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Porque comemos como comemos? | Rodrigo Meneses | TEDxPorto

  • 0:10 - 0:12
    Olá a todos.
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    Eu venho cá falar da paixão
    que eu tenho pela comida
  • 0:15 - 0:17
    e quero passar essa paixão para vocês
  • 0:17 - 0:20
    e explicar-vos que é a maneira
    mais fácil de sermos felizes.
  • 0:22 - 0:23
    Eu autodenomino-me como um "foodie"
  • 0:24 - 0:26
    porque andei à procura
    nas palavras portuguesas
  • 0:26 - 0:30
    se encontrava alguma coisa
    que explicasse esta paixão
  • 0:30 - 0:32
    e a única que encontrei foi "comilão".
  • 0:32 - 0:33
    (Risos)
  • 0:33 - 0:34
    mas não é bem isso.
  • 0:34 - 0:37
    Um "foodie" é uma pessoa
    que tem uma imensa paixão
  • 0:37 - 0:41
    por tudo o que é o mundo da gastronomia.
  • 0:41 - 0:44
    A gastronomia é a cultura dos povos,
  • 0:44 - 0:48
    é aquilo que nos mostra a alma.
  • 0:48 - 0:50
    Quando vamos viajar,
    provamos um prato
  • 0:50 - 0:52
    e percebemos o que é
    que as pessoas comem.
  • 0:52 - 0:54
    É o que nos diferencia uns dos outros,
  • 0:54 - 0:57
    São esses ingredientes que, para nós,
  • 0:57 - 1:00
    adoramos alguns que nós comemos cá
  • 1:00 - 1:02
    mas quando ouvimos
    que alguém come grilos
  • 1:02 - 1:05
    nós ficamos: "Ai, meu Deus!
    Não vou comer uma coisa dessas".
  • 1:05 - 1:07
    Não faz sentido.
  • 1:07 - 1:08
    É a história do povo.
  • 1:08 - 1:11
    A comida e a História estão
    completamente ligadas.
  • 1:11 - 1:15
    Nós tivemos os árabes
    500 anos em Portugal,
  • 1:15 - 1:16
    deixaram uma marca gigante
  • 1:16 - 1:18
    — menos em Trás-os-Montes,
    de onde eu venho,
  • 1:18 - 1:20
    só lá estiveram 30 anos.
  • 1:20 - 1:21
    Mas deixaram os coentros
  • 1:21 - 1:24
    e deixaram imensos métodos de confeção,
  • 1:25 - 1:26
    Isso é emoção.
  • 1:27 - 1:27
    É emoção.
  • 1:27 - 1:32
    A comida é das coisas
    que, a mim pelo menos,
  • 1:32 - 1:33
    mais me emociona.
  • 1:33 - 1:35
    Nota-se, não é? Eu sei.
  • 1:35 - 1:37
    (Risos)
  • 1:37 - 1:40
    E muitas vezes me pergunto
  • 1:40 - 1:44
    Porque é que nós comemos
    como comemos?
  • 1:44 - 1:45
    A comida é funcional.
  • 1:45 - 1:48
    Ou começou por ser funcional.
  • 1:48 - 1:51
    Nós comemos para nos alimentarmos,
  • 1:51 - 1:52
    tal como respiramos,
    tal como bebemos,
  • 1:52 - 1:54
    tal como dormimos.
  • 1:55 - 1:58
    O Homo sapiens tem
    cerca de 200 mil anos.
  • 1:58 - 2:01
    E a História toda pode ser
    contada através da comida.
  • 2:01 - 2:02
    o que é engraçado.
  • 2:02 - 2:03
    Eu vou marcar aqui...
  • 2:03 - 2:05
    Não vos vou dar uma aula
    de História de comida
  • 2:05 - 2:07
    mas para verem coisas
    que são interessantes.
  • 2:07 - 2:10
    A caça e a recolha de alimentos
    foi a nossa primeira coisa.
  • 2:10 - 2:13
    Nós dependíamos do que
    apanhávamos para comer
  • 2:13 - 2:15
    portanto, eram alguns animais
    que tínhamos que caçar,
  • 2:15 - 2:18
    éramos nómadas, andávamos
    de um lado para o outro,
  • 2:18 - 2:20
    estávamos num sítio,
    comíamos tudo o que havia,
  • 2:20 - 2:22
    tínhamos que ir para outro lado.
