Somos iguais. Fazemos tudo diferente. | Biel Baum | TEDxLaçador

Biel abriu seu coração e fala o que adultos e crianças precisam ouvir.

Biel tem 13 anos e é mini-chef desde os 8 anos. Vegetariano, nômade, "unschooler", ama cozinhar, ama marcenaria, cinema, arquitetura ecológica, animais livres. Criador do programa "Arte na Cozinha". Autor do livro "Meu Diário para Jamie Oliver - Realizando Sonhos e Inventando Receitas".

Esta palestra foi dada em um evento TEDx, que usa o formato de conferência TED, mas é organizado de forma independente por uma comunidade local. Para saber mais, visite http://ted.com/tedx

Nossa, é muita gente mesmo.

Então, talvez eu seja
o palestrante mais novo do TED,

de todos os TEDs, não sei ainda,

mas eu acho que esta mensagem
vai mais pros pais.

Acho que deve ter alguns pais
aqui nesta plateia.

E...

Estou um pouquinho nervoso, me desculpem.

Eu posso ter só 13 anos,
mas, pelo pouco que vivi até agora,

eu aprendi algumas coisas
sobre uma coisa chamada sistema.

Eu estava pensando: por que a gente
tem que seguir sempre

um certo padrão de beleza,

um certo padrão de vida,

um certo padrão de ser?

Como, por exemplo,
fazer o jardim de infância,

o fundamental, o ensino médio,

ir pra uma faculdade
e ter um emprego de sucesso.

É isso.

Basicamente, o que os nossos pais fazem,
alguns ou muitos, não sei,

porque eu ainda não sou um,

é se espelhar.

Por exemplo, meu pai está aqui hoje

e ele gostaria que eu fosse farmacêutico
ou gostaria que eu fosse médico.

E eu falei: "Não, pai! Não vou ser isso.

Eu vou ser um grande chefe de cozinha,

e, assim como você, ajudar as pessoas,
só que de uma forma diferente".

Vou ajudá-las, como eu estou
tentando fazer aqui agora,

abrindo os olhos delas

e ensinando que existe um outro mundo

além deste que a gente está vendo agora.

Como o Fernando [Lanzer] falou agora,

sobre o iceberg, né?

Às vezes, a gente
só consegue ver as coisas

quando elas já estão aqui na frente.

A gente não consegue ver
quando elas ainda estão lá atrás,

como os filhos, as crianças.

Por exemplo,

eu, com quatro anos, já queria ser
um grande chefe de cozinha,

já gostava muito de cozinhar,
vendo a minha bisavó, vendo a minha mãe,

vendo chefes de cozinha cozinhando...

Porque chefes de cozinha
não iam construir casas, né?

E sempre me espelhei neles

pra que eu pudesse fazer
um grande trabalho

e inspirar pessoas como eles me inspiram.

Nisso, com quatro anos,
eu falei pra minha mãe: "Mãe...

você cozinha muito mal".

(Risos)

E ela me disse: "Ah, é?
Você acha que é fácil cozinhar?

Então, vai lá na cozinha e faz melhor".

Nisso, eu falei pra ela: "Tudo bem".

"Mas você só vai fazer
o café da manhã enquanto isso,

porque você é muito pequeno."

Só quatro aninhos, não dava
pra fazer algo mais elaborado.

Então, às vezes, eu fazia
um café da manhã,

tipo um pão francês
com mostarda, coco e chocolate.

Daí, eu dava pra minha mãe,

ela comia e fazia cara, tipo:
"Hum, que gostoso".

(Risos)

Mas, às vezes, eu sabia
que estava um pouco ruim.

(Risos)

Com sete anos, eu fiz meu primeiro prato,

que foi um macarrão simples,

mas, pra mim, foi o começo de algo grande,

foi o começo de alguma coisa,

digamos, inspiradora.

Eu posso não ter uma história
tão linda como a de muitos aqui,

mas eu acho que a minha história
está só começando.

