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O valor das vozes por detrás das paredes da prisão | Kim Bogucki | TEDxMonroeCorrectionalComplex

  • 0:04 - 0:07
    Se houvesse alguma coisa
    que pudéssemos ter dito ou feito
  • 0:07 - 0:09
    para mudar o caminho
    que vos trouxe até aqui
  • 0:09 - 0:11
    o que é que seria?
  • 0:12 - 0:14
    Ah, o poder do "se".
  • 0:14 - 0:17
    Se eu pudesse perder cinco quilos,
  • 0:17 - 0:19
    se eu ganhasse a lotaria,
  • 0:19 - 0:20
    se...
  • 0:21 - 0:25
    O "se" pode ser uma desculpa,
    o "se" pode ser uma esperança,
  • 0:25 - 0:28
    mas nunca pensei que o "se"
    pudesse ser uma chave
  • 0:28 - 0:31
    para reduzir o tempo de prisão.
  • 0:31 - 0:33
    Olá, chamo-me Kim Bogucki.
  • 0:34 - 0:37
    Sou veterana com 25 anos
    no Departamento da Polícia de Seattle
  • 0:37 - 0:39
    e uma das fundadoras do If Project.
  • 0:39 - 0:41
    Iniciei o If Project
  • 0:41 - 0:44
    com o que muitos julgarão
    ser uma aliança improvável.
  • 0:44 - 0:49
    Polícias e condenados, lado a lado,
    com um objetivo comum:
  • 0:49 - 0:53
    Como impedir jovens
    de entrar no caminho para a prisão.
  • 0:54 - 0:59
    Estamos hoje a conseguir isso
    partilhando histórias e experiências.
  • 0:59 - 1:01
    Vou contar-vos como tudo começou.
  • 1:01 - 1:03
    Há seis anos,
  • 1:03 - 1:07
    pediram-me para trabalhar com um grupo
    de raparigas cujas mães estavam presas,
  • 1:07 - 1:12
    1,7 milhões de crianças nos EUA
    têm um dos pais na prisão.
  • 1:13 - 1:16
    Sabemos que os filhos de pais presos
  • 1:16 - 1:19
    têm mais probabilidades
    de abandonar a escola,
  • 1:19 - 1:20
    de se envolverem
    em comportamentos delinquentes,
  • 1:20 - 1:23
    e, subsequentemente,
    de acabarem presos.
  • 1:23 - 1:27
    Aquele era um grupo de raparigas
    com quem eu queria trabalhar.
  • 1:27 - 1:30
    Mas primeiro, queria pedir
    autorização às mães delas.
  • 1:31 - 1:34
    Por isso, fui ao WCCW, a penitenciária
    feminina de Washington,
  • 1:34 - 1:36
    para pedir autorização
  • 1:36 - 1:38
    e também para garantir àquelas mães
  • 1:38 - 1:41
    que eu não ia dizer às filhas
    nada de negativo sobre elas
  • 1:41 - 1:43
    por elas estarem presas.
  • 1:43 - 1:46
    No primeiro dia em que entrei
    na prisão, estava nervosa,
  • 1:47 - 1:49
    um pouco, tal como estou hoje.
  • 1:50 - 1:52
    Não tinha distintivo nem arma
  • 1:53 - 1:55
    e, sinceramente,
    sentia-me muito vulnerável.
  • 1:56 - 1:59
    Esse dia ficou gravado
    para sempre na minha cabeça.
  • 1:59 - 2:03
    Quando transpus o limiar para a sala
    para me encontrar com essas mães,
  • 2:03 - 2:06
    tive de fazer um exame aos intestinos,
    e não estava à espera disso.
  • 2:08 - 2:11
    Aquelas mães eram
    como vocês ou como eu,
  • 2:11 - 2:14
    como as minhas amigas e família,
    pessoas com quem eu me dava
  • 2:14 - 2:17
    — não eram como as que eu recordava
    ter detido durante 20 anos,
  • 2:17 - 2:21
    nem aquelas que eu tinha visto
    na TV real ou nas notícias.