  • 2:22 - 2:24
    Digamos que não era uma vida
    muito engraçada.
  • 2:24 - 2:27
    até que alguém atirou
    umas sementes para o chão e disse:
  • 2:27 - 2:31
    "Uau! Se eu fizer isto aqui
    vão crescer alimentos".
  • 2:32 - 2:34
    E inventaram a agricultura,
    há 10 000 anos.
  • 2:34 - 2:36
    Foi o começo duma nova era
  • 2:36 - 2:39
    porque, com a agricultura
    nós tornámo-nos sedentários,
  • 2:39 - 2:42
    ficámos num sítio, começámos,
    pela primeira vez,
  • 2:42 - 2:45
    a produzir mais do que aquilo
    que necessitávamos para comer,
  • 2:45 - 2:48
    começámos a desenvolver
    métodos de conservação dos alimentos,
  • 2:48 - 2:50
    e essas coisas todas.
  • 2:51 - 2:56
    Foi a agricultura o início
    desta nova era na alimentação.
  • 2:56 - 3:00
    Damos um salto para 500 anos atrás,
    para as navegações
  • 3:00 - 3:05
    onde todo o mercado vivia
    à volta da troca de especiarias
  • 3:05 - 3:06
    e nós íamos buscar o açúcar
  • 3:06 - 3:09
    e trazíamos e descobrimos
    coisas maravilhosas.
  • 3:09 - 3:12
    Levámos o pão de ló para o Japão,
  • 3:12 - 3:14
    a tempura que nós agora
    toda a gente curte o "sushi"
  • 3:15 - 3:16
    é completamente japonesa,
  • 3:16 - 3:19
    e importámos imensas coisas.
  • 3:19 - 3:24
    Damos assim um salto
    até ao século XIX, século XX
  • 3:24 - 3:27
    quando a gente começou a fazer
    as maiores asneiras à face da Terra
  • 3:27 - 3:29
    em volta da comida.
  • 3:29 - 3:32
    A Revolução Industrial mudou
    um bocadinho o paradigma da alimentação
  • 3:32 - 3:35
    começámos a ficar com aquela coisa
    queremos máquinas e produção,
  • 3:35 - 3:36
    enlatados, embora lá.
  • 3:36 - 3:38
    Chegámos aos anos 80,
    a McDonald's, bomba, siga.
  • 3:38 - 3:43
    Anos 90, era uma paranoia
    intensiva, criar animais.
  • 3:43 - 3:46
    Dávamos vacas mortas a comer às vacas,
  • 3:46 - 3:47
    e tínhamos as doenças das vacas loucas.
  • 3:47 - 3:50
    Ficava tudo: "Que paranoia é esta?"
  • 3:50 - 3:53
    Que coisa é esta que a nossa comida
    está a ser industrializada
  • 3:53 - 3:55
    de uma forma tão agressiva
  • 3:55 - 3:58
    que nos estava a distanciar da comida.
  • 3:58 - 4:00
    E foram esses problemas todos,
    nitrofuranos dos frangos
  • 4:00 - 4:04
    e essa paranoia toda
    que se criou à volta da comida
  • 4:04 - 4:07
    que nos nossos tempos...
    — agora atualmente
  • 4:07 - 4:11
    nós temos esta ideia do retorno
    a uma alimentação mais saudável,
  • 4:11 - 4:17
    a uma comida que nos traga mais prazer.
  • 4:17 - 4:20
    E acho que, acima de tudo,
    é o que a gente procura agora.
  • 4:20 - 4:22
    Eu sou completamente assim.
  • 4:22 - 4:25
    Gosto é do prazer de comer à mesa.
  • 4:25 - 4:29
    Daí eu dizer que a comida e o sexo
    são as duas atividades mais básicas
  • 4:29 - 4:31
    para a propagação da espécie.
  • 4:32 - 4:34
    Se nós não comermos e não fornicarmos...
  • 4:34 - 4:35
    acabou.
  • 4:35 - 4:36
    (Risos)
  • 4:36 - 4:38
    Nós e todos os animais.
  • 4:38 - 4:41
    Basicamente nós precisamos
    de comer e depois...
  • 4:42 - 4:43
    E a coisa que eu descobri
  • 4:43 - 4:45
    é que ambas têm pornografia.
  • 4:46 - 4:48
    E eu gosto, mas porquê?
