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O racismo prospera no silêncio — falem alto!

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    Sou advogado de direitos humanos.
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    Sou advogado de direitos humanos
    há 30 anos
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    e vou contar o que sei.
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    Era uma vez um homem
    sozinho numa sala.
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    Chamava-se Alton.
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    Então, outros sete homens,
    sete estranhos,
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    irromperam na sala
    e arrastaram-no de lá para fora.
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    Mantiveram-no numa posição
    horizontal, de crucifixo.
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    Um em cada braço,
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    dois em cada perna,
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    e o sétimo homem mantinha
    o pescoço de Alton numa tenaz
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    entre os braços.
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    Alton estrebuchava para respirar
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    e dizia "Não consigo respirar",
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    tal como George Floyd disse:
    "Não consigo respirar".
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    Mas eles não ligaram.
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    Pouco depois, Alton morreu.
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    Quando me pediram para representar
    a mãe dele, o irmão e a irmã dele,
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    no inquérito sobre a sua morte,
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    perguntaram-me:
    "Como é que isto pôde acontecer?"
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    E eu não tinha resposta.
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    Porque Alton tinha lesões pelo corpo todo.
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    Tinha contusões no pescoço e no tórax.
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    Tinha contusões nos braços e nas pernas.
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    Tinha sangue nos olhos,
    nos ouvidos e no nariz.
  • 1:31 - 1:34
    Mas afirmavam que não sabiam nada.
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    Afirmavam que não sabiam
    explicar como é que ele tinha morrido.
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    Alton tinha dois problemas.
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    Primeiro, o corredor em que morrera
    era o corredor duma prisão.
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    E segundo, ele era negro.
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    Por isso, vou falar-vos hoje
    da pergunta que me fez a mãe de Alton.
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    Como é que uma coisa daquelas
    podia acontecer no nosso país?
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    Como é que podem acontecer estas coisas
  • 2:07 - 2:10
    em países, pelo mundo inteiro?
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    Como é que ainda podem acontecer
  • 2:12 - 2:15
    e o que é que podemos fazer
    para impedi-lo?
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    Durante 30 anos,
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    tenho representado as famílias
    de pessoas de cor
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    que têm sido mortas
    sob custódia do estado, no Reino Unido.
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    E já defendi os direitos humanos
    em quatro continentes.
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    O que aprendi foi isto:
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    Se queremos fazer alguma coisa
    contra o racismo,
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    primeiro temos de perceber o que ele é.
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    Falemos então dessa coisa chamada "raça".
  • 2:44 - 2:46
    O que é exatamente?
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    Um facto da nossa vida?
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    Uma das forças mais poderosas do mundo?
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    Uma coisa de que não gostamos
    muito de falar?
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    É essas coisas todas
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    mas é outra coisa também.
  • 3:00 - 3:02
    É um mito.
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    Essa coisa da "raça" não existe.
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    A investigação científica demonstra
    que a "raça" é uma ilusão.
  • 3:15 - 3:16
    Por exemplo,
  • 3:16 - 3:19
    alguém de ascendência europeia
  • 3:19 - 3:23
    pode estar geneticamente
    mais próximo duma pessoa asiática
  • 3:24 - 3:27
    do que de outra pessoa
    de ascendência europeia.
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    Portanto, se a "raça" não é
    um facto biológico,
  • 3:31 - 3:33
    o que é ao certo?
  • 3:34 - 3:38
    É uma construção social.
  • 3:38 - 3:41
    O que significa que é uma invenção.
  • 3:41 - 3:44
    Mas por quem e por que razão?
  • 3:46 - 3:53
    Enquanto espécie, partilhamos 99,9%
    de ADN com todas as outras pessoas.
  • 3:53 - 3:56
    Mas as características
    exteriores visíveis,
  • 3:57 - 4:00
    como o tipo do cabelo e a cor da pele,
  • 4:00 - 4:04
    têm sido usadas para promover
    essa mentira genética racista
  • 4:04 - 4:08
    sobre as supostas diferenças
    genéticas raciais.