  • 2:22 - 2:24
    Percebi, naquele momento,
  • 2:24 - 2:26
    que as coisas que eu tinha visto
    e presenciado,
  • 2:26 - 2:29
    eu tinha esquecido uma coisa
    muito simples: todas éramos ser humanos.
  • 2:30 - 2:32
    Aquele primeiro encontro
    está um pouco enublado.
  • 2:33 - 2:36
    Mas a atmosfera na sala
    era bastante gelada.
  • 2:36 - 2:39
    Aquelas mulheres não gostavam da polícia,
  • 2:40 - 2:42
    mas o que quebrou o gelo foi interessante.
  • 2:42 - 2:45
    Comecei a fazer perguntas
    sobre os filhos delas
  • 2:45 - 2:46
    E disse:
  • 2:46 - 2:48
    "Os vossos filhos chamarão a polícia
  • 2:48 - 2:51
    "se forem vítimas de um crime
    ou se forem agredidos?"
  • 2:51 - 2:53
    Apareceram os chapéus de "mamã".
  • 2:53 - 2:56
    Tivemos uma conversa muito interessante
    sobre a aplicação da lei.
  • 2:56 - 3:00
    Disseram-nos: "Ensinámos os nossos filhos
    a mentir à polícia, a odiar a polícia,
  • 3:00 - 3:02
    "a não abrir a porta
    quando vocês aparecem
  • 3:02 - 3:06
    "a nunca pensarem na polícia
    como um recurso."
  • 3:13 - 3:15
    Eu fiquei sem saber
    como responder àquilo
  • 3:15 - 3:18
    mas o que elas fizeram
    mudou tudo para mim.
  • 3:19 - 3:21
    Começaram a contar-me
    coisas da vida delas.
  • 3:21 - 3:24
    E eu percebi que havia uma coisa
    que, para elas, não funcionava.
  • 3:24 - 3:29
    Por isso, perguntei aquilo que passou
    a ser a pergunta "se", ou seja:
  • 3:29 - 3:32
    "Se houvesse alguma coisa
    que podia ter sido dito ou feito
  • 3:32 - 3:36
    "para mudar o caminho
    que vos meteu aqui, o que teria sido?"
  • 3:39 - 3:40
    Silêncio...
  • 3:40 - 3:43
    foi tudo o que obtive
    como resposta, naquele dia.
  • 3:43 - 3:45
    Sem eu me aperceber disso,
  • 3:45 - 3:48
    aquela pergunta iria mudar
    as nossas vidas para sempre.
  • 3:48 - 3:51
    Voltei àquela penitenciária
    dois meses depois
  • 3:51 - 3:54
    para uma festa do pijama
    de Escuteiras Atrás das Grades.
  • 3:54 - 3:56
    Eu passei uma noite na prisão.
  • 3:56 - 3:57
    (Risos)
  • 3:57 - 3:59
    Não quero repetir essa experiência,
  • 3:59 - 4:02
    porque a falta de um bom café
    de manhã não é bom para mim.
  • 4:02 - 4:03
    (Risos)
  • 4:03 - 4:06
    Uma das presas, chamada Renata,
    acordou-me e disse:
  • 4:06 - 4:10
    "Kim, lembras-te daquela pergunta
    que nos fizeste naquela reunião de mães?
  • 4:10 - 4:12
    "Nunca ninguém nos perguntou aquilo.
  • 4:12 - 4:16
    "Perguntam-nos o que fizemos,
    quanto tempo apanhámos.
  • 4:16 - 4:19
    "E se estiverem muito interessados
    em saber porque é que o fizemos
  • 4:19 - 4:22
    "nós respondemos
    qual a razão imediata do crime:
  • 4:22 - 4:24
    " 'Precisava da droga, assaltei uma loja',
  • 4:24 - 4:28
    "mas não porque é que precisava da droga."
  • 4:29 - 4:33
    Depois fez uma coisa
    que nunca esquecerei.
  • 4:35 - 4:38
    Já passaram seis anos
    e ainda me afeta.
