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O que os médicos deviam saber sobre identidade de género

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    Ao fim de uns seis meses
    da minha carreira como terapeuta,
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    eu estava trabalhando numa clínica
    de reabilitação de drogas e álcool,
  • 0:07 - 0:11
    e recebi uma chamada de uma enfermeira
    da unidade de desintoxicação.
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    Ela me pediu para avaliar
    uma das novas pacientes
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    que tinha chegado mais cedo naquele dia.
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    Então fui àquela unidade
    e tive o prazer de conhecer Anne.
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    Anne é uma mulher transexual,
    e quando começamos a conversar,
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    ela começou a me contar
    o que a tinha levado ao tratamento,
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    mas eu sentia o medo em sua voz
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    e também via a preocupação nos seus olhos.
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    Começou a dizer que não tinha medo
    de frequentar um centro de reabilitação
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    e de ter de abandonar drogas e álcool.
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    O medo dela era que os médicos
    que a tratariam
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    não a tratassem como uma mulher.
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    Contou-me o sofrimento permanente
    que tem suportado a vida toda
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    de a tratarem como homem,
    sabendo que ela é uma mulher.
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    O que ela queria dizer com isso
    é que, quando nascera,
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    o médico apresentara-a aos pais
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    e, com base nos genitais, dissera:
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    "É um menino".
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    Ela sempre soubera que não era um menino.
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    Passaram-se muitos anos
    e os sentimentos que ela sentia
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    de lidar com tudo isso, iam aumentando
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    até que percebeu que tinha
    de contar tudo à família.
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    Quando o fez, as coisas
    não correram muito bem.
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    Os pais dela disseram:
    "Nem pensar. Você não é uma garota."
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    "Não foi assim que te criámos.
    Não sabemos o que é que está pensando.
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    "Desaparece!"
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    Anne encontrou-se na rua,
    vivendo em abrigos para indigentes.
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    Foi nessa altura que começou
    a consumir drogas e álcool
  • 1:25 - 1:27
    para esquecer aquela dor
    que sentia por dentro.
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    Falou-me da sua longa caminhada
    em hospitais e centros de reabilitação
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    tentando manter-se sóbria.
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    Quando se submetia a cuidados médicos,
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    os profissionais de saúde não usavam
    os nomes e pronomes femininos corretos.
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    Isso lhe causava muito sofrimento.
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    Quando estava estudando para me
    tornar uma terapeuta,
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    não me ensinaram a trabalhar
    com pacientes transexuais.
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    Eu não fazia ideia de que seria com eles
    que viria a trabalhar.
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    Mas o quanto mais trabalhava com Anne
    e outros pacientes como ela,
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    mais via a minha missão evoluir
  • 1:57 - 2:00
    para assegurar que a comunidade transexual
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    teria os cuidados de saúde
    de que necessitava.
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    Quanto mais eu observava isso,
    melhor via até que ponto este medo real
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    da violência, da discriminação
    e da falta de aceitação
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    fazia com que estes pacientes se virassem
    para o álcool e para as drogas
  • 2:15 - 2:17
    Também ouvia histórias de terror
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    de quando estes pacientes
    procuravam assistência médica
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    e de como eram tratados,
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    e como eram ignoradas
    muitas das suas necessidades médicas.
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    Agora vou falar um pouco sobre a Leah.
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    Tive o prazer de conhecer
    a Leah há uns anos.
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    É uma mulher que tem
    uma esposa e uma filha.
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    A Leah também foi considerada
    um garoto quando nasceu
  • 2:38 - 2:42
    e desde muito cedo percebeu
    que não era um garoto,
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    mas sim uma garota.
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    Escondeu isso de todos que conhecia
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    especialmente da sua mulher
    até aos 50 anos.
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    Mas não conseguiu aguentar mais.
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    Achou que não podia
    continuar a viver assim.
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    Tinha de ser honesta.
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    Estava cheia de medo
    de contar à sua mulher.
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    E se a mulher lhe dissesse:
  • 2:59 - 3:02
    "Isso é inaceitável. Eu quero o divórcio."
