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Panorama da COVID-19 no Brasil | Pedro Hallal | TEDxLaçador

  • 0:05 - 0:09
    Ana Goelzer: A COVID-19
    vai se transformar numa gripe,
  • 0:09 - 0:13
    e a gente vai precisar
    tomar vacina todos os anos?
  • 0:13 - 0:14
    Pedro Hallal: Olha,
  • 0:14 - 0:17
    a gente não tem como responder
    essa pergunta definitivamente, ainda,
  • 0:17 - 0:21
    porque ainda não se tem
    a informação definitiva
  • 0:21 - 0:24
    de quanto tempo dura
    a imunidade contra ela.
  • 0:24 - 0:28
    Nem a imunidade natural,
    através das pessoas que se infectaram,
  • 0:28 - 0:33
    nem a imunidade decorrente
    das vacinas que vão ser aplicadas.
  • 0:33 - 0:38
    Então, partindo do pressuposto
    que a imunidade dure meses,
  • 0:38 - 0:42
    sim, teremos que tomar vacina
    contra COVID todos os anos.
  • 0:42 - 0:47
    Se partirmos do pressuposto
    que a imunidade dura mais, dura anos,
  • 0:47 - 0:50
    talvez não tenhamos
    que tomar vacina todos os anos.
  • 0:50 - 0:53
    Ou seja: ainda é cedo pra saber,
  • 0:53 - 0:57
    mas o que muito provavelmente se confirme
  • 0:57 - 1:03
    é que o problema só estará resolvido
    quando tivermos a vacina.
  • 1:03 - 1:08
    AG: E falando na vacina
    e nessa questão da reinfecção,
  • 1:08 - 1:15
    falar nessa imunização de rebanho,
    isso não é real, né?
  • 1:15 - 1:18
    PH: Esse conceito da imunidade de rebanho
    é um conceito que existe,
  • 1:18 - 1:21
    é um conceito da epidemiologia.
  • 1:21 - 1:26
    Basicamente, quando tu estás lidando
    com uma doença que não é nada grave,
  • 1:26 - 1:30
    tu podes deixar que aconteça
    a imunidade de rebanho,
  • 1:30 - 1:34
    ou seja, deixa as pessoas se infectarem,
  • 1:34 - 1:37
    quase ninguém vai ter nenhum problema
  • 1:37 - 1:40
    e aí tu acabas com o risco de contágio
  • 1:40 - 1:43
    porque todo mundo
    em quem a doença tenta chegar
  • 1:43 - 1:45
    já tem anticorpos.
  • 1:45 - 1:50
    O problema é que o coronavírus mata
    1% das pessoas que ele infecta.
  • 1:50 - 1:53
    Então, se a gente mirar
    a imunidade de rebanho
  • 1:53 - 1:55
    como política de saúde,
  • 1:55 - 1:59
    a gente teria que aceitar que ele vai
    matar quase 1 milhão de brasileiros,
  • 1:59 - 2:01
    e aí é óbvio que ninguém
    acha isso razoável.
  • 2:01 - 2:05
    Então a imunidade de rebanho
    é um conceito que existe,
  • 2:05 - 2:08
    que pode ser adequado,
    mas não no caso do coronavírus.
  • 2:08 - 2:12
    O exemplo que eu mais gosto
    de dar é o da Espanha.
  • 2:12 - 2:17
    Na Espanha, os números estão diminuindo
    dia a dia, já faz muito tempo,
  • 2:17 - 2:21
    e a estimativa é que 5% da população
    tenha sido infectada.
  • 2:21 - 2:24
    Ou seja, é possível que os números baixem,
  • 2:24 - 2:27
    mesmo com um percentual bem baixo
    da população infectada.
  • 2:27 - 2:30
    Essa que deve ser
    a prioridade no Brasil também.
  • 2:30 - 2:33
    AG: Mas, e pra gente baixar esses números,
  • 2:33 - 2:35
    o que a gente tem que fazer?
  • 2:35 - 2:39
    Porque eu fico vendo no jornal,
  • 2:39 - 2:42
    e isso muda diariamente,
  • 2:42 - 2:46
    mas tem muitos estados
    que estão com os números elevados.
