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Como The Bail Project está a reformar a justiça criminal nos EUA

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    Manoush Zomorodi:
    Obrigada, Robin Steinberg,
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    por seres a minha primeira
    convidada oficial
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    como nova apresentadora da TED Radio Hour.
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    Estou muito entusiasmada.
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    Robin Steinberg: Estou encantada.
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    MZ: OK, vou iniciar com o Bail Project,
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    como ele surgiu,
    como tiveste a ideia.
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    Dizem que, há 10 anos,
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    tu e o teu marido
    estavam a comer comida chinesa
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    quando criaste o conceito.
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    Eras defensora pública
    há mais de 30 anos,
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    até que chegou esse momento
    em que decidiste que algo devia mudar.
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    RS: Nós dois passámos décadas
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    nas trincheiras do sistema jurídico
    criminal como defensores públicos,
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    lutando por cada cliente
    da melhor maneira possível,
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    defendendo a humanidade
    e a dignidade das pessoas
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    e lutando pela sua liberdade.
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    Por melhores advogados que fôssemos,
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    e acredito que éramos muito bons,
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    e por mais que lutássemos
    em favor do nosso cliente,
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    às vezes tudo se resumia
    a algumas centenas de dólares.
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    Se a cliente podia
    ou não pagar a fiança
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    e lutar pelo seu caso em liberdade
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    ou se ia ficar encarcerada
    na prisão em Rikers Island
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    e, em desespero, ia
    declarar-se culpada,
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    quer fosse culpada ou não.
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    Isso enfurecia-nos.
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    E às vezes,
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    as respostas são simples
    e estão mesmo à nossa frente.
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    Então, nós pensámos:
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    "E se pagássemos a fiança do cliente?"
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    Daí a ideia de criar
    um fundo de fiança rotativo
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    porque a fiança é devolvida
    no final de um processo.
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    Se pudéssemos angariar
    dinheiro e colocá-lo num fundo,
  • 1:28 - 1:30
    e ter um fundo rotativo,
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    podíamos pagar a fiança
    aos nossos clientes.
  • 1:32 - 1:35
    Isto foi em 2005.
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    As pessoas não estavam a falar
    da reforma da justiça criminal
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    como estão agora.
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    Não havia muita conversa
    sobre a reforma da fiança,
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    e passámos dois anos
    a bater de porta em porta.
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    Ninguém nos atendeu.
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    Até que um dia,
    Jason Flom e a família dele
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    decidiram arriscar
    e fizeram uma doação em 2007.
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    Começámos a testar o modelo
    do fundo rotativo de fiança.
  • 1:58 - 2:00
    Para ver o que acontecia.
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    MZ: Podes esclarecer-nos
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    porque é tão importante
    alguém não ficar na prisão
  • 2:05 - 2:07
    enquanto aguarda julgamento?
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    Explicaste isso no passado
    e fiquei mesmo impressionada,
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    porque eu não fazia ideia do que
    pode acontecer nos dias ou semanas
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    antes de alguém poder
    defender o seu processo.
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    RS: Claro. Ficar na prisão,
    mesmo que seja por alguns dias,
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    pode mudar a trajetória da nossa vida.
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    Não é apenas um lugar onde
    se pode ser vítima de abuso sexual,
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    se pode ser exposto à violência,
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    ficar traumatizado de diversas
    maneiras enquanto se está na prisão.
  • 2:31 - 2:33
    É nos primeiros dias ou semanas
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    que ocorre a maioria das mortes na prisão,
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    seja por homicídio ou por suicídio,
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    Mas, enquanto se está na prisão
  • 2:40 - 2:42
    — e as pessoas na prisão,
    antes do julgamento,
  • 2:42 - 2:44
    não foram condenadas por um crime,
  • 2:44 - 2:47
    estão ali porque não têm
    dinheiro para pagar fiança.
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    Enquanto isso acontece,
    a vida delas desmorona-se lá fora.
  • 2:51 - 2:52
    Estão a perder o emprego,
  • 2:52 - 2:54
    a perder a casa,
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    talvez os filhos lhes estejam
    a ser tirados,
  • 2:56 - 2:58
    o estatuto de imigrado
    pode ficar comprometido,
  • 2:58 - 3:00
    podem ser expulsos da escola.
