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Possibilidades de enfrentamento da pandemia da COVID-19 no Brasil | Lucia Pellanda | TEDxLaçador

  • 0:05 - 0:11
    Ana Goelzer: Vamos falar, então,
    primeiro, sobre essa questão da curva.
  • 0:11 - 0:16
    O que significa ficar em casa
    pra manter a curva baixa?
  • 0:17 - 0:20
    É pra baixar o número de mortes?
  • 0:20 - 0:23
    É pra controlar o que exatamente?
  • 0:23 - 0:24
    E isso tem prazo?
  • 0:24 - 0:28
    Porque tinha um vídeo que estava
    circulando aí na semana passada,
  • 0:30 - 0:31
    e mais um "post",
  • 0:31 - 0:33
    meio que aterrorizando as pessoas:
  • 0:33 - 0:37
    se elas não fizessem isso
    até quarta-feira, não ia adiantar mais.
  • 0:37 - 0:40
    Isso é verdade? Não é verdade?
  • 0:40 - 0:42
    Como é?
  • 0:42 - 0:44
    Lúcia Pellanda: Bom, então...
  • 0:44 - 0:48
    essa é uma doença
    que a gente conhece pouco ainda.
  • 0:48 - 0:51
    Nós estamos descobrindo
    à medida que ela vai se desenvolvendo.
  • 0:51 - 0:55
    A gente está acompanhando aí
    desde janeiro os casos da doença.
  • 0:55 - 1:01
    Lá no finzinho de dezembro
    a gente começou a saber dos casos.
  • 1:02 - 1:04
    E o que acontece?
  • 1:04 - 1:10
    Esse vírus novo, da COVID-19,
    é muito contagioso.
  • 1:10 - 1:13
    Então, ele se espalha muito
    de pessoa pra pessoa.
  • 1:13 - 1:18
    Uma pessoa, em média, consegue
    transmitir pra mais três pessoas.
  • 1:18 - 1:20
    E, dessas três,
    pra mais três, e assim vai.
  • 1:20 - 1:26
    Por isso é que a gente fala que ele vai
    numa progressão muito grande.
  • 1:26 - 1:30
    Então, há muito pouca coisa
    pra fazer por enquanto,
  • 1:30 - 1:32
    porque a gente não tem vacina,
  • 1:32 - 1:36
    ainda não tem nenhum protocolo
    de tratamento bem estabelecido,
  • 1:36 - 1:38
    como tem pras outras doenças,
  • 1:38 - 1:42
    e, principalmente, ninguém tem
    imunidade ainda, porque é uma doença nova.
  • 1:42 - 1:44
    Então, o que a gente
    pode fazer neste momento?
  • 1:44 - 1:47
    A gente pode evitar que ele se espalhe.
  • 1:47 - 1:49
    A gente tem que diminuir essa transmissão:
  • 1:49 - 1:52
    em vez de ele transmitir
    pra três pessoas diferentes,
  • 1:52 - 1:54
    temos de reduzir isso pra menos de uma.
  • 1:54 - 1:59
    Uma pessoa infectar
    menos de uma pessoa, em média,
  • 1:59 - 2:04
    que é o único jeito de a gente diminuir
    a velocidade com que ele vai se espalhar.
  • 2:04 - 2:07
    Então, "achatar a curva"
    quer dizer o seguinte:
  • 2:07 - 2:10
    menos gente se infectar ao mesmo tempo,
  • 2:10 - 2:12
    porque, se simplesmente
    deixarmos o vírus solto no mundo,
  • 2:12 - 2:17
    se não formos fazer nada
    em relação ao controle dessa infeção,
  • 2:17 - 2:19
    o pico de casos vai ser muito grande.
  • 2:19 - 2:23
    Todo mundo vai se infectar ao mesmo tempo,
    porque ele é muito contagioso.
  • 2:23 - 2:26
    Eu acho bem importante a gente distinguir
  • 2:26 - 2:29
    o que é o risco individual
    e o que é o risco coletivo.
  • 2:29 - 2:32
    Embora ele não seja muito perigoso
    do ponto de vista individual,
  • 2:32 - 2:34
    como muitas pessoas estão falando,
  • 2:34 - 2:37
    ele começa a ficar cada vez mais perigoso
  • 2:37 - 2:39
    se tiver muita gente
    ao mesmo tempo doente.