  • 2:46 - 2:50
    Um dia, era a maioria;
    outro dia, nem tanto;
  • 2:50 - 2:52
    daqui a pouco volta.
  • 2:52 - 2:54
    Mas, se a gente levar em consideração
  • 2:54 - 2:59
    que muitas pessoas acabam morando
    numa cidade e indo trabalhar em outra,
  • 2:59 - 3:02
    ou mesmo em outro estado,
  • 3:02 - 3:07
    não seria prudente
    um lockdown em todo o país,
  • 3:07 - 3:09
    ou isso é uma coisa fora de questão?
  • 3:09 - 3:12
    PH: A gente tem que aprender
    com os lugares em que deu certo.
  • 3:12 - 3:18
    Por exemplo, a Europa, em geral, não foi
    um exemplo bom de combate ao coronavírus.
  • 3:18 - 3:21
    Mas, neste quesito, eles foram bem.
  • 3:21 - 3:24
    Quando o coronavírus estava bombando lá,
  • 3:24 - 3:25
    eles fecharam tudo.
  • 3:25 - 3:26
    E aí, fechando tudo,
  • 3:26 - 3:30
    o vírus parou de circular,
    e os números começaram a cair.
  • 3:30 - 3:33
    As duas estratégias mais efetivas
  • 3:33 - 3:36
    que nós temos notícia
    no mundo, até agora, são:
  • 3:36 - 3:39
    testagem em massa
    com rastreamento de contatos.
  • 3:39 - 3:42
    Isso foi feito em alguns lugares da Ásia
    e em poucos lugares da Europa.
  • 3:42 - 3:43
    Brasil não fez.
  • 3:43 - 3:46
    Segundo: quando a doença
    está bombando, lockdown.
  • 3:46 - 3:48
    Brasil também não fez,
  • 3:48 - 3:50
    por isso que nossos números
    não estão baixando.
  • 3:50 - 3:52
    AG: E a que tu atribui isso?
  • 3:52 - 3:56
    Porque eu vejo que tem
    muita pressão de muitos lados,
  • 3:56 - 3:59
    tem muita desinformação,
  • 3:59 - 4:06
    mas por que te parece que é tão difícil
    de alguns setores entenderem
  • 4:06 - 4:08
    que é necessário parar
  • 4:08 - 4:11
    pra que as coisas melhorem
    pra todo mundo?
  • 4:11 - 4:15
    PH: Se colocou no Brasil, uma...
  • 4:15 - 4:19
    como tudo, aliás, que acontece
    no país atualmente, infelizmente,
  • 4:19 - 4:23
    se colocou uma situação
    que polarizou a discussão.
  • 4:23 - 4:27
    Então o pessoal que se diz
    defensores da economia
  • 4:27 - 4:30
    defendem que tudo fique aberto
    e reabra, reabra, reabra;
  • 4:30 - 4:35
    e os defensores da saúde defendem
    que tudo fique fechado, fechado, fechado.
  • 4:35 - 4:39
    Só que, na prática,
    essa dicotomia não é verdadeira.
  • 4:39 - 4:42
    Hoje, no Rio Grande do Sul,
    eu não tenho nenhuma dúvida.
  • 4:42 - 4:44
    Se a gente fizer um lockdown
    rigoroso no estado hoje,
  • 4:44 - 4:48
    fechar fronteira, fechar as portas e tal,
  • 4:48 - 4:52
    a gente retoma inclusive
    a atividade econômica mais rápido.
  • 4:52 - 4:55
    O problema é que a gente fica
    nesse lockdown meia-boca
  • 4:55 - 4:56
    ou nesse distanciamento meia-boca,
  • 4:56 - 5:01
    e aí tanto a economia
    quanto a saúde pública pagam mais caro.
  • 5:01 - 5:03
    Então, vamos lá, segundo ponto:
  • 5:03 - 5:07
    essa politização absurda
    que o país enfrenta [leva à] polarização.
  • 5:07 - 5:10
    Então é óbvio que um país
    em que, no começo da epidemia,
  • 5:10 - 5:13
    o presidente dizia que era uma gripezinha,
  • 5:13 - 5:19
    outras pessoas diziam que ia matar
    1 milhão de pessoas e tal,
  • 5:19 - 5:22
    ficou nessa discussão,
  • 5:22 - 5:25
    e aí ficou com essas cortinas de fumaça
  • 5:25 - 5:27
    em vez de enfrentar o assunto.
