concentração. -
5:51 - 5:54O que acontece quando não sei
qual é a concentração, -
5:54 - 5:56como numa amostra de um paciente?
-
5:56 - 6:02Como é que posso confiar no resultado?
-
6:03 - 6:08Isto, para mim,
foi o último sinal de alarme -
6:08 - 6:11e foi quando estávamos a fazer testes
-
6:11 - 6:14para confirmar e certificar
-
6:14 - 6:17se podíamos continuar a processar
as amostras dos pacientes. -
6:17 - 6:21Os reguladores dão-nos
uma amostra e pedem: -
6:21 - 6:23"Analisem esta amostra,
-
6:23 - 6:26"conforme o controlo de qualidade
e o vosso fluxo de trabalho habitual, -
6:26 - 6:28"como testariam normalmente nos pacientes
-
6:28 - 6:30"e deem-nos os resultados.
-
6:30 - 6:33"Nós iremos confirmar
se passou ou não." -
6:33 - 6:37Como estávamos a ver tantos problemas
com o aparelho da Theranos -
6:37 - 6:40que estava a ser usado naquele momento
para testar em pacientes -
6:40 - 6:43pegámos numa amostra
-
6:43 - 6:46e analisámo-la num aparelho
aprovado pela FDA -
6:46 - 6:48e analisámo-la no aparelho da Theranos.
-
6:49 - 6:51Adivinhem o que aconteceu?
-
6:51 - 6:54Obtivemos dois resultados
completamente diferentes. -
6:55 - 6:57O que acham que foi feito neste caso?
-
6:57 - 7:01Talvez pensem que eles iriam
avisar os reguladores, tipo: -
7:01 - 7:04"Temos algumas discrepâncias
com esta nova tecnologia." -
7:04 - 7:10Em vez disso, a Theranos mandou
o resultado do aparelho aprovado pela FDA. -
7:11 - 7:13Que sinal é que isto nos dá?
-
7:13 - 7:17Isto mostra que até a própria organização
-
7:17 - 7:21não tem confiança nos resultados
que a tecnologia está a produzir. -
7:22 - 7:26Então, como é que trabalhamos
a analisar amostras de pacientes -
7:26 - 7:28neste aparelho específico?
-
7:29 - 7:33Como sabem, eu tinha acabado
de me licenciar, -
7:33 - 7:36tinha participado em todas
aquelas experiências diferentes, -
7:36 - 7:38tinha compilado todas aquelas provas
-
7:38 - 7:41e fui ao escritório
do Diretor de Operações -
7:41 - 7:43e falei-lhe das minhas preocupações.
-
7:43 - 7:46"No laboratório,
estamos a ver muita variação. -
7:46 - 7:48"A taxa de precisão não parece correta.
-
7:48 - 7:51"Não me estou a sentir bem
em testar em pacientes. -
7:51 - 7:54"Não estou confortável com estas coisas."
-
7:54 - 7:57A resposta que recebi foi:
-
7:57 - 7:59"Não sabes do que falas.
-
7:59 - 8:01"O que tens a fazer é aquilo
por que és paga para fazer, -
8:01 - 8:04"é processar as amostras dos pacientes."
-
8:04 - 8:08Nessa noite, liguei a um colega
-
8:08 - 8:12com quem tinha travado amizade,
chamado Taylor Schultz -
8:12 - 8:17que, por acaso, tinha um avô
no Conselho de Administração. -
8:17 - 8:20Decidimos ir a casa do avô dele
-
8:20 - 8:23e dizer-lhe durante o jantar
-
8:23 - 8:26que o que a empresa lhe estava a dizer
que estava a acontecer -
8:26 - 8:30não estava a acontecer nos bastidores.
-
8:30 - 8:34Já para não dizer que o avô do Tyler
era o George Schultz -
8:34 - 8:37o ex-Secretário de Estado dos EUA.
