O que os médicos deviam saber sobre identidade de género
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0:01 - 0:04Ao fim de uns seis meses
da minha carreira como terapeuta, -
0:04 - 0:07eu estava trabalhando numa clínica
de reabilitação de drogas e álcool, -
0:07 - 0:11e recebi uma chamada de uma enfermeira
da unidade de desintoxicação. -
0:11 - 0:14Ela me pediu para avaliar
uma das novas pacientes -
0:14 - 0:16que tinha chegado mais cedo naquele dia.
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0:16 - 0:19Então fui àquela unidade
e tive o prazer de conhecer Anne. -
0:19 - 0:22Anne é uma mulher transexual,
e quando começamos a conversar, -
0:22 - 0:25ela começou a me contar
o que a tinha levado ao tratamento, -
0:25 - 0:28mas eu sentia o medo em sua voz
-
0:28 - 0:30e também via a preocupação nos seus olhos.
-
0:31 - 0:34Começou a dizer que não tinha medo
de frequentar um centro de reabilitação -
0:34 - 0:36e de ter de abandonar drogas e álcool.
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0:36 - 0:39O medo dela era que os médicos
que a tratariam -
0:39 - 0:41não a tratassem como uma mulher.
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0:41 - 0:45Contou-me o sofrimento permanente
que tem suportado a vida toda -
0:45 - 0:49de a tratarem como homem,
sabendo que ela é uma mulher. -
0:49 - 0:51O que ela queria dizer com isso
é que, quando nascera, -
0:51 - 0:53o médico apresentara-a aos pais
-
0:53 - 0:55e, com base nos genitais, dissera:
-
0:55 - 0:57"É um menino".
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0:57 - 0:59Ela sempre soubera que não era um menino.
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1:00 - 1:03Passaram-se muitos anos
e os sentimentos que ela sentia -
1:03 - 1:05de lidar com tudo isso, iam aumentando
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1:05 - 1:08até que percebeu que tinha
de contar tudo à família. -
1:08 - 1:10Quando o fez, as coisas
não correram muito bem. -
1:10 - 1:13Os pais dela disseram:
"Nem pensar. Você não é uma garota." -
1:13 - 1:16"Não foi assim que te criámos.
Não sabemos o que é que está pensando. -
1:16 - 1:18"Desaparece!"
-
1:18 - 1:22Anne encontrou-se na rua,
vivendo em abrigos para indigentes. -
1:22 - 1:25Foi nessa altura que começou
a consumir drogas e álcool -
1:25 - 1:27para esquecer aquela dor
que sentia por dentro. -
1:28 - 1:32Falou-me da sua longa caminhada
em hospitais e centros de reabilitação -
1:32 - 1:33tentando manter-se sóbria.
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1:33 - 1:36Quando se submetia a cuidados médicos,
-
1:36 - 1:39os profissionais de saúde não usavam
os nomes e pronomes femininos corretos. -
1:39 - 1:41Isso lhe causava muito sofrimento.
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1:41 - 1:44Quando estava estudando para me
tornar uma terapeuta, -
1:44 - 1:47não me ensinaram a trabalhar
com pacientes transexuais. -
1:47 - 1:50Eu não fazia ideia de que seria com eles
que viria a trabalhar. -
1:51 - 1:54Mas o quanto mais trabalhava com Anne
e outros pacientes como ela, -
1:54 - 1:57mais via a minha missão evoluir
-
1:57 - 2:00para assegurar que a comunidade transexual
-
2:00 - 2:02teria os cuidados de saúde
de que necessitava. -
2:02 - 2:07Quanto mais eu observava isso,
melhor via até que ponto este medo real -
2:07 - 2:10da violência, da discriminação
e da falta de aceitação -
2:10 - 2:14fazia com que estes pacientes se virassem
para o álcool e para as drogas -
2:15 - 2:17Também ouvia histórias de terror
-
2:17 - 2:20de quando estes pacientes
procuravam assistência médica -
2:20 - 2:22e de como eram tratados,
-
2:22 - 2:25e como eram ignoradas
muitas das suas necessidades médicas. -
2:25 - 2:28Agora vou falar um pouco sobre a Leah.