  • 4:10 - 4:13
    O racismo é endémico há séculos.
  • 4:13 - 4:18
    Os nazis, claro, foram muito hábeis
    a promover a mentira racista.
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    Mas os EUA também foram.
  • 4:21 - 4:24
    Fizeram experiências eugénicas
    e leis eugénicas.
  • 4:25 - 4:27
    Na Austrália,
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    as crianças de dupla herança aborígene
    foram confiscadas aos pais
  • 4:34 - 4:38
    a fim de se criar uma Austrália branca.
  • 4:39 - 4:43
    Este tipo de mentalidade
    está a aparecer de novo,
  • 4:43 - 4:45
    em grupos de extrema-direita
  • 4:45 - 4:49
    que aspiram a nações racialmente puras.
  • 4:50 - 4:52
    Como é que isso funciona?
  • 4:53 - 4:57
    Nós não temos desigualdades
    sociais por causa da "raça".
  • 4:58 - 5:03
    Temos desigualdades sociais
    que são justificadas pela "raça".
  • 5:05 - 5:07
    Comecei a perceber isto
  • 5:07 - 5:11
    quando estava a representar
    ativistas contra o "apartheid".
  • 5:11 - 5:15
    Eles mostraram-me
    como o "apartheid" era um sistema
  • 5:15 - 5:19
    de exploração e de discriminação social.
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    que era justificado pela "raça",
  • 5:21 - 5:25
    pela suposta superioridade dos brancos.
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    e pela suposta inferioridade dos negros.
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    O regime de "apartheid"
    dizia que era a Natureza
  • 5:34 - 5:36
    e, portanto, era inevitável
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    e não se podia fazer nada
    quanto a isso.
  • 5:40 - 5:47
    A mentira da Mãe Natureza torna aceitável
    a discriminação e a injustiça.
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    Também a encontrei nos casos
  • 5:50 - 5:55
    em que as pessoas sofrem a herança
    da colonização e do império.
  • 5:56 - 6:01
    Tenho visto efeitos semelhantes
    entre pessoas da mesma cor, em África.
  • 6:02 - 6:07
    E como as pessoas de certas castas
    são consideradas inferiores na Índia.
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    As vítimas podem ser diferentes,
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    mas o mecanismo
    — os rótulos e as mentiras —
  • 6:16 - 6:18
    é exatamente o mesmo.
  • 6:19 - 6:23
    Vemos porque é que as pessoas aderem
    tão facilmente a essa coisa da "raça".
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    Porque isso dá aos privilegiados,
  • 6:26 - 6:28
    às pessoas como nós,
  • 6:28 - 6:31
    um livre trânsito para saírem da cadeia.
  • 6:33 - 6:36
    A verdade é que a "raça" é um sistema.
  • 6:37 - 6:40
    É como o oxigénio, como a atmosfera.
  • 6:40 - 6:43
    Invade tudo na nossa sociedade.
  • 6:43 - 6:47
    Infeta toda a gente em que toca.
  • 6:47 - 6:50
    Protege o poder e o privilégio.
  • 6:52 - 6:53
    De quem?
  • 6:54 - 6:56
    Olhem à vossa volta.
  • 6:57 - 7:00
    O que acontece se as pessoas de cor,
    pessoas como eu,
  • 7:00 - 7:05
    tentarem falar com brancos
    sobre o racismo?
  • 7:06 - 7:11
    Muitos, mas mesmo muitos, brancos
    acham muito difícil falar sobre isso.
  • 7:11 - 7:14
    Alguns brancos dirão
    que não sabem o que isso é.
  • 7:15 - 7:18
    Outros dirão que, na nossa sociedade,
  • 7:18 - 7:21
    não há racismo nenhum.
  • 7:23 - 7:28
    Portanto, se vocês são brancos
    e pensam nisto tudo,
  • 7:28 - 7:31
    há um exercício intelectual
    que podem fazer.
  • 7:33 - 7:35
    Porque a verdade é esta.
  • 7:35 - 7:39
    Vocês sabem, vocês já sabem.