-
8:37 - 8:41Podem imaginar como eu,
com 20 e poucos anos, -
8:41 - 8:45estava nervosa só de pensar
em que é que me ia meter. -
8:45 - 8:49Mas sentámo-nos a jantar com ele
e dissemos: -
8:49 - 8:52"Se acha que eles pegam
numa amostra de sangue -
8:52 - 8:55"põe-na no aparelho
e aparece um resultado, -
8:56 - 9:00"o que acontece, no momento
em que sair da sala, -
9:00 - 9:03"é que eles pegam na amostra,
levam-na para a sala das traseiras -
9:03 - 9:07"e há cinco pessoas à espera
para levar essa amostra de sangue -
9:07 - 9:10"e dividi-la entre cinco
máquinas diferentes." -
9:11 - 9:15Ele disse-nos: "Eu sei que o Tyler
é muito inteligente, -
9:15 - 9:17"tu pareces-me muito inteligente
-
9:17 - 9:21"mas o facto é que eu estou rodeado
de imensas pessoas inteligentes -
9:21 - 9:25"que me dizem que este dispositivo
vai revolucionar os cuidados de saúde. -
9:25 - 9:28"Vocês deviam pensar
em fazer outra coisa." -
9:29 - 9:33Isto já durava há cerca de sete meses
-
9:33 - 9:37e eu decidi despedir-me no dia seguinte.
-
9:39 - 9:42(Aplausos)
-
9:46 - 9:49Naquele momento,
tive de me focar em mim -
9:49 - 9:51e analisar a minha saúde mental.
-
9:51 - 9:54Eu tinha chamado a atenção no laboratório.
-
9:54 - 9:57Eu tinha chamado a atenção
do Diretor de Operações. -
9:57 - 10:00Eu tinha chamado a atenção de um membro
do Conselho da Administração. -
10:00 - 10:02Entretanto,
-
10:02 - 10:08a Elizabeth estava na capa
de todas as revistas americanas. -
10:09 - 10:12Há aqui um fio condutor que sou eu.
-
10:12 - 10:14Serei eu o problema?
-
10:14 - 10:16Talvez haja algo que eu não esteja a ver?
-
10:16 - 10:18Talvez seja eu a louca.
-
10:19 - 10:22E é aqui que eu tenho sorte.
-
10:23 - 10:26Fui abordada por John Carreyrou,
um jornalista muito talentoso -
10:27 - 10:29do Wall Street Journal.
-
10:30 - 10:34Ele tinha dito que também tinha ouvido
-
10:34 - 10:37algumas preocupações
sobre aquela empresa, -
10:37 - 10:41a outras pessoas na indústria
e a empregados da empresa. -
10:41 - 10:43Aquele momento fez um clique
na minha cabeça: -
10:43 - 10:45"Erika, tu não estás louca.
-
10:45 - 10:47"Não és tu que estás louca.
-
10:47 - 10:50"De facto, há mais pessoas como tu
-
10:50 - 10:53"que têm medo de dar a cara
-
10:53 - 10:57"mas que veem os mesmos problemas
e têm as mesmas preocupações que tu." -
10:58 - 11:02Antes da divulgação da reportagem
e do relato de investigação do John -
11:02 - 11:05que revelavam a verdade
do que estava a acontecer na empresa, -
11:05 - 11:09a empresa decidiu embarcar numa caça
às bruxas contra todos os ex-colaboradores -
11:09 - 11:11incluindo eu,
-
11:11 - 11:18para nos intimidar e impedir
que falássemos com outros ou entre nós. -
11:18 - 11:20O que mais me assustou nesta altura
-
11:20 - 11:22foi o facto que desencadeou
-
11:22 - 11:27e apercebi-me que me estavam a seguir
depois de ter recebido esta carta, -
11:27 - 11:30o que, de certa forma,
acabou por ser uma bênção -
11:30 - 11:32porque obrigou-me a arranjar um advogado.
