Possibilidades de enfrentamento da pandemia da COVID-19 no Brasil | Lucia Pellanda | TEDxLaçador
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0:05 - 0:11Ana Goelzer: Vamos falar, então,
primeiro, sobre essa questão da curva. -
0:11 - 0:16O que significa ficar em casa
pra manter a curva baixa? -
0:17 - 0:20É pra baixar o número de mortes?
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0:20 - 0:23É pra controlar o que exatamente?
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0:23 - 0:24E isso tem prazo?
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0:24 - 0:28Porque tinha um vídeo que estava
circulando aí na semana passada, -
0:30 - 0:31e mais um "post",
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0:31 - 0:33meio que aterrorizando as pessoas:
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0:33 - 0:37se elas não fizessem isso
até quarta-feira, não ia adiantar mais. -
0:37 - 0:40Isso é verdade? Não é verdade?
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0:40 - 0:42Como é?
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0:42 - 0:44Lúcia Pellanda: Bom, então...
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0:44 - 0:48essa é uma doença
que a gente conhece pouco ainda. -
0:48 - 0:51Nós estamos descobrindo
à medida que ela vai se desenvolvendo. -
0:51 - 0:55A gente está acompanhando aí
desde janeiro os casos da doença. -
0:55 - 1:01Lá no finzinho de dezembro
a gente começou a saber dos casos. -
1:02 - 1:04E o que acontece?
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1:04 - 1:10Esse vírus novo, da COVID-19,
é muito contagioso. -
1:10 - 1:13Então, ele se espalha muito
de pessoa pra pessoa. -
1:13 - 1:18Uma pessoa, em média, consegue
transmitir pra mais três pessoas. -
1:18 - 1:20E, dessas três,
pra mais três, e assim vai. -
1:20 - 1:26Por isso é que a gente fala que ele vai
numa progressão muito grande. -
1:26 - 1:30Então, há muito pouca coisa
pra fazer por enquanto, -
1:30 - 1:32porque a gente não tem vacina,
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1:32 - 1:36ainda não tem nenhum protocolo
de tratamento bem estabelecido, -
1:36 - 1:38como tem pras outras doenças,
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1:38 - 1:42e, principalmente, ninguém tem
imunidade ainda, porque é uma doença nova. -
1:42 - 1:44Então, o que a gente
pode fazer neste momento? -
1:44 - 1:47A gente pode evitar que ele se espalhe.
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1:47 - 1:49A gente tem que diminuir essa transmissão:
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1:49 - 1:52em vez de ele transmitir
pra três pessoas diferentes, -
1:52 - 1:54temos de reduzir isso pra menos de uma.
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1:54 - 1:59Uma pessoa infectar
menos de uma pessoa, em média, -
1:59 - 2:04que é o único jeito de a gente diminuir
a velocidade com que ele vai se espalhar. -
2:04 - 2:07Então, "achatar a curva"
quer dizer o seguinte: -
2:07 - 2:10menos gente se infectar ao mesmo tempo,
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2:10 - 2:12porque, se simplesmente
deixarmos o vírus solto no mundo, -
2:12 - 2:17se não formos fazer nada
em relação ao controle dessa infeção, -
2:17 - 2:19o pico de casos vai ser muito grande.
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2:19 - 2:23Todo mundo vai se infectar ao mesmo tempo,
porque ele é muito contagioso. -
2:23 - 2:26Eu acho bem importante a gente distinguir
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2:26 - 2:29o que é o risco individual
e o que é o risco coletivo. -
2:29 - 2:32Embora ele não seja muito perigoso
do ponto de vista individual, -
2:32 - 2:34como muitas pessoas estão falando,
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2:34 - 2:37ele começa a ficar cada vez mais perigoso
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2:37 - 2:39se tiver muita gente
ao mesmo tempo doente. -
2:39 - 2:40Por que isso?
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2:40 - 2:45Digamos que pouca gente se infecte,
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2:45 - 2:48a gente tem pouco risco de se infectar
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2:48 - 2:51se a gente considerar
a população inteira do país, né? -
2:51 - 2:54Na China, na Itália, se a gente
for ver pelo número de casos, -
2:54 - 2:59por enquanto a gente tem, relatados,
mais ou menos 1% da população do país, -
2:59 - 3:01então, não é tanto assim.