  • 2:39 - 2:40
    Por que isso?
  • 2:40 - 2:45
    Digamos que pouca gente se infecte,
  • 2:45 - 2:48
    a gente tem pouco risco de se infectar
  • 2:48 - 2:51
    se a gente considerar
    a população inteira do país, né?
  • 2:51 - 2:54
    Na China, na Itália, se a gente
    for ver pelo número de casos,
  • 2:54 - 2:59
    por enquanto a gente tem, relatados,
    mais ou menos 1% da população do país,
  • 2:59 - 3:01
    então, não é tanto assim.
  • 3:01 - 3:03
    Só que, se todo mundo
    fica doente ao mesmo tempo,
  • 3:03 - 3:06
    que foi o que aconteceu na China,
    que foi pega de surpresa,
  • 3:06 - 3:11
    e na Itália, que demorou um pouco
    pra tomar as atitudes,
  • 3:11 - 3:14
    isso faz com que o sistema
    de saúde colapse,
  • 3:14 - 3:17
    porque todo mundo vai chegar
    ao mesmo tempo no hospital
  • 3:17 - 3:20
    e a gente não vai ter equipamento,
    não vai ter médico,
  • 3:20 - 3:22
    não vai ter leito,
    não vai ter UTI pra todo mundo.
  • 3:22 - 3:27
    Então "achatar a curva" quer dizer
    ganhar tempo pra um monte de coisas.
  • 3:27 - 3:30
    Se a gente conseguir diminuir
    a velocidade com que o vírus se espalha,
  • 3:30 - 3:33
    mesmo que as pessoas
    vão ficar doentes mais tarde,
  • 3:33 - 3:35
    mas a gente ganha tempo pra muitas coisas.
  • 3:35 - 3:38
    Primeiro, pra construir hospital,
    como aconteceu na China,
  • 3:38 - 3:41
    que eles tiveram que fazer rapidamente.
  • 3:41 - 3:45
    Aqui a gente pode pegar hospitais
    que estão desativados
  • 3:45 - 3:50
    ou fazer até em estádio
    de futebol, ginásios, etc.
  • 3:50 - 3:53
    Comprar equipamento, respirador,
  • 3:53 - 3:57
    equipamento de proteção,
    que é muito importante, máscara, etc.
  • 3:58 - 4:00
    E também estudar melhor o vírus.
  • 4:00 - 4:04
    Nesse meio tempo, a gente pode conseguir
    desenvolver tratamentos melhores.
  • 4:04 - 4:07
    Tem algumas coisas promissoras,
    mas estão em estudo,
  • 4:07 - 4:09
    e, daqui a um tempo, também a vacina.
  • 4:09 - 4:12
    Tudo isso leva um tempo
    e, se a gente conseguir ganhar tempo,
  • 4:13 - 4:16
    então é bem importante achatar essa curva.
  • 4:16 - 4:19
    A outra coisa é que aos pouquinhos
    vão entrando de volta na população
  • 4:19 - 4:24
    pessoas que já estão imunizadas,
    porque já tiveram [a doença], e voltam.
  • 4:24 - 4:28
    Essas pessoas podem trabalhar,
    podem fazer as coisas, circular mais.
  • 4:29 - 4:33
    E uma coisa superimportante
    é que a gente tem recursos finitos
  • 4:33 - 4:35
    do sistema de saúde,
  • 4:35 - 4:38
    e a gente consegue comprar
    equipamento, pode fabricar máscara,
  • 4:38 - 4:41
    mas, profissional de saúde,
    a gente não fabrica.
  • 4:41 - 4:43
    Médicas, enfermeiros,
  • 4:43 - 4:46
    todos os profissionais
    de todas as áreas da saúde,
  • 4:46 - 4:48
    o pessoal da limpeza, da segurança,
  • 4:48 - 4:52
    todo mundo que trabalha
    em toda essa rede que precisa pra apoiar
  • 4:52 - 4:55
    quem está no hospital
    e na unidade de saúde,
  • 4:55 - 4:56
    a gente não fabrica.
  • 4:56 - 5:01
    E essas pessoas são
    as que mais estão expostas à infecção.
  • 5:01 - 5:06
    Então, por exemplo, num serviço,
    uma pessoa que se infecte,
  • 5:06 - 5:08
    daqui a pouco vai ter que colocar
    todos em quarentena,
  • 5:08 - 5:10
    quem vai atender as pessoas, né?