  • 3:00 - 3:03
    São esses os estragos que acontecem
    nas nossas prisões locais,
  • 3:03 - 3:05
    mas é também o que está
    a acontecer com a família
  • 3:05 - 3:08
    e com a comunidade
    de onde foram afastados
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    enquanto aguardam julgamento
  • 3:10 - 3:13
    que, a propósito, pode levar dias, semanas
    e sem exagero, pode levar anos.
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    MZ: Explicaste essa espécie
    de limbo louco onde as pessoas ficam
  • 3:17 - 3:20
    no palco do TED em 2018,
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    e vou reproduzir um rápido excerto
    dessa palestra,
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    que foi muito emocionante.
  • 3:25 - 3:26
    Podemos passar isso?
  • 3:26 - 3:30
    (Áudio): Robin Steinberg TED2018
    É altura de fazer uma coisa em grande.
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    Uma coisa ousada.
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    É altura de fazer algo...
    talvez audacioso?
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    Queremos que o nosso modelo
    de fundo de fiança rotativo
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    que criámos no Bronx
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    se espalhe por todos os EUA,
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    atacando o sistema jurídico
    na linha da frente
  • 3:45 - 3:46
    antes de começar o encarceramento.
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    (Aplausos)
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    MZ: A energia na sala era palpável
    quando fizeste esta palestra
  • 3:52 - 3:56
    e acabaste por conseguir
    bastante doações
  • 3:56 - 3:57
    do Audacious Project,
  • 3:57 - 4:01
    que é uma iniciativa TED
    para apoiar grandes ideias,
  • 4:01 - 4:04
    para elas poderem acontecer.
  • 4:04 - 4:06
    Podes explicar o que aconteceu
    desde aquela palestra?
  • 4:07 - 4:08
    RS: Claro.
  • 4:08 - 4:10
    A doação do Audacious permitiu-nos
  • 4:10 - 4:13
    ampliar o nosso conceito já comprovado.
  • 4:13 - 4:17
    A ideia é ampliar esse modelo
    por todo o país.
  • 4:17 - 4:20
    Atualmente estamos
    em 18 locais diferentes.
  • 4:20 - 4:22
    E estamos a fazer duas coisas, certo?
  • 4:22 - 4:25
    O Bail Project destina-se
    a resgatar imediatamente
  • 4:25 - 4:29
    pessoas que estão enfiadas
    em celas da prisão
  • 4:29 - 4:31
    só porque não têm dinheiro
    não podem pagar a fiança,
  • 4:32 - 4:35
    e isso é uma resposta
    à emergência direta
  • 4:35 - 4:38
    e à crise de diretos humanos
    que existe neste país
  • 4:38 - 4:40
    em torno das prisões
    antes dos julgamentos.
  • 4:40 - 4:43
    A segunda coisa que estamos
    a fazer é testar um modelo
  • 4:43 - 4:45
    chamado "comunidade livre"
    com apoios voluntários.
  • 4:45 - 4:47
    Estamos a tentar provar que:
  • 4:47 - 4:48
    A - Não é preciso pagar fiança.
  • 4:48 - 4:51
    As pessoas voltarão ao tribunal
    sem a terem pago.
  • 4:51 - 4:53
    Este mito já foi desmascarado
    e sabemos disso.
  • 4:53 - 4:54
    Mas também estamos a mostrar
  • 4:54 - 4:57
    que as pessoas podem voltar
    às suas comunidades
  • 4:57 - 4:59
    com notificações judiciais eficazes.
  • 4:59 - 5:02
    Garantir que elas tenham acesso
    aos serviços necessários.
  • 5:02 - 5:04
    E as pessoas voltarão ao tribunal
  • 5:04 - 5:06
    até o seu processo ser encerrado.
  • 5:06 - 5:10
    É um esforço para avançar com a política,
  • 5:10 - 5:12
    para garantir uma mudança sistémica,
  • 5:12 - 5:13
    mas o nosso medo é este:
  • 5:13 - 5:15
    é uma corrida contra o tempo.
