As poderosas histórias que modelaram a África
-
0:01 - 0:04Hegel disse
-
0:04 - 0:07que a África era um local sem História,
-
0:07 - 0:09sem passado, sem narrativa.
-
0:09 - 0:15Mas eu afirmo que nenhum outro continente
acarinhou, defendeu, -
0:15 - 0:18festejou a sua História
mais acerrimamente. -
0:18 - 0:21A luta para manter viva
a narrativa africana -
0:21 - 0:24tem sido uma das iniciativas
mais consistentes -
0:24 - 0:27e mais difíceis dos povos africanos
-
0:27 - 0:29e continua a sê-lo.
-
0:29 - 0:33As lutas sofridas e os sacrifícios feitos
para conservar a sua narrativa -
0:33 - 0:39apesar da escravatura, do colonialismo,
do racismo, das guerras e não só, -
0:39 - 0:43têm sido a narrativa implícita
da nossa História. -
0:43 - 0:47A nossa narrativa não
sobreviveu apenas aos ataques -
0:47 - 0:49que a História lhe dirigiu.
-
0:49 - 0:52Deixámos um conjunto
de cultura material, -
0:52 - 0:56de mestria artística
e de produção intelectual. -
0:56 - 1:01Transcrevemos, documentámos
e gravámos as nossas histórias -
1:01 - 1:05de formas que são a medida
de qualquer outro local na Terra. -
1:05 - 1:10Muito antes da chegada
significativa dos europeus -
1:10 - 1:13— enquanto a Europa continuava
mergulhada na Idade das Trevas — -
1:13 - 1:19os africanos eram pioneiros em técnicas
de registo, em acarinhar a história, -
1:19 - 1:24forjando métodos revolucionários
de manter viva a sua história. -
1:25 - 1:28A história viva, a herança dinâmica
-
1:28 - 1:30mantém-se importante para nós.
-
1:30 - 1:34Vemos isso manifesto de muitas formas.
-
1:35 - 1:39Recordaram-me como, no ano passado
— talvez se lembrem disso — -
1:39 - 1:43os primeiros membros do Ansar Dine,
afiliado na Al-Qaeda, -
1:43 - 1:46foram condenados por crimes de guerra
e enviados para Haia. -
1:47 - 1:51Um dos mais conhecidos
foi Ahmad al-Faqi, -
1:51 - 1:52que era um jovem de Mali.
-
1:53 - 1:55Foi acusado, não de genocídio,
-
1:55 - 1:56nem de limpeza étnica,
-
1:56 - 2:00mas de ser um dos instigadores
duma campanha -
2:00 - 2:05para destruir parte da herança
cultural mais importante de Mali. -
2:05 - 2:07Não foi vandalismo,
-
2:07 - 2:09não foram atos irrefletidos.
-
2:09 - 2:11Uma das coisas que al-Faqi disse
-
2:11 - 2:14quando lhe pediram
para se identificar no tribunal, -
2:14 - 2:18foi que tinha um curso superior,
que era professor. -
2:18 - 2:23Durante o decurso de 2012,
envolveram-se numa campanha sistemática -
2:23 - 2:27para destruir a herança cultural do Mali.
-
2:27 - 2:31Era uma forma de guerra
profundamente refletido -
2:31 - 2:34na forma mais poderosa
que podia ser encarada: -
2:34 - 2:38a destruição da narrativa,
a destruição da História. -
2:38 - 2:42A tentativa de destruição
de nove santuários, -
2:42 - 2:43da mesquita central
-
2:43 - 2:47e talvez de uns 4000 manuscritos
-
2:47 - 2:49foi um ato premeditado.
-
2:50 - 2:55Eles sabiam o poder da narrativa
para unir as comunidades -
2:55 - 2:59e, em contrapartida, sabiam
que, destruindo as histórias, -
2:59 - 3:02esperavam destruir um povo.
-
3:02 - 3:06Tal como Ansar Dine e a sua rebelião
-
3:06 - 3:09foram motivadas por narrativas poderosas,
-
3:09 - 3:13também o foi a defesa da população local
de Tombuctu e das suas bibliotecas. -
3:13 - 3:18As comunidades cresceram
com histórias do Império Mali; -
3:18 - 3:21viviam na sombra
das grandes bibliotecas de Tombuctu. -
3:21 - 3:25Escutavam canções da sua origem
desde a infância -
3:25 - 3:29e não estavam dispostos
a abdicar disso, sem luta. -
3:29 - 3:32Durante os difíceis meses de 2012,
-
3:32 - 3:36durante a invasão de Ansar Dine,
-
3:36 - 3:40os habitantes de Mali, pessoas vulgares,
arriscaram a vida -
3:40 - 3:44para esconder documentos
em locais seguros, -
3:45 - 3:48fazendo o que podiam
para proteger edifícios históricos -
3:48 - 3:50e defender as suas bibliotecas antigas.