  • 3:02 - 3:06
    Para sua surpresa, a mulher
    aceitou e disse-lhe:
  • 3:06 - 3:08
    " Te amo, independentemente de quem seja.
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    "Quero te ajudar em tudo o que puder."
  • 3:11 - 3:13
    Então Leah falou com a mulher
  • 3:13 - 3:16
    e tomou a decisão de realizar
    uma transição médica.
  • 3:17 - 3:20
    Queria ser avaliada
    para a terapia de substituição hormonal,
  • 3:20 - 3:22
    conhecida por TSH.
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    Marcou uma consulta com o médico dela.
  • 3:26 - 3:28
    Chegou cedo no dia da consulta,
  • 3:28 - 3:30
    preencheu toda a papelada,
  • 3:30 - 3:33
    escreveu o nome dela corretamente
    e esperou pacientemente.
  • 3:34 - 3:38
    Passado um tempo, a enfermeira a
    chamou para a sala de exames.
  • 3:38 - 3:41
    Quando ela lá chegou,
    respirou fundo,
  • 3:41 - 3:43
    e o médico e a enfermeira entraram.
  • 3:44 - 3:48
    Ela estendeu a mão para o médico
    e disse: "Olá, eu sou a Leah. "
  • 3:48 - 3:51
    O médico olhou para ela,
    não lhe apertou a mão e disse:
  • 3:51 - 3:53
    "Porque é que está aqui?”
  • 3:54 - 3:56
    Ela respirou fundo e disse:
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    "Eu sou uma mulher transexual.
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    "Soube disso por toda vida.
    Escondi isso de toda a gente.
  • 4:02 - 4:04
    "Mas já não posso continuar assim.
  • 4:04 - 4:07
    "A minha mulher é solidária comigo,
    podemos bancar o procedimento.
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    "Tenho de fazer esta mudança.
  • 4:09 - 4:12
    "Por favor, avalie-me para a terapia
    de substituição hormonal."
  • 4:12 - 4:14
    O médico disse:
    "Não podemos fazer nada hoje.
  • 4:14 - 4:16
    "Precisa de fazer um teste de HIV."
  • 4:18 - 4:19
    Ela não podia acreditar naquilo.
  • 4:19 - 4:21
    Ficou furiosa.
  • 4:21 - 4:23
    Ficou irritada. Ficou decepcionada.
  • 4:23 - 4:27
    Se o médico dela a tratara assim,
    como é que o resto do mundo a trataria?
  • 4:27 - 4:30
    Primeiro, o médico
    nem sequer apertou a sua mão.
  • 4:30 - 4:33
    E segundo, quando ele ouviu
    que ela era uma transexual,
  • 4:33 - 4:36
    só se preocupou em conseguir
    um teste de VIH e acabar com a consulta.
  • 4:36 - 4:38
    Nem sequer lhe fez outras perguntas.
  • 4:39 - 4:41
    Eu posso perceber
    de onde a Leah vem,
  • 4:41 - 4:44
    porque, durante os anos
    que trabalhei com a comunidade,
  • 4:44 - 4:48
    ouço todos os dias mitos
    que não são verdade.
  • 4:48 - 4:51
    Uns destes mitos é que
    todas as pessoas transexuais
  • 4:51 - 4:54
    querem fazer a transição
    com medicação ou cirurgia;
  • 4:54 - 4:57
    que os transexuais são doentes mentais,
    isso é um distúrbio;
  • 4:57 - 5:00
    que essas pessoas
    não são homens nem mulheres.
  • 5:00 - 5:03
    Tudo isso são mitos e mentiras.
  • 5:03 - 5:07
    À medida que esta comunidade
    se vai expandindo e envelhecendo,
  • 5:07 - 5:10
    é imperativo que todos os prestadores
    de serviços médicos tenham formação
  • 5:10 - 5:13
    em como lhes prestar cuidados de saúde..
  • 5:13 - 5:15
    Em 2015, um estudo foi realizado
  • 5:15 - 5:18
    e se descobriu que 72%
    dos profissionais da área de saúde
  • 5:18 - 5:21
    não se sentiam bem informados
  • 5:21 - 5:24
    sobre as necessidades de cuidados de saúde
    para a comunidade LGBT.