  • 5:15 - 5:17
    Enquanto este assunto vai sendo discutido,
  • 5:17 - 5:20
    e a reforma da fiança
    começa a realizar-se,
  • 5:20 - 5:23
    alguns sistemas passarão
    para novos sistemas
  • 5:23 - 5:26
    e tememos que os danos
    criados pelo sistema de fiança inicial
  • 5:26 - 5:28
    aconteçam de novo.
  • 5:28 - 5:30
    São as diferenças raciais,
  • 5:30 - 5:32
    as desigualdades económicas,
  • 5:32 - 5:35
    e podemos recriar isso
    se não fizermos as coisas bem feitas.
  • 5:35 - 5:37
    Assim, estamos numa
    corrida contra o tempo
  • 5:37 - 5:40
    para provar que podemos
    criar uma comunidade modelo
  • 5:40 - 5:43
    que não necessita
    de vigilância eletrónica
  • 5:43 - 5:47
    nem de algoritmos de risco,
    prisão ou fiança,
  • 5:47 - 5:50
    mas basta libertar as pessoas
    nas comunidades, com o devido apoio.
  • 5:50 - 5:52
    E isso vai funcionar.
  • 5:52 - 5:54
    MZ: Voltaremos nisso dentro de instantes,
    mas, antes disso,
  • 5:54 - 5:57
    a minha formação é
    de jornalista de tecnologia,
  • 5:57 - 5:59
    e quando falas em
    ampliar esse programa,
  • 5:59 - 6:02
    eu presumo que enfrentas
    problemas totalmente diferentes
  • 6:02 - 6:06
    de um criador de um aplicativo,
    duma plataforma, ou algo desse tipo.
  • 6:06 - 6:07
    Quais são esses problemas?
  • 6:07 - 6:10
    Estás a ir para estados
    com leis diferentes,
  • 6:10 - 6:12
    cada cidade deve ser totalmente diferente.
  • 6:12 - 6:14
    Como é que fazes isso?
  • 6:14 - 6:18
    RS: A ampliação do projeto
    de fundos para fiança
  • 6:18 - 6:19
    foi a solução fácil e elegante.
  • 6:20 - 6:22
    Essa é a parte fácil,
    é a parte do serviço direto,
  • 6:22 - 6:24
    podemos ampliá-la por todo o país.
  • 6:24 - 6:25
    O problema é que
  • 6:25 - 6:29
    as equipas que trabalham
    como desreguladores do Bail Project,
  • 6:29 - 6:31
    em diferentes locais pelo país,
  • 6:31 - 6:33
    precisam de pegar no nosso modelo
  • 6:33 - 6:35
    e adaptá-lo às necessidades especiais
    da sua jurisdição.
  • 6:35 - 6:38
    É aí que as coisas se tornam complexas,
  • 6:38 - 6:40
    e consomem muitos recursos,
  • 6:40 - 6:43
    porque a justiça criminal
    é extremamente local,
  • 6:43 - 6:46
    e, por isso, cada sistema
    funciona à sua maneira.
  • 6:46 - 6:48
    E as necessidades dos nossos clientes
  • 6:48 - 6:51
    são muito diferentes
    de jurisdição para jurisdição.
  • 6:51 - 6:53
    Podemos estar em Oklahoma
  • 6:53 - 6:56
    e sabemos que as comunidades
    foram devastadas pela crise dos opioides,
  • 6:56 - 6:58
    e quando mandamos as pessoas para casa,
  • 6:58 - 7:01
    é preciso ligá-las aos serviços
    que possam resolver isso.
  • 7:01 - 7:04
    Em Spokane, falamos
    duma epidemia de falta de habitação.
  • 7:04 - 7:08
    Quando pensamos em fornecer serviços
    diretos e mandar as pessoas para casa,
  • 7:08 - 7:11
    é preciso ter presente o facto
    de que, nessa jurisdição,
  • 7:11 - 7:13
    o maior obstáculo para essas pessoas,
  • 7:13 - 7:15
    é elas não terem abrigo.