-
3:50 - 3:53Embora nem sempre tivessem êxito,
-
3:53 - 3:57muitos dos manuscritos mais importantes
foram salvos, felizmente. -
3:57 - 4:02Hoje, cada um dos santuários
que foi danificado durante essa rebelião, -
4:02 - 4:03foi reconstruído,
-
4:03 - 4:09incluindo a mesquita do século XIV
que é o coração simbólico da cidade. -
4:09 - 4:11Foi totalmente restaurada.
-
4:11 - 4:15Mas mesmo nos períodos
mais negros da ocupação, -
4:15 - 4:18muita da população de Tombuctu
-
4:18 - 4:22não se vergou perante homens como al-Faqi.
-
4:22 - 4:25Não permitiram que a sua História
fosse aniquilada -
4:25 - 4:29e quem quer que tenha visitado
aquela parte do mundo, -
4:29 - 4:31perceberá porquê.
-
4:31 - 4:35Porque é que as histórias, a narrativa,
as Histórias são tão importantes. -
4:36 - 4:38A História é importante.
-
4:38 - 4:41A História é muito importante.
-
4:41 - 4:44Para as pessoas de ascendência africana
-
4:44 - 4:47que viram a sua narrativa
sistematicamente atacada -
4:47 - 4:49ao longo de séculos.
-
4:49 - 4:52Isto é extremamente importante.
-
4:52 - 4:56Isto faz parte dum eco recorrente
ao longo da nossa História -
4:56 - 5:02de pessoas vulgares que defendem
as suas histórias, a sua História. -
5:02 - 5:04Tal como no século XIX,
-
5:04 - 5:08os escravos de ascendência
africana nas Caraíbas -
5:08 - 5:10lutaram, sob a ameaça de punições,
-
5:10 - 5:15lutaram para praticar as suas religiões,
para festejar o Carnaval, -
5:15 - 5:17para manter viva a sua História.
-
5:17 - 5:21As pessoas vulgares estavam preparadas
para fazer grandes sacrifícios, -
5:21 - 5:24algumas até o supremo sacrifício,
-
5:24 - 5:27pela sua História.
-
5:27 - 5:29Foi através do controlo da narrativa
-
5:29 - 5:34que se cristalizaram algumas
das campanhas coloniais mais devastadoras. -
5:34 - 5:38Foi através do domínio
de uma narrativa por outra -
5:38 - 5:42que se tornaram palpáveis
as piores manifestações do colonialismo. -
5:43 - 5:47Quando, em 1874, os britânicos
atacaram os Ashanti, -
5:47 - 5:50derrubaram os Kumasi
e capturaram o Asantehene. -
5:50 - 5:55Sabiam que controlar o território
e subjugar o chefe de estado -
5:55 - 5:57não era suficiente.
-
5:57 - 6:00Reconheciam que
a autoridade emocional do Estado -
6:00 - 6:03residia na sua narrativa
-
6:03 - 6:06e nos símbolos que a representavam,
-
6:06 - 6:08como o Trono de Ouro.
-
6:08 - 6:13Perceberam que o controlo da história
era fundamental -
6:13 - 6:15para controlar um povo de verdade.
-
6:15 - 6:18Os Ashanti também perceberam
-
6:18 - 6:22e nunca se dispuseram a abdicar
do precioso Trono de Ouro, -
6:22 - 6:27nunca capitular totalmente
perante os britânicos. -
6:27 - 6:30A narrativa é importante.
-
6:30 - 6:35Em 1871, Karl Mauch, um geólogo alemão
a trabalhar na África do Sul, -
6:35 - 6:39deparou-se com um complexo
extraordinário, -
6:39 - 6:42um complexo de edifícios de pedra
abandonados. -
6:42 - 6:45Nunca se recompôs
do que viu: -
6:46 - 6:49uma cidade de granito, de pedra seca,
-
6:49 - 6:53instalada num afloramento
no meio duma savana árida: -
6:53 - 6:55o Grande Zimbabué.