  • 5:27 - 5:28
    Por exemplo,
  • 5:28 - 5:32
    política de testagem em massa é algo
    que a gente sabe desde março que funciona.
  • 5:32 - 5:34
    E o Brasil não fez em nenhum momento.
  • 5:34 - 5:38
    AG: Mas e se a gente continuar
    exatamente com o que está fazendo,
  • 5:38 - 5:43
    essa questão meia-boca
    que tu disse de distanciamento
  • 5:43 - 5:48
    e não focando os problemas reais
    que isso está nos trazendo,
  • 5:48 - 5:53
    tu consegue prever o que vai acontecer
    com a gente nos próximos meses?
  • 5:53 - 5:56
    PH: Vamos olhar pros casos
    concretos que a gente tem.
  • 5:56 - 5:58
    Então é assim: a maioria
    dos casos da Europa,
  • 5:58 - 6:02
    que são os lugares que fizeram
    lockdown rigoroso,
  • 6:02 - 6:05
    não está tendo segunda onda forte.
  • 6:05 - 6:06
    A Itália;
  • 6:06 - 6:08
    não está tendo segunda onda
    forte na França;
  • 6:08 - 6:11
    não está tendo segunda onda
    forte na Espanha,
  • 6:11 - 6:13
    exceto por um surto em Barcelona.
  • 6:13 - 6:14
    A própria China.
  • 6:14 - 6:19
    Agora, surgiu uma segunda onda,
    umas semanas atrás, mas já controlaram.
  • 6:19 - 6:23
    Então a verdade é que os lugares
    que fizeram lockdown rigoroso
  • 6:23 - 6:26
    conseguiram abrir e está dando certo.
  • 6:26 - 6:29
    Então, essa é a primeira coisa.
  • 6:29 - 6:31
    Se tu olhar no Brasil,
  • 6:31 - 6:34
    alguns lugares já estão
    realmente diminuindo,
  • 6:34 - 6:35
    e Manaus é um bom exemplo.
  • 6:35 - 6:40
    Manaus é um lugar onde está diminuindo
    sensivelmente os números.
  • 6:40 - 6:43
    Se o Brasil continuar fazendo
    essa política de distanciamento meia-boca,
  • 6:43 - 6:46
    o que vai acontecer é que os números
    só vão começar a cair
  • 6:46 - 6:49
    quando chegar a um estágio
    que nem aquele de Manaus:
  • 6:49 - 6:55
    caótico, tudo lotado, cemitério bombando,
  • 6:55 - 6:56
    hospitais bombando.
  • 6:56 - 7:00
    Claro, vai chegar uma época que vai
    diminuir, como aconteceu em Manaus;
  • 7:00 - 7:03
    porque a epidemia não consegue
    durar tantas semanas assim,
  • 7:03 - 7:10
    porque a epidemia não consegue seguir
    contaminando por tempo indeterminado.
  • 7:10 - 7:12
    Agora,
  • 7:12 - 7:18
    existiriam maneiras mais fáceis,
    mais seguras e com menos custo
  • 7:18 - 7:22
    e com menos vidas sendo perdidas,
    de resolver o problema.
  • 7:22 - 7:25
    Infelizmente não foi a nossa escolha.
  • 7:27 - 7:30
    AG: Então, realmente, a gente
    tem que fazer alguma coisa,
  • 7:30 - 7:32
    porque o preço é muito alto.
  • 7:32 - 7:34
    PH: Não, o preço...
  • 7:36 - 7:37
    Desculpa Ana.
  • 7:37 - 7:40
    Eu gosto de fazer uma analogia
  • 7:40 - 7:44
    que eu acho que não é exatamente correta;
  • 7:44 - 7:48
    matematicamente até é,
    mas epidemiologicamente não é.
  • 7:48 - 7:52
    Mas é uma forma de as pessoas
    se darem conta do que eu estou falando.
  • 7:52 - 7:55
    A gente hoje tem...
  • 7:55 - 7:57
    O quê? Nós temos hoje quase 80 mil mortes?