  • 7:39 - 7:41
    Por isso, perguntem a vocês mesmos:
  • 7:42 - 7:46
    Gostariam que o vosso filho
    ou a vossa filha,
  • 7:46 - 7:49
    o vosso irmão ou a vossa irmã.
  • 7:49 - 7:53
    casasse com um muçulmano
    praticante do Médio Oriente?
  • 7:53 - 7:58
    Ou com alguém recém-chegado
    do sul da Ásia, que seja hindu?
  • 7:59 - 8:03
    Ou alguém que procure asilo
    vindo da África subsaariana?
  • 8:03 - 8:08
    Ou alguém que tenha atravessado
    recentemente a fronteira EUA-México?
  • 8:09 - 8:13
    Podem não ter uma objeção total
  • 8:13 - 8:16
    mas podem ficar preocupados.
  • 8:17 - 8:22
    Uma hesitação a fazer cócegas
    bem lá no fundo.
  • 8:22 - 8:25
    Não é por causa da cor da pele.
  • 8:25 - 8:29
    Não é por vocês saberem
    que, em países como o nosso,
  • 8:29 - 8:31
    tal como estão hoje as coisas,
  • 8:31 - 8:36
    as perspetivas de vida deles
    serão afetadas por essa união.
  • 8:37 - 8:39
    E percebem que, de facto, sabem,
  • 8:39 - 8:43
    que compreendem
    porque é que as pessoas os vão julgar.
  • 8:43 - 8:46
    De mil e uma maneiras,
  • 8:46 - 8:49
    esses julgamentos
    vão afetar a vida deles
  • 8:49 - 8:52
    e a vida dos filhos que tiverem.
  • 8:53 - 8:54
    Nesse momento,
  • 8:54 - 8:58
    estão a estabelecer contacto
    com uma verdade poderosa.
  • 8:58 - 9:04
    Vocês sabem que o racismo sistémico
    é uma coisa real.
  • 9:05 - 9:08
    Então, porque é que não querem
    falar sobre a "raça"?
  • 9:08 - 9:11
    Porque é desconfortável, claro.
  • 9:12 - 9:14
    Mas isso é só uma parte da resposta.
  • 9:15 - 9:18
    A verdade maior é muito mais devastadora.
  • 9:19 - 9:22
    A vossa reação não é
    apenas para ficar na defensiva,
  • 9:22 - 9:25
    é um mecanismo de defesa.
  • 9:25 - 9:28
    Defende o sistema de privilégio
  • 9:28 - 9:31
    e a divisão desigual
    da riqueza e do poder.
  • 9:32 - 9:36
    A fragilidade torna aceitável
    a desigualdade racial.
  • 9:37 - 9:40
    Quem ganha e quem perde?
  • 9:40 - 9:42
    Observem os dados.
  • 9:44 - 9:45
    Nos rendimentos.
  • 9:45 - 9:47
    Na disparidade da riqueza.
  • 9:47 - 9:49
    Na exclusão escolar.
  • 9:49 - 9:50
    Nas perspetivas de carreira.
  • 9:50 - 9:52
    Nas rusgas policiais.
  • 9:52 - 9:55
    Observem como as pessoas de cor
  • 9:55 - 9:59
    estão a morrer de COVID
    de forma desproporcionada.
  • 10:01 - 10:05
    Se o mito racial
    torna as pessoas invisíveis
  • 10:06 - 10:10
    e a fragilidade acarreta silêncios,
  • 10:10 - 10:12
    com que opções é que ficamos?
  • 10:12 - 10:17
    A escolha binária é entre
    ser racista ou não ser racista,
  • 10:18 - 10:20
    Ou haverá outra hipótese?
  • 10:21 - 10:24
    Porque quase toda a gente
    nesta palestra TED
  • 10:24 - 10:27
    dirá que não é racista.
  • 10:28 - 10:30
    Mas temos que concordar:
  • 10:30 - 10:33
    não ser uma coisa não chega.
  • 10:34 - 10:39
    A terceira opção
    é ser ativamente antirracista.