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2:28 - 2:30Tive o prazer de conhecer
a Leah há uns anos. -
2:31 - 2:34É uma mulher que tem
uma esposa e uma filha. -
2:35 - 2:38A Leah também foi considerada
um garoto quando nasceu -
2:38 - 2:42e desde muito cedo percebeu
que não era um garoto, -
2:42 - 2:43mas sim uma garota.
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2:44 - 2:47Escondeu isso de todos que conhecia
-
2:47 - 2:50especialmente da sua mulher
até aos 50 anos. -
2:50 - 2:52Mas não conseguiu aguentar mais.
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2:52 - 2:54Achou que não podia
continuar a viver assim. -
2:54 - 2:55Tinha de ser honesta.
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2:55 - 2:58Estava cheia de medo
de contar à sua mulher. -
2:58 - 2:59E se a mulher lhe dissesse:
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2:59 - 3:02"Isso é inaceitável. Eu quero o divórcio."
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3:02 - 3:06Para sua surpresa, a mulher
aceitou e disse-lhe: -
3:06 - 3:08" Te amo, independentemente de quem seja.
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3:08 - 3:11"Quero te ajudar em tudo o que puder."
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3:11 - 3:13Então Leah falou com a mulher
-
3:13 - 3:16e tomou a decisão de realizar
uma transição médica. -
3:17 - 3:20Queria ser avaliada
para a terapia de substituição hormonal, -
3:20 - 3:22conhecida por TSH.
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3:23 - 3:25Marcou uma consulta com o médico dela.
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3:26 - 3:28Chegou cedo no dia da consulta,
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3:28 - 3:30preencheu toda a papelada,
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3:30 - 3:33escreveu o nome dela corretamente
e esperou pacientemente. -
3:34 - 3:38Passado um tempo, a enfermeira a
chamou para a sala de exames. -
3:38 - 3:41Quando ela lá chegou,
respirou fundo, -
3:41 - 3:43e o médico e a enfermeira entraram.
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3:44 - 3:48Ela estendeu a mão para o médico
e disse: "Olá, eu sou a Leah. " -
3:48 - 3:51O médico olhou para ela,
não lhe apertou a mão e disse: -
3:51 - 3:53"Porque é que está aqui?”
-
3:54 - 3:56Ela respirou fundo e disse:
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3:57 - 3:59"Eu sou uma mulher transexual.
-
3:59 - 4:02"Soube disso por toda vida.
Escondi isso de toda a gente. -
4:02 - 4:04"Mas já não posso continuar assim.
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4:04 - 4:07"A minha mulher é solidária comigo,
podemos bancar o procedimento. -
4:07 - 4:09"Tenho de fazer esta mudança.
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4:09 - 4:12"Por favor, avalie-me para a terapia
de substituição hormonal." -
4:12 - 4:14O médico disse:
"Não podemos fazer nada hoje. -
4:14 - 4:16"Precisa de fazer um teste de HIV."
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4:18 - 4:19Ela não podia acreditar naquilo.
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4:19 - 4:21Ficou furiosa.
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4:21 - 4:23Ficou irritada. Ficou decepcionada.
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4:23 - 4:27Se o médico dela a tratara assim,
como é que o resto do mundo a trataria? -
4:27 - 4:30Primeiro, o médico
nem sequer apertou a sua mão. -
4:30 - 4:33E segundo, quando ele ouviu
que ela era uma transexual, -
4:33 - 4:36só se preocupou em conseguir
um teste de VIH e acabar com a consulta. -
4:36 - 4:38Nem sequer lhe fez outras perguntas.