  • 5:10 - 5:12
    Então é preciso que os serviços de saúde
  • 5:12 - 5:15
    também possam receber as pessoas
    aos poucos por causa disso.
  • 5:15 - 5:16
    Então...
  • 5:16 - 5:21
    AG: As pessoas precisam entender também
    que os hospitais já estavam cheios...
  • 5:21 - 5:22
    LP: Exato.
  • 5:22 - 5:24
    AG: ... antes do vírus, né?
  • 5:24 - 5:29
    Então, imagina chegando
    todo mundo agora ao mesmo tempo.
  • 5:29 - 5:32
    Não tem como fazer isso.
  • 5:32 - 5:37
    Então eu diria que essa outra tendência
  • 5:37 - 5:39
    que apareceu aí, desde domingo,
  • 5:39 - 5:44
    de dizer que é pra relaxar,
    pra mandar as pessoas pra rua,
  • 5:44 - 5:47
    isso não é possível, né?
  • 5:48 - 5:50
    LP: Eu acho que,
    neste momento, não tem como,
  • 5:50 - 5:54
    porque, olha só, vamos pensar na população
    do Brasil: a gente tem 200 milhões.
  • 5:54 - 5:59
    Mesmo que 1% só se infectasse,
    a gente teria 2 milhões de infectados,
  • 5:59 - 6:03
    ou seja, se a gente mantivesse
    esses números que estão nos outros países,
  • 6:03 - 6:06
    400 mil casos graves.
  • 6:06 - 6:09
    Imagina 400 mil casos ao mesmo tempo.
  • 6:09 - 6:14
    E aí é que está:
    são as mortes evitáveis, né?
  • 6:14 - 6:16
    Porque, se a gente
    tem leito pra todo mundo,
  • 6:16 - 6:19
    a mortalidade está menor do que 1%.
  • 6:19 - 6:22
    Mas, para todo mundo
    que chegar e não tiver leito,
  • 6:22 - 6:25
    essa morte seria uma morte prevenível,
  • 6:25 - 6:27
    porque a pessoa poderia ser tratada.
  • 6:27 - 6:30
    Mas, daqui a pouco,
    não vai ter nem oxigênio nem nada
  • 6:30 - 6:33
    pras pessoas que nem são tão graves assim.
  • 6:33 - 6:37
    Então, na Itália, por exemplo,
    neste momento, está acontecendo isso.
  • 6:37 - 6:40
    O esgotamento leva
    a uma mortalidade muito maior
  • 6:40 - 6:43
    do que está acontecendo
    na Alemanha, por exemplo.
  • 6:43 - 6:46
    Então, se todo mundo chegar
    [aos hospitais] ao mesmo tempo,
  • 6:46 - 6:49
    a mortalidade vai aumentar, né?
  • 6:49 - 6:54
    Embora a gente não saiba bem
    todos os dados ainda,
  • 6:54 - 6:58
    porque a gente tem muita subnotificação,
    outra coisa que nos preocupa muito,
  • 6:58 - 7:01
    a gente sabe que, quanto mais gente
    ao mesmo tempo, maior a mortalidade.
  • 7:01 - 7:05
    E tem todo o dano colateral
    que é isso que tu falaste:
  • 7:05 - 7:07
    as pessoas não vão deixar de ter infarto,
  • 7:07 - 7:10
    as pessoas não vão deixar
    de quebrar o braço,
  • 7:10 - 7:14
    as pessoas não vão deixar de ter
    outras coisas que elas sempre [tiveram].
  • 7:14 - 7:17
    E isso que os médicos
    da Itália estão relatando,
  • 7:17 - 7:20
    de ter que escolher
    quem vai pro respirador,
  • 7:20 - 7:22
    a gente sempre fez aqui, né?
  • 7:22 - 7:25
    A gente sempre teve
    uma limitação muito grande,
  • 7:25 - 7:27
    e muitas vezes teve que escolher.
  • 7:27 - 7:29
    Então, imagina agora.
  • 7:29 - 7:31
    AG: Imagina agora.
  • 7:31 - 7:35
    LP: Então assim, pra deixar mais claro
    isso que está acontecendo,
  • 7:35 - 7:36
    que está rolando por aí,
  • 7:36 - 7:40
    que estão dizendo: "Ah, mas podia ser
    um pouco mais frouxo, e tal".