-
6:55 - 6:59Mauch não fazia ideia
quem seria o responsável -
6:59 - 7:03por uma coisa que, obviamente,
era um feito espantoso de arquitetura, -
7:04 - 7:07mas tinha a certeza duma coisa:
-
7:07 - 7:11aquela narrativa precisava
de ser reclamada. -
7:11 - 7:15Mais tarde escreveu que a arquitetura
do Grande Zimbabué -
7:15 - 7:18era demasiado sofisticada,
-
7:18 - 7:21demasiado especial para
ter sido construída por africanos. -
7:21 - 7:26Mauch, tal como dezenas de europeus
que seguiram as pisadas dele, -
7:26 - 7:29especularam sobre quem
podia ter construído a cidade. -
7:29 - 7:32Um deles foi ao ponto de supor:
-
7:32 - 7:38"Não penso estar longe da verdade
se supuser que aquelas ruínas na colina -
7:38 - 7:40"são uma cópia do Templo
do Rei Salomão". -
7:40 - 7:42E como tenho a certeza que vocês sabem,
-
7:42 - 7:45Mauch não se deparou com
o Templo do Rei Salomão, -
7:45 - 7:49mas com um complexo de edifícios
puramente africanos -
7:49 - 7:52construídos por uma civilização
puramente africana -
7:52 - 7:54a partir do século XI em diante.
-
7:54 - 7:58Mas, tal como Leo Frobenius,
um antropólogo alemão, -
7:58 - 8:01que especulou, anos mais tarde,
-
8:01 - 8:05quando viu as Cabeças Ifé nigerianas
pela primeira vez, -
8:05 - 8:10de que deviam ser artefactos
do reino da Atlântida há muito perdido. -
8:10 - 8:13Achava, tal como Hegel,
-
8:13 - 8:19uma necessidade quase instintiva
de defraudar África da sua História. -
8:19 - 8:22Estas ideias são tão irracionais,
-
8:22 - 8:24tão profundamente defendidas,
-
8:24 - 8:27que mesmo quando enfrentadas
com a arqueologia física, -
8:27 - 8:29eles não conseguiam pensar
racionalmente. -
8:29 - 8:31Não conseguiam ver mais longe.
-
8:31 - 8:35Tal como grande parte da relação de África
com o Iluminismo da Europa, -
8:35 - 8:41envolveu apropriação, difamação,
e controlo do continente. -
8:41 - 8:46envolveu uma tentativa de adaptar
a narrativa aos desejos da Europa. -
8:46 - 8:50Se Mauch tivesse querido realmente
encontrar uma resposta à sua questão: -
8:50 - 8:55"De onde surgiu o Grande Zimbabué
ou esse grande edifício de pedra?", -
8:55 - 8:57ele teria necessitado
de começar a sua pesquisa -
8:57 - 9:00a mais de mil quilómetros
de distância do Grande Zimbabué, -
9:00 - 9:02na zona oriental do continente,
-
9:02 - 9:04onde África se encontra
com o Oceano Índico. -
9:04 - 9:07Teria precisado de seguir
o rasto do ouro e das mercadorias -
9:07 - 9:12de alguns dos grandes empórios comerciais
da costa suaíli até ao Grande Zimbabué, -
9:12 - 9:15para ganhar o sentido
da dimensão e da influência -
9:15 - 9:17dessa misteriosa cultura,
-
9:17 - 9:19para obter uma imagem
do Grande Zimbabué -
9:19 - 9:22enquanto entidade política e cultural
-
9:22 - 9:28através dos reinos e das civilizações
sob o seu controlo. -
9:28 - 9:33Durante séculos, os mercadores
tinham sido atraídos para aquela costa -
9:34 - 9:39vindos de tão longe como a Índia,
a China e o Médio Oriente. -
9:39 - 9:42Podia ser tentador interpretar,
-
9:42 - 9:45porque é que aquele edifício,
de beleza sofisticada, -
9:45 - 9:49podia ser tentador interpretá-lo apenas
-
9:49 - 9:52como uma joia requintada, simbólica,
-
9:52 - 9:55uma enorme escultura cerimonial de pedra.
-
9:55 - 9:58Mas o local deve ter sido um complexo
-
9:58 - 10:03no centro de uma significativa
rede de economias -
10:03 - 10:06que definiu esta região
durante um milénio. -
10:06 - 10:08Isso é importante.
-
10:08 - 10:10Estas narrativas são importantes.