  • 7:15 - 7:18
    Então, precisamos de ir adaptando
    o nosso modelo a cada jurisdição
  • 7:18 - 7:20
    para resolver as necessidades
    de cada comunidade
  • 7:20 - 7:22
    MZ: Presumo que algumas
    dessas comunidades
  • 7:22 - 7:25
    não gostam muito
    com a vossa presença ali.
  • 7:25 - 7:26
    Deve ser uma realidade.
  • 7:26 - 7:29
    Vocês precisam de convencer
    mentes e corações
  • 7:29 - 7:30
    nalguns desses lugares?
  • 7:30 - 7:33
    RS: Depende da definição de comunidade.
  • 7:33 - 7:36
    As comunidades que foram visadas
    pelo nosso sistema criminal
  • 7:36 - 7:38
    durante gerações,
  • 7:38 - 7:40
    as comunidades de cor,
    de baixos rendimentos,
  • 7:40 - 7:43
    as comunidades marginalizadas,
    as mulheres por todo o país,
  • 7:43 - 7:45
    sentem-se muito felizes
    com a nossa chegada,
  • 7:45 - 7:47
    porque somos uma linha de vida imediata.
  • 7:47 - 7:51
    O fundo de fiança é uma ferramenta
    para soltar as pessoas imediatamente,
  • 7:51 - 7:53
    não é uma resposta a longo prazo, certo?
  • 7:53 - 7:55
    Mas as pessoas são,
  • 7:55 - 7:57
    elas querem sair,
    voltar às suas famílias,
  • 7:57 - 7:59
    e as suas comunidades
    querem o seu regresso.
  • 7:59 - 8:00
    Tem havido alguma oposição?
  • 8:00 - 8:02
    Claro que sim.
  • 8:02 - 8:04
    Quando vamos a um novo local,
  • 8:04 - 8:06
    fazemos tudo muito cuidadosamente,
  • 8:06 - 8:09
    tentamos perceber
    quem são os nossos parceiros
  • 8:09 - 8:11
    que poderão ajudar a nossa iniciativa,
  • 8:11 - 8:14
    os organizadores de base,
    as organizações sem fins lucrativos,
  • 8:14 - 8:15
    os detentores do sistema, os xerifes.
  • 8:15 - 8:18
    Quem poderá ser a favor ou contra nós.
  • 8:18 - 8:21
    MZ: Vocês também recrutam pessoas
    beneficiadas pelo projeto,
  • 8:21 - 8:24
    para trabalharem no programa?
  • 8:24 - 8:27
    Isso faz parte do sistema
  • 8:27 - 8:31
    que estão a tentar criar uma comunidade
    em torno dos vossos esforços?
  • 8:31 - 8:34
    RS: Quando contratamos
    para jurisdições locais,
  • 8:34 - 8:35
    contratamos localmente.
  • 8:35 - 8:37
    Se abrimos um local em Baton Rouge,
  • 8:37 - 8:40
    contratamos pessoas de Baton Rouge
    e ligamo-nos com a comunidade.
  • 8:40 - 8:43
    Damos prioridade a pessoas
    que tiveram experiência
  • 8:43 - 8:44
    com o sistema legal criminal,
  • 8:44 - 8:46
    ou a pessoas que sofreram
    impactos do sistema.
  • 8:46 - 8:49
    Pensamos que é importante,
    eles conhecem o sistema,
  • 8:49 - 8:52
    possuem as melhores soluções,
    porque estão mais perto do problema
  • 8:52 - 8:54
    e são mensageiros incríveis
    para os clientes
  • 8:54 - 8:57
    que vão ser entrevistados
    e vão beneficiar do fundo de fiança.
  • 8:57 - 8:59
    MZ: Já falaste sobre isto,
  • 8:59 - 9:02
    que a reforma da justiça criminal
    tornou-se um assunto quente,
  • 9:02 - 9:05
    Deves pensar: "Finalmente,
    as pessoas falam duma coisa
  • 9:05 - 9:07
    "de que eu venho a falar há décadas."
  • 9:07 - 9:11
    Aqui na Califórnia tivemos
    grandes mudanças.
  • 9:11 - 9:13
    É complicado, mas penso
  • 9:13 - 9:16
    que estão a acabar
    com a fiança em dinheiro.