  • 4:48 - 4:50
    Vamos fazer aqui um pequeno teste.
  • 4:50 - 4:51
    (Risos)
  • 4:51 - 4:53
    A sério.
  • 4:55 - 4:57
    Vou-vos pedir para fecharem os olhos.
  • 4:57 - 4:59
    A sério, é abrir a boca e fechar os olhos.
  • 4:59 - 5:03
    Eu não trouxe nada para comerem
    mas sigam este raciocínio.
  • 5:03 - 5:06
    Estão a ver o pãozinho
    quando sai quente?
  • 5:06 - 5:08
    (Risos)
  • 5:08 - 5:11
    Vocês agora estão
    a espalhar manteiga no pão.
  • 5:13 - 5:15
    Levam o pão à boca
    e dão aquela primeira trinca.
  • 5:17 - 5:19
    E começam a mastigar.
  • 5:19 - 5:21
    E no meio desta emoção toda,
  • 5:21 - 5:24
    nem se apercebem que aquilo
    é farinha, água e fermento.
  • 5:24 - 5:25
    E sal.
  • 5:25 - 5:27
    Ou seja, são ingredientes.
  • 5:27 - 5:29
    O que transforma aquilo
    em algo especial,
  • 5:30 - 5:32
    são as nossas emoções
    ligadas à comida,
  • 5:34 - 5:36
    Quando nós olhamos para a comida,
  • 5:36 - 5:38
    — "by the way", isto é um prato
    que eu gosto de fazer em casa,
  • 5:38 - 5:41
    é um tomate, não vou estar a dar receitas,
  • 5:41 - 5:44
    mas é um tomate com azeite
    e com orégãos que vai ao forno,
  • 5:44 - 5:45
    fica maravilhoso —
  • 5:45 - 5:48
    nós, quando estamos a ver fotos de comida,
  • 5:48 - 5:51
    nós estamos a criar relações
    emocionais com a comida
  • 5:51 - 5:53
    e traz-nos memórias.
  • 5:53 - 5:56
    Vocês, de certeza absoluta,
    quando virem esta fotografia
  • 5:56 - 5:59
    conseguem identificar
    na vossa mente o sabor do tomate.
  • 5:59 - 6:01
    esse sabor maravilhoso
    do tomate assim assado,
  • 6:02 - 6:05
    não sei se eu... pronto...
  • 6:05 - 6:07
    (Risos)
  • 6:08 - 6:10
    OK. Estou a falar sozinho, não é?
  • 6:10 - 6:11
    Está bem!
  • 6:12 - 6:16
    Coisas engraçadas,
    nós comemos umas tais emoções,
  • 6:16 - 6:19
    nós lembramo-nos sempre
    dos jantares que fazemos em casa,
  • 6:19 - 6:22
    a comida da mãe, os jantares
    em casa dos avós,
  • 6:23 - 6:24
    os jantares com os amigos...
  • 6:24 - 6:26
    a nossa vida é passada à mesa.
  • 6:26 - 6:29
    Por isso é que a comida é tão importante
    para nos fazer felizes.
  • 6:29 - 6:35
    Eu acredito que,
    quanto melhor a gente comer,
  • 6:36 - 6:37
    mais felizes devemos ser.
  • 6:37 - 6:40
    E funciona também ao contrário,
    quando estamos deprimidos.
  • 6:40 - 6:42
    Há um estudo muito engraçado
  • 6:42 - 6:44
    que diz — e isto é um cliché —
  • 6:44 - 6:47
    que, quando as mulheres
    estão deprimidas, atacam nos doces.
  • 6:47 - 6:49
    Os homens não.
    É para os salgados, para as minis.
  • 6:49 - 6:50
    E funciona.
  • 6:50 - 6:52
    (Risos)
  • 6:52 - 6:54
    É verdade, é verdade.
  • 6:54 - 6:56
    (Aplausos)
  • 6:56 - 6:58
    E funciona de uma maneira
    também diferente.
  • 6:58 - 7:01
    Os homens comem os salgados e as minis
  • 7:01 - 7:03
    como uma espécie de recompensa
  • 7:03 - 7:05
    e as mulheres,
    depois de um balde de gelado
  • 7:05 - 7:06
    vão-se sentir ainda mais miseráveis.
  • 7:06 - 7:08
    (Risos)
  • 7:09 - 7:13
    Isto para entenderem que
    a nossa relação emocional
  • 7:13 - 7:17
    e a felicidade depende muito
    da forma como nós comemos.