Com oito anos, eu pedi
pra minha mãe pra sair da escola

porque a escola realmente não estava
me ajudando no meu sonho.

Ela só estava me ensinando
coisas completamente inúteis,

algumas delas,

porque matemática, português
e até geografia são importantes.

Mas aprender como você deve chamar
um papa, um governador ou um presidente,

acho que não vai servir pra muita coisa.

Um dia, eu estava na escola,
e me deram uma prova e disseram:

"Como você chamaria o presidente,
como você chamaria o papa?"

Vossa Santidade, né?

Daí, eu escrevi lá:

"Não, eu falaria 'você',

porque ninguém é melhor que outra pessoa".

Eu não sou melhor que você,
eu não sou melhor que você,

eu não sou melhor que você.

Independentemente de qualquer coisa,
de classe social, país, cor,

ou, vamos dizer assim, como eu nasci.

Um exemplo meio tosco, assim.

E...

Às vezes, as pessoas
pensam que a vida é só isso.

É só fazer o mesmo círculo sempre:

de estudar no primário,

fazer o fundamental,

o ensino médio e ir pra uma faculdade.

Mas, definitivamente, não é isso.

Quantos anos faz que alguém
tenta fazer a diferença,

mas não consegue fazer
com que todo mundo entenda isso?

Mas eu posso dizer hoje
que eu quero muito fazer a diferença,

só que eu sou uma das pessoas

que têm coragem de plantar
a sementinha e regá-la

com várias pessoas que vão me ajudando,

como amigos, pais ou até pessoas
que eu ainda não conheço,

que vão virar meus parceiros nessa missão

de dizer pras pessoas: "Parem.

Parem com isso

de sempre achar que temos
que ser alguma coisa,

temos que acreditar em alguma coisa,

temos que já saber o que vamos fazer
quando formos adultos".

Parem! Vamos viver!

Por que a gente sempre tem que aprender,

todos os dias, na escola?

Por exemplo, eu duvido muito

que uma criança que passa, vamos dizer
assim, uns dez anos estudando,

nos anos, primeiro, segundo, terceiro,
até o primeiro do colegial,

se lembre de tudo que aprendeu.

Errado!

Às vezes, quando eu estudava,
vamos dizer assim -

vou deixar um suspense -

quando eu "estudava", eu chegava em casa,
e minha mãe me perguntava:

"O que você aprendeu hoje, filho?"

Eu não aprendia nada,
eu simplesmente decorava.

Eu simplesmente queria tirar um dez
pra minha mãe ficar feliz comigo.

Então, nesses oito anos, que eu pedi
pra minha mãe pra eu sair da escola,

ela me disse: "Tudo bem.

A gente vai estudar em casa,

eu vou te ensinar coisas
que realmente vão valer

e que realmente
vão te ajudar no teu sonho",

que era salvar crianças,
adultos, pessoas idosas já,

por meio da alimentação saudável

e por meio de comunicações grandes,

porque a gente não pode mudar
o mundo só falando pra alguém,

assim, só falando pra uma pessoa.

Nós precisamos de algo grande
pra transmitir o que nós sentimos, acho.

Talvez eu não esteja falando
coisa com coisa aqui,

mas eu acho que vocês
entenderam um pouquinho.

Nesse período, quando eu tinha oito anos,

eu disse pra minha mãe que eu queria
criar um programa de televisão.

Por quê?

Porque eu realmente precisava
transmitir isso pras pessoas:

transmitir o que eu sentia
e transmitir o que eu queria

e transmitir o que seria uma coisa,

não mais fácil,

mas melhor pro corpo delas,
melhor pra alma delas,

melhor pra elas do que sempre fazer
sempre a mesma coisa.

Às vezes, quando eu estava
na escola, eu me perguntava

por que a gente tem que aprender

que Pedro Álvares Cabral
"descobriu" o Brasil,

sendo que, na verdade,
ele invadiu o Brasil,

matou centenas, milhares de índios,

escravizou milhares de negros,

e, ainda assim, a história está certa,

mas é mentira, Pedro Álvares
não descobriu o Brasil,

o Brasil estava lá!