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3:01 - 3:03Só que, se todo mundo
fica doente ao mesmo tempo, -
3:03 - 3:06que foi o que aconteceu na China,
que foi pega de surpresa, -
3:06 - 3:11e na Itália, que demorou um pouco
pra tomar as atitudes, -
3:11 - 3:14isso faz com que o sistema
de saúde colapse, -
3:14 - 3:17porque todo mundo vai chegar
ao mesmo tempo no hospital -
3:17 - 3:20e a gente não vai ter equipamento,
não vai ter médico, -
3:20 - 3:22não vai ter leito,
não vai ter UTI pra todo mundo. -
3:22 - 3:27Então "achatar a curva" quer dizer
ganhar tempo pra um monte de coisas. -
3:27 - 3:30Se a gente conseguir diminuir
a velocidade com que o vírus se espalha, -
3:30 - 3:33mesmo que as pessoas
vão ficar doentes mais tarde, -
3:33 - 3:35mas a gente ganha tempo pra muitas coisas.
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3:35 - 3:38Primeiro, pra construir hospital,
como aconteceu na China, -
3:38 - 3:41que eles tiveram que fazer rapidamente.
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3:41 - 3:45Aqui a gente pode pegar hospitais
que estão desativados -
3:45 - 3:50ou fazer até em estádio
de futebol, ginásios, etc. -
3:50 - 3:53Comprar equipamento, respirador,
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3:53 - 3:57equipamento de proteção,
que é muito importante, máscara, etc. -
3:58 - 4:00E também estudar melhor o vírus.
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4:00 - 4:04Nesse meio tempo, a gente pode conseguir
desenvolver tratamentos melhores. -
4:04 - 4:07Tem algumas coisas promissoras,
mas estão em estudo, -
4:07 - 4:09e, daqui a um tempo, também a vacina.
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4:09 - 4:12Tudo isso leva um tempo
e, se a gente conseguir ganhar tempo, -
4:13 - 4:16então é bem importante achatar essa curva.
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4:16 - 4:19A outra coisa é que aos pouquinhos
vão entrando de volta na população -
4:19 - 4:24pessoas que já estão imunizadas,
porque já tiveram [a doença], e voltam. -
4:24 - 4:28Essas pessoas podem trabalhar,
podem fazer as coisas, circular mais. -
4:29 - 4:33E uma coisa superimportante
é que a gente tem recursos finitos -
4:33 - 4:35do sistema de saúde,
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4:35 - 4:38e a gente consegue comprar
equipamento, pode fabricar máscara, -
4:38 - 4:41mas, profissional de saúde,
a gente não fabrica. -
4:41 - 4:43Médicas, enfermeiros,
-
4:43 - 4:46todos os profissionais
de todas as áreas da saúde, -
4:46 - 4:48o pessoal da limpeza, da segurança,
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4:48 - 4:52todo mundo que trabalha
em toda essa rede que precisa pra apoiar -
4:52 - 4:55quem está no hospital
e na unidade de saúde, -
4:55 - 4:56a gente não fabrica.
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4:56 - 5:01E essas pessoas são
as que mais estão expostas à infecção. -
5:01 - 5:06Então, por exemplo, num serviço,
uma pessoa que se infecte, -
5:06 - 5:08daqui a pouco vai ter que colocar
todos em quarentena, -
5:08 - 5:10quem vai atender as pessoas, né?
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5:10 - 5:12Então é preciso que os serviços de saúde
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5:12 - 5:15também possam receber as pessoas
aos poucos por causa disso. -
5:15 - 5:16Então...
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5:16 - 5:21AG: As pessoas precisam entender também
que os hospitais já estavam cheios... -
5:21 - 5:22LP: Exato.
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5:22 - 5:24AG: ... antes do vírus, né?
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5:24 - 5:29Então, imagina chegando
todo mundo agora ao mesmo tempo. -
5:29 - 5:32Não tem como fazer isso.
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5:32 - 5:37Então eu diria que essa outra tendência
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5:37 - 5:39que apareceu aí, desde domingo,
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5:39 - 5:44de dizer que é pra relaxar,
pra mandar as pessoas pra rua, -
5:44 - 5:47isso não é possível, né?
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5:48 - 5:50LP: Eu acho que,
neste momento, não tem como, -
5:50 - 5:54porque, olha só, vamos pensar na população
do Brasil: a gente tem 200 milhões. -
5:54 - 5:59Mesmo que 1% só se infectasse,
a gente teria 2 milhões de infectados, -
5:59 - 6:03ou seja, se a gente mantivesse
esses números que estão nos outros países, -
6:03 - 6:06400 mil casos graves.