-
4:39 - 4:41Eu posso perceber
de onde a Leah vem, -
4:41 - 4:44porque, durante os anos
que trabalhei com a comunidade, -
4:44 - 4:48ouço todos os dias mitos
que não são verdade. -
4:48 - 4:51Uns destes mitos é que
todas as pessoas transexuais -
4:51 - 4:54querem fazer a transição
com medicação ou cirurgia; -
4:54 - 4:57que os transexuais são doentes mentais,
isso é um distúrbio; -
4:57 - 5:00que essas pessoas
não são homens nem mulheres. -
5:00 - 5:03Tudo isso são mitos e mentiras.
-
5:03 - 5:07À medida que esta comunidade
se vai expandindo e envelhecendo, -
5:07 - 5:10é imperativo que todos os prestadores
de serviços médicos tenham formação -
5:10 - 5:13em como lhes prestar cuidados de saúde..
-
5:13 - 5:15Em 2015, um estudo foi realizado
-
5:15 - 5:18e se descobriu que 72%
dos profissionais da área de saúde -
5:18 - 5:21não se sentiam bem informados
-
5:21 - 5:24sobre as necessidades de cuidados de saúde
para a comunidade LGBT. -
5:25 - 5:28Há um fosso enorme
no ensino e na formação. -
5:29 - 5:31Hoje aqui, nesta palestra,
-
5:31 - 5:34quero propor uma nova forma de pensar
para três grupos de pessoas: -
5:34 - 5:38médicos, comunidade transexual
e todos os restantes. -
5:38 - 5:41Mas, antes de o fazer, quero
referir uma série de definições -
5:41 - 5:45que nos vão ajudar a abrir a cabeça
um pouco mais sobre identidade de gênero. -
5:45 - 5:48Espero que tenham papel e lápis,
Preparem-se para tomar umas notas. -
5:49 - 5:51Comecemos com a ideia
de um sistema binário. -
5:52 - 5:53E isso significa que,
-
5:53 - 5:56antes, pensávamos haver apenas dois sexos,
masculino e feminino. -
5:56 - 5:58De acordo? Binário? Certo?
-
5:58 - 6:00Mas acabámos por descobrir
que isso não é verdade. -
6:01 - 6:03A identidade de gênero é um espetro
-
6:03 - 6:06que põe o masculino numa ponta
-
6:06 - 6:08e o feminino aqui na outra ponta.
-
6:08 - 6:10Este espetro de identidades
-
6:10 - 6:14inclui identidades como
a não conformidade de gênero, -
6:14 - 6:15a afirmação de gênero,
-
6:15 - 6:17o gênero não binário,
-
6:17 - 6:19"dois-espíritos", "três-espíritos",
-
6:19 - 6:21assim como pessoas que são intersexuais.
-
6:21 - 6:24O termo "transexual" é um termo genérico
-
6:24 - 6:27que abrange todos estes
diferentes tipos de identidade. -
6:28 - 6:31Mas, para a palestra de hoje,
quero que pensem num transexual -
6:31 - 6:34como alguém a quem atribuem
um sexo ao nascer -
6:34 - 6:36que não corresponde ao que ela é
enquanto pessoa -
6:36 - 6:38e com aquilo que ela sente.
-
6:38 - 6:40Isto é muito diferente
do sexo biológico. -
6:40 - 6:43A identidade de gênero
é o sentimento de nós mesmos. -
6:43 - 6:45Pensem nisso como
o que está entre as nossas orelhas: -
6:45 - 6:48o sentimento de nós mesmos,
de quem nós somos. -
6:48 - 6:50É muito diferente
de sexo biológico, não é? -
6:50 - 6:52Hormônios, genitais, cromossomos:
-
6:52 - 6:54isso é o que existe entre as pernas.
-
6:55 - 6:59Agora vocês podem estar pensando: "Dra.
Kristie, nunca questionei quem sou. -
6:59 - 7:02"Sei que sou um homem,
sei que sou uma mulher." -
7:02 - 7:04Eu sei. Vocês sabem quem são.
