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Títol:
Como uma árvore pode ter 40 variedade de frutos
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Descripció:
O artista Sam Van Aken partilha o impressionante trabalho por detrás da "Árvore dos 40 Frutos", o contínuo trabalho de árvores híbridas onde frutificam 40 variedades de frutos, pêssegos, ameixas, nectarinas e cerejas — todas na mesma árvore. O que começou como um projeto artístico para mostrar a beleza e as cores das variadas florações transformou-se num arquivo vivo de variedades de frutas antigas e raras com as suas histórias, uma maneira interativa (e deliciosa!) de ensinar o cultivo e um símbolo vivo da necessidade da biodiversidade para assegurar a segurança alimentar. Como diz Van Aken, "Mais do que fruta, nesta fruta está a nossa cultura.. De certa forma, esta fruta é a nossa história."
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Speaker:
Sam Van Aken
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Há 100 anos,
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existiam 2000 tipos de pêssegos,
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quase 2000 variedades de ameixas
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e cerca de 800 variedades
de maçãs nos EUA.
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Hoje, resta somente
uma amostra deste número,
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e encontram-se atualmente ameaçadas
graças à industrialização da agricultura,
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às pragas e à alteração climática.
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Entre as variedades ameaçadas,
encontramos a Blood Cling,
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um pêssego de polpa vermelha, introduzido
na América por missionários espanhóis,
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e posteriormente cultivado
pelos povos nativos durante séculos;
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um alperce introduzido
por imigrantes chineses
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que vieram trabalhar
na Ferrovia Transcontinental;
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e inúmeras variedades de ameixas
originárias do Médio Oriente,
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e introduzidas por imigrantes
italianos, franceses e alemães.
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Nenhuma destas variedades é autóctone.
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A maioria das nossas árvores de fruto
foram cá introduzidas,
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incluindo as maçãs,
os pêssegos e as cerejas.
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Para além de alimento,
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a nossa cultura está embutida
nestas peças de fruta.
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Falamos de quem as cultivou
e delas se ocupou,
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que tanto as valorizava
que resolveu trazê-las consigo
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como elo de ligação às suas origens,
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refletem o modo como foram
transmitidas e partilhadas.
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Estas frutas fazem parte
da nossa história.
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E eu tive o privilégio de a poder estudar
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através de uma obra da minha autoria,
"A Árvore de 40 frutos".
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A árvore de 40 frutos
trata-se de uma árvore
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capaz de dar 40 variedades diferentes
de frutos com caroço.
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Falamos de pêssegos, ameixas,
alperces, nectarinas e cerejas,
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todos eles a crescer numa só árvore,
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feita de modo a parecer uma árvore normal
durante a maior parte do ano,
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até à época da primavera, quando floresce
em tons de rosa e branco,
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para depois no verão
dar uma panóplia de diferentes frutos.
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Comecei este projeto
puramente por razões artísticas:
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queria alterar a realidade do quotidiano,
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e, para dizer a verdade,
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criar um momento brilhante,
onde podemos ver uma árvore
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a dar flores de diferentes tons
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e frutos de diferentes variedades.
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Criei a árvore de 40 frutos
através de enxertos.
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Colhi enxertos no inverno, guardei-os,
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e enxertei-os na primavera.
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Na realidade, quase todas as árvores
de fruto são enxertadas,
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porque a semente é geneticamente
diferente da árvore mãe.
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Quando encontramos
uma variante de que gostamos,
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a maneira de a propagarmos
é cortar uma estaca duma árvore
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e enxertá-la numa outra árvore
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— parece loucura
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que cada maçã Macintosh
venha da mesma árvore
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que foi enxertada uma e outra vez
durante gerações.
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Mas também significa que as árvores
não podem ser preservadas pela semente.
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Conheço os enxertos
desde que me lembro.
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O meu bisavô ganhava a vida
a enxertar pomares de pêssegos
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no sudeste da Pensilvânia.
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Apesar de não o ter conhecido,
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sempre que o seu nome era mencionado,
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era reconhecido
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pela capacidade quase mística
ou mágica de enxertar.