  • 7:58 - 7:59
    Setenta e nove mil, né?
  • 7:59 - 8:01
    AG: Sim.
  • 8:02 - 8:04
    PH: Então temos 80 mil mortes no Brasil.
  • 8:04 - 8:06
    Pela nossa pesquisa, na última fase,
  • 8:06 - 8:09
    tinha quase 4% da população infectada.
  • 8:09 - 8:12
    Vamos dizer que agora aumentou pra 6%.
  • 8:13 - 8:17
    Se, com 6% da população infectada,
    tem 80 mil mortes,
  • 8:17 - 8:21
    se a gente for mirar
    uma imunidade de rebanho de 60%,
  • 8:21 - 8:25
    a gene vai ter 800 mil [mortes].
  • 8:25 - 8:27
    Se a gente disser assim:
  • 8:27 - 8:31
    "Ah, não, mas a imunidade de rebanho
    dessa doença não precisa chegar em 60%.
  • 8:31 - 8:34
    Se chegar em 40%, já começa a baixar".
  • 8:34 - 8:37
    Tá, então nós vamos ter 400 mil mortes.
  • 8:37 - 8:41
    A questão é: nós achamos isso razoável?
  • 8:41 - 8:43
    Não, então não dá pra pensar
  • 8:43 - 8:46
    que a imunidade de rebanho
    vai resolver o problema.
  • 8:46 - 8:48
    A única forma de resolver nosso problema
  • 8:48 - 8:50
    é com distanciamento social
    rigoroso e com lockdown.
  • 8:50 - 8:53
    E aí, infelizmente,
    eu não vejo clima, neste momento,
  • 8:53 - 8:57
    porque as pessoas não entendem
    que o lockdown é tão necessário assim;
  • 8:57 - 8:59
    infelizmente.
  • 8:59 - 9:01
    Até estou feliz, porque ouvi falar
  • 9:01 - 9:05
    que Porto Alegre está pensando
    em fazer um lockdown rigoroso, sério.
  • 9:05 - 9:07
    Tomara, porque vai ser um exemplo
  • 9:07 - 9:10
    que talvez depois seja seguido
    por outros lugares do país.
  • 9:10 - 9:14
    AG: Outra coisa que eu vejo
    muita gente comentando é que...
  • 9:14 - 9:20
    Quase toda semana alguém diz
    que os próximos 15 dias vão ser...
  • 9:20 - 9:21
    PH: Cruciais.
  • 9:21 - 9:23
    AG: É.
  • 9:23 - 9:28
    Como isso funciona, pras pessoas
    entenderem realmente o que isso significa?
  • 9:29 - 9:31
    PH: Primeiro dizer que, numa pandemia,
  • 9:31 - 9:35
    tudo que é momento é importante.
  • 9:35 - 9:39
    Nós estamos numa pandemia, então
    as próximas duas semanas são importantes,
  • 9:39 - 9:41
    depois as outras duas
    também são importantes.
  • 9:41 - 9:45
    Então o pessoal fica tentando
    botar esses "timings".
  • 9:45 - 9:47
    A ideia é fazer com que as pessoas
  • 9:47 - 9:49
    se preocupem com seriedade
    sobre o assunto.
  • 9:49 - 9:54
    Mas, sinceramente, numa pandemia,
    todos os momentos são importantes.
  • 9:54 - 9:56
    O que aconteceu aqui no Rio Grande do Sul?
  • 9:56 - 9:58
    Vamos trazer pra nossa casa, aqui.
  • 9:58 - 10:02
    Lá em março, abril,
    estava muito no começo.
  • 10:02 - 10:07
    Nosso estudo mostrando sempre
    que a pandemia estava muito no começo.
  • 10:07 - 10:12
    A gente fazia pesquisa, dava 2 infectados
    em 4 mil e poucas pessoas, depois dava 6.
  • 10:12 - 10:14
    Muito pouca gente infectada,
    pra falar a verdade,
  • 10:14 - 10:17
    comparado com o resto do Brasil.
  • 10:17 - 10:18
    E os números estavam bem.
  • 10:18 - 10:23
    A gente dizia: "Olha, a gente
    não pode cair no erro
  • 10:23 - 10:25
    de entender que os números estão bons,
  • 10:25 - 10:27
    então a gente tem que reabrir tudo".