-
7:04 - 7:07É como muitos indivíduos
transexuais se sentem. -
7:07 - 7:11Eles sabem quem são,
com essa mesma convicção -
7:12 - 7:15É importante saber que há
muitos tipos diferentes de identidades -
7:15 - 7:19e eu identifico-me
como uma mulher cisgênero. -
7:19 - 7:22Para todos vocês que gostam
de saber do que é que falam, -
7:22 - 7:24cis escreve-se "c-i-s".
-
7:25 - 7:28É o termo latino para
"quem está do mesmo lado". -
7:28 - 7:29Quando eu nasci,
-
7:29 - 7:31o médico mostrou-me
aos meus pais e disse: -
7:31 - 7:33"É uma menina."
-
7:33 - 7:35Isto, com base nos meus genitais.
-
7:35 - 7:38Apesar de eu ter nascido
numa pequena cidade rural na Geórgia, -
7:38 - 7:40como uma menina levada,
-
7:41 - 7:43nunca pus em dúvida que era uma garota.
-
7:43 - 7:45Sempre soube que era uma garota,
-
7:45 - 7:48independentemente do modo
que era enquanto criança. -
7:48 - 7:50Isto é muito diferente
do que uma pessoa transexual. -
7:50 - 7:53Trans é um termo latino
para "do outro lado de" -
7:54 - 7:56— pensem nas companhias
de aviação transcontinentais, -
7:56 - 7:58que atravessam, que estão do outro lado —
-
7:58 - 8:01alguém a quem se atribui um sexo
quando do nascimento -
8:01 - 8:03e se identificam
do outro lado do espetro. -
8:04 - 8:08Um homem transexual é alguém
classificado como mulher ao nascer, -
8:08 - 8:11mas que tem o sentimento
de quem é, de como vive a sua vida, -
8:11 - 8:13como um homem.
-
8:13 - 8:15E o oposto é, como já dissemos,
-
8:15 - 8:18uma mulher transexual, alguém
que foi considerada homem, ao nascer, -
8:18 - 8:21mas que vive a sua vida
e tem o sentimento de ser uma mulher. -
8:21 - 8:23Também é importante sublinhar aqui
-
8:23 - 8:26que nem todo mundo
que tem uma identidade não binária -
8:26 - 8:28se identifica com o termo "transexual".
-
8:28 - 8:33Para que ninguém se sinta confuso,
vou esclarecer o que é a identidade sexual -
8:33 - 8:34ou a orientação.
-
8:34 - 8:37Isso significa apenas
por quem nos sentimos atraídos, -
8:37 - 8:40física, emocional,
sexual, espiritualmente. -
8:41 - 8:43Não tem nada a ver
com identidade de gênero. -
8:43 - 8:45Para uma recapitulação rápida,
antes de continuarmos, -
8:45 - 8:48a identidade de gênero
está entre as orelhas, -
8:48 - 8:50o sexo biológico, pensem nisso
entre as pernas -
8:50 - 8:53e quanto à identidade sexual,
por vezes usamos o coração, -
8:53 - 8:54mas está aqui.
-
8:55 - 8:57Três espetros de identidade
muito diferentes. -
8:59 - 9:02O estudante de medicina padrão
-
9:02 - 9:06tem apenas cinco horas de estudos voltados
para as necessidades da comunidade LGBT -
9:07 - 9:09durante o curso de medicina.
-
9:09 - 9:12Isto, apesar de sabermos
que há riscos de saúde especiais -
9:12 - 9:14para esta comunidade.
-
9:15 - 9:19Há cerca de 10 milhões
de norte-americanos adultos -
9:19 - 9:21que se identificam como LGBT.
-
9:22 - 9:25A maioria dos médicos que trabalham com
pacientes transexuais -
9:25 - 9:27aprende da pior maneira possível.