  • 10:40 - 10:43
    Portanto, se estão de acordo
    que as vidas dos negros são importantes,
  • 10:43 - 10:45
    perguntem a vocês mesmos:
  • 10:45 - 10:48
    "Como é que as vidas dos negros
    são importantes na minha vida?"
  • 10:48 - 10:51
    "O que é que eu já fiz para mostrar
  • 10:51 - 10:54
    "que as vidas dos negros
    são importantes para mim?"
  • 10:54 - 11:00
    Adorando uma atitude antirracista
    visível, consciente e ativa,
  • 11:00 - 11:04
    o que era invisível passa a ser visível.
  • 11:04 - 11:07
    O que estava silenciado
  • 11:07 - 11:11
    é gritado alto e bom som.
  • 11:12 - 11:15
    Mas isso ainda não chega.
  • 11:18 - 11:22
    Ao fim de semanas
    de uma luta cerrada no inquérito,
  • 11:23 - 11:27
    o júri, só de brancos, regressou
    ao tribunal no processo de Alton.
  • 11:29 - 11:32
    Houve um momento de silêncio total
  • 11:32 - 11:35
    quando o porta-voz se levantou
  • 11:37 - 11:39
    e anunciou o veredito.
  • 11:41 - 11:44
    Tinha sido um homicídio ilegal.
  • 11:45 - 11:48
    Nesse momento, foi o pandemónio
    na sala do tribunal.
  • 11:48 - 11:51
    Fez-se um barulho ensurdecedor.
  • 11:52 - 11:54
    As pessoas gritavam.
  • 11:54 - 11:57
    A irmã de Alton estava de pé
    na coxia ao meu lado,
  • 11:57 - 12:00
    apontava para os guardas prisionais
  • 12:00 - 12:01
    e gritava-lhes:
  • 12:02 - 12:03
    "Vocês mataram o meu irmão!"
  • 12:03 - 12:05
    "Vocês mataram o meu irmão!"
  • 12:07 - 12:10
    A família queria, desesperadamente,
  • 12:10 - 12:15
    que os guardas prisionais
    responsáveis pela morte de Alton
  • 12:15 - 12:17
    fossem acusados.
  • 12:17 - 12:20
    Todos nós queríamos o mesmo.
  • 12:20 - 12:24
    Mas nenhum deles foi acusado.
  • 12:24 - 12:28
    Então, levámos a tribunal
    o procurador-geral,
  • 12:28 - 12:31
    o diretor dos processos públicos.
  • 12:31 - 12:34
    O mais alto magistrado do país,
  • 12:34 - 12:36
    o Juiz do Supremo Tribunal de Justiça,
  • 12:36 - 12:40
    concordou que a decisão
    de não fazer a acusação
  • 12:40 - 12:43
    estava eivada de um erro fatal
    e, além disso, era ilegal.
  • 12:46 - 12:49
    Todos os dias, durante o caso de Alton,
  • 12:49 - 12:53
    o irmão dele sentava-se
    nos degraus do tribunal
  • 12:53 - 12:55
    e dizia-me:
  • 12:55 - 12:58
    "Aperte com eles hoje, Dr. D."
  • 13:00 - 13:05
    Mas, quando se apercebeu
    que nunca ninguém seria acusado
  • 13:05 - 13:07
    da morte do irmão,
  • 13:08 - 13:09
    ficou destroçado.
  • 13:10 - 13:15
    Morreu poucos anos depois
    num hospital psiquiátrico.
  • 13:18 - 13:21
    Então, como é que a morte
    de Alton mexe convosco
  • 13:21 - 13:25
    e com o racismo e o privilégio
    nas nossas sociedades?
  • 13:26 - 13:29
    O que é que eu quero de vocês?
  • 13:29 - 13:34
    O que eu quero é que este trabalho
    deixe de ser necessário.
  • 13:35 - 13:38
    As famílias enlutadas
    vêm ter comigo
  • 13:38 - 13:41
    e vejo a esperança nos olhos delas.