  • 9:16 - 9:19
    É bom, é mau, é fácil de explicar?
  • 9:19 - 9:21
    RS: Tudo sobre a reforma
    da justiça criminal
  • 9:21 - 9:23
    e, em particular, a reforma da fiança,
  • 9:23 - 9:25
    é mais complexo do que aparenta.
  • 9:25 - 9:28
    É mais fácil ter uma "hashtag"
    que diz "acabar com a fiança".
  • 9:28 - 9:29
    Correto.
  • 9:29 - 9:32
    Temos de eliminar a fiança
    inacessível para sempre.
  • 9:32 - 9:34
    Sabemos que não é o dinheiro
    que faz as pessoas voltarem.
  • 9:34 - 9:36
    Isso é um mito.
  • 9:36 - 9:38
    Mas o que vem depois,
    é muito complexo,
  • 9:38 - 9:40
    e a Califórnia é um bom exemplo.
  • 9:40 - 9:43
    Houve um projeto de lei
    que avançou no processo político,
  • 9:43 - 9:45
    e se chamava SB 10.
  • 9:45 - 9:47
    Parecia um projeto de lei
  • 9:47 - 9:49
    que iria auxiliar o desencarceramento.
  • 9:50 - 9:52
    Quando saiu do processo político,
  • 9:52 - 9:55
    era uma lei que quase ninguém
    das comunidades apoiou,
  • 9:55 - 9:57
    inclusive o Bail Project.
  • 9:57 - 10:02
    O projeto passou
    por algumas mudanças no processo,
  • 10:02 - 10:06
    que colocaram os serviços
    de pré-julgamento nas mãos da polícia,
  • 10:06 - 10:08
    que submetiam as pessoas
    a algoritmos de risco,
  • 10:08 - 10:11
    o que apresentava muitos sinais
    de que seria um sistema
  • 10:11 - 10:16
    que ia recriar a mesma desigualdade
    racial e económica
  • 10:16 - 10:17
    que já conhecíamos.
  • 10:18 - 10:20
    Essa lei passou por esse processo
  • 10:20 - 10:22
    e nós pensámos que era o fim.
  • 10:22 - 10:26
    Mas depois o setor de fianças
    recebeu 400 000 assinaturas
  • 10:26 - 10:28
    para a colocar à votação.
  • 10:28 - 10:30
    Assim, em novembro,
    a Califórnia poderá votar
  • 10:30 - 10:33
    a favor ou contra a lei SB 10.
  • 10:33 - 10:36
    MZ: Então, californianos na plateia,
    vocês vão votar!
  • 10:36 - 10:38
    Como é que eles devem votar?
  • 10:39 - 10:42
    RS: Eu não sou tão corajosa
    como eles dizem.
  • 10:42 - 10:44
    Posso ser audaciosa,
    mas nem tanto.
  • 10:44 - 10:47
    Mas o que posso dizer é:
    informem-se!
  • 10:47 - 10:49
    Percebam o que é que estão a votar.
  • 10:49 - 10:52
    Percebam o que significa
    prender alguém na cadeia,
  • 10:52 - 10:54
    que não foi condenado por nenhum crime,
  • 10:54 - 10:56
    só porque é pobre.
  • 10:56 - 11:00
    E perguntem-se se querem ter
    um sistema de justiça criminal
  • 11:00 - 11:04
    que prende pessoas antes de elas
    terem sido condenadas.
  • 11:05 - 11:07
    Queremos ter um sistema criminal
  • 11:07 - 11:09
    que continua a perseguir
    comunidades de cor
  • 11:09 - 11:11
    e de baixos rendimentos por este país?
  • 11:11 - 11:13
    Queremos continuar os danos
    e a devastação
  • 11:14 - 11:16
    que temos criado
    com o encarceramento em massa?
  • 11:16 - 11:18
    Não estou a tomar posição
    sobre como vocês devem votar,
  • 11:18 - 11:20
    mas tomem isso em consideração.
  • 11:20 - 11:23
    MZ: Ela disse-me nos bastidores:
    "Ainda não sei como vou votar."