  • 4:38 - 4:40
    Entregou-me uma pilha de papéis
  • 4:40 - 4:43
    que eram respostas escritas
    àquela pergunta de "e se?"
  • 4:43 - 4:46
    das mulheres da penitenciária.
  • 4:47 - 4:49
    Não consigo explicar-vos
    o que senti
  • 4:49 - 4:52
    quando aqueles papéis passaram
    das mãos dela para as minhas.
  • 4:52 - 4:54
    Só posso dizer-vos
  • 4:54 - 4:58
    que foi um dos momentos
    de maior impacto na minha vida
  • 4:58 - 5:00
    e da minha carreira.
  • 5:01 - 5:04
    Aquelas respostas eram reais.
  • 5:04 - 5:08
    Eram cruas, fascinantes, meditadas.
  • 5:08 - 5:10
    Eram dolorosas.
  • 5:10 - 5:12
    Não acusavam nada nem ninguém.
  • 5:13 - 5:15
    Eram abnegadas.
  • 5:15 - 5:17
    Aquelas mulheres tinham
    anotado aquelas respostas
  • 5:17 - 5:22
    na esperança de que as jovens as lessem
    e fizessem escolhas diferentes,
  • 5:22 - 5:25
    não seguissem as suas pisadas
    para a prisão.
  • 5:26 - 5:28
    Foi assim que nasceu o If Project.
  • 5:28 - 5:32
    Ainda hoje não consigo ler
    as respostas dentro da prisão.
  • 5:33 - 5:34
    Fico comovida.
  • 5:34 - 5:36
    Até as polícias choram.
  • 5:37 - 5:41
    Temos mais de 3000 respostas
    escritas a essa pergunta "e se?"
  • 5:41 - 5:43
    de pessoas que estão presas.
  • 5:43 - 5:45
    Quero agradecer a todas
  • 5:45 - 5:47
    — porque algumas delas
    estão nesta sala —
  • 5:47 - 5:49
    por porem as palavras no papel
  • 5:49 - 5:51
    e, por vezes, até escreveram
    em guardanapos,
  • 5:51 - 5:54
    e terem respondido a essa pergunta.
  • 5:54 - 5:55
    Alguém faz ideia
  • 5:55 - 5:59
    qual será a resposta número um
    a esta pergunta "e se"?
  • 5:59 - 6:01
    Podem gritar.
  • 6:02 - 6:04
    Pais, afeto, amor.
  • 6:04 - 6:05
    Resposta número um:
  • 6:05 - 6:08
    nenhum modelo positivo de adulto.
  • 6:08 - 6:10
    "Ninguém para me guiar,
  • 6:10 - 6:11
    "ninguém para me escutar."
  • 6:11 - 6:14
    e, por vezes, era simplesmente
    "Ninguém bondoso para mim".
  • 6:15 - 6:16
    Nenhum educador.
  • 6:16 - 6:19
    Vou gastar uns instantes
    a falar de educação.
  • 6:19 - 6:22
    Para aqueles nesta sala
    que são educadores, obrigada.
  • 6:22 - 6:24
    Vocês fazem uma diferença abissal,
  • 6:24 - 6:26
    Para os pais que aqui estão,
  • 6:26 - 6:29
    vocês acham que não têm tempo
    para educar?
  • 6:29 - 6:30
    Têm um filho que goste
    de estar em casa
  • 6:30 - 6:33
    à hora do jantar ou para passar a noite?
  • 6:33 - 6:35
    Vocês têm a oportunidade
    de os educar, indiretamente.
  • 6:35 - 6:37
    Para aqueles
    cujo filho está na rua
  • 6:37 - 6:39
    em casa de outra pessoa qualquer,
  • 6:39 - 6:42
    saibam quem está a educar
    o vosso filho.
  • 6:42 - 6:45
    Todos somos precisos
    e estamos todos juntos nisso.
  • 6:46 - 6:47
    Na evolução do If Project,
  • 6:47 - 6:50
    tenho uma equipa fantástica,
  • 6:50 - 6:52
    a "Equipa Se".