  • 13:41 - 13:47
    E tenho de lhes dizer que as hipóteses
    de alguém vir a ser acusado
  • 13:47 - 13:50
    por estarem envolvidos
    na morte dos seus entes queridos
  • 13:50 - 13:52
    são muito remotas.
  • 13:54 - 13:56
    Vi aqueles rostos enlutados
  • 13:56 - 13:59
    na primavera da minha carreira.
  • 13:59 - 14:01
    E continuo a vê-los
  • 14:01 - 14:04
    agora que estou a entrar
    no outono dela.
  • 14:04 - 14:07
    A estação do verão
    esteve cheia de sangue.
  • 14:08 - 14:12
    E, de certo modo, eu penso
    que tenho sangue nas minhas mãos
  • 14:12 - 14:15
    apesar de saber, racionalmente,
    que não é o caso.
  • 14:15 - 14:17
    Mas não consegui recuperar
  • 14:17 - 14:20
    Alton nem Gareth nem Zahid,
  • 14:20 - 14:22
    nem nenhum dos outros,
  • 14:22 - 14:26
    que era só o que
    as famílias enlutadas queriam.
  • 14:29 - 14:32
    Então, peço-vos que olhem
    para além das mentiras.
  • 14:34 - 14:38
    Sobretudo, para ver para além
    duma das piores mentiras de todas.
  • 14:38 - 14:43
    Que o que fazemos não fará
    nem pode fazer qualquer diferença.
  • 14:44 - 14:46
    Certamente disseram
    o mesmo a Rosa Parks
  • 14:46 - 14:48
    e a Martin Luther King
  • 14:48 - 14:50
    e a Nelson Mandela.
  • 14:51 - 14:54
    E eles continuaram em frente
    e conseguiram qualquer coisa.
  • 14:55 - 14:57
    Eu tentei pensar neles
  • 14:57 - 15:00
    quando interrogava
    os guardas prisionais.
  • 15:00 - 15:02
    E dizia-lhes a todos:
  • 15:02 - 15:05
    "Olhem para a Sra. Manning,
    a mãe de Alton,
  • 15:05 - 15:09
    "e digam-lhe porque é que o filho morreu."
  • 15:10 - 15:13
    Nenhum deles conseguiu olhar para ela.
  • 15:14 - 15:18
    Queriam que ela fosse invisível.
  • 15:20 - 15:26
    Infelizmente, ao ver que ninguém
    ia ser acusado pela morte do filho,
  • 15:27 - 15:29
    ela mergulhou numa profunda depressão
  • 15:29 - 15:31
    e morreu.
  • 15:32 - 15:36
    Mas eu nunca esquecerei
    como, no meio do caos e do tumulto,
  • 15:36 - 15:39
    quando foi anunciado o veredito,
  • 15:39 - 15:40
    eu virei-me para ela e disse:
  • 15:41 - 15:44
    "Sra. Manning, lamento muito,
    pela sua família."
  • 15:46 - 15:47
    Ela olhou para mim e disse:
  • 15:47 - 15:51
    "Sr. Dias, o senhor é da família."
  • 15:51 - 15:55
    Apontou para os guardas prisionais
    e para o júri e disse:
  • 15:55 - 15:57
    "E eles são família.
  • 15:57 - 15:59
    "Mas as famílias discutem e lutam,
  • 15:59 - 16:01
    "e nós temos de resolver tudo isso.
  • 16:02 - 16:04
    "Temos de encontrar uma forma."
  • 16:04 - 16:07
    Como é que resolvemos isto e quando?
  • 16:09 - 16:11
    O Dr. King ensinou-nos
  • 16:12 - 16:17
    que é sempre boa altura
    para as coisas certas.
  • 16:18 - 16:21
    Estas mortes polémicas
    sob custódia do estado
  • 16:21 - 16:25
    ocorreram em prisões
    e em esquadras da polícia.
  • 16:25 - 16:29
    Mas, finalmente, caíram
    sob a luz dos projetores
  • 16:29 - 16:32
    pela terrível morte de George Floyd.