  • 5:25 - 5:28
    Há um fosso enorme
    no ensino e na formação.
  • 5:29 - 5:31
    Hoje aqui, nesta palestra,
  • 5:31 - 5:34
    quero propor uma nova forma de pensar
    para três grupos de pessoas:
  • 5:34 - 5:38
    médicos, comunidade transexual
    e todos os restantes.
  • 5:38 - 5:41
    Mas, antes de o fazer, quero
    referir uma série de definições
  • 5:41 - 5:45
    que nos vão ajudar a abrir a cabeça
    um pouco mais sobre identidade de gênero.
  • 5:45 - 5:48
    Espero que tenham papel e lápis,
    Preparem-se para tomar umas notas.
  • 5:49 - 5:51
    Comecemos com a ideia
    de um sistema binário.
  • 5:52 - 5:53
    E isso significa que,
  • 5:53 - 5:56
    antes, pensávamos haver apenas dois sexos,
    masculino e feminino.
  • 5:56 - 5:58
    De acordo? Binário? Certo?
  • 5:58 - 6:00
    Mas acabámos por descobrir
    que isso não é verdade.
  • 6:01 - 6:03
    A identidade de gênero é um espetro
  • 6:03 - 6:06
    que põe o masculino numa ponta
  • 6:06 - 6:08
    e o feminino aqui na outra ponta.
  • 6:08 - 6:10
    Este espetro de identidades
  • 6:10 - 6:14
    inclui identidades como
    a não conformidade de gênero,
  • 6:14 - 6:15
    a afirmação de gênero,
  • 6:15 - 6:17
    o gênero não binário,
  • 6:17 - 6:19
    "dois-espíritos", "três-espíritos",
  • 6:19 - 6:21
    assim como pessoas que são intersexuais.
  • 6:21 - 6:24
    O termo "transexual" é um termo genérico
  • 6:24 - 6:27
    que abrange todos estes
    diferentes tipos de identidade.
  • 6:28 - 6:31
    Mas, para a palestra de hoje,
    quero que pensem num transexual
  • 6:31 - 6:34
    como alguém a quem atribuem
    um sexo ao nascer
  • 6:34 - 6:36
    que não corresponde ao que ela é
    enquanto pessoa
  • 6:36 - 6:38
    e com aquilo que ela sente.
  • 6:38 - 6:40
    Isto é muito diferente
    do sexo biológico.
  • 6:40 - 6:43
    A identidade de gênero
    é o sentimento de nós mesmos.
  • 6:43 - 6:45
    Pensem nisso como
    o que está entre as nossas orelhas:
  • 6:45 - 6:48
    o sentimento de nós mesmos,
    de quem nós somos.
  • 6:48 - 6:50
    É muito diferente
    de sexo biológico, não é?
  • 6:50 - 6:52
    Hormônios, genitais, cromossomos:
  • 6:52 - 6:54
    isso é o que existe entre as pernas.
  • 6:55 - 6:59
    Agora vocês podem estar pensando: "Dra.
    Kristie, nunca questionei quem sou.
  • 6:59 - 7:02
    "Sei que sou um homem,
    sei que sou uma mulher."
  • 7:02 - 7:04
    Eu sei. Vocês sabem quem são.
  • 7:04 - 7:07
    É como muitos indivíduos
    transexuais se sentem.
  • 7:07 - 7:11
    Eles sabem quem são,
    com essa mesma convicção
  • 7:12 - 7:15
    É importante saber que há
    muitos tipos diferentes de identidades
  • 7:15 - 7:19
    e eu identifico-me
    como uma mulher cisgênero.
  • 7:19 - 7:22
    Para todos vocês que gostam
    de saber do que é que falam,
  • 7:22 - 7:24
    cis escreve-se "c-i-s".
  • 7:25 - 7:28
    É o termo latino para
    "quem está do mesmo lado".
  • 7:28 - 7:29
    Quando eu nasci,
  • 7:29 - 7:31
    o médico mostrou-me
    aos meus pais e disse:
  • 7:31 - 7:33
    "É uma menina."