  • 6:52 - 6:55
    É formada por homens e mulheres
    que já estiveram presos
  • 6:55 - 6:58
    por todos os delitos,
    da droga ao roubo e ao homicídio.
  • 6:58 - 7:02
    Há pessoas que não quererão
    estar na mesma sala com um assassino
  • 7:02 - 7:05
    e outras que não quererão
    estar na mesma sala com um polícia.
  • 7:05 - 7:06
    Por isso, temos isso em comum.
  • 7:06 - 7:07
    (Risos)
  • 7:07 - 7:10
    Mas, na verdade, damo-nos muito bem,
    e somos como uma família.
  • 7:11 - 7:14
    Vamos às nossas comunidades
    e fazemos "workshops" para jovens.
  • 7:14 - 7:16
    E posso dizer-vos
  • 7:16 - 7:18
    quando um antigo prisioneiro
    começa a contar a sua história,
  • 7:18 - 7:20
    tudo muda.
  • 7:20 - 7:22
    Em 25 anos de trabalho policial,
  • 7:22 - 7:25
    nunca vi miúdos interessar-se,
  • 7:25 - 7:28
    inclinarem-se para a frente,
    envolverem-se,
  • 7:28 - 7:31
    e pedirem ajuda como acontece
    com este projeto.
  • 7:32 - 7:35
    Quando digo "este projeto",
    não se iludam.
  • 7:35 - 7:37
    A magia deste projeto
  • 7:37 - 7:41
    é quando antigos prisioneiros
    começam a contar as suas histórias,
  • 7:41 - 7:43
    com toda a comoção.
  • 7:43 - 7:46
    Gritar e berrar não funciona.
  • 7:46 - 7:48
    Com toda a comoção.
  • 7:48 - 7:49
    Quando estão vulneráveis.
  • 7:49 - 7:53
    Os miúdos também se sentem vulneráveis
    e abrem-se e contam as suas histórias
  • 7:53 - 7:55
    e pedem ajuda.
  • 7:55 - 7:57
    Porque o que é que queremos
    que os jovens façam?
  • 7:57 - 8:01
    Queremos que eles parem, escutem
    aquilo que estamos a dizer
  • 8:01 - 8:04
    pensem no que se passa
    com a vida deles,
  • 8:04 - 8:05
    e façam escolhas positivas,
  • 8:05 - 8:07
    para não acabarem num carro
    de patrulha policial
  • 8:07 - 8:11
    ou seguirem as pisadas
    da minha equipa até à prisão.
  • 8:11 - 8:13
    Há outra coisa que acontece:
  • 8:13 - 8:16
    Quando eles veem um polícia
    e um condenado, lado a lado, a dizer:
  • 8:16 - 8:18
    "Como é que podemos ajudar-vos?"
  • 8:19 - 8:21
    esbate aquela linha "nós-e-eles"
  • 8:21 - 8:22
    que criámos na sociedade
  • 8:23 - 8:24
    e cria-se uma comunidade
  • 8:24 - 8:27
    — uma comunidade de mudança positiva.
  • 8:27 - 8:29
    Para os oradores,
  • 8:29 - 8:33
    quando estão a contar a sua história
    e um miúdo pede ajuda,
  • 8:33 - 8:36
    eles veem a esperança.
  • 8:37 - 8:40
    Agarram no que é negativo
    e transformam-no em positivo.
  • 8:40 - 8:43
    Obtêm uma luz ao fundo
    do túnel da redenção.
  • 8:43 - 8:46
    Conseguem compensar a comunidade
  • 8:46 - 8:49
    de qualquer coisa
    que lhe possam ter tirado.
  • 8:50 - 8:52
    Para os presos que ainda
    não saíram da prisão,
  • 8:52 - 8:55
    é uma possibilidade
    para dar um contribuo
  • 8:55 - 8:57
    e fazem a diferença.
  • 8:57 - 9:00
    Vou contar-vos uma história rápida
    sobre um dos tipos da minha equipa.
  • 9:00 - 9:02
    Chama-se Dolphy.