  • 7:41 - 7:45
    Tem muitas coisas que nos dão medo,
  • 7:45 - 7:47
    porque a gente sabe que o nosso...
  • 7:48 - 7:50
    há essa possibilidade de ter
    um número muito grande de casos.
  • 7:50 - 7:54
    Por outro lado, a gente tem uma coisa boa,
    que é a experiência dos outros países.
  • 7:54 - 7:59
    E os países que fizeram isso
    conseguiram reduzir o número de casos.
  • 7:59 - 8:03
    A China começou, foi pega de surpresa,
    não tinha feito essas medidas
  • 8:03 - 8:06
    e, quando fez, os casos diminuíram
  • 8:06 - 8:10
    e, em mais ou menos em três semanas,
    a gente começa a ver o efeito.
  • 8:10 - 8:12
    Por isso essa questão.
  • 8:12 - 8:16
    E tem outras coisas importantes de fazer:
  • 8:16 - 8:19
    testar todo mundo, isolar as pessoas
    que são sintomáticas,
  • 8:19 - 8:22
    isolar todos os contatos;
    isso é muito importante.
  • 8:22 - 8:24
    Mas, neste momento, é uma progressão:
  • 8:24 - 8:28
    começa com as pessoas fazendo
    um autoisolamento voluntário.
  • 8:28 - 8:34
    Então, todo mundo que estivesse chegando
    de viagem de um lugar de risco
  • 8:34 - 8:39
    devia se autoisolar, e não ir pruma festa
    nem prum estádio de futebol, né?
  • 8:39 - 8:41
    Essas são medidas
    que dependem das pessoas...
  • 8:41 - 8:42
    AG: O que aconteceu, né?
  • 8:42 - 8:45
    LP: ...que dependem da cultura do povo.
  • 8:45 - 8:48
    E isso aconteceu muito rapidamente
    nos países asiáticos.
  • 8:48 - 8:52
    Hong Kong, Singapura, Taipei, Macau
  • 8:52 - 8:55
    são lugares onde a população
    colaborou muito rapidamente.
  • 8:55 - 8:58
    Então, não precisaram parar tantas coisas,
  • 8:58 - 9:03
    porque a população se fechou em casa
    em todos os momentos que poderia.
  • 9:03 - 9:05
    Então essa seria a primeira fase:
  • 9:05 - 9:08
    quem tem sintomas se isolar,
  • 9:08 - 9:12
    e as outras pessoas fazerem o máximo
    possível de distanciamento físico,
  • 9:13 - 9:14
    tentar sair menos de casa:
  • 9:14 - 9:18
    sair pra trabalhar
    e pras coisas essenciais.
  • 9:18 - 9:20
    Isso seria a primeira fase.
  • 9:20 - 9:25
    Na segunda fase, a gente começa a ter
    fechamento de algumas coisas,
  • 9:25 - 9:28
    certamente a suspensão de eventos grandes,
  • 9:28 - 9:32
    fechamento das universidades
    e, depois, das escolas,
  • 9:32 - 9:34
    que aí isso é mais discutível...
  • 9:34 - 9:37
    AG: Isso é o "lockdown"
    ou isso ainda é uma quarentena?
  • 9:37 - 9:41
    LP: Isso ainda são as medidas
    de distanciamento social,
  • 9:41 - 9:44
    distanciamento físico; não gosto
    de falar "distanciamento social",
  • 9:44 - 9:47
    porque a gente pode estar bem próximo
    mesmo não estando fisicamente próximo.
  • 9:48 - 9:49
    Distanciamento físico.
  • 9:49 - 9:52
    Diminuir a circulação das pessoas na rua.
  • 9:52 - 9:56
    E aí é isto: quanto mais a gente
    puder ficar em casa
  • 9:56 - 9:58
    pras coisas que não são essenciais,
  • 9:58 - 10:01
    não ir no barzinho,
    não ir no evento, não ir nas coisas,
  • 10:01 - 10:05
    mais a gente consegue [manter]
    o que precisa fazer:
  • 10:05 - 10:09
    precisa ir trabalhar, precisar ir
    na farmácia, precisa ir no mercado.
  • 10:09 - 10:12
    Depois é que vêm
    as medidas mais impositivas.