-
11:33 - 11:35Tive sorte — liguei
para um advogado gratuito -
11:35 - 11:36e ele sugeriu:
-
11:37 - 11:40"Porque não faz queixa
ao organismo regulador?" -
11:41 - 11:44Isto nem sequer tinha passado
pela minha cabeça, -
11:45 - 11:47provavelmente por ser tão inexperiente
-
11:47 - 11:51mas foi exatamente o que fiz,
imediatamente. -
11:51 - 11:55Decidi escrever uma carta e uma
carta de reclamação aos reguladores, -
11:55 - 11:59a ilustrar todas as falhas
e problemas que tinha visto -
11:59 - 12:01no laboratório.
-
12:01 - 12:04Por mais que o meu pai diga
de forma querida -
12:04 - 12:06que isto foi o momento
em que matei o dragão, -
12:06 - 12:09em que me levantei
e lutei contra este colosso -
12:09 - 12:11o que causou um efeito dominó,
-
12:11 - 12:13posso dizer-vos que
-
12:13 - 12:15não me sentia nada corajosa.
-
12:16 - 12:19Tinha medo, estava aterrorizada,
-
12:19 - 12:20estava ansiosa,
-
12:21 - 12:23estava um pouco envergonhada
-
12:23 - 12:26por ter precisado de um mês
para escrever aquela carta. -
12:26 - 12:28Havia uma réstia de esperança
-
12:28 - 12:30que talvez ninguém percebesse
-
12:30 - 12:32que tinha sido eu.
-
12:32 - 12:36Apesar de todas estas emoções
e toda esta volatilidade, -
12:36 - 12:37segui em frente.
-
12:37 - 12:40Felizmente, aquilo
levou a uma investigação -
12:40 - 12:42que trouxe à luz
-
12:42 - 12:44as enormes deficiências no laboratório
-
12:44 - 12:48e impediu a Theranos de processar
as amostras dos pacientes. -
12:48 - 12:51(Aplausos)
-
12:56 - 12:59Seria de pensar que, como passei
-
12:59 - 13:02por uma situação difícil
e louca como esta, -
13:02 - 13:05conseguiria dar conselhos
-
13:05 - 13:09ou uma receita de sucesso
para outras pessoas nesta situação. -
13:09 - 13:12Mas, francamente, neste tipo de situações,
-
13:12 - 13:17a única citação certa
é esta do Mike Tyson: -
13:17 - 13:20"Todos temos um plano
até levarmos um murro na boca." -
13:20 - 13:22(Risos)
-
13:22 - 13:24É exatamente assim que é.
-
13:25 - 13:27Mas hoje,
-
13:27 - 13:29estamos aqui a falar
de tentar atingir o impossível -
13:30 - 13:33e estes são projetos altamente inovadores
-
13:34 - 13:35e muito ambiciosos,
-
13:35 - 13:38em que todos queremos acreditar.
-
13:38 - 13:42Mas o que acontecerá
quando a visão é tão convincente -
13:42 - 13:45e o desejo de acreditar tão forte
-
13:45 - 13:48que começamos a confundir
o nosso julgamento -
13:49 - 13:50com a realidade?
-
13:51 - 13:54Quando estes projetos inovadores
-
13:54 - 13:57começam a ser prejudiciais
para a sociedade -
13:57 - 13:59que mecanismos temos
-
13:59 - 14:04para impedir estas potenciais
consequências? -
14:04 - 14:08Para mim, a forma mais simples de o fazer
-
14:08 - 14:13é encorajar uma cultura forte
de falar livremente -
14:13 - 14:15e escutar os que falam livremente.
-
14:16 - 14:18Agora a grande questão é:
-
14:19 - 14:24como é que encorajamos a que isso
seja o normal e não a exceção? -
14:24 - 14:27(Aplausos)
-
14:31 - 14:34Felizmente, na minha experiência
-
14:34 - 14:37apercebi-me que,
quando falamos livremente, -
14:37 - 14:40a ação costuma ser bastante simples
na maioria dos casos -
14:41 - 14:45mas a parte mais difícil
é decidir agir ou não. -
14:46 - 14:48Como podemos enquadrar
as nossas decisões -
14:48 - 14:53de forma a ser mais fácil de agir
-
14:53 - 14:56e produzir resultados mais éticos?