-
10:10 - 10:13Ainda hoje, a luta para contar
a nossa história -
10:13 - 10:15não é apenas contra o tempo.
-
10:15 - 10:19Não é apenas contra organizações
como o Ansar Dine. -
10:19 - 10:23É também para instituir
uma verdadeira voz africana -
10:23 - 10:26depois de séculos de histórias impostas.
-
10:27 - 10:30Não temos de recolonizar
apenas a nossa História, -
10:30 - 10:35mas temos de encontrar formas
de recriar o fundamento intelectual -
10:35 - 10:38que Hegel negava que existisse.
-
10:38 - 10:41Temos de redescobrir a filosofia africana,
-
10:41 - 10:45as perspetivas africanas,
a História africana. -
10:46 - 10:49O florescimento do Grande Zimbabué
não foi um momento de loucura. -
10:49 - 10:53Foi parte duma mudança pujante
através de todo o continente. -
10:53 - 10:57Talvez o grande exemplo disso
seja Sundiata Keita, -
10:57 - 11:00o fundador do Império Mali,
-
11:00 - 11:04provavelmente o maior império
que a África Ocidental viu. -
11:04 - 11:07Sundiata Keita nasceu por volta de 1235
-
11:07 - 11:11e cresceu numa época
de profunda transição. -
11:11 - 11:15Assistiu à transição entre
as dinastias berberes ao norte, -
11:15 - 11:18pode ter ouvido falar
do nascimento de Ifé a sul -
11:18 - 11:23e talvez mesmo o domínio
da Dinastia Solomaica -
11:23 - 11:25na Etiópia a leste.
-
11:26 - 11:31Deve ter tido consciência de que vivia
um momento de rápida mudança, -
11:31 - 11:34de confiança crescente
no nosso continente. -
11:34 - 11:38Deve ter tido conhecimento
de novos estados -
11:38 - 11:40que estavam a criar a sua influência
-
11:40 - 11:45tão longe como o Grande Zimbabué
e os sultanatos suaíli, -
11:45 - 11:51envolvidos direta ou indiretamente
para além do próprio continente, -
11:52 - 11:54motivados também para investir
-
11:54 - 11:58na garantia do seu legado
intelectual e cultural. -
11:58 - 12:01Provavelmente envolveu-se no comércio
com essas nações homólogas -
12:01 - 12:05como parte de uma rede continental maciça
-
12:05 - 12:08de grandes economias africanas medievais.
-
12:08 - 12:11Tal como todos os grandes impérios,
-
12:11 - 12:17Sundiata Keita investiu na segurança
do seu legado ao longo da História, -
12:17 - 12:20usando a história
-
12:20 - 12:25— não apenas formalizando
a ideia de contar histórias, -
12:25 - 12:28mas construindo toda uma convenção
-
12:28 - 12:32de contar e voltar a contar a sua história
-
12:32 - 12:34como uma chave para fundar uma narrativa
-
12:34 - 12:36para o seu império.
-
12:36 - 12:39Estas histórias, em forma musical,
-
12:39 - 12:43ainda hoje são cantadas.
-
12:43 - 12:47Várias décadas depois
da morte de Sundiata, -
12:47 - 12:49subiu ao trono um novo rei,
-
12:49 - 12:53Mansa Musa, o seu imperador mais famoso.
-
12:53 - 12:56Mansa Mura é conhecido
pelas suas enormes reservas de ouro -
12:56 - 13:01e por enviar embaixadores
às cortes da Europa e do Médio Oriente. -
13:01 - 13:05Era tão ambicioso
como os seus antecessores, -
13:05 - 13:09mas via um tipo de caminho diferente
para garantir o seu lugar na História. -
13:10 - 13:13Em 1324, Mansa Musa
foi a Meca em peregrinação -
13:14 - 13:17e viajou com uma comitiva de milhares.