-
9:27 - 9:30Isso significa que vão aprendendo
à medida que praticam -
9:30 - 9:32ou os pacientes acabam
por gastar o seu tempo -
9:33 - 9:35tentando ensinar o médico
como tratar deles. -
9:35 - 9:39Muitos médicos mostram desconforto em
perguntar sobre identidade de gênero. -
9:39 - 9:42Alguns acham que não é relevante
para os cuidados médicos -
9:42 - 9:45e outros não querem dizer coisas erradas.
-
9:46 - 9:49Muitos médicos que dizem
coisas desadequadas -
9:49 - 9:51ou dizem qualquer coisa negativa,
-
9:51 - 9:54podem não estar sendo maliciosos
ou malévolos, -
9:54 - 9:57podem nunca ter tido formação
para tratar destas pessoas. -
9:58 - 10:01Mas isso também já não pode
ser aceite como uma norma. -
10:02 - 10:05O que é que acontece a um homem transexual
-
10:06 - 10:09— para recapitular, uma pessoa
considerada mulher ao nascer, -
10:09 - 10:11mas que vive como um homem —
-
10:11 - 10:15o que acontece quando um homem transexual
vai à sua consulta ginecológica anual? -
10:17 - 10:19A forma como o médico tratar este paciente
-
10:19 - 10:22definirá todo o tom
para o resto da consulta. -
10:22 - 10:26Se o médico tratar aquele homem
com os pronomes ou os nomes corretos, -
10:26 - 10:28confere-lhe dignidade e respeito,
-
10:28 - 10:31o que muito provavelmente
também será feito pelo resto do pessoal. -
10:32 - 10:35Isto é um pouco aquilo
que eu penso dos médicos. -
10:35 - 10:37Agora passemos para
a comunidade transexual. -
10:37 - 10:39Estou falando do medo,
-
10:40 - 10:42e todos sabem quem é
que tem esse medo, não é? -
10:43 - 10:45É a comunidade transexual.
-
10:45 - 10:47Já contei para vocês a história da Anne
-
10:47 - 10:49e como ela tinha tanto medo
de fazer um tratamento -
10:49 - 10:52e não ser respeitada como mulher.
-
10:52 - 10:55Também falei de Leah que tinha medo
de como o médico ia reagir -
10:55 - 10:57e no momento em que ele
não lhe apertou a mão -
10:57 - 11:00e mandou fazer o teste de HIV,
o medo dela confirmou-se. -
11:01 - 11:04A comunidade transexual
precisa de ter a possibilidade -
11:04 - 11:06de exigir os cuidados de saúde
de que precisa. -
11:06 - 11:10Acabaram-se os dias de ficarem em silêncio
e de aceitarem qualquer tratamento. -
11:11 - 11:14Se não exigirem os cuidados
de saúde de que precisam -
11:14 - 11:16ninguém vai fazer isso por vocês.
-
11:17 - 11:19E quanto a todos os outros?
-
11:20 - 11:23Muitos de nós, talvez já na próxima semana
ou dentro de meses, -
11:23 - 11:26vão ter uma consulta no médico, não é?
-
11:26 - 11:28Digamos que vão à consulta do médico
-
11:28 - 11:30e quando ela acaba
-
11:30 - 11:33sentem-se pior do que quando entraram.
-
11:33 - 11:35O que sentiriam se o médico
não desse importância -
11:35 - 11:37e ignorasse as suas necessidades
-
11:37 - 11:40ou se vocês se sentissem julgados?
-
11:41 - 11:44É o que acontece a muitos dos
1,4 milhões de adultos transexuais -
11:44 - 11:46aqui nos EUA.
-
11:47 - 11:49isto se tiverem a sorte
de arranjarem uma consulta. -
11:50 - 11:52Vocês devem estar pensando:
-
11:52 - 11:54"Porque é que isso é importante para mim?
-
11:54 - 11:57"Eu não sou transexual, não conheço
ninguém que seja transexual. -
11:57 - 11:59"Porque é que devo me preocupar?"