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6:06 - 6:09Imagina 400 mil casos ao mesmo tempo.
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6:09 - 6:14E aí é que está:
são as mortes evitáveis, né? -
6:14 - 6:16Porque, se a gente
tem leito pra todo mundo, -
6:16 - 6:19a mortalidade está menor do que 1%.
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6:19 - 6:22Mas, para todo mundo
que chegar e não tiver leito, -
6:22 - 6:25essa morte seria uma morte prevenível,
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6:25 - 6:27porque a pessoa poderia ser tratada.
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6:27 - 6:30Mas, daqui a pouco,
não vai ter nem oxigênio nem nada -
6:30 - 6:33pras pessoas que nem são tão graves assim.
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6:33 - 6:37Então, na Itália, por exemplo,
neste momento, está acontecendo isso. -
6:37 - 6:40O esgotamento leva
a uma mortalidade muito maior -
6:40 - 6:43do que está acontecendo
na Alemanha, por exemplo. -
6:43 - 6:46Então, se todo mundo chegar
[aos hospitais] ao mesmo tempo, -
6:46 - 6:49a mortalidade vai aumentar, né?
-
6:49 - 6:54Embora a gente não saiba bem
todos os dados ainda, -
6:54 - 6:58porque a gente tem muita subnotificação,
outra coisa que nos preocupa muito, -
6:58 - 7:01a gente sabe que, quanto mais gente
ao mesmo tempo, maior a mortalidade. -
7:01 - 7:05E tem todo o dano colateral
que é isso que tu falaste: -
7:05 - 7:07as pessoas não vão deixar de ter infarto,
-
7:07 - 7:10as pessoas não vão deixar
de quebrar o braço, -
7:10 - 7:14as pessoas não vão deixar de ter
outras coisas que elas sempre [tiveram]. -
7:14 - 7:17E isso que os médicos
da Itália estão relatando, -
7:17 - 7:20de ter que escolher
quem vai pro respirador, -
7:20 - 7:22a gente sempre fez aqui, né?
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7:22 - 7:25A gente sempre teve
uma limitação muito grande, -
7:25 - 7:27e muitas vezes teve que escolher.
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7:27 - 7:29Então, imagina agora.
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7:29 - 7:31AG: Imagina agora.
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7:31 - 7:35LP: Então assim, pra deixar mais claro
isso que está acontecendo, -
7:35 - 7:36que está rolando por aí,
-
7:36 - 7:40que estão dizendo: "Ah, mas podia ser
um pouco mais frouxo, e tal". -
7:41 - 7:45Tem muitas coisas que nos dão medo,
-
7:45 - 7:47porque a gente sabe que o nosso...
-
7:48 - 7:50há essa possibilidade de ter
um número muito grande de casos. -
7:50 - 7:54Por outro lado, a gente tem uma coisa boa,
que é a experiência dos outros países. -
7:54 - 7:59E os países que fizeram isso
conseguiram reduzir o número de casos. -
7:59 - 8:03A China começou, foi pega de surpresa,
não tinha feito essas medidas -
8:03 - 8:06e, quando fez, os casos diminuíram
-
8:06 - 8:10e, em mais ou menos em três semanas,
a gente começa a ver o efeito. -
8:10 - 8:12Por isso essa questão.
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8:12 - 8:16E tem outras coisas importantes de fazer:
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8:16 - 8:19testar todo mundo, isolar as pessoas
que são sintomáticas, -
8:19 - 8:22isolar todos os contatos;
isso é muito importante. -
8:22 - 8:24Mas, neste momento, é uma progressão:
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8:24 - 8:28começa com as pessoas fazendo
um autoisolamento voluntário. -
8:28 - 8:34Então, todo mundo que estivesse chegando
de viagem de um lugar de risco -
8:34 - 8:39devia se autoisolar, e não ir pruma festa
nem prum estádio de futebol, né? -
8:39 - 8:41Essas são medidas
que dependem das pessoas... -
8:41 - 8:42AG: O que aconteceu, né?
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8:42 - 8:45LP: ...que dependem da cultura do povo.