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Escolhi o número 40
para a árvore de 40 frutos
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porque, nas religiões ocidentais,
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este número é visto não como
a dúzia quantificável ou o infinito,
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mas como um número
impossível de contar.
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É uma multitude de valor ou um prémio.
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Mas o problema, quando comecei,
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é que não encontrei
40 variedades desses frutos,
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apesar de viver em Nova Iorque,
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que, há um século,
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era um dos principais
produtores desses frutos.
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Enquanto acabavam com
os pomares de investigação
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e os antigos pomares,
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eu colhia amostras
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e enxertava-as nas minhas árvores
no meu viveiro.
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Isto é como a árvore de 40 frutos
era quando foi plantada,
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e isto é seis anos depois.
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Não é um desporto
de gratificação imediata.
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Leva um ano até sabermos
se o enxerto foi bem sucedido;
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dois a três anos para frutificar;
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e leva até oito anos
a criar apenas uma árvore.
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Todas as variedades
na árvore de 40 frutos
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são ligeiramente diferentes
na forma e no sabor.
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Percebi que ao fazer uma tabela
da floração das variedades
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de umas em relação a outras,
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poderia modelar ou desenhar
o aspeto da árvore na primavera.
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Isto é a árvore durante o verão.
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Produzem fruto de junho a setembro.
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Primeiro as cerejas,
depois os alperces,
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ameixas asiáticas,
nectarinas e pêssegos,
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e penso que me esqueci
de algum, algures...
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Apesar de ser uma obra artística
no exterior de uma galeria,
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enquanto o projeto continua,
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tem sido tema de conversa
no mundo da arte.
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Fui convidado para recriar
a árvore em vários locais,
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o que faço é estudar as variedades
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que são originárias
ou históricas dessa região,
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recolho-as localmente
e enxerto-as na árvore
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para que seja um pedaço
de história agrícola da região.
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Depois o projeto teve projeção "online",
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o que foi uma coisa horrível
e me deu humildade.
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A parte horrível foi
todas as tatuagens que vi
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nas fotos da árvore dos 40 frutos.
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Pensei: "Quem faria isso ao seu corpo?"
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E a parte que me deu humildade
foram todos os pedidos que recebi
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de pastores, rabinos e padres
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que me pediram para usar
a árvore como parte do serviço religioso.
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Depois passou a "meme".
[O teu casamento é como essa árvore?]
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A minha resposta a esta pergunta
é "Espero que não".
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Como todos os bons "memes",
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este levou a uma entrevista
na "Edição de Fim de Semana" da NPR
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e como professor de colégio,
pensei ter atingido o auge
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— como se fosse o pináculo
da minha carreira —
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mas nunca se sabe
quem está a ouvir a NPR.
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Semanas após a minha entrevista na NPR,
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recebi um "email"
do Departamento da Defesa.
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A Administração de Projetos
de Pesquisa Avançada de Defesa
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convidou-me a fazer uma palestra
sobre criatividade e inovação,
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uma conversa que rapidamente
mudou para segurança alimentar.
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Vejam, a nossa segurança nacional
depende da nossa segurança alimentar.
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Atualmente temos várias monoculturas
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que cultivam apenas
algumas variedades de cada cultura.
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Se algo acontecer com apenas
uma dessas variedades,
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isso pode ter um efeito dramático
no fornecimento alimentar.
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A chave para manter
a nossa segurança alimentar
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é preservar a nossa biodiversidade.
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Há 100 anos isto era feito
por quem tinha um jardim
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ou algumas árvores no seu quintal,
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e cultivavam variedades que eram
passadas de pais para filhos.
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Estas são ameixas de uma só árvore
de 40 frutos, numa semana, em agosto.
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Anos após o começo do projeto,
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fui informado que tinha uma
das maiores coleções de ameixas
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da zona este dos EUA,
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que, como artista,
é completamente aterrador.
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Mas de certa forma,
não sabia o que tinha.
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Descobri que a maioria
das variedades que tinha
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eram variedades herdadas,
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tinham sido cultivadas antes de 1945,
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ano que é visto como o nascimento
da industrialização da agricultura.