  • 9:02 - 9:04
    Talvez haja aqui
    quem o conheça por Blue.
  • 9:04 - 9:06
    Dolphy, aos 16 anos,
  • 9:06 - 9:10
    começou a cumprir uma pena
    de 26 anos nesta instituição.
  • 9:11 - 9:14
    Quando Dolphy diz
    "16 anos de idade e 26 anos",
  • 9:14 - 9:16
    toda a gente na sala está a escutar.
  • 9:16 - 9:17
    Ele prendeu a miudagem.
  • 9:17 - 9:20
    O que ele consegue fazer
    com as suas histórias,
  • 9:20 - 9:22
    é que pode referir
    o que funcionou para ele.
  • 9:23 - 9:24
    Foram os livros.
  • 9:24 - 9:26
    Foi o poder do conhecimento.
  • 9:26 - 9:27
    Foi a educação.
  • 9:27 - 9:31
    E continua a contar que,
    passados 21 anos e 8 meses,
  • 9:31 - 9:32
    ele fez duas coisas.
  • 9:32 - 9:33
    Saiu em liberdade
  • 9:33 - 9:35
    matriculou-se na faculdade comunitária,
  • 9:35 - 9:37
    e juntou-se à equipa do Se.
  • 9:37 - 9:39
    Não só se matriculou
    na faculdade comunitária
  • 9:39 - 9:42
    como se formou na faculdade
    com distinção
  • 9:42 - 9:45
    — ele não gosta de dizer isto
    mas eu quero que os miúdos saibam
  • 9:45 - 9:47
    com uma das três medalhas presidenciais.
  • 9:47 - 9:50
    Agora, trabalha numa organização
  • 9:50 - 9:53
    que ajuda a arranjar casa
    para pessoas que saíram da prisão
  • 9:53 - 9:55
    e têm dependência de produtos químicos.
  • 9:55 - 9:57
    Mas Dolphy não fica por aí.
  • 9:57 - 9:59
    Também se matriculou
    na Universidade de Washington,
  • 9:59 - 10:01
    e tem orgulho em dizer aos miúdos
    que é um Huskie.
  • 10:01 - 10:04
    Assim, o que ele tem de fazer
    é contar aos miúdos
  • 10:04 - 10:07
    que a escola e a educação,
    os livros e os conhecimentos
  • 10:07 - 10:10
    são a saída para o que estão a fazer.
  • 10:10 - 10:12
    Depois, há aquele miúdo.
  • 10:13 - 10:14
    Uau!
  • 10:14 - 10:17
    Nunca tivemos um miúdo como aquele,
    pelo menos era o que pensávamos.
  • 10:17 - 10:19
    Não sabíamos o que fazer com ele.
  • 10:19 - 10:21
    Não se envolvia, não estabelecia ligação.
  • 10:21 - 10:23
    e, muito sinceramente,
  • 10:23 - 10:26
    eu pensava quanto tempo passaria
    antes de ele acabar com algemas.
  • 10:26 - 10:28
    Depois recebi a mensagem.
  • 10:28 - 10:30
    Dizia assim: "Olá, lembra-se de mim?"
  • 10:30 - 10:32
    Claro que me lembro de ti.
  • 10:32 - 10:33
    (Risos)
  • 10:33 - 10:34
    Dizia assim:
  • 10:34 - 10:37
    "Estive num "workshop" do If Project
    há cinco meses,
  • 10:37 - 10:39
    "e só queria agradecer.
  • 10:40 - 10:42
    "Voltei para a escola no dia seguinte.
  • 10:42 - 10:44
    "Vou acabar o curso no próximo mês.
  • 10:44 - 10:46
    "Quer vir assistir à formatura?"
  • 10:47 - 10:48
    (Aplausos)
  • 10:48 - 10:49
    Funcionou!
  • 10:52 - 10:54
    Funcionou.
  • 10:54 - 10:55
    Funcionou.
  • 10:56 - 10:58
    Nos EUA, em média,
  • 10:58 - 11:02
    custa 32 000 dólares por ano
    manter um adulto preso.