  • 10:27 - 10:29
    E a gente caiu nesse erro.
  • 10:29 - 10:31
    Então, se os números
    estão aumentando de novo,
  • 10:31 - 10:33
    é porque a gente reabriu antes da hora.
  • 10:33 - 10:38
    Se tivéssemos conseguido
    segurar de verdade,
  • 10:38 - 10:41
    talvez hoje estivéssemos já
    com a curva na descendente.
  • 10:41 - 10:42
    Mas não conseguimos.
  • 10:42 - 10:44
    Não houve essa capacidade do estado.
  • 10:44 - 10:45
    Então é isso.
  • 10:45 - 10:48
    Não tem fórmula mágica
    nesse troço do coronavírus.
  • 10:48 - 10:51
    Se a gente olhar
    o que os outros países fizeram,
  • 10:51 - 10:55
    só tem duas coisas
    que deram certo até agora.
  • 10:55 - 10:58
    Testagem em massa em busca de contatos
  • 10:58 - 11:02
    e distanciamento social rigoroso,
    com lockdown na pior hora da pandemia.
  • 11:02 - 11:05
    Não teve mais nada
    que alguém fez que foi milagroso.
  • 11:05 - 11:07
    No começo, não sei
    se tu vai te lembrar, o pessoal falava:
  • 11:07 - 11:11
    "Ah, nos países onde a BCG
    é universal, não vai ter",
  • 11:11 - 11:13
    "Nos países onde é verão..."
  • 11:13 - 11:18
    Se falava de tudo isso, de BCG, de clima,
    se falava de um monte de coisa...
  • 11:18 - 11:19
    de máscara.
  • 11:19 - 11:21
    A República Tcheca, no começo:
  • 11:21 - 11:24
    "Todo mundo vai sair,
    mas vai usar máscara, está bom".
  • 11:24 - 11:26
    A Suécia disse que tinha descoberto
    a solução do mundo:
  • 11:26 - 11:29
    era mandar todo mundo pra rua
    e fazer isolamento vertical.
  • 11:29 - 11:31
    Todo mundo que fez isso se ralou.
  • 11:31 - 11:34
    Todo mundo voltou atrás
    porque foi horrível.
  • 11:34 - 11:38
    A única coisa que realmente deu certo
    foi lockdown e política de testagem.
  • 11:38 - 11:42
    AG: E agora que tem alguns números que...
  • 11:42 - 11:46
    A palavra agora é "platô".
  • 11:46 - 11:48
    Os números estão num platô.
  • 11:48 - 11:54
    E eu vejo algumas pessoas comentando
    como se isso fosse uma coisa boa.
  • 11:54 - 11:56
    Isso não é uma coisa boa, né?
  • 11:56 - 12:00
    Porque, se os números estão altos
    e são ruins e estão num platô,
  • 12:00 - 12:03
    eles estão ruins.
  • 12:03 - 12:06
    Não é porque estão estacionados
    que vão ficar bom, né?
  • 12:06 - 12:11
    PH: Com que a gente está mais preocupado,
    assim, com a coisa do platô?
  • 12:11 - 12:15
    A coisa que a gente está mais preocupado
    com o platô é que a nossa curva...
  • 12:15 - 12:19
    E, vamos lá, hoje em dia
    todo mundo sabe essa coisa da curva.
  • 12:22 - 12:25
    Então, quando eu falar,
    as pessoas vão entender.
  • 12:25 - 12:28
    O grande problema do nosso platô
    e da nossa curva
  • 12:28 - 12:33
    é que a nossa curva está mais gorda
    do que a dos outros lugares.
  • 12:33 - 12:35
    Então, vamos lá.
  • 12:37 - 12:41
    Todo mundo está acostumado
    com aquele desenho,
  • 12:41 - 12:43
    e a nossa curva está mais gorda.
  • 12:43 - 12:46
    Por quê? Porque esse nosso platô
    está demorando mais tempo.
  • 12:46 - 12:48
    Por quê?
  • 12:48 - 12:50
    Claro, agora era hora de começar a descer.
  • 12:50 - 12:53
    Ele subiu, subiu, subiu. Chegou aqui.