  • 10:12 - 10:15
    Daí, sim, as quarentenas,
    que é o poder público que define:
  • 10:15 - 10:19
    "Olha, não pode fazer isso",
    "Tem que fechar tais coisas",
  • 10:19 - 10:23
    aí vai fechando progressivamente
    até ficarem só os serviços essenciais.
  • 10:24 - 10:27
    Mas, inicialmente, se a população consegue
  • 10:27 - 10:32
    diminuir bastante a circulação do vírus,
  • 10:32 - 10:37
    isso faz com que a gente tenha
    menos medidas mais severas no final.
  • 10:37 - 10:40
    Mas, quanto mais a gente demora,
  • 10:40 - 10:42
    e quanto menos a gente escuta
    os epidemiologistas
  • 10:42 - 10:46
    nesta hora de ficar em casa, pior vai ser.
  • 10:46 - 10:51
    Vocês viram ali uma pessoa infectada
    que chegou da Europa, foi pra uma festa,
  • 10:51 - 10:55
    aí na festa infectou todo mundo...
    então isso é muito complicado.
  • 10:55 - 11:00
    Se as pessoas não tiverem consciência,
    vai ficar mais impositivo.
  • 11:00 - 11:01
    Essa é a parte ruim.
  • 11:01 - 11:07
    AG: E algo que preocupa
    muita gente, aqui, é realmente:
  • 11:07 - 11:11
    como as pessoas que estão na periferia,
  • 11:11 - 11:15
    nas vilas, nas comunidades, nas favelas,
  • 11:15 - 11:18
    como elas vão se proteger?
  • 11:18 - 11:20
    LP: A gente fica até emocionado, né,
  • 11:20 - 11:24
    porque a gente imagina que,
    se não fizer essa contenção inicial,
  • 11:24 - 11:28
    de todo mundo que pode,
    pra que não chegasse lá...
  • 11:28 - 11:31
    Seria a melhor coisa, né?
  • 11:32 - 11:36
    Acho que talvez a gente já tenha
    passado um pouco desse ponto...
  • 11:36 - 11:38
    Tomara que não, né?
  • 11:38 - 11:41
    Então, a inicial é essa contenção
    máxima de quem pode.
  • 11:42 - 11:47
    É uma coisa que não é egoísta
    ficar em casa; muito antes pelo contrário,
  • 11:47 - 11:49
    é solidariedade, é não espalhar.
  • 11:49 - 11:52
    Principalmente porque começou
    com quem veio de viagem,
  • 11:52 - 11:54
    pessoas que tinham boas condições, né?
  • 11:54 - 12:00
    Então, poderiam se isolar mais facilmente
    do que quem não pode.
  • 12:01 - 12:05
    AG: Eu sei, eu vejo no Rio de Janeiro.
  • 12:05 - 12:10
    Bom, tem muita gente,
    o Renê Silva, o Raul Santiago,
  • 12:10 - 12:13
    o pessoal da CUFA,
    que está no Brasil inteiro,
  • 12:13 - 12:20
    que estão tentando e estão assumindo
    um lugar que era pra ser de seus governos,
  • 12:20 - 12:22
    que não estão fazendo.
  • 12:22 - 12:23
    Então, quer dizer,
  • 12:24 - 12:29
    são as pessoas que têm que ser
    solidárias com as outras, né?
  • 12:29 - 12:34
    E a gente tem uma obrigação muito maior
    de ajudar numa hora dessas.
  • 12:35 - 12:40
    LP: É... eu acho que, se tem uma coisa
    que esse vírus está expondo
  • 12:40 - 12:46
    é essa questão de a gente pensar mesmo
    como nós estamos todos conectados.
  • 12:46 - 12:50
    Como aquela palavra "ubuntu",
    que a gente está sempre falando,
  • 12:50 - 12:52
    de "eu sou porque você é",
  • 12:52 - 12:54
    ou de como a gente só vai ficar feliz
  • 12:54 - 12:57
    se todos os nossos irmãos
    estiverem felizes,
  • 12:57 - 13:02
    isso é uma coisa assim que todas
    as tradições espirituais falam, é bonito,
  • 13:02 - 13:05
    mas aqui está a aplicação prática disso:
  • 13:05 - 13:08
    eu só vou ficar bem
    se todo mundo estiver bem.
