O que deveríamos dizer às crianças? | Darrick Ware | TEDxArkansasStateUniversity

Darrick Ware explica a importância de ir atrás de um sonho.

Darrick Ware no momento ensina inglês e é técnico de futebol como o coordenador de jogos na Lake Highlands High School, em Richardson, no Texas. Ele tem sido patrocinador da Bolsa para Atletas Cristãos pelos últimos seis anos. No futebol, Darrick treinou quaterbacks, receivers e defensores no nível universitário. No atletismo, como técnico de salto em distância e salto triplo por oito anos, Darrick já treinou quatro atletas que chegaram ao Campeonato Estadual UIL do Texas, com atletas que terminaram em 1º, 2º, 3º, 4º 6º e 8º (dois dos atletas competiram tanto em salto em distância quanto em salto triplo). Ele passou grande parte da sua vida cercado pelo futebol. Darrick tem uma irmã, Christina Mauro, e seis irmãos. Darrick e todos os seus seis irmãos jogaram ou estão jogando futebol universitário. Seu irmão, Josh Mauro, está no momento jogando na defesa da NFL pelo Arizona Cardinals. Darrick vive em McKinney, no Texas, com sua esposa, Brittany, e seus dois filhos, Jericho e Everly.

Esta palestra foi dada em um evento TEDx, que usa o formato de conferência TED, mas é organizado de forma independente por uma comunidade local. Para saber mais visite http://ted.com/tedx

Quando eu estava na pré-escola,

minha professora
nos chamou para perto dela

e nos disse a coisa mais inspiradora

que eu já havia ouvido
em todos os meus cinco anos de vida.

Ela nos fez sentar e disse:

"Crianças, quando crescerem, vocês podem
se tornar qualquer coisa que quiserem".

Qualquer coisa? Cara!

Com a opção de ser qualquer coisa,
eu sabia exatamente quem eu queria ser.

Eu iria me tornar o meu herói da infância.

Eu iria fazer o que ele faz:

lutar pelo que é certo,
defender os fracos,

viver com honra e integridade,
e ser um grande líder.

Isso mesmo.

Quando criança, eu sabia que ia crescer
e me tornar o Optimus Prime,

líder dos Transformers.

Meus olhos se abriram naquele dia!

Eu mal podia esperar.

Então, mais tarde,
quando fui até o parquinho

e alguns valentões
me empurraram no chão,

eu só olhei pra eles, e disse:
"Ei, podem esperar,

porque quando eu crescer,
eu vou lidar com vocês!

E se eu não pegar vocês,
meu amigo Brian vai,

porque ele vai crescer e virar o Batman!"

(Risos)

E agora aqui estou eu, estou crescido.

Tenho meus próprios filhos.

Então, vocês podem imaginar
como estou desapontado.

Está óbvio, aparente,
que a senhorita Weaver mentiu.

Ela fez parecer que você
só fica mais velho

e então magicamente se torna
qualquer pessoa que quiser ser.

E todos sabemos que não funciona assim.

Mas acho que ela tinha bom coração.

Não acho que ela mentiu de propósito.

Acho que ela apenas esqueceu
a parte mais importante.

Ela esqueceu de nos dizer como.

Então, a pergunta agora é:

o que devemos dizer às crianças
sobre quem elas podem ser,

e o que significa ir atrás de um sonho?

Sou professor e treinador no ensino médio.

E tenho uma perspectiva única,
porque, através desse olhar,

posso conhecer as crianças do sétimo ano.

Sabem aquela época

em que as mochilas deles
ainda são maiores que as costas?

E posso vê-los crescer

e se tornarem homens
e mulheres de 18 anos,

saindo de casa, indo conquistar o mundo.

E nesse tempo, já vi coisas
bem especiais e maravilhosas.

Eu vi um crescimento incrível.

Então, na verdade, há duas coisas
que eu digo às crianças

sobre quem elas podem vir a ser
e o que é ir atrás de um sonho.