  • 7:17 - 7:18
    E é bom que nós
  • 7:18 - 7:20
    — e é isso que quero transmitir —
  • 7:20 - 7:24
    nos voltemos a aproximar
    do ato de comer com alta dignidade
  • 7:24 - 7:26
    e percebermos o que é
    que estamos a fazer.
  • 7:27 - 7:30
    Porque a comida
    — e estes mexilhões são fantásticos,
  • 7:31 - 7:33
    posso dizer como é que se faz
  • 7:33 - 7:35
    que é para ser mais rápido —
  • 7:36 - 7:39
    basta cortar uma cebola e tomate
    para dentro duma panela,
  • 7:39 - 7:41
    metem os mexilhões e está feito.
  • 7:42 - 7:45
    Depois, põem uma fatia de pão
    e está a andar para a frente.
  • 7:46 - 7:48
    É destas ligações emocionais
    que vos queria falar
  • 7:48 - 7:50
    porque nós somos aquilo que comemos.
  • 7:50 - 7:53
    Olham para mim e eu não tenho
    vergonha nenhuma de dizer,
  • 7:53 - 7:55
    eu sei que os meus colegas hoje
    falaram dos nutrientes.
  • 7:55 - 7:57
    Nós não comemos nutrientes.
  • 7:57 - 7:58
    Nós comemos comida, pá!
  • 7:58 - 7:59
    (Risos)
  • 7:59 - 8:00
    (Aplausos)
  • 8:00 - 8:01
    Nós comemos...
  • 8:01 - 8:04
    (Aplausos)
  • 8:06 - 8:08
    Nós comemos porque nos sabe bem!
  • 8:08 - 8:10
    Todos nós, quando vamos à Mealhada,
  • 8:10 - 8:12
    estamos lá a pensar nos nutrientes.
  • 8:12 - 8:14
    (Risos)
  • 8:14 - 8:16
    Nós queremos é comer.
  • 8:17 - 8:19
    A verdade é que eu estive
    a fazer umas contas
  • 8:19 - 8:24
    e nós temos uma esperança de vida
    de cerca de 78 anos,
  • 8:24 - 8:27
    dá cerca de 30 000 dias
  • 8:27 - 8:30
    ou seja, temos 30 000 oportunidades
    para fazermos uma refeição
  • 8:30 - 8:32
    que valha a pena a gente
    dizer no dia a seguir:
  • 8:32 - 8:34
    "É pá, ontem comi que foi uma maravilha!"
  • 8:34 - 8:35
    (Risos)
  • 8:37 - 8:41
    Eu sei que um gelado é uma coisa
    que todos nós gostamos de comer.
  • 8:42 - 8:45
    Aquilo que eu quero dizer a todos
    é que saiam da despensa
  • 8:47 - 8:48
    deixem lá o "fast food"
  • 8:49 - 8:51
    retomem agora esta moda boa
    da comida regional,
  • 8:51 - 8:54
    apoiem os vossos produtores,
    vão aos mercados,
  • 8:54 - 8:56
    comprem produtos, cozinhem.
  • 8:56 - 8:58
    Sejam felizes.
  • 8:58 - 9:01
    Porque as pessoas que gostam
    de comer são sempre as melhores pessoas.
  • 9:01 - 9:04
    (Aplausos)
  • 9:10 - 9:13
    E eu tenho a ambição de ser
    a melhor pessoa do mundo.
  • 9:13 - 9:15
    (Risos)
  • 9:15 - 9:16
    Obrigado.
  • 9:17 - 9:20
    (Aplausos)
Title:
Porque comemos como comemos? | Rodrigo Meneses | TEDxPorto
Description:

De que forma é que a História tem influência na nossa alimentação e o que é que a pornografia tem a ver com o que vemos nos nossos pratos todos os dias? Comer é um ato de prazer ou de sobrevivência? E será que somos o que comemos? Rodrigo Meneses explica porque é que é um "foodie" e porque é que todos nós podemos e deveríamos ser "foodies".

Esta palestra foi feita num evento TEDx usando o formato de palestras TED, mas organizado independentemente por uma comunidade local. Saiba mais em http://ted.com/tedx

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Video Language:
Portuguese
Team:
closed TED
Project:
TEDxTalks
Duration:
09:31

Portuguese subtitles

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