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14:56 - 15:00A UC San Diego criou
esta abordagem excelente -
15:00 - 15:02chamada os "Três C"
-
15:02 - 15:06que significam Compromisso,
Consciência e Competência. -
15:06 - 15:09O compromisso é o desejo
de fazer o que está certo, -
15:09 - 15:11independentemente do custo.
-
15:11 - 15:12No meu caso na Theranos,
-
15:13 - 15:14se eu estivesse errada,
-
15:14 - 15:16teria de arcar com as consequências.
-
15:16 - 15:18Mas, se eu tivesse razão,
-
15:18 - 15:20o facto de eu poder ter sido uma pessoa
-
15:20 - 15:24que sabia que havia algo errado
e não dizia nada, -
15:24 - 15:26seria o purgatório.
-
15:26 - 15:28Ficar calado é o purgatório.
-
15:29 - 15:31Depois há a consciência,
-
15:31 - 15:34a consciência de agir de forma consistente
e aplicar as convicções morais -
15:34 - 15:37ao comportamento diário,
-
15:37 - 15:38ao comportamento.
-
15:38 - 15:41O terceiro aspeto é a competência.
-
15:41 - 15:45A competência é a capacidade
de recolher e avaliar as informações -
15:45 - 15:48e prever potenciais
consequências e riscos. -
15:48 - 15:51A razão por que confiava
na minha competência -
15:51 - 15:55era porque estava a agir
para o bem de outros. -
15:55 - 15:59Acho que o processo simples
é pegar nessas ações -
15:59 - 16:00e imaginar:
-
16:00 - 16:03"Se isto acontecesse aos meus filhos,
-
16:03 - 16:04"aos meus pais,
-
16:04 - 16:06"ao meu companheiro,
-
16:06 - 16:09"aos meus vizinhos, à minha comunidade,
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16:09 - 16:11"se pegasse nisto...
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16:12 - 16:14"como seria recordado?"
-
16:15 - 16:16E com isso,
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16:16 - 16:18espero que, quando saiamos daqui,
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16:18 - 16:21e nos aventuremos a criar o impossível,
-
16:21 - 16:23não o concetualizemos apenas
-
16:23 - 16:27de forma a ser um meio
para as pessoas sobreviverem -
16:27 - 16:33mas como oportunidades
para todos vivermos melhor. -
16:34 - 16:35Obrigada.
-
16:35 - 16:37(Aplausos)
- Title:
- Theranos, a denúncia e a defesa da verdade
- Speaker:
- Erika Cheung
- Description:
-
Em 2014, Erika Cheung fez uma descoberta que acabaria por ajudar a derrubar o seu empregador, Theranos, bem como a sua fundadora, Elizabeth Holmes, que afirmava ter inventado uma tecnologia que transformaria a medicina. A decisão de denunciar foi uma dura lição de descoberta de como fazer o que está certo face a obstáculos pessoais e profissionais. Com franqueza e humildade, Cheung partilha a sua defesa da verdade — e oferece uma imagem para encorajar outros a chegarem-se à frente e a agirem ao serviço de todos.
- Video Language:
- English
- Team:
- closed TED
- Project:
- TEDTalks
- Duration:
- 16:50
Margarida Ferreira approved Portuguese subtitles for Theranos, whistleblowing and speaking truth to power | ||
Margarida Ferreira edited Portuguese subtitles for Theranos, whistleblowing and speaking truth to power | ||
Margarida Ferreira accepted Portuguese subtitles for Theranos, whistleblowing and speaking truth to power | ||
Margarida Ferreira edited Portuguese subtitles for Theranos, whistleblowing and speaking truth to power | ||
Rita Fabião edited Portuguese subtitles for Theranos, whistleblowing and speaking truth to power | ||
Rita Fabião edited Portuguese subtitles for Theranos, whistleblowing and speaking truth to power | ||
Rita Fabião edited Portuguese subtitles for Theranos, whistleblowing and speaking truth to power | ||
Rita Fabião edited Portuguese subtitles for Theranos, whistleblowing and speaking truth to power |