A primeira coisa que digo a elas
é que grandes coisas são possíveis,

mas isso é um processo.

E a segunda coisa que digo a elas

é que os sonhos, por si só, têm valor,

quer eles se tornem realidade ou não.

Por exemplo, fui treinador de um garoto.

Seu nome era Rickey Fantroy.

Ele entrou.

Ele era um garoto do nono ano
quando eu o conheci,

e queria ser um grande triplista.

Eu era treinador de atletismo,
era um dos esportes que eu treinava.

E ele achava que ia ser
o próximo grande campeão.

Ele não tinha nenhum motivo
para achar isso,

mas achava.

E eu aceitava que ele achasse isso,

porque eu sabia que, se ele estivesse
disposto a abraçar o processo,

grandes coisas aconteceriam.

Ele estava, e o fez.

Ele amava o processo: todo dia acordar,
trabalhar duro, ficar melhor,

melhorar suas habilidades,
amolar as facas, como eu gosto de chamar.

Então, começamos a praticar
de uma forma bem peculiar.

Um pesquisador, Anders Ericsson,

um cientista no campo da perícia,

escreveu "Direto ao Ponto".

Em seus estudos, ele descobriu

que pessoas com desempenho perito
praticam de uma forma bem específica.

Então, nós resolvemos fazer isso,

e acho que muitas vezes,
as pessoas se prendem à ideia de:

"Ah, é simples, é só trabalhar duro.

Você dorme menos, trabalha mais,

levanta mais peso, corre mais rápido,

você faz tudo isso, e isso leva
a uma performance ótima".

E não é bem assim.

É um tipo especial de treino,

ainda mais difícil do que trabalhar duro,
porque precisa de pesquisa e estudo.

Foi isso que fizemos.

Ricky e eu começamos a estudar
desenvolvimento muscular,

biomecânica.

Nós filmamos a técnica dele.

E todo o dia, no treino, nós praticávamos,
de forma intencional e deliberada,

algo que sabíamos
que íamos melhorar naquele dia.

Nós dizíamos: "Hoje, vamos
trabalhar no segundo passo.

Vamos deixá-lo perfeito".

E fazendo isso,
ele viu resultados incríveis.

Agora, isso não aconteceu de uma vez.

Eu gosto de garantir
que as crianças saibam

que durante um ano Ricky era terrível.

É difícil. É esquisito.

Ele crescia e melhorava a cada dia,

mas ainda bem atrás dos outros.

Então ele passou
de um ano a um ano e meio

sendo mediano a acima da média,

tudo para que ele passasse dois,
na verdade um ano e meio, sendo ótimo,

um dos melhores triplistas colegiais
do estado do Texas.

E isso é uma grande proeza.

Um dia, estávamos no treino,

ele havia visto seu crescimento,

então, estávamos no treino,
e ele estava pensando

sobre o quão longe ele achava
que esse tipo de treino ia levá-lo.

E ele virou pra mim e perguntou:

"Treinador Ware, qual é o
recorde mundial em salto triplo?"

E eu disse: "São 18 metros, Rickey".

E ele disse: "Dezoito metros?

Eu vou passar disso um dia".

Quando ele disse isso,
eu não ri na cara dele.

Eu não fiquei dizendo:
"Ah tá, claro, Rickey..."

Eu não o lembrei que, em toda
a história da humanidade,

entre todas as 107 bilhões de pessoas
que passaram por essa Terra,

apenas uma pessoa foi capaz de fazer isso.

Eu não o lembrei
de nenhuma dessas coisas.

Eu só olhei para ele e disse:

"Certo, Rickey. E quando você chegar a 18,
vamos trabalhar para chegar aos 18,5.

E depois para chegar aos 18,8.
Vamos melhorar a cada dia".

Existem dois motivos para eu
não ter acabado com seu sonho.

