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Títol:
Como salvar um idioma da extinção
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Descripció:
Cerca de três mil idiomas podem desaparecer dentro de 80 anos, quase silenciando culturas inteiras. Nesta breve palestra, o ativista linguístico Daniel Bögre Udell mostra como as pessoas em todo o mundo estão a encontrar novos meios de recuperar os seus idiomas ancestrais e reconstruir as suas tradições — e também nos encoraja a investigar as línguas dos nossos antepassados. "Reconstruir o nosso idioma e adotar a nossa cultura é a maneira mais poderosa de sermos nós mesmos," diz ele.
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Speaker:
Daniel Bögre Udell
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Os idiomas não morrem naturalmente.
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As pessoas abandonam as suas línguas
maternas porque são obrigadas a isso.
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Na maioria das vezes,
por pressões políticas.
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o general do exército dos EUA,
Richard Henry Pratt
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disse que matar as culturas indígenas
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era a única alternativa
a matar os povos indígenas
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"Matem o índio",
disse, "mas salvem o homem".
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E até 1978, foi o que o governo fez,
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tirando as crianças indígenas
às suas famílias
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e colocando-as em internatos,
onde recebiam nomes ingleses
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e eram punidas sempre
que falavam os seus idiomas nativos.
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A "assimilação" era um eufemismo
para genocídio.
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Sete mil idiomas estão vivos hoje,
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mas poucos são reconhecidos
pelos seus governos
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ou estão representados na Internet.
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Então, para as pessoas
da grande maioria das culturas,
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a globalização continua a ser
profundamente alienatória.
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Significa trocar o seu idioma
pelo de outra pessoa.
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Se nada disso mudar,
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pelo menos três mil idiomas
podem desaparecer dentro de 80 anos.
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Mas as coisas estão a mudar.
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Em todo o mundo,
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as pessoas estão a reanimar
idiomas ancestrais
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e a reconstruir as suas culturas.
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Tanto quanto sabemos,
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a recuperação de idiomas
começou no início do século XIX,
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quando, num momento
de crescente antissemitismo
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as comunidades judaicas procuraram
o seu idioma ancestral, o hebreu,
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a fim de recuperar a sua cultura.
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Apesar de ter ficado adormecida
durante mil anos,
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estava bem preservada em livros
de religião e de filosofia judaicos.
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Os ativistas judeus estudaram
e ensinaram-no às suas crianças,
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criando os primeiros falantes nativos
em quase 100 gerações.
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Hoje, é a língua materna
de cinco milhões de judeus.
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E, pelo menos para mim,
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um membro falante da língua inglesa
assimilado à diáspora judaica,
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é um pilar de soberania cultural.
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Dois mil anos depois,
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nós ainda estamos aqui.
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Até recentemente,
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o despertar hebreu era uma anomalia.
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Poucos idiomas foram tão bem preservados
quanto o nosso foi,
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o primeiro estado judeu em mil anos,
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forneceu um espaço
para o uso diário do hebraico.
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Por outras palavras,
a maioria das culturas não teve hipótese.
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(Vídeo) Boa noite, eu sou Elizabeth
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e vivo na Cornualha.
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Isto é córnico,
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o idioma ancestral da Cornualha,
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que hoje, é tecnicamente
um distrito do sul da Inglaterra.
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No início do século XX, os ativistas
córnicos lutaram pela sua cultura.
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O seu idioma esteve adormecido
durante mais de 100 anos,
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mas eles usaram antigos livros e peças
para o ensinar às suas crianças.
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Mas esta nova geração
de falantes de córnico
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estava dispersa pela Cornualha
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e não tinham possibilidade
de falar o seu idioma livremente.
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Nos anos 90, o córnico
despertou novamente,
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mas não estava a prosperar.
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No início do século XXI, os falantes
de córnico encontraram-se "online"
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e criaram espaços digitais
para conversarem diariamente.
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Daí em diante, organizaram
eventos semanais e mensais
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nos quais podiam reunir-se
e conversar em público.
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Hoje, algumas escolas
ensinam o córnico.
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Há linguagem gestual em córnico,
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anúncios de gelados,
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Wikipedia, e até mesmo memes.
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(Risos)
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(Risos)
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E com o seu idioma
mais uma vez intacto,
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o povo da Cornualha
assegurou o reconhecimento
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enquanto nação céltica, tal como
a Irlanda, a Escócia e o País de Gales.
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Eles enfrentaram séculos
de assimilação forçada
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e disseram: "Nós não somos
um distrito da Inglaterra.
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"Nós somos um povo de pleno direito.
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"E ainda estamos aqui."
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Eles não são os únicos.
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A tribo Tunica-Biloxi da Lousiniana
está a recuperar o seu idioma ancestral
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(Vídio) Chamo-me Teyanna.
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Os meus amigos chamam-me
"Tempestade Silenciosa".
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Isto começou nos anos 80,
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quando Donna Pierite e a sua família
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começaram a viajar
para Baton Rouge e Nova Orleães
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para fotocopiar dicionários antigos
guardados em arquivos universitários.
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O objetivo era estudar o tunica
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e ensiná-lo às crianças
e também partilhá-lo com a comunidade.
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Hoje, eles estão a liderar
o renascimento do tunica.
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Desde 2014, há cerca de 100 falantes
do idioma em aulas imersivas.
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de acordo com o censo de 2017,
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32 novos falantes fluentes,
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e alguns deles, como Elisabeth,
a filha de Donna,
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estão a ensinar o tunica às crianças.
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Estes novos falantes
estão a criar conteúdos,
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vídeos para Facebook e também memes.
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(Risos)
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(Risos)
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(Risos)
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mais inspiram outras pessoas
do povo tunica a envolverem-se.
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Recentemente, um membro tribal do Texas,
escreveu para Elizabeth no Facebook
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a perguntar-lhe como se diz:
"Abençoadas sejam estas terras."
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Era para uma placa de quintal,
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para ela poder mostrar
aos vizinhos que a sua cultura está viva
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e a prosperar nos dias de hoje.
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O hebreu, o córnico e o tunica
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são só três exemplos de uma onda
de ativismo linguístico nos continentes.
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Sejam eles falantes jèrriais
das Ilhas do Canal,
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ou falantes quenianos
de linguagem gestual de Nairobi.
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todas as comunidades que trabalham
para preservar ou recuperar um idioma
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possuem uma coisa em comum: os "media"
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para o seu idioma poder ser
partilhado e ensinado.
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À medida que a Internet cresce,
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expandindo o acesso
aos "media" e à criação,
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preservar e recuperar
idiomas ancestrais
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é mais possível hoje do que nunca.
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Então, quais são os vossos
idiomas ancestrais?
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Os meus são o hebreu, o iídiche,
o húngaro e o gaélico escocês,
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apesar de eu ter sido
criado com o inglês.
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Felizmente para mim, cada um
destes idiomas está disponível "online".
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O hebreu em particular
— veio instalado no meu iPhone —
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aparece no Google Tradutor,
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e até possui corretor automático.
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Embora o vosso idioma
talvez não esteja considerado
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eu encorajo-vos a investigar
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porque talvez, alguém, algures,
tenha começado algo "online".
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Recuperar o nosso idioma
e adotar a nossa cultura
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é uma maneira poderosa de sermos
nós mesmos, na era da globalização,
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Porque, tal como eu aprendi
recentemente a dizer em hebreu:
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nós ainda estamos aqui.
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Obrigado.
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(Aplausos)