O Brasil estava lá, gente!

Quem estava lá, desde o começo,

eram os índios,

praticamente o tesouro do nosso país,

e que está desaparecendo assim tão fácil.

Por quê?

Pela ganância do homem.

Porque... o que...

vamos dizer assim, o "homem" mais quer?

É sucesso, é dinheiro...

é chamar a atenção, por assim dizer.

Esses dias, eu vi um vídeo

de uma empresa retirando uma árvore,
ou seja, cortando uma árvore,

pra colocar um banner de uma criança
abraçando uma árvore!

Qual é a lógica disso?

Por que vocês não deixam as crianças
irem abraçar a árvore?

É isso que estou tentando dizer:

é praticamente uma ilusão
que a gente está vivendo, mais ou menos.

Por que a gente tem que fazer parte
de um mundo, ou seja, do sistema?

Por que a gente não pode
criar o nosso mundo?

Por que a gente não pode ser
o que a gente quer, por um segundo?

E depois ver o que vamos fazer depois,
ou ver como nos sentimos?

Eu vou ser bem claro agora.

Eu ia fazer uma palestra com...

Qual é o nome mesmo?

Com um PowerPoint.

(Risos)

Mas eu decidi improvisar

porque eu não consegui
memorizar toda a palestra.

Então, eu decidi falar
o que eu realmente sinto agora,

que é isso.

Eu queria que vocês internalizassem
um pouco isso e pensassem a respeito,

de que eu acho que mais
do que ser alguém na vida,

porque nós já somos nós:

eu sou eu, você é você, nós já somos...

nós já somos alguma coisa,

sendo nós mesmos.

Talvez todos os dias
nós façamos a diferença -

às vezes, eu troco
algumas palavras em espanhol -

vamos dizer, fazemos a diferença

dando um prato de comida
para algum morador de rua

ou ajudando uma velhinha
a atravessar a rua...

Isso é diferença.

Isso é...

sair da caixinha, por assim dizer.

Eu acho que as pessoas ainda, os adultos,

as mulheres também, todo mundo,

as pessoas ainda têm muito que aprender,

e eu também, sobre fazer diferente,

sobre realmente...

ensinar alguma coisa
e aprender alguma coisa.

Porque, vamos pensar de uma forma:

quando nós morrermos,

talvez a única coisa
que vamos levar daquela vida

vai ser o nosso nome,

e todas as lembranças,
todos os momentos que nós vivemos.

Nós não vamos levar,
por exemplo, um iPhone,

nós não vamos levar,
por exemplo, o nosso carro,

ou roupas de marca, ou nada disso.

Vamos levar nossas experiências de vida.

Vamos levar o que nós aprendemos

e o que nós ensinamos

para, talvez, nossas próximas gerações

ou pra velha geração.

Então, eu não sei mais ou menos
quanto está o tempo agora.

Eu tentei dar uma improvisada
porque eu realmente queria falar disso.

Talvez alguns de vocês tenham entendido,
outros não, mas é a diferença.

Talvez por isso que o título deste TEDx
é "Somos Todos Diferentes".

E eu digo que, na verdade,
somos todos iguais,

mas que nós fazemos coisas diferentes.

Nós tentamos fazer a diferença.

Estou falando essa palavra
muitas vezes, eu sei.

Então, é basicamente essa mensagem

que eu queria deixar,
na verdade, pros pais,

pra que eles acreditassem nos seus filhos

e não subestimassem a inteligência deles

sobre o que eles podem fazer
ou o que eles podem ser.

Deixem eles viverem,

deixem eles descobrirem o que querem
ser na vida, antes de mais nada.

Então...

eu acho que é isso,

obrigado pela oportunidade
de estar aqui hoje...

(Aplausos)

Obrigado.

(Aplausos)

(Vivas)