  • 11:02 - 11:05
    No estado de Washington,
    pagamos 47 000 dólares por ano.
  • 11:05 - 11:08
    Quando oiço as pessoas dizer:
    "Prendam-no e deitem fora a chave",
  • 11:08 - 11:10
    eu digo: "Esperem, esperem aí.
  • 11:10 - 11:13
    "É assim que querem gastar
    o dinheiro dos impostos?
  • 11:14 - 11:15
    "Não seria melhor gastar o dinheiro
  • 11:15 - 11:18
    "na intervenção, prevenção ou educação
  • 11:18 - 11:21
    "em vez de ter de manter
    os que estão presos?
  • 11:21 - 11:23
    "Não seria melhor?"
  • 11:25 - 11:28
    (Aplausos)
  • 11:30 - 11:33
    Nos EUA, 95% das pessoas
    que estão presas
  • 11:33 - 11:35
    vão sair da prisão.
  • 11:35 - 11:38
    Nos EUA, 95% das pessoas
    que estão presas
  • 11:38 - 11:40
    vão regressar às suas comunidades.
  • 11:41 - 11:44
    Não é fácil quando saem.
  • 11:45 - 11:47
    Acompanhei uma boa porção deles.
  • 11:47 - 11:50
    Saem com aquele grande C vermelho
    no peito, que diz Criminoso.
  • 11:50 - 11:53
    Nós não o vemos, mas eles sentem-no
  • 11:53 - 11:56
    sempre que têm de preencher
    a cláusula criminal
  • 11:56 - 11:57
    quando querem arranjar trabalho,
  • 11:57 - 12:00
    quando precisam de arranjar casa.
  • 12:00 - 12:05
    Será possível olharmos para além
    dessa cláusula e vermos a pessoa?
  • 12:05 - 12:08
    Dar-lhes trabalho?
    Dar-lhes uma casa?
  • 12:08 - 12:10
    Duas necessidades básicas.
  • 12:11 - 12:14
    Não estou aqui para vos dizer
    que todos devem sair da cadeia,
  • 12:14 - 12:18
    e não estou aqui para justificar
    quaisquer crimes que praticaram
  • 12:18 - 12:20
    e claro que não estou aqui
    para esconder
  • 12:20 - 12:23
    o que uma vítima de um crime
    presenciou ou viveu.
  • 12:23 - 12:26
    Estamos a tentar reduzir
    essas experiências.
  • 12:27 - 12:29
    O If Project é poderoso.
  • 12:30 - 12:33
    OK, vou confessar:
  • 12:33 - 12:35
    Adoro entrar numa prisão.
  • 12:35 - 12:36
    (Risos)
  • 12:36 - 12:39
    A sério — tenho de ir para casa,
    mas adoro entrar numa prisão
  • 12:39 - 12:42
    e adoro falar com os presos.
  • 12:42 - 12:46
    São uma pletora de conhecimentos
    e de perspetivas.
  • 12:46 - 12:48
    Quando chego e converso com eles,
  • 12:48 - 12:52
    sem telemóvel, sem "pagers",
    sem multitarefas
  • 12:52 - 12:55
    — uma conversa cara a cara, sincera,
  • 12:55 - 12:58
    está a perder-se no mundo exterior.
  • 12:58 - 13:00
    As coisas que tenho aprendido
  • 13:00 - 13:03
    com pessoas que estiveram na prisão
    e estão a sair da prisão
  • 13:03 - 13:05
    modificaram-me.
  • 13:05 - 13:09
    Tornaram-me numa pessoa melhor
    e num polícia muito melhor.
  • 13:09 - 13:12
    Por falar em polícias,
  • 13:12 - 13:15
    tal como os prisioneiros,
    também somos seres humanos.
  • 13:15 - 13:18
    E tenho tido conversas
    com agentes das forças de ordem
  • 13:18 - 13:21
    que dizem como o If Project
    os afetou.
  • 13:21 - 13:25
    Há pouco recebi um "email"
    às duas da manhã:
  • 13:25 - 13:26
    "Olá. Kim,
  • 13:26 - 13:29
    "Estive na página do If Project
    e vi o vosso vídeo.