  • 12:53 - 12:55
    O normal seria fazer assim.
  • 12:55 - 12:58
    Só que, já que as pessoas estão na rua,
    ele fica fazendo assim.
  • 12:58 - 13:00
    Vai demorar mais a descer.
  • 13:00 - 13:02
    O platô em si não é o problema;
  • 13:02 - 13:04
    é muito pior quando está subindo, ainda.
  • 13:04 - 13:08
    Não está subindo mais, felizmente,
    no país como um todo.
  • 13:08 - 13:10
    Agora, esse platô por tempo muito longo
  • 13:10 - 13:16
    é única e exclusivamente decorrente
    da falta de distanciamento social.
  • 13:16 - 13:20
    Se fizéssemos distanciamento rigoroso
    quando estamos nesse platô,
  • 13:20 - 13:23
    a curva ia cair, que nem caiu
    na França, na Alemanha.
  • 13:23 - 13:25
    Até no Reino Unido já caiu.
  • 13:25 - 13:28
    Então, é isso, o platô
    não é ruim por si só,
  • 13:28 - 13:31
    ele só está demorando
    mais do que precisava.
  • 13:31 - 13:33
    AG: Queria que tu falasse
    um pouco sobre o estudo,
  • 13:33 - 13:38
    sobre por que ele foi feito
    e quais são os resultados.
  • 13:38 - 13:43
    Ainda tem mais uma etapa,
    se eu não me engano.
  • 13:43 - 13:46
    Queria que tu falasse um pouco disso.
  • 13:46 - 13:48
    PH: Por que o estudo foi feito.
  • 13:48 - 13:52
    A analogia do iceberg é a mais fácil
    pras pessoas compreenderem.
  • 13:52 - 13:56
    A gente tinha uma doença
    chegando no Brasil,
  • 13:56 - 14:00
    e pelo que a gente via na Europa
    e no resto do mundo,
  • 14:00 - 14:04
    tinha um conjunto de casos oficiais,
    que eram os casos aparentes,
  • 14:04 - 14:08
    que seriam, na analogia do iceberg,
    a ponta visível do iceberg,
  • 14:08 - 14:13
    mas esses casos representavam uma fatia
    pequena do total de casos na população.
  • 14:13 - 14:17
    Então o estudo veio pra gente olhar
    o iceberg como um todo, ou seja,
  • 14:17 - 14:20
    pra compreender a real dimensão da doença.
  • 14:20 - 14:22
    É isso.
  • 14:22 - 14:26
    A pesquisa aqui no Rio Grande do Sul
    é realizada em nove cidades,
  • 14:26 - 14:30
    que são as maiores cidades
    de cada uma das mesorregiões do estado.
  • 14:30 - 14:35
    Em cada fase, a gente entrevista
    e testa 4,5 mil pessoas.
  • 14:35 - 14:39
    Nós já fizemos cinco fases dessa pesquisa.
  • 14:39 - 14:43
    Esta semana, faremos
    a sexta fase dessa pesquisa,
  • 14:43 - 14:48
    e já temos mais duas planejadas:
    a sétima e a oitava.
  • 14:48 - 14:51
    Então essa é a pesquisa
    do Rio Grande do Sul.
  • 14:51 - 14:56
    O intervalo entre as fases, agora,
    é de quatro semanas,
  • 14:56 - 14:59
    exceto se aumentar muito a prevalência.
  • 14:59 - 15:03
    Se a prevalência der acima de 1%
    da população infectada,
  • 15:03 - 15:06
    diminui o intervalo pra três semanas;
  • 15:06 - 15:11
    se a prevalência der acima de 5%,
    diminui o intervalo pra duas semanas.
  • 15:11 - 15:14
    Então a gente vai fazer mais uma coleta
    de dados este fim de semana
  • 15:14 - 15:16
    e vamos relatando as novidades.
  • 15:16 - 15:19
    Depois, o Brasil, o Ministério da Saúde
  • 15:19 - 15:22
    nos encomendou que a gente expandisse
    essa pesquisa pro país inteiro.
  • 15:22 - 15:26
    A gente fez três fases da pesquisa,
    nos mesmos moldes,
  • 15:26 - 15:29
    com duas semanas de intervalo entre elas.