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8:45 - 8:48E isso aconteceu muito rapidamente
nos países asiáticos. -
8:48 - 8:52Hong Kong, Singapura, Taipei, Macau
-
8:52 - 8:55são lugares onde a população
colaborou muito rapidamente. -
8:55 - 8:58Então, não precisaram parar tantas coisas,
-
8:58 - 9:03porque a população se fechou em casa
em todos os momentos que poderia. -
9:03 - 9:05Então essa seria a primeira fase:
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9:05 - 9:08quem tem sintomas se isolar,
-
9:08 - 9:12e as outras pessoas fazerem o máximo
possível de distanciamento físico, -
9:13 - 9:14tentar sair menos de casa:
-
9:14 - 9:18sair pra trabalhar
e pras coisas essenciais. -
9:18 - 9:20Isso seria a primeira fase.
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9:20 - 9:25Na segunda fase, a gente começa a ter
fechamento de algumas coisas, -
9:25 - 9:28certamente a suspensão de eventos grandes,
-
9:28 - 9:32fechamento das universidades
e, depois, das escolas, -
9:32 - 9:34que aí isso é mais discutível...
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9:34 - 9:37AG: Isso é o "lockdown"
ou isso ainda é uma quarentena? -
9:37 - 9:41LP: Isso ainda são as medidas
de distanciamento social, -
9:41 - 9:44distanciamento físico; não gosto
de falar "distanciamento social", -
9:44 - 9:47porque a gente pode estar bem próximo
mesmo não estando fisicamente próximo. -
9:48 - 9:49Distanciamento físico.
-
9:49 - 9:52Diminuir a circulação das pessoas na rua.
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9:52 - 9:56E aí é isto: quanto mais a gente
puder ficar em casa -
9:56 - 9:58pras coisas que não são essenciais,
-
9:58 - 10:01não ir no barzinho,
não ir no evento, não ir nas coisas, -
10:01 - 10:05mais a gente consegue [manter]
o que precisa fazer: -
10:05 - 10:09precisa ir trabalhar, precisar ir
na farmácia, precisa ir no mercado. -
10:09 - 10:12Depois é que vêm
as medidas mais impositivas. -
10:12 - 10:15Daí, sim, as quarentenas,
que é o poder público que define: -
10:15 - 10:19"Olha, não pode fazer isso",
"Tem que fechar tais coisas", -
10:19 - 10:23aí vai fechando progressivamente
até ficarem só os serviços essenciais. -
10:24 - 10:27Mas, inicialmente, se a população consegue
-
10:27 - 10:32diminuir bastante a circulação do vírus,
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10:32 - 10:37isso faz com que a gente tenha
menos medidas mais severas no final. -
10:37 - 10:40Mas, quanto mais a gente demora,
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10:40 - 10:42e quanto menos a gente escuta
os epidemiologistas -
10:42 - 10:46nesta hora de ficar em casa, pior vai ser.
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10:46 - 10:51Vocês viram ali uma pessoa infectada
que chegou da Europa, foi pra uma festa, -
10:51 - 10:55aí na festa infectou todo mundo...
então isso é muito complicado. -
10:55 - 11:00Se as pessoas não tiverem consciência,
vai ficar mais impositivo. -
11:00 - 11:01Essa é a parte ruim.
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11:01 - 11:07AG: E algo que preocupa
muita gente, aqui, é realmente: -
11:07 - 11:11como as pessoas que estão na periferia,
-
11:11 - 11:15nas vilas, nas comunidades, nas favelas,
-
11:15 - 11:18como elas vão se proteger?
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11:18 - 11:20LP: A gente fica até emocionado, né,
-
11:20 - 11:24porque a gente imagina que,
se não fizer essa contenção inicial, -
11:24 - 11:28de todo mundo que pode,
pra que não chegasse lá... -
11:28 - 11:31Seria a melhor coisa, né?
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11:32 - 11:36Acho que talvez a gente já tenha
passado um pouco desse ponto... -
11:36 - 11:38Tomara que não, né?
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11:38 - 11:41Então, a inicial é essa contenção
máxima de quem pode. -
11:42 - 11:47É uma coisa que não é egoísta
ficar em casa; muito antes pelo contrário, -
11:47 - 11:49é solidariedade, é não espalhar.
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11:49 - 11:52Principalmente porque começou
com quem veio de viagem, -
11:52 - 11:54pessoas que tinham boas condições, né?
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11:54 - 12:00Então, poderiam se isolar mais facilmente
do que quem não pode. -
12:01 - 12:05AG: Eu sei, eu vejo no Rio de Janeiro.
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12:05 - 12:10Bom, tem muita gente,
o Renê Silva, o Raul Santiago, -
12:10 - 12:13o pessoal da CUFA,
que está no Brasil inteiro, -
12:13 - 12:20que estão tentando e estão assumindo
um lugar que era pra ser de seus governos, -
12:20 - 12:22que não estão fazendo.