  • 13:08 - 13:13
    E, quando esse vírus chegar
    a essas pessoas, vai afetar todo mundo.
  • 13:13 - 13:14
    Vai afetar o país inteiro.
  • 13:14 - 13:21
    Então, se a gente tem pessoas que estão
    em condições precárias de trabalho,
  • 13:21 - 13:24
    não é uma coisa que não é
    problema meu; é problema meu.
  • 13:24 - 13:27
    Se a gente tem pessoas que precisam
    trabalhar, senão não vão ganhar,
  • 13:27 - 13:30
    e aí elas vão trabalhar doentes,
    isso é problema meu.
  • 13:31 - 13:33
    Tem pessoas que não têm saneamento básico,
  • 13:33 - 13:36
    que não têm água, que não têm sabão,
    isso é problema de todo mundo.
  • 13:36 - 13:41
    Então, tem coisas assim,
    a gente tem essa desigualdade,
  • 13:41 - 13:46
    e talvez a gente precise pensar o quanto
    essa desigualdade é tóxica pra todo mundo.
  • 13:48 - 13:51
    Essa solidariedade
    de que tu estás falando,
  • 13:51 - 13:54
    que a gente já tem, o povo brasileiro tem,
  • 13:55 - 13:58
    mas, quem sabe, é uma coisa
    que a gente vá ter que repensar
  • 13:58 - 14:01
    mesmo muito profundamente
    na nossa sociedade como um todo.
  • 14:01 - 14:05
    AG: E o que a gente pode esperar
    nessas próximas três ou quatro semanas,
  • 14:05 - 14:09
    porque também ninguém consegue...
    desculpa, eu botei a minha mão no rosto,
  • 14:09 - 14:12
    mas eu já tinha lavado
    antes de me sentar aqui.
  • 14:12 - 14:13
    (Risos)
  • 14:13 - 14:16
    LP: Cuidado... Cuida bem do nosso X.
  • 14:16 - 14:17
    AG: É.
  • 14:19 - 14:22
    LP: É muito difícil saber
    o que a gente pode esperar,
  • 14:22 - 14:24
    porque vai depender muito de nós mesmos.
  • 14:24 - 14:29
    Se a gente conseguir fazer essa contenção
    nessas próximas três semanas,
  • 14:29 - 14:32
    a gente pode esperar uma curva
    um pouco mais achatada.
  • 14:32 - 14:34
    Não é o que está acontecendo por enquanto,
  • 14:34 - 14:37
    porque acho que teve uma série de atrasos,
  • 14:37 - 14:42
    mas muitos governadores e prefeitos
    estão tomando uma série de medidas,
  • 14:42 - 14:46
    a questão do sistema está se estruturando,
  • 14:46 - 14:48
    então, tem coisas boas acontecendo,
  • 14:48 - 14:50
    e tem coisas ruins,
    como tu falaste ali no começo,
  • 14:50 - 14:55
    tem gente que está fazendo um desserviço,
  • 14:55 - 14:58
    dizendo que a gente pode sair
    pra rua neste momento.
  • 14:59 - 15:02
    Eu acho também que é
    bem importante a gente entender
  • 15:02 - 15:06
    que nós estamos fazendo isso
    como um todo, coletivamente,
  • 15:06 - 15:10
    mas não é também pra ter pânico
    quem precisa sair,
  • 15:10 - 15:11
    porque, quem precisa sair,
  • 15:11 - 15:14
    todo mundo que está envolvido
    com a saúde, por exemplo,
  • 15:14 - 15:15
    os serviços essenciais,
  • 15:15 - 15:20
    e as pessoas que precisam ir no mercado,
    na farmácia, todas essas pessoas,
  • 15:20 - 15:22
    não quer dizer que o vírus
    vai nos atacar na porta.
  • 15:22 - 15:25
    Tem coisas muito importantes
    que a gente pode fazer
  • 15:25 - 15:29
    e que, se a gente fizesse
    isso globalmente como nação,
  • 15:29 - 15:32
    talvez a gente tivesse
    muito menos doenças também.
  • 15:32 - 15:35
    Então, lavar as mãos,
    higiene, higiene da casa...
  • 15:35 - 15:39
    Por isso essa questão
    do saneamento básico é tão importante,
  • 15:39 - 15:43
    porque, se todo mundo tem,
    melhor pra todo mundo, é isso.