  • 15:29 - 15:34
    Essas três fases da pesquisa foram
    no meio de maio, começo e final de junho.
  • 15:34 - 15:36
    As três fases foram concluídas,
  • 15:36 - 15:38
    os resultados foram amplamente divulgados,
  • 15:38 - 15:41
    e agora não há sinalização
    do Ministério da Saúde,
  • 15:41 - 15:45
    já passaram aí quase 20 dias
    desde a divulgação,
  • 15:45 - 15:49
    e não há sinalização de que a gente
    continue fazendo a pesquisa.
  • 15:49 - 15:53
    Então, a princípio, o estudo nacional
    encerrou, por enquanto,
  • 15:53 - 15:57
    e o estudo gaúcho a gente tem
    mais três fases por fazer.
  • 15:57 - 16:01
    A gente ainda está buscando parceiros
    pra seguir o estudo nacional,
  • 16:01 - 16:03
    mas essas são as informações.
  • 16:03 - 16:05
    Em resumo:
  • 16:05 - 16:08
    os resultados do estudo gaúcho mostram
  • 16:08 - 16:12
    que, na última fase, o percentual
    de infectados é de 0,5%,
  • 16:12 - 16:15
    ou seja, de cada 200 gaúchas e gaúchos
  • 16:15 - 16:17
    tinha 1 infectado.
  • 16:18 - 16:21
    Claro que isso foi quase um mês atrás,
  • 16:21 - 16:25
    então agora que nós vamos saber
    a realidade atual, este fim de semana.
  • 16:27 - 16:31
    A gente também confirmou
    a tal da teoria do iceberg,
  • 16:31 - 16:33
    ou seja, o número de pessoas infectadas
  • 16:33 - 16:36
    é muito maior do que o que aparece
    nas estatísticas oficiais.
  • 16:36 - 16:38
    Esses são os principais resultados.
  • 16:38 - 16:42
    Eu só vou destacar mais um resultado
    antes de a gente encerrar.
  • 16:42 - 16:45
    Uma coisa que se dizia muito
    no começo da pandemia
  • 16:45 - 16:48
    é que, pra essa doença,
    a maioria das pessoas não tinha sintomas,
  • 16:48 - 16:49
    e não é verdade.
  • 16:49 - 16:55
    O nosso estudo nacional mostra
    que quase 90% das pessoas têm sintomas;
  • 16:55 - 16:57
    mesmo que sejam sintomas leves.
  • 16:57 - 17:01
    Só pra te dar uma ideia,
    um sintoma que é superclássico,
  • 17:01 - 17:04
    que é a perda de olfato e paladar,
  • 17:04 - 17:09
    60% das pessoas que têm [COVID-19]
    relatam esse sintoma.
  • 17:09 - 17:11
    Então assim, essa ideia de que não dá,
  • 17:11 - 17:16
    porque as pessoas transmitem
    "silenciosamente" o vírus,
  • 17:16 - 17:18
    parece estar equivocada.
  • 17:18 - 17:21
    Elas têm sintomas, são sintomas leves,
    mas as pessoas têm sintomas,
  • 17:21 - 17:26
    de forma que seria possível, sim,
    identificar aquelas pessoas em risco,
  • 17:26 - 17:28
    testar e ir atrás dos contatos,
  • 17:28 - 17:32
    que é o que a Coreia fez,
    e infelizmente o Brasil nunca fez.
  • 17:32 - 17:34
    AG: Não sabia dessa parte.
  • 17:35 - 17:39
    Porque a gente fala muito
    dos assintomáticos, não é mesmo?
  • 17:39 - 17:42
    PH: É, o Epicovid mostra
    que não é bem assim.
  • 17:43 - 17:48
    AG: E onde a gente pode ver esse resultado
    e, por exemplo, que sintomas são esses?
  • 17:48 - 17:52
    PH: A gente tem isso publicado.
  • 17:52 - 17:57
    Claro, a gente está escrevendo
    um artigo pra publicação,
  • 17:57 - 18:00
    mas a gente já tem esses resultados.
  • 18:01 - 18:05
    Eles estão divulgados tanto num release
    que a gente mandou pra mídia,
  • 18:05 - 18:12
    quanto num "preprint" que está
    no "Head archives", que é um servidor.