-
13:17 - 13:24Diz-se que 100 camelos
transportavam 50 quilos de ouro cada um. -
13:24 - 13:27Está registado que construiu
uma mesquita que funcionava plenamente -
13:27 - 13:29todas as sexta-feiras,
durante a sua viagem -
13:29 - 13:32e realizou tantos atos de caridade
-
13:33 - 13:36que o grande cronista berbere,
Ibn Battuta, escreveu: -
13:36 - 13:39"Inundou Cairo de boas ações,
-
13:39 - 13:43"gastando tanto nos mercados
do Norte de África e do Médio Oriente -
13:43 - 13:48"que afetou o preço do ouro
durante os 10 anos seguintes." -
13:48 - 13:50Quando regressou,
-
13:50 - 13:54Mansa Musa recordou a sua viagem
-
13:54 - 13:59construindo uma mesquita
no centro do seu império. -
14:00 - 14:04O legado do que nos deixou
— Tombuctu — -
14:04 - 14:09representa um dos grandes corpos
de material histórico escrito -
14:09 - 14:12produzido por eruditos africanos:
-
14:12 - 14:15cerca de 700 000 documentos medievais,
-
14:15 - 14:18que vão de obras académicas a cartas
-
14:18 - 14:21que têm sido preservadas
muitas vezes por famílias particulares. -
14:21 - 14:25No seu auge,
nos séculos XV e XVI, -
14:25 - 14:29a universidade ali era tão influente
-
14:29 - 14:32como qualquer instituição
de ensino na Europa, -
14:32 - 14:35atraindo cerca de 25 000 alunos.
-
14:35 - 14:38Isto numa cidade
de cerca de 100 000 pessoas. -
14:38 - 14:43Cimentou Tombuctu
como um centro mundial de ensino. -
14:44 - 14:48Mas era um tipo de ensino
muito especial -
14:48 - 14:51que se concentrava
e era movido pelo Islão. -
14:52 - 14:54Desde que visitei Tombuctu
pela primeira vez, -
14:54 - 14:57tenho visitado muitas outras
bibliotecas por toda a África, -
14:57 - 15:02e, apesar da opinião de Hegel
de que África não tem história, -
15:02 - 15:06não só é um continente
com uma abundância de História, -
15:06 - 15:12como desenvolveu sistemas sem rival
para a reunir e a promover. -
15:12 - 15:16Há milhares de pequenos arquivos,
pintados em tecidos -
15:16 - 15:21que se tornaram mais do que repositórios
de manuscritos e de cultura material. -
15:21 - 15:24Tornaram-se fontes
da narrativa comunal, -
15:24 - 15:27símbolos de continuidade.
-
15:27 - 15:30Estou convencido de que muitos
desses filósofos europeus -
15:30 - 15:33que questionaram uma tradição
intelectual africana -
15:33 - 15:37devem ter tido, para além
dos seus preconceitos, -
15:37 - 15:42a consciência da contribuição
dos intelectuais de África -
15:42 - 15:43para o conhecimento ocidental.
-
15:43 - 15:45Devem ter conhecido
-
15:45 - 15:47os grandes filósofos medievais
do Norte de África -
15:47 - 15:49que reinaram no Mediterrâneo.
-
15:50 - 15:53Devem ter conhecido,
ter tido conhecimento -
15:53 - 15:58dessa tradição que faz parte
do cristianismo, dos três reis magos. -
15:58 - 16:02E, no período medieval,
Baltazar, esse terceiro rei mago, -
16:02 - 16:05foi representado como um rei africano.
-
16:05 - 16:07E tornou-se muito conhecido
-
16:07 - 16:11como o terceiro pé intelectual
do ensino do Mundo Velho, -
16:11 - 16:15juntamente com a Europa e a Ásia,
como um igual. -
16:16 - 16:19Estas coisas eram bem conhecidas.
-
16:20 - 16:23Estas comunidades
não cresceram isoladas, -
16:23 - 16:26A riqueza e o poder de Tombuctu
desenvolveram-se -
16:26 - 16:29porque a cidade
tornou-se um eixo lucrativo -
16:29 - 16:31de rotas comerciais intercontinentais.
-
16:31 - 16:33Era um centro
-
16:34 - 16:36num continente sem fronteiras,
transcontinental, -
16:36 - 16:40ambicioso, focado para o exterior,
confiante. -
16:41 - 16:45Os mercadores berberes
transportavam sal e têxteis -
16:45 - 16:49e novas mercadorias preciosas
e conhecimentos para a África Ocidental -
16:49 - 16:51atravessando o deserto.
-
16:51 - 16:55Mas, como podemos ver neste mapa,
-
16:55 - 16:59isso aconteceu um pouco depois
da vida de Mansa Musa, -
16:59 - 17:04também havia uma rede
de rotas comerciais subsaarianas. -
17:04 - 17:07ao longo das quais as ideias
e as tradições africanas -
17:07 - 17:10se juntavam ao valor intelectual
de Tombuctu -
17:11 - 17:14e através do deserto para a Europa.
