Libertem-se das vossas inseguranças | BJ Davis | TEDxSacramentoSalon

Um antigo criminoso, agora médico, diretor clínico e professor, o Dr. B J Davis é prova de que o passado não dita o nosso futuro. O nosso passado pode aperfeiçoar-nos. Ele partilha a sua história de como chegou à conclusão de que precisava de criar o seu próprio milagre.

O Dr. Davis é diretor de "Strategies for Change", uma organização de tratamento de dependências e de doenças mentais. Ele é também o autor do filme "What is recovery?". Para além do seu doutoramento, Davis tem dois bacharelatos em Filosofia e em Religião e um mestrado em Psicologia e Terapia. Para além de trabalhar em "Strategies", é professor no programa de doutoramento em psicologia forênsica e clinica e consultor no Sacramento Aids Housing Alliance.

Esta palestra foi feita num evento TEDx, organizado de forma independente por uma comunidade local mas usando o formato das Conferências TED. Saiba mais em: http://ted.com/tedx

Eu trabalho como codiretor

num centro de tratamento
para abuso de substâncias

e doenças mentais com isso relacionadas.

Não se passa um dia
que eu dê como garantido.

Em 1999, saí da prisão em liberdade
condicional pela segunda vez,

pela... segunda vez.

Aparentemente, uma vez
não foi suficiente para mim.

Sim, é assustador. Este sou eu.

No total, passei
mais de oito anos na prisão,

com pena suspensa ou liberdade condicional
por vários delitos de posse de droga.

Durante 10 anos, acordei
todas as manhãs a fumar "crack"

e deitei-me todas as noites
a fumar "crack".

Passei a maior parte do meu tempo

a tentar escapar da realidade
da minha vida incapaz e sem esperança

drogando-me.

No pior dia,

lembro-me de vender um carro de 8 mil
dólares que a minha mãe me oferecera,

e que eu adorava,

ao meu traficante de droga
por 80 dólares de "crack".

Essa memória é tão dolorosa

que é a primeira vez que
a partilho em público.

Eu desisti da minha vida tanto
quanto é possível sem suicídio,

mas algo de extraordinário aconteceu
da segunda vez que estive na prisão.

Cerca de dois meses depois
do início da minha pena

recebi uma carta da minha ex-mulher

a dizer que a minha mãe,

a pessoa que eu confesso
amar e estimar

mais do que qualquer outra
pessoa no mundo,

tinha tido um ataque cardíaco

e provavelmente não sobreviveria.

Ela não era a minha mãe biológica,

que me abandonara
pouco depois de eu nascer,

mas a minha verdadeira mãe

que me criou como se fosse dela
durante toda a minha vida.

Fui forçado a encarar

a pessoa em que eu me tinha tornado,

e a pessoa em que eu me tinha tornado
não era fácil de encarar.

Porque eu tornara-me o filho

que não estaria lá para confortar
a sua mãe de 77 anos,

completamente sozinha
num desolado quarto de hospital,

quando ela necessitava dele
mais do que nunca,

por causa do meu desejo egoísta
de escapar da minha realidade

drogando-me.

Num momento de honestidade brutal

eu tive de reconhecer
que andava a viver uma mentira.

Eu não era o filho carinhoso,
ou o companheiro fiel,

ou o pai prestável,
ou um bom cidadão

que eu dizia ser a toda a gente,
inclusive a mim mesmo, há anos.

Foi aí que eu decidi
que tinha de mudar de vida

para algo que eu e minha mãe,

onde quer que ela estivesse,

pudesse ficar orgulhosa.

E uma pequena semente de mudança
foi plantada dentro de mim.

Por isso, quando fui libertado da prisão,

decidi voltar à escola

porque pensei que nenhum
lugar seria melhor

para um ex-condenado de meia idade,
negro e de 109 kg ir

e poder passar despercebido

(Risos)

do que uma faculdade
comunitária de brancos

cheia de alunos de 20 e poucos anos.

(Risos)

Mas tive sorte

porque na faculdade local
onde fui parar

encontrei dois instrutores
que mudaram a minha vida.

Foram as minhas interações
com esses instrutores

que me ajudaram a recuperar a autoestima,
um objetivo, o sentido e a confiança

que o meu consumo de drogas e o meu
estilo de vida anterior me tinham roubado.

Eu nunca esquecerei o momento

em que ganhei consciência,

em que eu percebi,

que podia criar o meu próprio milagre.

Tudo começou quando fui
ao gabinete da Professora Sina

à procura de um elogio especial

porque isso tinha-se tornado
a minha nova droga de eleição.