  • 13:29 - 13:32
    "Fiquei invulgarmente comovido."
  • 13:32 - 13:33
    (Risos)
  • 13:34 - 13:36
    E eu: "Está a dizer que chorou?"
  • 13:36 - 13:39
    (Risos)
  • 13:41 - 13:45
    É difícil encontrar um agente da polícia
  • 13:45 - 13:47
    que, em determinada altura da sua carreira
  • 13:47 - 13:50
    não tenha olhado para a traseira
    do carro patrulha e não tenha pensado:
  • 13:50 - 13:54
    "Que diabo aconteceu que meteu
    esta pessoa no meu carro patrulha?"
  • 13:54 - 13:56
    Este projeto dá-nos essas respostas.
  • 13:56 - 13:59
    Permite-nos compreender melhor
    as comunidades em que trabalhamos
  • 13:59 - 14:02
    e torna-nos mais compassivos
    no trabalho que fazemos,
  • 14:02 - 14:05
    quer estejamos de serviço ou não.
  • 14:05 - 14:08
    Há valor por detrás destas paredes
  • 14:08 - 14:11
    nas histórias das pessoas
    que percorreram o caminho
  • 14:11 - 14:15
    partilhando-as com aqueles
    que talvez sigam o mesmo caminho.
  • 14:15 - 14:18
    Peço-vos que ponham de parte
    os vossos julgamentos
  • 14:19 - 14:22
    e o vosso medo, durante um bocado.
  • 14:22 - 14:24
    Não é uma coisa fácil, eu sei.
  • 14:24 - 14:27
    Mas, se uma veterana de 25 anos
    de um departamento da polícia consegue,
  • 14:27 - 14:28
    vocês não conseguirão?
  • 14:28 - 14:30
    Precisamos de deixar de olhar
  • 14:31 - 14:34
    para a população da prisão
    como fonte de problemas
  • 14:34 - 14:38
    e começar a olhar para eles
    como solucionadores de problemas
  • 14:38 - 14:42
    — solucionadores de problemas
    para esta epidemia de prisões de massas.
  • 14:43 - 14:45
    O que é que podem fazer?
  • 14:46 - 14:48
    Número um: sejam educadores.
  • 14:49 - 14:51
    Comprometam-se
    com a vida duma criança.
  • 14:51 - 14:56
    Apareçam, ponham o telefone de lado,
    escutem, envolvam-se com a juventude.
  • 14:56 - 15:00
    Deem trabalho a alguém
    que tem de preencher a cláusula criminal.
  • 15:00 - 15:03
    Deem abrigo a alguém
    que tem de preencher a cláusula criminal.
  • 15:05 - 15:07
    Não descuidem as coisas mais simples.
  • 15:08 - 15:10
    Podem mudar a vossa perceção.
  • 15:11 - 15:14
    Podem olhar para além da etiqueta
    e ver a pessoa:
  • 15:15 - 15:19
    aquela que é parecida convosco
    e comigo.
  • 15:19 - 15:20
    Obrigada.
  • 15:21 - 15:23
    (Aplausos)
Title:
O valor das vozes por detrás das paredes da prisão | Kim Bogucki | TEDxMonroeCorrectionalComplex
Description:

O que acontece quando uma detetive de Seattle acaba por visitar uma prisão e descobre que não é nada do que imaginava?
A detetive Kim Bogucki tem mais de 25 anos de experiência no Departamento da Polícia de Seattle. Tem dois objetivos: fomentar a proximidade da comunidade e reduzir o ciclo do crime. Há seis anos, Kim foi uma das fundadoras do If Project depois de formar uma parceria improvável com presos que levaram ao desenvolvimento dum programa inovador que utiliza escritos e experiências do interior das paredes da prisão para realizar uma mudança positiva.

Esta palestra foi feita num evento TEDx usando o formato de palestras TED, mas organizado independentemente por uma comunidade local. Saiba mais em http://ted.com/tedx

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDxTalks
Duration:
15:33

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