O primeiro é:

quem sou eu para dizer a ele
quem ele pode ou não pode ser

e o que é possível para ele
com anos e anos de prática

e pesquisa e estudo e melhora.

Eu não sei.

Eu ia me sentir pomposo
fazendo declarações

sobre quem ele poderia ser
e o que é possível.

Então, eu não fiz.

E o segundo motivo
para eu não ter acabado com seu sonho

é porque sonhos, por si só, têm valor.

Com a idade dele,
eu tinha um grande sonho.

Eu queria jogar futebol na NFL.

Isso não deu certo para mim.

Mas naquela jornada, na busca desse sonho,

eu aprendi ética profissional,
aprendi perseverança,

e, por causa disso, ganhei uma bolsa
para jogar futebol na faculdade.

Eu pude viajar pelo país,

jogar futebol na TV
na frente de milhares de pessoas.

Eu vi algumas das coisas
mais bonitas e sensacionais

e conheci pessoas incríveis.

Eu conheci minha mulher na faculdade.

E todo dia, eu sou grato por ela

e sou inspirado por ela e pela família
que nós temos e por nossos filhos.

Todas essas coisas
não teriam sido possíveis

se eu não tivesse tentado
e ido atrás daquele sonho.

Por causa daquele sonho,
eu consegui um diploma,

que agora me permite
ter um trabalho que amo

e acordo todos os dias animado para ir.

Então, eu sabia que
o sonho de Rickey teria valor

quer ele o realizasse ou não.

E ele teve.

Algumas coisas bem especiais
aconteceram com ele na busca desse sonho.

Primeiro, ele se qualificou
para o campeonato estadual.

E nisso há algo muito especial.

E na escola McKinney,
a escola que eu trabalhava,

eles têm uma ótima tradição

onde, se algum atleta se qualifica
para um campeonato estadual,

muitos colegas, outros estudantes,
se encontram no pátio

e lhe dão tapinhas nas costas
e o encorajam e dão parabéns.

Então, eles fizeram isso para o Rickey.

Eles fizeram essa festa enquanto
passávamos em direção ao carro.

Ele sai,

e vê o carro todo pintado.

As líderes de torcida estão todas lá
em seus uniformes e uma equipe de dança,

e elas criam um túnel
de pom-poms para ele passar.

Então, além disso, entramos no carro,

e repasso o itinerário com ele.

"Nós vamos para o hotel, tem uma piscina,

vamos acordar amanhã em tal hora
porque têm um café da manhã continental".

Ele disse: "Pera, treinador.
Do que você está falando?

Piscina, café continental?
O que é um café continental?"

Então, eu tive que explicar para ele:
"Sabe, é um café da manhã de graça e..."

E tudo isso está deixando ele doido.

Ele está fazendo perguntas,

e percebo que não sei
se ele já esteve em um hotel antes.

Além disso, entregam para ele um envelope
com o dinheiro das diárias dele.

A escola deu dinheiro

para que, enquanto ele está longe
em Austin, longe de casa,

ele possa comprar comida,
café, almoço e jantar.

Então, ele está sentado lá
olhando para esse envelope de dinheiro.

Eu não sei se ele já havia visto
tanto dinheiro junto.

E a jornada continuou,
e a animação continuou.

E então, chegou o dia
do campeonato estadual.

Tudo levava a esse momento.

Ele já estava aquecido.

Nós passamos pela entrada do estádio.

É aquela hora em que o atleta
vai para a pista,

e eu, como treinador,
tenho que ir para o lado.

Então, dou um abraço nele,
e digo a ele que eu o amo.

Eu digo que estou orgulhoso
e que estou muito feliz por ele

e que todos vamos amá-lo,

todos vamos ficar orgulhosos dele
não importa o resultado.

Coloco meu braço em volta dele,
e vou andar com ele até a pista.

E ele meio que me para.

Eu dou a volta e olho seu rosto.

Ele está olhando as arquibancadas,
vendo todas aquelas pessoas.