  • 11:23 - 11:26
    Isso é difícil, certo?
  • 11:27 - 11:29
    RS: É um pouquinho mais complicado.
  • 11:29 - 11:31
    É a forma como a lei SB 10 existe,
  • 11:31 - 11:35
    é uma lei que muitos de nós
    não apoiaria, certo?
  • 11:35 - 11:38
    Mas a eliminação
    do pagamento da fiança é crítico.
  • 11:38 - 11:41
    MZ: Eu gostava que te
    projetasses no futuro.
  • 11:41 - 11:44
    Como é um sistema ideal?
  • 11:44 - 11:48
    Disseste que os EUA
    são viciados em encarceramento.
  • 11:48 - 11:50
    Tem de haver uma mudança cultural
  • 11:50 - 11:53
    para além das mudanças
    de que estavas a falar?
  • 11:54 - 11:58
    RS: Temos de avaliar
    o que temos feito.
  • 11:58 - 12:00
    Se não enfrentarmos
  • 12:00 - 12:03
    a forma como utilizamos
    o nosso sistema jurídico criminal,
  • 12:03 - 12:05
    e quem visamos,
    e como definimos crime,
  • 12:05 - 12:07
    e como punimos as pessoas,
  • 12:07 - 12:08
    nunca iremos para a frente.
  • 12:08 - 12:11
    Vamos ter de enfrentar
    o mal que temos causado.
  • 12:11 - 12:15
    E, ao fazer isso, teremos
    de mudar a nossa visão.
  • 12:15 - 12:17
    Isso é um grande desafio para nós, certo?
  • 12:17 - 12:19
    Vamos ter de mudar a nossa visão
  • 12:19 - 12:26
    de um sistema que se baseia na punição
    na crueldade, no isolamento e na prisão,
  • 12:27 - 12:28
    para uma nova visão:
  • 12:28 - 12:31
    "De que é que precisas,
    como podemos ajudar,
  • 12:31 - 12:33
    "onde é que falhamos,
  • 12:33 - 12:35
    "como podemos fazer melhor,
  • 12:35 - 12:37
    "como podemos restaurar e curar?"
  • 12:37 - 12:40
    Se não estivermos dispostos a fazer isto,
  • 12:40 - 12:43
    a reforma da justiça criminal
    ficará parada,
  • 12:43 - 12:45
    ou o que vem a seguir
    será problemático.
  • 12:46 - 12:48
    É uma mudança fundamental
    na maneira como vemos
  • 12:48 - 12:50
    o sistema de justiça criminal.
  • 12:50 - 12:51
    E não se iludam,
  • 12:51 - 12:53
    o contexto do nosso sistema criminal
  • 12:53 - 12:57
    é que virámos as costas
    aos problemas sociais, certo?
  • 12:57 - 12:59
    Virámos as costas aos sem-abrigo.
  • 12:59 - 13:02
    à extrema pobreza e ao racismo estrutural,
  • 13:02 - 13:05
    aos problemas da saúde mental,
    às dependências,
  • 13:05 - 13:07
    e até ao estatuto de imigração.
  • 13:07 - 13:11
    Em vez disso, usamos as prisões
    e o nosso sistema jurídico criminal
  • 13:11 - 13:13
    para responder a esses problemas.
  • 13:13 - 13:15
    E isso precisa de mudar.
  • 13:15 - 13:17
    MZ: Essa não é a resposta.
  • 13:17 - 13:21
    RS: Causámos danos a milhões de pessoas
  • 13:21 - 13:23
    e assim, prejudicámos as suas famílias,
  • 13:23 - 13:25
    prejudicámos as suas comunidades,
  • 13:25 - 13:26
    e precisamos de lidar com isso.
  • 13:26 - 13:28
    MZ: Eu quero perguntar, finalmente...
  • 13:29 - 13:32
    (Aplausos)
  • 13:34 - 13:37
    Temos aqui algumas das mulheres
    mais inteligentes do mundo,
  • 13:37 - 13:40
    aqui à nossa volta.
  • 13:40 - 13:41
    Elas estão cheias de energia
  • 13:41 - 13:43
    e querem saber o que fazer
    com essa energia
  • 13:44 - 13:45
    quando voltarem às suas comunidades.