  • 16:33 - 16:36
    Hoje, ninguém pode dizer que não sabia.
  • 16:36 - 16:40
    A crise da COVID e a morte de George Floyd
  • 16:40 - 16:43
    chocou-nos para além
    de toda a complacência.
  • 16:44 - 16:46
    Puseram o mundo em ebulição,
  • 16:46 - 16:51
    porque o que foi visto
    não pode ser invisível.
  • 16:52 - 16:56
    Este momento é um momento
    histórico de mudança.
  • 16:58 - 17:01
    É altura de passar à ação
  • 17:01 - 17:04
    nas nossas esferas de influência
  • 17:04 - 17:06
    e todos as temos.
  • 17:06 - 17:08
    Temos o poder do voto,
  • 17:08 - 17:10
    temos o poder do dinheiro,
  • 17:10 - 17:13
    onde gastar o nosso dinheiro
    e em que o gastar.
  • 17:13 - 17:17
    Temos o poder de confrontar o racismo
    onde quer que o encontremos
  • 17:17 - 17:19
    e sempre que o encontremos.
  • 17:21 - 17:23
    Os que estão a escutar-me
  • 17:23 - 17:26
    que têm beneficiado desse privilégio,
  • 17:26 - 17:30
    têm a oportunidade de alterar as coisas
  • 17:30 - 17:34
    e exigir que a sociedade mude.
  • 17:35 - 17:40
    Por fim, o que acontece
    está agora nas nossas mãos.
  • 17:41 - 17:43
    Isto é o que eu sei.
  • 17:43 - 17:48
    Quando alguém, sob custódia do estado,
    diz: "Não consigo respirar"
  • 17:48 - 17:50
    está em perigo de morte.
  • 17:50 - 17:55
    Mas quando uma sociedade
    não corta o oxigénio ao racismo,
  • 17:55 - 17:58
    não permite que todos respirem
    todos os dias,
  • 17:58 - 18:03
    a esperança de justiça racial
    e de igualdade nessa sociedade
  • 18:03 - 18:06
    também está em perigo de morte.
  • 18:07 - 18:10
    Não pode haver mais Altons,
  • 18:10 - 18:12
    nem mais Gareths, nem mais Zahids.
  • 18:12 - 18:16
    nem Olasenis, nem Jimmys e Seans,
  • 18:16 - 18:18
    nem Sherrys e Breonnas,
  • 18:18 - 18:21
    nem Christophers e Georges.
  • 18:23 - 18:25
    Mas não se trata só de mortes,
  • 18:26 - 18:27
    também se trata da vida.
  • 18:27 - 18:31
    E de os seres humanos
    florescerem em conjunto.
  • 18:31 - 18:34
    Todos nós somos precisos para isso.
  • 18:35 - 18:38
    O racismo quer manter-se invisível.
  • 18:38 - 18:40
    Denunciem-no.
  • 18:40 - 18:42
    O racismo quer o vosso silêncio.
  • 18:42 - 18:44
    Façam barulho.
  • 18:44 - 18:47
    O racismo quer a vossa apatia.
  • 18:47 - 18:51
    Comprometam-se a usar a vossa voz,
  • 18:51 - 18:53
    o vosso privilégio e o vosso poder
  • 18:53 - 18:57
    para lutarem sempre pela justiça racial
  • 18:57 - 19:02
    e para se juntarem ao crescendo de vozes
    que exigem a mudança.
  • 19:02 - 19:05
    Para fazer parte da esperança.
  • 19:06 - 19:08
    Querem juntar-se a nós?
Title:
O racismo prospera no silêncio — falem alto!
Speaker:
Dexter Dias
Description:

O racismo prospera no nosso silêncio e apatia, diz Dexter Dias, advogado defensor dos direitos humanos. Conta-nos a história de um doloroso processo num tribunal do Reino Unido que ilumina os efeitos corrosivos da injustiça. Dias apela-nos a falar alto e a denunciar os mitos tóxicos sobre o racismo — para permitir que a esperança, a mudança e a justiça floresçam.

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
19:21

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