-
12:22 - 12:23Então, quer dizer,
-
12:24 - 12:29são as pessoas que têm que ser
solidárias com as outras, né? -
12:29 - 12:34E a gente tem uma obrigação muito maior
de ajudar numa hora dessas. -
12:35 - 12:40LP: É... eu acho que, se tem uma coisa
que esse vírus está expondo -
12:40 - 12:46é essa questão de a gente pensar mesmo
como nós estamos todos conectados. -
12:46 - 12:50Como aquela palavra "ubuntu",
que a gente está sempre falando, -
12:50 - 12:52de "eu sou porque você é",
-
12:52 - 12:54ou de como a gente só vai ficar feliz
-
12:54 - 12:57se todos os nossos irmãos
estiverem felizes, -
12:57 - 13:02isso é uma coisa assim que todas
as tradições espirituais falam, é bonito, -
13:02 - 13:05mas aqui está a aplicação prática disso:
-
13:05 - 13:08eu só vou ficar bem
se todo mundo estiver bem. -
13:08 - 13:13E, quando esse vírus chegar
a essas pessoas, vai afetar todo mundo. -
13:13 - 13:14Vai afetar o país inteiro.
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13:14 - 13:21Então, se a gente tem pessoas que estão
em condições precárias de trabalho, -
13:21 - 13:24não é uma coisa que não é
problema meu; é problema meu. -
13:24 - 13:27Se a gente tem pessoas que precisam
trabalhar, senão não vão ganhar, -
13:27 - 13:30e aí elas vão trabalhar doentes,
isso é problema meu. -
13:31 - 13:33Tem pessoas que não têm saneamento básico,
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13:33 - 13:36que não têm água, que não têm sabão,
isso é problema de todo mundo. -
13:36 - 13:41Então, tem coisas assim,
a gente tem essa desigualdade, -
13:41 - 13:46e talvez a gente precise pensar o quanto
essa desigualdade é tóxica pra todo mundo. -
13:48 - 13:51Essa solidariedade
de que tu estás falando, -
13:51 - 13:54que a gente já tem, o povo brasileiro tem,
-
13:55 - 13:58mas, quem sabe, é uma coisa
que a gente vá ter que repensar -
13:58 - 14:01mesmo muito profundamente
na nossa sociedade como um todo. -
14:01 - 14:05AG: E o que a gente pode esperar
nessas próximas três ou quatro semanas, -
14:05 - 14:09porque também ninguém consegue...
desculpa, eu botei a minha mão no rosto, -
14:09 - 14:12mas eu já tinha lavado
antes de me sentar aqui. -
14:12 - 14:13(Risos)
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14:13 - 14:16LP: Cuidado... Cuida bem do nosso X.
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14:16 - 14:17AG: É.
-
14:19 - 14:22LP: É muito difícil saber
o que a gente pode esperar, -
14:22 - 14:24porque vai depender muito de nós mesmos.
-
14:24 - 14:29Se a gente conseguir fazer essa contenção
nessas próximas três semanas, -
14:29 - 14:32a gente pode esperar uma curva
um pouco mais achatada. -
14:32 - 14:34Não é o que está acontecendo por enquanto,
-
14:34 - 14:37porque acho que teve uma série de atrasos,
-
14:37 - 14:42mas muitos governadores e prefeitos
estão tomando uma série de medidas, -
14:42 - 14:46a questão do sistema está se estruturando,
-
14:46 - 14:48então, tem coisas boas acontecendo,
-
14:48 - 14:50e tem coisas ruins,
como tu falaste ali no começo, -
14:50 - 14:55tem gente que está fazendo um desserviço,
-
14:55 - 14:58dizendo que a gente pode sair
pra rua neste momento. -
14:59 - 15:02Eu acho também que é
bem importante a gente entender -
15:02 - 15:06que nós estamos fazendo isso
como um todo, coletivamente, -
15:06 - 15:10mas não é também pra ter pânico
quem precisa sair, -
15:10 - 15:11porque, quem precisa sair,
-
15:11 - 15:14todo mundo que está envolvido
com a saúde, por exemplo, -
15:14 - 15:15os serviços essenciais,
-
15:15 - 15:20e as pessoas que precisam ir no mercado,
na farmácia, todas essas pessoas, -
15:20 - 15:22não quer dizer que o vírus
vai nos atacar na porta. -
