O melhor infantário que já vimos | Takaharu Tezuka | TEDxKyoto

Nesta escola em Tóquio, crianças de cinco anos criam engarrafamentos e as janelas servem para o Pai Natal trepar. Conheçam o infantário mais giro do mundo, concebido pelo arquiteto Takaharu Tezuka. Nesta palestra curiosa, ele percorre um processo de conceção que faz com que as crianças sejam crianças.

Esta palestra foi feita num evento TEDx usando o formato de palestras TED, mas organizado independentemente por uma comunidade local. Saiba mais em http://ted.com/tedx

Isto é um infantário
que concebemos em 2007.

Fizemos este infantário
em forma de círculo.

É um circuito ininterrupto
no topo da cobertura.

Todos os pais sabem

que as crianças adoram
andar à roda.

Sabem que os nossos filhos
andam sempre a fazer isso.

É este o aspeto da cobertura.

Porque é que concebemos isto?

O diretor deste infantário disse:

"Não quero um corrimão".

E eu disse: "É impossível".

Mas ele insistiu: "Que tal pôr uma rede
em volta da borda da cobertura?

"Assim, podemos apanhar
as crianças que caiam".

(Risos)

E eu: "É impossível".

Claro que o funcionário
do governo disse:

"Claro que é preciso ter um corrimão".

Mas podíamos manter essa ideia
em volta das árvores.

Há três árvores que crescem ali.

E autorizaram-nos a chamar
corrimão a esta corda.

Claro que a corda não tem
nada de corrimão.

Elas caem na rede.

Aqui há outra.

e outra

e outra.

(Risos)

Por vezes, há 40 crianças
em volta duma árvore.

Aquele rapaz no ramo
adora a árvore.

Está a comer a árvore.

(Risos)

Por altura de algum espetáculo,

sentam-se na borda.

É tão bonito visto cá de baixo.

Macaquinhos no zoo.

(Risos)

Hora da comida.

(Risos)

(Aplausos)

Fizemos o teto tão baixo quanto possível.

Porque queríamos ver
as crianças no topo da cobertura

não apenas por baixo da cobertura.

Se a cobertura fosse muito alta,
só víamos o teto.

Para a lavagem de pernas,
há muitas torneiras de água.

Vemos como os tubos são flexíveis,

querem salpicar de água
os amigos, e tomar banho.

Aquele em frente é muito normal

mas, se olharmos para isto

o rapaz não está a lavar as botas,

está a pôr água dentro das botas.

(Risos)

Ok.

Este infantário é totalmente aberto,
na maior parte do ano.

Não há limites
entre o interior e o exterior.

Significa que esta arquitetura
é um teto.

Também não há limites
entre as salas de aulas.

Não há nenhuma barreira acústica.

Este infantário é conhecido

por não ter quase nenhuma
criança com autismo.

Talvez haja algumas crianças
com problemas,

mas não mostram qualquer sintoma.

Quando pomos muitas crianças

num compartimento tranquilo,

algumas delas sentem-se nervosas.

Mas, neste infantário,

não há razão para ficar nervoso.

Porque não há limites.

O diretor diz:

"Se aquele rapaz ali ao canto
não quer estar na sala,

"deixamo-lo ir-se embora.

"Ele acabará por voltar
porque é um círculo".

(Risos)

Mas o problema é que,
numa ocasião dessas,

normalmente este tipo de crianças
tenta esconder-se nalgum sítio.

Mas aqui, elas vão-se embora
e voltam.

É um processo natural.

Em segundo lugar, consideramos
que o barulho é muito importante.

Sabem que mais?

As crianças dormem melhor
no meio do barulho.

Não dormem num sítio silencioso.

Neste infantário,

estas crianças mostram
grande concentração na classe.

Sabemos que somos uma espécie
que cresceu na selva, com barulho.

Elas precisam de barulho.

Podemos falar com amigos
num bar barulhento.

Não temos de estar em silêncio.

Atualmente,

tentamos manter tudo sob controlo.

Isto é totalmente aberto.

Devem saber

que podemos ir esquiar, no inverno,
com 20 graus negativos

enquanto, no verão, vamos nadar.

A areia numa praia atinge os 50 graus.

Sabemos que somos à prova de água.

Nunca nos derretemos com a chuva.

Por isso, as crianças devem
estar ao ar livre.

É assim que as devemos tratar.

É assim que dividimos as salas de aula.

Supostamente, devem ajudar os professores.

Mas não.

(Risos)

Não fui eu que o pus ali.

Isto é uma sala de aulas.

E um lavatório.

Falam umas com as outras
em volta do lavatório.

Há sempre algumas árvores
na sala de aulas.

Um macaquinho a tentar pescar
outro macaquinho lá para cima.

(Risos)

Macaquinhos.

(Risos)

Cada sala de aulas tem,
pelo menos, uma claraboia.

É por aqui que o Pai Natal desce
por altura do Natal.

Este é o espaço anexo,

junto do infantário
de formato oval.

Este espaço só tem cinco metros
de altura, com sete degraus.

Claro que a altura do teto
é muito baixa.

Temos de ter em conta a segurança.

Pusemos os nossos filhos,
uma rapariga e um rapaz.

Eles tentaram trepar.

Ele bateu com a cabeça.

Está ok, o crânio dele é muito forte.

Ele é resistente. É meu filho.

(Risos)

Está a tentar ver
se é seguro saltar.

Depois, pusemos outras crianças.

Os engarrafamentos de trânsito
em Tóquio são terríveis.

(Risos)

Mas a condutora da frente
também precisa de aprender a guiar.

Hoje em dia,

as crianças precisam
de pequenas doses de perigo.

É neste tipo de ocasiões

que aprendem a ajudar-se
umas às outras.

Isto é uma oportunidade
que estamos a perder atualmente.

Este desenho mostra
os movimentos de um rapaz

entre as 9:10 e as 9:30.

A circunferência deste edifício
tem 183 metros.

Portanto, não é propriamente pequena.

Este rapaz fez 6000 metros, de manhã.

Mas a surpresa ainda está para aparecer.

As crianças, neste infantário,
fazem 4000 metros, em média.

Estas crianças têm
maior capacidade atlética

do que em muitos outros infantários.

O diretor diz:

"Eu não as treino. Deixamo-las
no topo da cobertura.

"Como se fossem ovelhas".

(Risos)

"Elas estão sempre a correr.

(Risos)

"Acho que não devemos controlá-las,

"não devemos protegê-las em demasia.

"Elas precisam de cair,
de vez em quando.

"Precisam de se magoar.

"É isso que lhes ensina

"como viver neste mundo".

Eu penso que a arquitetura
pode mudar este mundo,

pode mudar a vida das pessoas.

Este é uma das tentativas
para mudar a vida das crianças.

Muito obrigado.

(Aplausos)