-
17:14 - 17:18Manuscritos e cultura material,
-
17:18 - 17:23tornaram-se fontes
da narrativa comunitária, -
17:23 - 17:25símbolos de continuidade.
-
17:25 - 17:30E estou convencido de que
esses intelectuais europeus -
17:30 - 17:34que lançaram calúnias
sobre a nossa História, -
17:34 - 17:38conheciam fundamentalmente
as nossas tradições. -
17:38 - 17:43Hoje, quando forças estridentes
como Ansar Dine e Boko Haram -
17:43 - 17:45têm influência crescente
na África Ocidental, -
17:45 - 17:50é esse espírito de desafio indígena,
dinâmico e intelectual -
17:50 - 17:53que mantém as antigas tradições
a bom recato. -
17:53 - 17:57Quando Mansa Musa fez de Tombuctu
a sua capital, -
17:57 - 18:01olhou para a cidade
como um Medici olhava para Florença: -
18:01 - 18:06como o centro de um império
empresarial aberto e intelectual -
18:06 - 18:09que prosperava com ótimas ideias
de onde quer que elas surgissem. -
18:09 - 18:11A cidade, a cultura,
-
18:11 - 18:14o próprio ADN intelectual
desta região -
18:15 - 18:18mantém-se estupendamente
tão complexo e diversificado, -
18:18 - 18:21que se manterá sempre, em parte,
-
18:21 - 18:24situado nas tradições
dos contadores de histórias -
18:24 - 18:27que surgem das tradições
pré-islâmicas indígenas. -
18:27 - 18:31A forma de grande êxito do Islão
que evoluiu no Mali -
18:31 - 18:35tornou-se popular porque aceitava
essas liberdades -
18:35 - 18:37e essa diversidade cultural inerente.
-
18:37 - 18:40A celebração dessa complexidade,
-
18:40 - 18:44esse amor do discurso
rigorosamente contestado, -
18:44 - 18:46dessa apreciação da narrativa,
-
18:46 - 18:49era e mantém-se,
contra tudo e contra todos, -
18:49 - 18:52o verdadeiro coração
da África Ocidental. -
18:52 - 18:57Hoje, quando os santuários
e a mesquita vandalizados por Ansar Dine -
18:57 - 18:58já foram reconstruídos
-
18:58 - 19:02e muitos dos instigadores
dessa destruição foram encarcerados, -
19:02 - 19:05restam-nos poderosas lições,
-
19:05 - 19:09que nos voltaram a recordar
como a nossa história e narrativa -
19:09 - 19:13manteve unidas as comunidades
durante milénios, -
19:13 - 19:15como se mantêm vitais
-
19:15 - 19:18para se compreender a África moderna.
-
19:18 - 19:20Também nos recordam
-
19:20 - 19:24como as raízes desta África confiante,
intelectual, empreendedora, -
19:24 - 19:29virada para o exterior,
porosa culturalmente, livre de impostos -
19:29 - 19:32foi outrora a inveja do mundo.
-
19:32 - 19:35Mas essas raízes mantêm-se.
-
19:35 - 19:36Muito obrigado.
-
19:36 - 19:40(Aplausos)
- Title:
- As poderosas histórias que modelaram a África
- Speaker:
- Gus Casely-Hayford
- Description:
-
Na vasta passagem rápida da História, até um império pode cair no esquecimento. Nesta palestra abrangente, Gus Casely-Hayford conta-nos histórias da origem da África que, com demasiada frequência, não são escritas, e que se perdem, desconhecidas. Viajem até ao Grande Zimbabué, a antiga cidade cujas origens misteriosas e arquitetura avançada continuam a confundir os arqueólogos. Ou até à época de Mansa Musa, o governante do Império Mali cuja enorme riqueza criou as lendárias bibliotecas de Tombuctu. E reflitam sobre que outras lições da História podemos ignorar involuntariamente.
- Video Language:
- English
- Team:
- closed TED
- Project:
- TEDTalks
- Duration:
- 19:54
Margarida Ferreira approved Portuguese subtitles for The powerful stories that shaped Africa | ||
Margarida Ferreira edited Portuguese subtitles for The powerful stories that shaped Africa | ||
Isabel Vaz Belchior accepted Portuguese subtitles for The powerful stories that shaped Africa | ||
Isabel Vaz Belchior edited Portuguese subtitles for The powerful stories that shaped Africa | ||
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