  • 13:45 - 13:50
    Eu sei que levaste algumas delas
    a verem uma prisão local ontem, certo?
  • 13:50 - 13:51
    RS: Levei, sim.
  • 13:51 - 13:53
    MZ: Podes falar um pouco sobre isso?
  • 13:53 - 13:55
    RS: Isto é o que precisamos de perceber.
  • 13:55 - 13:57
    Este problema é todos os nossos problemas.
  • 13:57 - 13:59
    Cada um de nós está envolvido
  • 13:59 - 14:02
    em como é o nosso sistema
    de justiça criminal.
  • 14:02 - 14:03
    Não há escapatória.
  • 14:03 - 14:05
    Isso reflete-se em cada um de nós.
  • 14:05 - 14:07
    Todas as vezes que um promotor
    se levanta e diz:
  • 14:07 - 14:11
    "O povo do estado da Califórnia",
    ou "de Nova Iorque" ou "de Idaho",
  • 14:11 - 14:13
    ele está a falar em nome desse povo.
  • 14:13 - 14:15
    Precisamos de assumir
    a responsabilidade disso.
  • 14:15 - 14:18
    Temos de reconhecer o facto
    de que isso tem de mudar
  • 14:18 - 14:20
    e do que isso implica em todos nós.
  • 14:20 - 14:22
    O que é preciso fazer, como eu disse
  • 14:22 - 14:25
    é estudar e também
    aproximar-se desse assunto.
  • 14:25 - 14:27
    E com aproximar-se,
  • 14:27 - 14:30
    quero dizer analisar como funciona
    o nosso sistema criminal.
  • 14:30 - 14:32
    Isso pode significar ir
    a um tribunal criminal local,
  • 14:32 - 14:34
    sentar-se no fundo da sala do tribunal,
  • 14:34 - 14:37
    e eu garanto-vos
    que nunca mais serão os mesmos.
  • 14:37 - 14:39
    Foi o que me fez ser defensora
    pública todos esses anos.
  • 14:39 - 14:42
    Ontem, levei várias pessoas
    da conferência TED
  • 14:42 - 14:44
    para a prisão local daqui.
  • 14:44 - 14:47
    Tenho entrado e saído
    de prisões há 38 anos.
  • 14:47 - 14:49
    E nunca deixei de ficar chocada.
  • 14:49 - 14:51
    Ontem não foi exceção.
  • 14:51 - 14:53
    Fiquei chocada, horrorizada.
  • 14:53 - 14:57
    As condições são desumanas,
    degradantes e horríveis.
  • 14:57 - 14:59
    É incompreensível
  • 14:59 - 15:01
    se não virmos com os nossos olhos.
  • 15:01 - 15:03
    Foi chocante.
  • 15:03 - 15:06
    E vi isso no rosto das pessoas
    que foram comigo.
  • 15:06 - 15:10
    Precisamos de saber o que fazemos
    em nome da justiça neste país
  • 15:10 - 15:11
    e reagirmos contra isso.
  • 15:11 - 15:13
    Mas a única forma de fazer isso
  • 15:13 - 15:18
    é se combatermos a narrativa do medo
    que permite que isto aconteça.
  • 15:18 - 15:19
    O que quero dizer com isto?
  • 15:19 - 15:22
    Garanto-vos, sempre que conversamos
  • 15:22 - 15:24
    sobre a reforma da fiança
    ou da justiça criminal,
  • 15:24 - 15:26
    acontece o seguinte:
  • 15:26 - 15:28
    todos falam sobre um caso assustador.
  • 15:28 - 15:31
    "Mas então, o tipo que fez tal coisa?"
  • 15:31 - 15:33
    É para isso que eu estou aqui
    — para tranquilizar.
  • 15:33 - 15:36
    Só para vos tranquilizar um pouco.