  • 7:33 - 7:35
    Isto, com base nos meus genitais.
  • 7:35 - 7:38
    Apesar de eu ter nascido
    numa pequena cidade rural na Geórgia,
  • 7:38 - 7:40
    como uma menina levada,
  • 7:41 - 7:43
    nunca pus em dúvida que era uma garota.
  • 7:43 - 7:45
    Sempre soube que era uma garota,
  • 7:45 - 7:48
    independentemente do modo
    que era enquanto criança.
  • 7:48 - 7:50
    Isto é muito diferente
    do que uma pessoa transexual.
  • 7:50 - 7:53
    Trans é um termo latino
    para "do outro lado de"
  • 7:54 - 7:56
    — pensem nas companhias
    de aviação transcontinentais,
  • 7:56 - 7:58
    que atravessam, que estão do outro lado —
  • 7:58 - 8:01
    alguém a quem se atribui um sexo
    quando do nascimento
  • 8:01 - 8:03
    e se identificam
    do outro lado do espetro.
  • 8:04 - 8:08
    Um homem transexual é alguém
    classificado como mulher ao nascer,
  • 8:08 - 8:11
    mas que tem o sentimento
    de quem é, de como vive a sua vida,
  • 8:11 - 8:13
    como um homem.
  • 8:13 - 8:15
    E o oposto é, como já dissemos,
  • 8:15 - 8:18
    uma mulher transexual, alguém
    que foi considerada homem, ao nascer,
  • 8:18 - 8:21
    mas que vive a sua vida
    e tem o sentimento de ser uma mulher.
  • 8:21 - 8:23
    Também é importante sublinhar aqui
  • 8:23 - 8:26
    que nem todo mundo
    que tem uma identidade não binária
  • 8:26 - 8:28
    se identifica com o termo "transexual".
  • 8:28 - 8:33
    Para que ninguém se sinta confuso,
    vou esclarecer o que é a identidade sexual
  • 8:33 - 8:34
    ou a orientação.
  • 8:34 - 8:37
    Isso significa apenas
    por quem nos sentimos atraídos,
  • 8:37 - 8:40
    física, emocional,
    sexual, espiritualmente.
  • 8:41 - 8:43
    Não tem nada a ver
    com identidade de gênero.
  • 8:43 - 8:45
    Para uma recapitulação rápida,
    antes de continuarmos,
  • 8:45 - 8:48
    a identidade de gênero
    está entre as orelhas,
  • 8:48 - 8:50
    o sexo biológico, pensem nisso
    entre as pernas
  • 8:50 - 8:53
    e quanto à identidade sexual,
    por vezes usamos o coração,
  • 8:53 - 8:54
    mas está aqui.
  • 8:55 - 8:57
    Três espetros de identidade
    muito diferentes.
  • 8:59 - 9:02
    O estudante de medicina padrão
  • 9:02 - 9:06
    tem apenas cinco horas de estudos voltados
    para as necessidades da comunidade LGBT
  • 9:07 - 9:09
    durante o curso de medicina.
  • 9:09 - 9:12
    Isto, apesar de sabermos
    que há riscos de saúde especiais
  • 9:12 - 9:14
    para esta comunidade.
  • 9:15 - 9:19
    Há cerca de 10 milhões
    de norte-americanos adultos
  • 9:19 - 9:21
    que se identificam como LGBT.
  • 9:22 - 9:25
    A maioria dos médicos que trabalham com
    pacientes transexuais
  • 9:25 - 9:27
    aprende da pior maneira possível.
  • 9:27 - 9:30
    Isso significa que vão aprendendo
    à medida que praticam
  • 9:30 - 9:32
    ou os pacientes acabam
    por gastar o seu tempo
  • 9:33 - 9:35
    tentando ensinar o médico
    como tratar deles.
  • 9:35 - 9:39
    Muitos médicos mostram desconforto em
    perguntar sobre identidade de gênero.
  • 9:39 - 9:42
    Alguns acham que não é relevante
    para os cuidados médicos
  • 9:42 - 9:45
    e outros não querem dizer coisas erradas.