  • 15:43 - 15:46
    Eu sempre falo sobre
    essa questão da economia:
  • 15:46 - 15:48
    se todo mundo tem o mínimo de condições,
  • 15:48 - 15:52
    isso é bom pro pequeno empresário,
    pro grande empresário, pra todo mundo.
  • 15:52 - 15:54
    Então, não consigo entender
  • 15:54 - 15:57
    esse aprofundamento da desigualdade
    que vem acontecendo.
  • 15:58 - 16:00
    Mas voltando pras coisas simples
    que a gente pode fazer:
  • 16:00 - 16:06
    lavar as mãos é uma coisa muito simples
    que a gente pode fazer pra se prevenir.
  • 16:06 - 16:10
    E é isto: o vírus passa de pessoa
    a pessoa através das gotículas,
  • 16:10 - 16:15
    ou a pessoa espirra, tosse,
    e aquela gotícula fica numa superfície,
  • 16:15 - 16:18
    a gente toca na superfície
    e depois toca no rosto.
  • 16:18 - 16:21
    Então, se a gente realmente evitar
    de tocar no rosto enquanto estiver na rua,
  • 16:22 - 16:25
    lavar bem as mãos quando chegar em casa,
    lavar sempre que possível,
  • 16:25 - 16:31
    já vai diminuir muito
    a probabilidade de contrair o vírus.
  • 16:31 - 16:35
    O vírus não vai atacar a gente assim,
  • 16:35 - 16:38
    ele não está voando por aí
    atacando as pessoas.
  • 16:38 - 16:41
    Então, também pra diminuir
    um pouco a angústia --
  • 16:41 - 16:43
    porque a gente vê
    tanta notícia ruim, né? --
  • 16:43 - 16:46
    diminuir um pouco a angústia
    de quem precisa sair.
  • 16:46 - 16:49
    Mas é assim: realmente evitar ao máximo
  • 16:49 - 16:51
    as saídas que são desnecessárias.
  • 16:52 - 16:57
    AG: Bem, e aí, todas aquelas [medidas],
    sapato pra sair, a roupa...
  • 16:57 - 16:59
    (Risos)
  • 16:59 - 17:00
    Cuidar de tudo isso, né?
  • 17:00 - 17:04
    LP: Muito importante também, que acho
    que as pessoas não estão levando em conta,
  • 17:04 - 17:08
    essas pessoas que estão fazendo essa conta
    de que: "Ah, são poucas mortes..."
  • 17:08 - 17:11
    Primeiro que mortes evitáveis
    nunca são poucas.
  • 17:11 - 17:15
    Eu acho que nenhuma morte prevenível
    deveria acontecer.
  • 17:15 - 17:19
    Mas, tá, essa é minha visão
    um pouco da área da saúde, né?
  • 17:19 - 17:25
    Mas essas pessoas não estão se dando conta
    de que a gente tem muita subnotificação.
  • 17:25 - 17:28
    Em países que testaram
    todo mundo, é diferente.
  • 17:28 - 17:30
    A gente não tem condições
    de fazer teste em todo mundo.
  • 17:30 - 17:33
    Então, a gente tem muito mais casos
  • 17:33 - 17:35
    do que os que estão
    confirmados e notificados.
  • 17:35 - 17:37
    Nesse sentido,
  • 17:37 - 17:43
    é por isso que a gente precisa mesmo
    ficar em casa pra não espalhar mais.
Title:
Possibilidades de enfrentamento da pandemia da COVID-19 no Brasil | Lucia Pellanda | TEDxLaçador
Description:

Ana Goelzer, organizadora do TEDxLaçador, entrevista a Dra. Lucia Pellanda sobre as possibilidades de enfrentamento da pandemia da COVID-19 à luz da realidade brasileira e do conhecimento já adquirido a respeito do vírus em países em que a pandemia aportou antes de chegar ao Brasil. Pellanda é mestre e doutora em Ciências da Saúde, reitora da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre, médica cardiologista pediátrica e professora.

Esta palestra foi dada em um evento TEDx, que usa o formato de conferência TED, mas é organizado de forma independente por uma comunidade local. Para saber mais visite http://ted.com/tedx

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Video Language:
Portuguese, Brazilian
Team:
closed TED
Project:
TEDxTalks
Duration:
17:49

Portuguese, Brazilian subtitles

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