  • 18:12 - 18:18
    Mas eu posso te mandar o arquivo
  • 18:18 - 18:21
    que é o press-release,
    pra tu dar uma olhada nos resultados.
  • 18:21 - 18:24
    Me pede aí depois, eu te mando,
    e tu pode compartilhar.
  • 18:24 - 18:26
    AG: Ah, que bom! Então tá.
  • 18:26 - 18:28
    Bom, Pedro, pra encerrar,
  • 18:28 - 18:33
    tem alguma coisa que tu gostaria de dizer
    e que a gente não te perguntou?
  • 18:33 - 18:34
    PH: Só tentar dar um recado,
  • 18:34 - 18:37
    porque agora uma coisa
    que está muito na moda
  • 18:37 - 18:42
    é o pessoal ficar indignado
    porque a gente defende lockdown,
  • 18:42 - 18:43
    e aí eles ficam brabos e dizem:
  • 18:43 - 18:45
    "Ah, mas é fácil defender lockdown
  • 18:45 - 18:49
    pra quem tem salário garantido
    todos os meses" etc e tal.
  • 18:49 - 18:52
    Então, assim, queria dizer
    que, na prática, não é bem isso.
  • 18:52 - 18:55
    Quando a gente fala em lockdown,
    a gente pensa inclusive na economia.
  • 18:55 - 18:58
    Não tenho dúvida nenhuma em dizer isto:
  • 18:58 - 19:01
    se agora fizermos um lockdown
    de duas semanas, rigoroso,
  • 19:01 - 19:02
    no Rio Grande do Sul,
  • 19:02 - 19:04
    vai ser melhor inclusive pra economia.
  • 19:04 - 19:06
    O problema é que as pessoas
    não acreditam nisso,
  • 19:06 - 19:08
    então as pessoas estão se enganando
  • 19:08 - 19:11
    com essa política de que vai
    reabrindo aos pouquinhos.
  • 19:11 - 19:14
    Ninguém está indo comprar,
    vamos falar a verdade.
  • 19:14 - 19:17
    Então o comércio está perdendo dinheiro,
    a indústria está perdendo dinheiro,
  • 19:17 - 19:20
    em vez de a gente fazer
    o que outros lugares fizeram,
  • 19:20 - 19:21
    que é um lockdown rigoroso
  • 19:21 - 19:24
    pra reaquecer a economia
    mais rápido quando voltarmos.
  • 19:24 - 19:28
    Então, dizer que essa dicotomia
    entre economia e saúde
  • 19:28 - 19:30
    é uma dicotomia completamente equivocada,
  • 19:30 - 19:35
    e as pessoas que dizem essas coisas
    estão, na minha percepção,
  • 19:35 - 19:38
    não entendendo o que é a melhor solução,
  • 19:38 - 19:40
    inclusive pra economia.
Title:
Panorama da COVID-19 no Brasil | Pedro Hallal | TEDxLaçador
Description:

Ana Goelzer, organizadora do TEDxLaçador, entrevista Pedro Hallal, que nos apresenta o panorama atual da COVID-19 no Brasil.

Pedro Hallal é referência nacional no estudo epidemiológico sobre COVID-19. É reitor da Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Possui graduação em Educação Física (2000), mestrado (2002) e doutorado (2005) em Epidemiologia pela Universidade Federal de Pelotas. Realizou estágio pós-doutoral no Instituto de Saúde da Criança da Universidade de Londres. Atua como docente associado da Universidade Federal de Pelotas no curso de graduação em Educação Física e nos programas de pós-graduação em Educação Física e Epidemiologia da UFPel. É um dos sócios-fundadores e ex-presidente da Sociedade Brasileira de Atividade Física e Saúde. Foi membro afiliado da Academia Brasileira de Ciências entre 2008 e 2013. É bolsista de produtividade do CNPq.

Esta palestra foi dada em um evento TEDx, que usa o formato de conferência TED, mas é organizado de forma independente por uma comunidade local. Para saber mais, visite http://ted.com/tedx

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Video Language:
Portuguese, Brazilian
Team:
closed TED
Project:
TEDxTalks
Duration:
19:46

Portuguese, Brazilian subtitles

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