  • 9:46 - 9:49
    Muitos médicos que dizem
    coisas desadequadas
  • 9:49 - 9:51
    ou dizem qualquer coisa negativa,
  • 9:51 - 9:54
    podem não estar sendo maliciosos
    ou malévolos,
  • 9:54 - 9:57
    podem nunca ter tido formação
    para tratar destas pessoas.
  • 9:58 - 10:01
    Mas isso também já não pode
    ser aceite como uma norma.
  • 10:02 - 10:05
    O que é que acontece a um homem transexual
  • 10:06 - 10:09
    — para recapitular, uma pessoa
    considerada mulher ao nascer,
  • 10:09 - 10:11
    mas que vive como um homem —
  • 10:11 - 10:15
    o que acontece quando um homem transexual
    vai à sua consulta ginecológica anual?
  • 10:17 - 10:19
    A forma como o médico tratar este paciente
  • 10:19 - 10:22
    definirá todo o tom
    para o resto da consulta.
  • 10:22 - 10:26
    Se o médico tratar aquele homem
    com os pronomes ou os nomes corretos,
  • 10:26 - 10:28
    confere-lhe dignidade e respeito,
  • 10:28 - 10:31
    o que muito provavelmente
    também será feito pelo resto do pessoal.
  • 10:32 - 10:35
    Isto é um pouco aquilo
    que eu penso dos médicos.
  • 10:35 - 10:37
    Agora passemos para
    a comunidade transexual.
  • 10:37 - 10:39
    Estou falando do medo,
  • 10:40 - 10:42
    e todos sabem quem é
    que tem esse medo, não é?
  • 10:43 - 10:45
    É a comunidade transexual.
  • 10:45 - 10:47
    Já contei para vocês a história da Anne
  • 10:47 - 10:49
    e como ela tinha tanto medo
    de fazer um tratamento
  • 10:49 - 10:52
    e não ser respeitada como mulher.
  • 10:52 - 10:55
    Também falei de Leah que tinha medo
    de como o médico ia reagir
  • 10:55 - 10:57
    e no momento em que ele
    não lhe apertou a mão
  • 10:57 - 11:00
    e mandou fazer o teste de HIV,
    o medo dela confirmou-se.
  • 11:01 - 11:04
    A comunidade transexual
    precisa de ter a possibilidade
  • 11:04 - 11:06
    de exigir os cuidados de saúde
    de que precisa.
  • 11:06 - 11:10
    Acabaram-se os dias de ficarem em silêncio
    e de aceitarem qualquer tratamento.
  • 11:11 - 11:14
    Se não exigirem os cuidados
    de saúde de que precisam
  • 11:14 - 11:16
    ninguém vai fazer isso por vocês.
  • 11:17 - 11:19
    E quanto a todos os outros?
  • 11:20 - 11:23
    Muitos de nós, talvez já na próxima semana
    ou dentro de meses,
  • 11:23 - 11:26
    vão ter uma consulta no médico, não é?
  • 11:26 - 11:28
    Digamos que vão à consulta do médico
  • 11:28 - 11:30
    e quando ela acaba
  • 11:30 - 11:33
    sentem-se pior do que quando entraram.
  • 11:33 - 11:35
    O que sentiriam se o médico
    não desse importância
  • 11:35 - 11:37
    e ignorasse as suas necessidades
  • 11:37 - 11:40
    ou se vocês se sentissem julgados?
  • 11:41 - 11:44
    É o que acontece a muitos dos
    1,4 milhões de adultos transexuais
  • 11:44 - 11:46
    aqui nos EUA.
  • 11:47 - 11:49
    isto se tiverem a sorte
    de arranjarem uma consulta.
  • 11:50 - 11:52
    Vocês devem estar pensando:
  • 11:52 - 11:54
    "Porque é que isso é importante para mim?
  • 11:54 - 11:57
    "Eu não sou transexual, não conheço
    ninguém que seja transexual.
  • 11:57 - 11:59
    "Porque é que devo me preocupar?"
  • 11:59 - 12:03
    Pensem assim: Um transexual
    é um ser humano,
  • 12:03 - 12:04
    tal como vocês e como eu.