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Algumas das variedades
datavam de há milhares de anos.
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Ao descobrir o quanto eram raras,
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fiquei obcecado em protegê-las,
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e a arte foi o veículo utilizado.
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Fui a pomares antigos
antes de serem arrancados
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e removia a secção do tronco
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onde se encontrava o enxerto original.
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Comecei a colecionar
flores e folhas prensadas
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para um herbanário de amostras.
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Comecei a sequenciar o ADN.
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Propus-me preservar a história
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através de gravuras e descrições.
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Contar a história do pêssego de George IV,
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que ganhou raízes entre dois
edifícios em Nova Iorque
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— alguém passa, prova-o,
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e torna-se a variedade comercial
de maior sucesso do século XIX,
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por causa do seu ótimo sabor.
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Quase desaparece,
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pois não aguenta o transporte marítimo
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e não obedece aos requisitos
da agricultura moderna.
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Mas como história,
tinha de ser contada.
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E ao contar essa história,
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temos de incluir a experiência
de poder tocar,
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cheirar e saborear essas variedades.
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Então propus-me criar um pomar
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onde esses frutos pudessem
estar disponíveis ao público,
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e estivessem na zona
de maior densidade populacional
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que pudesse encontrar.
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Comecei a procurar meio hectare
de terra em Nova Iorque
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o que, em retrospetiva,
parece demasiado ambicioso,
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provavelmente a razão pela qual
ninguém respondia aos meus telefonemas
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até que, por fim, quatro anos mais tarde,
tive resposta de Governor's Island.
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A Governor's Island
é uma antiga base naval
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que foi doada à cidade
de Nova Iorque no ano 2000.
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Toda esta terra ficou acessível
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a uma viagem de 5 minutos
de Nova Iorque.
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Fui convidado a criar um projeto
a que chamaram "Pomar Aberto"
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que visa recuperar antigas
variedades de frutos
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que existiam em Nova Iorque
no século passado.
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Atualmente em marcha,
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o Pomar Aberto vai ser composto
por 50 árvores com múltiplos enxertos
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de 200 variedades de frutas
variadas e antigas.
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São variedades originárias
ou que fazem parte da história da região.
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Variedades como a maçã morango,
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que é originária da 13.ª Rua
e da 3.ª Avenida.
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Visto que uma árvore de fruta
não pode ser mantida pela semente,
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o Pomar Aberto visa ser
uma base genética viva,
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ou um arquivo desses frutos.
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Tal como a árvore dos 40 frutos,
vai ser uma experiência;
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e também vai ser simbólico.
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Mais importante, vai ser um convite
ao debate sobre a conservação
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e melhor conhecimento da comida.
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Através da árvore dos 40 frutos,
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recebi milhares e milhares
de "emails" de pessoas,
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a perguntar várias coisas sobre
"Como plantar uma árvore?"
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Com menos de 3% da população
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com um vínculo direto à agricultura,
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o Pomar Aberto vai convidar as pessoas
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a participarem no programa público
e a fazerem formações,
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para aprender a enxertar, manter,
podar e colher uma árvore;
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participar em provas de frutos
e passeios de floração;
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trabalhar com cozinheiros locais
para aprender a utilizar a fruta
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e recriar receitas antigas
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para as quais muitas destas variedades
eram especificamente cultivadas.
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Ir além do espaço físico do pomar,
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será um livro de receitas
que irá juntar todas essas receitas.
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Será um guia prático
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das características
e particularidades dessas frutas,
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da sua origem e história.
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Tendo crescido numa quinta,
pensava saber de agricultura
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e não queria ter nada a ver com ela.
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Então, fiz-me artista.
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Mas tenho de admitir
que faz parte do meu ADN.
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E penso não ser o único.
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Há 100 anos, todos nós estávamos
mais ligados à cultura,
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ao cultivo e à história da nossa comida,
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e fomo-nos desligando dela.
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O Pomar Aberto cria a oportunidade,
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não apenas de voltar a conectar
com este passado desconhecido,
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mas também uma maneira de pensar
como será o futuro da nossa comida.
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