-
11:59 - 12:03Pensem assim: Um transexual
é um ser humano, -
12:03 - 12:04tal como vocês e como eu.
-
12:04 - 12:08Tem direito a prestadores de cuidados
de saúde competentes e com formação, -
12:08 - 12:10tal como vocês e como eu.
-
12:10 - 12:13Portanto, pergunto
— e peço que levantem a mão: -
12:13 - 12:17Conhecem ou já encontraram um transexual,
um inconformado com o seu gênero, -
12:17 - 12:21um intersexual, um dois-espíritos,
um três-espíritos? -
12:21 - 12:23Obrigada. Encantador. Obrigado a todos.
-
12:24 - 12:27Todos aqueles que não levantaram a mão
-
12:27 - 12:29num futuro muito próximo
-
12:29 - 12:31terão a oportunidade de encontrar alguém
-
12:31 - 12:34que corresponde a uma
destas identidades, posso garantir. -
12:34 - 12:37Os números desta comunidade
estão aumentando. -
12:37 - 12:41Não porque seja moda
ou uma coisa nova. -
12:41 - 12:43É mais seguro assumir-se.
-
12:44 - 12:46Há mais consciência.
Há mais visibilidade. -
12:47 - 12:50Há mais segurança, por isso
as pessoas falam do seu verdadeiro eu -
12:50 - 12:52como nunca falaram.
-
12:52 - 12:56É por isso que é tão importante
que o nosso sistema de saúde o reconheça -
12:56 - 13:00e garanta que os médicos
e os prestadores de cuidados -
13:00 - 13:03têm formação para abordar estes pacientes
com dignidade e respeito. -
13:03 - 13:05tal como é de se esperar.
-
13:07 - 13:10Lembro-me de estar na aula
de literatura do 11.º ano -
13:10 - 13:12com um dos meus professores
preferidos, Mr. McClain. -
13:13 - 13:16Ele leu-nos esta citação de Heráclito
que mantenho presente até hoje: -
13:16 - 13:18Talvez já a conheçam.
-
13:18 - 13:21"A única coisa que é constante
é que as coisas mudam." -
13:23 - 13:24É conhecida, não é?
-
13:25 - 13:28Todos nós enfrentamos
mudanças na nossa vida -
13:29 - 13:31e, frequentemente, quando
enfrentamos essas mudanças, -
13:31 - 13:33temos de tomar
algumas decisões difíceis. -
13:34 - 13:38Ficamos presos ao nosso medo,
e não evoluímos ? -
13:39 - 13:43Ou enfrentamos esse medo com coragem,
-
13:43 - 13:46evoluímos, aproveitamos
a oportunidade para melhorar? -
13:47 - 13:50Todos vocês vão enfrentar coisas novas.
-
13:50 - 13:52O que é que vão fazer?
-
13:52 - 13:54Vão ficar cheios de medo,
-
13:54 - 13:56ou vão evoluir?
-
13:57 - 14:01Convido a todos, médicos,
comunidade transexual, -
14:01 - 14:02cada um de vocês, e eu,
-
14:02 - 14:04a enfrentarmos juntos esse medo
-
14:04 - 14:07à medida que entramos
este bravo mundo novo. -
14:07 - 14:08Obrigada.
-
14:08 - 14:11(Aplausos)
- Title:
- O que os médicos deviam saber sobre identidade de género
- Speaker:
- Kristie Overstreet
- Description:
-
Kristie Overstreet tem a missão de garantir que a comunidade transexual recebe os cuidados de saúde de que precisa. Nesta palestra informadora, que desmonta mitos, ela proporciona um manual para compreender a identidade de género e convida-nos a mudar a forma como encaramos os cuidados de saúde para os transexuais — para que todos tenham o respeito e a dignidade que merecem quando vão ao médico.
- Video Language:
- English
- Team:
- closed TED
- Project:
- TEDTalks
- Duration:
- 14:25
Margarida Ferreira approved Portuguese subtitles for What doctors should know about gender identity | ||
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