15:22 - 15:25Tem coisas muito importantes
que a gente pode fazer -
15:25 - 15:29e que, se a gente fizesse
isso globalmente como nação, -
15:29 - 15:32talvez a gente tivesse
muito menos doenças também. -
15:32 - 15:35Então, lavar as mãos,
higiene, higiene da casa... -
15:35 - 15:39Por isso essa questão
do saneamento básico é tão importante, -
15:39 - 15:43porque, se todo mundo tem,
melhor pra todo mundo, é isso. -
15:43 - 15:46Eu sempre falo sobre
essa questão da economia: -
15:46 - 15:48se todo mundo tem o mínimo de condições,
-
15:48 - 15:52isso é bom pro pequeno empresário,
pro grande empresário, pra todo mundo. -
15:52 - 15:54Então, não consigo entender
-
15:54 - 15:57esse aprofundamento da desigualdade
que vem acontecendo. -
15:58 - 16:00Mas voltando pras coisas simples
que a gente pode fazer: -
16:00 - 16:06lavar as mãos é uma coisa muito simples
que a gente pode fazer pra se prevenir. -
16:06 - 16:10E é isto: o vírus passa de pessoa
a pessoa através das gotículas, -
16:10 - 16:15ou a pessoa espirra, tosse,
e aquela gotícula fica numa superfície, -
16:15 - 16:18a gente toca na superfície
e depois toca no rosto. -
16:18 - 16:21Então, se a gente realmente evitar
de tocar no rosto enquanto estiver na rua, -
16:22 - 16:25lavar bem as mãos quando chegar em casa,
lavar sempre que possível, -
16:25 - 16:31já vai diminuir muito
a probabilidade de contrair o vírus. -
16:31 - 16:35O vírus não vai atacar a gente assim,
-
16:35 - 16:38ele não está voando por aí
atacando as pessoas. -
16:38 - 16:41Então, também pra diminuir
um pouco a angústia -- -
16:41 - 16:43porque a gente vê
tanta notícia ruim, né? -- -
16:43 - 16:46diminuir um pouco a angústia
de quem precisa sair. -
16:46 - 16:49Mas é assim: realmente evitar ao máximo
-
16:49 - 16:51as saídas que são desnecessárias.
-
16:52 - 16:57AG: Bem, e aí, todas aquelas [medidas],
sapato pra sair, a roupa... -
16:57 - 16:59(Risos)
-
16:59 - 17:00Cuidar de tudo isso, né?
-
17:00 - 17:04LP: Muito importante também, que acho
que as pessoas não estão levando em conta, -
17:04 - 17:08essas pessoas que estão fazendo essa conta
de que: "Ah, são poucas mortes..." -
17:08 - 17:11Primeiro que mortes evitáveis
nunca são poucas. -
17:11 - 17:15Eu acho que nenhuma morte prevenível
deveria acontecer. -
17:15 - 17:19Mas, tá, essa é minha visão
um pouco da área da saúde, né? -
17:19 - 17:25Mas essas pessoas não estão se dando conta
de que a gente tem muita subnotificação. -
17:25 - 17:28Em países que testaram
todo mundo, é diferente. -
17:28 - 17:30A gente não tem condições
de fazer teste em todo mundo. -
17:30 - 17:33Então, a gente tem muito mais casos
-
17:33 - 17:35do que os que estão
confirmados e notificados. -
17:35 - 17:37Nesse sentido,
-
17:37 - 17:43é por isso que a gente precisa mesmo
ficar em casa pra não espalhar mais.
- Title:
- Possibilidades de enfrentamento da pandemia da COVID-19 no Brasil | Lucia Pellanda | TEDxLaçador
- Description:
-
Ana Goelzer, organizadora do TEDxLaçador, entrevista a Dra. Lucia Pellanda sobre as possibilidades de enfrentamento da pandemia da COVID-19 à luz da realidade brasileira e do conhecimento já adquirido a respeito do vírus em países em que a pandemia aportou antes de chegar ao Brasil. Pellanda é mestre e doutora em Ciências da Saúde, reitora da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre, médica cardiologista pediátrica e professora.
Esta palestra foi dada em um evento TEDx, que usa o formato de conferência TED, mas é organizado de forma independente por uma comunidade local. Para saber mais visite http://ted.com/tedx
- Video Language:
- Portuguese, Brazilian
- Team:
- closed TED
- Project:
- TEDxTalks
- Duration:
- 17:49