Ela ouviu-me a descrever alguma
coisa super fixe que eu tinha feito

e sem pompa e circunstância,

olhou para mim e disse-me:

"Não é fantástico, B.J,

"o que uma pessoa consegue fazer
quando começa a acreditar em si mesmo?"

Depois, como se nada de especial
se tivesse passado,

voltou ao que estava a fazer
na sua secretária.

Enquanto eu saía do gabinete dela,

atordoado e confuso, a tentar perceber
o que se tinha passado,

também estava um bocado chateado

porque ela não tinha saciado
o meu novo hábito.

Mas fui forçado a pensar
no que se tinha passado

e o que é que significava

E mais importante ainda,

aquela semente de mudança
que estava dentro de mim

começou a mexer-se.

Alguns meses mais tarde

enquanto fazia um teste

o Professor Miller

passou pela minha mesa
e deixou cair uma candidatura

que eu depois descobri ser para o programa
de mestrado em aconselhamento

na universidade de Sacramento.

Por isso depois do teste,
fui a correr ao escritório dele

entrei de rompante

a segurar a candidatura
e disse, muito obtusamente:

"O que é isto?"

E sem hesitação, ele respondeu:

"Tenho muita confiança
na tua capacidade de ler

"por isso tenho a certeza
que conseguirás chegar lá sozinho."

(Risos)

Assim, continuei brilhantemente
com uma pergunta igualmente obtusa:

"Acha que eu consigo fazer isto?"

E com paciência mas sem
nenhum entusiasmo especial,

ele olhou para mim e disse:

"Claro."

"Claro."

E a seguir, voltou para a secretária,

dando a entender que
a conversa estava terminada.

Novamente, saí do gabinete
atordoado e confuso.

Mas desta vez,

as sementes de autoconfiança

que tinham sido plantadas
no meu jardim de inseguranças

ganharam raízes

e começaram a crescer.

Naquele momento eu percebi

que a única pessoa
que ainda não acreditava em mim

que precisava de acreditar em mim,

era eu.

Enquanto os meus olhos
se enchiam de lágrimas

pela primeira vez
desde que tinha saído da prisão,

senti-me livre.

Ao fim de três anos,

finalmente senti-me livre das
correntes mentais e emocionais

causadas pela vergonha,
pela dor e pelo ´desespero

criados pelo meu consumo de drogas.

Durante anos eu,
e pessoas como eu,

tínhamos ouvido dizer:

"Uma vez viciado, sempre viciado."

"Uma vez criminoso, sempre criminoso."

"Uma vez falhado, sempre falhado."

Mas eu percebi que isso só era
verdade se acreditássemos nisso.

Eu aprendi da pior maneira o quão
paralisante as nossas inseguranças são.

Contribuem para que as pessoas
escolham a miséria em vez da felicidade

e o vazio em vez da realização pessoal

e a prisão em vez da liberdade

de uma maneira desnecessária.

Em 2006,

apenas sete anos depois de eu
ter saído da prisão de Corcoran State,

pisei um palco

e recebi o meu doutoramento
em psicologia clínica.

(Aplausos)

Sentada a meio da terceira fila

estava uma mulher

que tinha passado noites incontáveis
sem dormir, preocupada com o filho.

Essa mulher era a minha mãe de 85 anos,

que não tinha morrido
enquanto eu estava na prisão,

(Aplausos)

mas que viveu para me ver
tornar-me no homem

que ela sempre acreditara
que eu podia ser.

Antes de 1999,

esta era a minha vida

sem esperança nem objetivo.

Hoje, esta é a minha vida.

Agora, quero dizer-vos
que fico muitas vezes frustrado

quando oiço pessoas atribuírem
uma recuperação de sucesso

ou uma reabilitação a um milagre,

como se o trabalho árduo e a perseverança

não tivessem nada a ver com isso.

Precisava de dizer

que foi por eu ter recuperado
a confiança em mim mesmo

que ganhei o poder de mudar
a direção da minha vida.

E é o que me permite

que agora eu possa dar esperança
a pessoas que estão a passar pelo mesmo.

Porque eu sou a prova viva,

sou a prova viva de que o passado
não tem de definir o futuro delas.

Agora, não precisam de ir para a prisão

(Risos)

para aprenderem o que eu aprendi.

Na realidade,

eu não o recomendo.

(Risos)

Mas quero que saibam isto.

Nós podemos escolher

se queremos que o nosso
passado nos defina

ou nos refine.

E tal como eu digo a milhares de pessoas

que sofrem com dependências
e outros problemas dolorosos

e que passam pela nossa clínica:

"Não é preciso esperar por um milagre.

"Podes criar o teu próprio milagre."

Obrigado.

(Aplausos)