  • 15:37 - 15:40
    Apesar de termos usado
    o nosso sistema de justiça criminal
  • 15:40 - 15:42
    e destruído milhões de pessoas,
  • 15:42 - 15:44
    apesar de termos prejudicado pessoas,
  • 15:44 - 15:46
    expondo-as a traumas e violência,
  • 15:46 - 15:48
    dia após dia,
  • 15:48 - 15:51
    a verdade é que,
    quando as pessoas vão para casa,
  • 15:51 - 15:53
    raramente acontecem coisas más.
  • 15:53 - 15:56
    É uma exceção, não é a regra.
  • 15:56 - 15:59
    É o extraordinário, não é o normal.
  • 16:00 - 16:01
    Mas se vocês não sabem disso,
  • 16:01 - 16:03
    se vocês não têm isso em atenção,
  • 16:03 - 16:06
    se vocês não conseguem
    apoiar-se com factos, como é possível,
  • 16:06 - 16:08
    vocês irão afundar-se
    na narrativa do medo,
  • 16:08 - 16:11
    que nos levará a justificar
    todos os horrores
  • 16:11 - 16:12
    que temos causado
  • 16:12 - 16:15
    a comunidades de cor
    e de baixos rendimentos
  • 16:15 - 16:17
    e às pessoas que ficam atoladas
    no nosso sistema criminal
  • 16:18 - 16:19
    durante demasiado tempo.
  • 16:19 - 16:21
    Por isso, informem-se.
  • 16:21 - 16:25
    (Aplausos)
  • 16:25 - 16:27
    Informem-se, aproximem-se, fiquem atentos,
  • 16:27 - 16:29
    não se afundem nas narrativas de medo,
  • 16:29 - 16:33
    que são grosseiramente
    racistas de qualquer maneira.
  • 16:33 - 16:34
    Verifiquem quando ouvirem algo,
  • 16:34 - 16:37
    questionem quando alguém
    vos contar qualquer coisa,
  • 16:37 - 16:39
    perguntem pelos dados:
    "Porque é que diz isso?"
  • 16:39 - 16:41
    E não se deixem afundar nisso.
  • 16:41 - 16:43
    Se assim fizerem,
  • 16:43 - 16:44
    estou convencida
  • 16:44 - 16:48
    de que construiremos um sistema
    de justiça criminal melhor.
  • 16:48 - 16:50
    Se se aproximarem disso
  • 16:50 - 16:52
    e começarem a envolver-se,
  • 16:52 - 16:55
    não seremos apenas um país melhor,
  • 16:55 - 16:57
    cada um de nós será uma pessoa melhor.
  • 16:57 - 16:59
    Esse é um objetivo valioso.
  • 16:59 - 17:01
    MZ: É um objetivo muito valioso.
  • 17:01 - 17:04
    (Aplausos)
  • 17:05 - 17:09
    Então, acertei em cheio ou não
    na minha primeira entrevista?
  • 17:09 - 17:11
    Ela é demais!
  • 17:11 - 17:14
    Robin Steinberg, o Bail Project,
    muito obrigada.
  • 17:14 - 17:16
    RS: Obrigada.
  • 17:16 - 17:17
    Eu sou Manoush Zomorodi,
  • 17:17 - 17:21
    a nova apresentadora do TED Radio Hour,
    e vejo-vos novamente na primavera.
  • 17:21 - 17:25
    (Aplausos)
Title:
Como The Bail Project está a reformar a justiça criminal nos EUA
Speaker:
Robin Steinberg e Manoush Zomorodi
Description:

Cerca de meio milhão de pessoas nos EUA estão na prisão sem terem sido condenados por um crime, simplesmente porque não têm dinheiro para pagar a fiança. Para reparar esse sistema, a defensora pública e ativista Robin Steinberg fez uma pergunta direta: E se lhes pagássemos a fiança? Numa conversa com Manoush Zomorodi, a apresentadora da TED Radio Hour, Steinberg revela como o seu projeto sem fins lucrativos, o The Bail Project — que utiliza um fundo de fiança rotativo para aqueles que não podem pagar — está a expandir os seus esforços pelo país e a criar um novo modelo de comunidade para lutar contra o encarceramento em massa.
(Este plano ambicioso faz parte do Audacious Project, uma iniciativa TED para inspirar e financiar mudanças globais).

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
17:38

Portuguese subtitles

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