  • 12:04 - 12:08
    Tem direito a prestadores de cuidados
    de saúde competentes e com formação,
  • 12:08 - 12:10
    tal como vocês e como eu.
  • 12:10 - 12:13
    Portanto, pergunto
    — e peço que levantem a mão:
  • 12:13 - 12:17
    Conhecem ou já encontraram um transexual,
    um inconformado com o seu gênero,
  • 12:17 - 12:21
    um intersexual, um dois-espíritos,
    um três-espíritos?
  • 12:21 - 12:23
    Obrigada. Encantador. Obrigado a todos.
  • 12:24 - 12:27
    Todos aqueles que não levantaram a mão
  • 12:27 - 12:29
    num futuro muito próximo
  • 12:29 - 12:31
    terão a oportunidade de encontrar alguém
  • 12:31 - 12:34
    que corresponde a uma
    destas identidades, posso garantir.
  • 12:34 - 12:37
    Os números desta comunidade
    estão aumentando.
  • 12:37 - 12:41
    Não porque seja moda
    ou uma coisa nova.
  • 12:41 - 12:43
    É mais seguro assumir-se.
  • 12:44 - 12:46
    Há mais consciência.
    Há mais visibilidade.
  • 12:47 - 12:50
    Há mais segurança, por isso
    as pessoas falam do seu verdadeiro eu
  • 12:50 - 12:52
    como nunca falaram.
  • 12:52 - 12:56
    É por isso que é tão importante
    que o nosso sistema de saúde o reconheça
  • 12:56 - 13:00
    e garanta que os médicos
    e os prestadores de cuidados
  • 13:00 - 13:03
    têm formação para abordar estes pacientes
    com dignidade e respeito.
  • 13:03 - 13:05
    tal como é de se esperar.
  • 13:07 - 13:10
    Lembro-me de estar na aula
    de literatura do 11.º ano
  • 13:10 - 13:12
    com um dos meus professores
    preferidos, Mr. McClain.
  • 13:13 - 13:16
    Ele leu-nos esta citação de Heráclito
    que mantenho presente até hoje:
  • 13:16 - 13:18
    Talvez já a conheçam.
  • 13:18 - 13:21
    "A única coisa que é constante
    é que as coisas mudam."
  • 13:23 - 13:24
    É conhecida, não é?
  • 13:25 - 13:28
    Todos nós enfrentamos
    mudanças na nossa vida
  • 13:29 - 13:31
    e, frequentemente, quando
    enfrentamos essas mudanças,
  • 13:31 - 13:33
    temos de tomar
    algumas decisões difíceis.
  • 13:34 - 13:38
    Ficamos presos ao nosso medo,
    e não evoluímos ?
  • 13:39 - 13:43
    Ou enfrentamos esse medo com coragem,
  • 13:43 - 13:46
    evoluímos, aproveitamos
    a oportunidade para melhorar?
  • 13:47 - 13:50
    Todos vocês vão enfrentar coisas novas.
  • 13:50 - 13:52
    O que é que vão fazer?
  • 13:52 - 13:54
    Vão ficar cheios de medo,
  • 13:54 - 13:56
    ou vão evoluir?
  • 13:57 - 14:01
    Convido a todos, médicos,
    comunidade transexual,
  • 14:01 - 14:02
    cada um de vocês, e eu,
  • 14:02 - 14:04
    a enfrentarmos juntos esse medo
  • 14:04 - 14:07
    à medida que entramos
    este bravo mundo novo.
  • 14:07 - 14:08
    Obrigada.
  • 14:08 - 14:11
    (Aplausos)
Title:
O que os médicos deviam saber sobre identidade de género
Speaker:
Kristie Overstreet
Description:

Kristie Overstreet tem a missão de garantir que a comunidade transexual recebe os cuidados de saúde de que precisa. Nesta palestra informadora, que desmonta mitos, ela proporciona um manual para compreender a identidade de género e convida-nos a mudar a forma como encaramos os cuidados de saúde para os transexuais — para que todos tenham o respeito e a dignidade que merecem quando vão ao médico.

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
14:25

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