O lugar está lotado.

E ele está com um olhar
de terror no rosto,

de medo absoluto.

Ele está parado lá, eu o observo,
e ele meio que acena para si mesmo.

E eu sei que ele está se encorajando.

Então finalmente, ele só olha
para mim e diz: "Eu consigo".

E ele vai para a pista.

E isso, por si só, é uma habilidade.

Ser capaz de sentir o medo
e perseverar é uma habilidade

que não pode ser aprendida no sofá,

que só pode ser aprendida
no calor da batalha

onde você está se testando
contra os gigantes.

E isso é algo que ele vai usar
para o resto da vida.

É por isso que os sonhos têm valor.

Ele foi e se saiu melhor do que nunca.

Ele conquistou uma bela medalha estadual.

Depois do campeonato,
fomos ao Joe's Crab Shack.

Ele escolheu o restaurante.

Ele estava sentado lá.

Ele tinha seus aperitivos,
seu prato, sua sobremesa.

Ele pediu um de cada coisa no menu.

Ele tinha seu refrigerante.

Estava cercado dos seus amigos e família.

Ele ainda estava com a medalha no peito.

E ele se inclina e diz:
"Treinador Ware, isso é uma loucura".

E eu concordo.

Quando você vai atrás de um sonho,

quando você se propõe
a realizar algo especial,

coisas maravilhosas acontecem,
coisas loucas acontecem.

Esperem aventuras.

E foi isso o que ele conseguiu.

E a medalha, isso é demais.

A aventura e as histórias,
elas são demais.

Mas o que é realmente especial
é o caráter que ele desenvolveu,

a perseverança que ele aprendeu,

a coragem que ele ganhou.

Todas essas coisas têm valor.

E ele vai ser esse tipo de pai.

Ele vai ser um pai que usa
aquela ética com seus filhos

e sua família e sua esposa.

Ele vai ser o tipo de empregado
que sabe perseverar sob pressão.

E ele não é o único.

Há dezenas de crianças
assim como Rickey Fantroy,

que foram atrás de um sonho

e, pelo caminho, ganharam muito mais
do que haviam imaginado.

Por exemplo, um daqueles jovens

joga na Liga de Baseball.

Outro joga futebol na NFL.

Dezenas de jovens ali ganharam
campeonatos estaduais de atletismo.

E também há jovens ali
cujos sonhos terminaram em decepção.

Mas quando chegaram no fim da estrada,

igual a mim quando não fui
chamado para jogar futebol na NFL,

olhei ao redor, olhei para minha família,

olhei para meu emprego,

e olhei para todas as pessoas
que eu havia conhecido,

coisas que havia visto,
o caráter que tinha,

e eu percebi que não havia sido
largado de mãos abanando.

E isso é especial.

Eu acredito que ir atrás de um sonho
é quase tão valioso...

Eu quase quero dizer que é necessário
para o desenvolvimento infantil.

A pesquisadora Angela Duckworth diz isso
sobre atividades extracurriculares.

Ela diz: "Como mãe
e como cientista social,

eu recomendo que, logo que seu filho
tenha idade suficiente,

ache algo de que ele goste
fora da sala de aula e o inscreva".

Seja uma banda, orquestra,
time de debate, clube de xadrez,

teatro, esportes, qualquer coisa,

mas que seja algo em que a criança
possa perseverar e perseguir,

algo que vai fazê-la dar um passo à frente

e tentar fazer algo maravilhoso.

Isso é que é especial.

Então quando me vejo
como uma criança de cinco anos

e penso sobre quem eu era lá atrás

e penso sobre as crianças
que eu treino agora

e penso sobre os sonhos
que eu tinha lá atrás

e em quem eu me tornei,

percebo que a senhorita Weaver
não mentiu para nós no fim das contas,

porque, no fim das contas,
quando você vai atrás de um sonho,

você realmente se transforma.

Obrigado.

(Aplausos)