Por que as pessoas se gabam? A psicologia do ato de se gabar | Irene Scopelliti | TEDxSquareMile
-
0:12 - 0:14Eu tenho uma amiga.
-
0:14 - 0:17Para proteger sua privacidade,
vou chamá-la de Maria. -
0:17 - 0:19Maria tem um trabalho maravilhoso.
-
0:19 - 0:22Ela é fotógrafa e é muito talentosa.
-
0:22 - 0:25As coisas vão muito bem para ela.
-
0:25 - 0:29Está assinando um contrato
após o outro: exposições. -
0:29 - 0:32Ano passado ela ganhou
alguns prêmios importantes. -
0:33 - 0:36O que gosto nela
é que, quando as coisas vão bem, -
0:36 - 0:38ela sabe comemorar.
-
0:40 - 0:42Maria viajou o mundo todo.
-
0:42 - 0:45Ela já viu alguns dos lugares
mais lindos do mundo. -
0:45 - 0:48Ela gosta de comer,
gosta de bons restaurantes, -
0:48 - 0:51mas também é uma pessoa muito generosa.
-
0:51 - 0:53Todo ano ela tira um mês de férias
-
0:53 - 0:58e vai até a Bolívia, onde faz
trabalho voluntário num orfanato. -
0:58 - 1:03Ano passado na Bolívia ela conheceu Dave,
aparentemente o amor da sua vida, -
1:03 - 1:05que também era voluntário no orfanato.
-
1:05 - 1:08Parecem muito felizes juntos.
-
1:09 - 1:13Não vejo Maria há três anos,
-
1:13 - 1:16então como é que sei todas
essas coisas sobre ela? -
1:17 - 1:19Devem ter adivinhado
-
1:19 - 1:24que foi pelas atualizações meticulosas
no perfil de suas redes sociais. -
1:25 - 1:28Talvez vocês também tenham
uma amiga como Maria. -
1:28 - 1:31E, se forem como eu, talvez se perguntem:
-
1:32 - 1:36"Por que ela fica se gabando
de sua vida maravilhosa?" -
1:36 - 1:41Quando fazemos essa pergunta,
normalmente surgem duas respostas. -
1:41 - 1:42Uma é: "Talvez ela seja má.
-
1:43 - 1:44Ela quer esfregar na minha cara
-
1:44 - 1:47para que eu me sinta péssima
com minha própria vida". -
1:48 - 1:53Outra possibilidade é que ela seja
fundamentalmente insegura. -
1:53 - 1:57Ela se gaba para receber aprovação social.
-
1:58 - 2:01Mas seja qual for a razão
para ficar se gabando, -
2:01 - 2:03tem uma coisa que temos em comum,
-
2:03 - 2:06a forma como reagimos a isso.
-
2:06 - 2:08Geralmente todos nos irritamos
com alguém se gabando. -
2:09 - 2:14A pergunta difícil é: se todos nós
ficamos irritados quando alguém se gaba, -
2:14 - 2:17por que se gabar é tão difundido?
-
2:17 - 2:19Por que é tão comum?
-
2:19 - 2:20Por que nossas redes sociais
-
2:20 - 2:24estão tão povoadas com fotos
das incríveis viagens dos nossos amigos, -
2:24 - 2:29check-in de primeira classe
e comidas lindas? -
2:31 - 2:33George Loewenstein,
Joachim Vosgerau e eu -
2:33 - 2:38fizemos uma série de experimentos
para tentar responder essas perguntas. -
2:39 - 2:42Em um estudo, pedimos às pessoas
para nos contar histórias. -
2:42 - 2:46Pedimos para elas nos contarem
sobre uma situação em sua vida -
2:46 - 2:49na qual ou estavam se gabando para alguém
-
2:49 - 2:52ou escutando alguém se gabar.
-
2:52 - 2:56Metade dos participantes lembraram
de uma situação onde estavam se gabando. -
2:56 - 2:58Chamamos esses participantes
de "autopromotores", -
2:58 - 3:01uma forma mais educada
do que chamá-los de gabadores, -
3:01 - 3:05e pedimos para contarem
em detalhes sobre sua interação, -
3:05 - 3:09como ocorreu, qual era o tema da conversa,
-
3:09 - 3:11e, o mais importante,
-
3:11 - 3:15pedimos para contarem como a pessoa
escutando estava reagindo. -
3:15 - 3:18Especificamente, se estavam tendo
sentimentos positivos ou negativos. -
3:19 - 3:22À outra metade dos participantes,
que chamamos de "receptores", -
3:22 - 3:25pedimos que nos contassem
sobre uma situação -
3:25 - 3:28na qual escutavam alguém se gabando.
-
3:28 - 3:32Essas pessoas também tiveram
que nos contar o tema da conversa, -
3:32 - 3:36e como elas e a outra pessoa
estava reagindo com relação a sentimentos. -
3:37 - 3:41Os participantes nos contaram
todo tipo de história. -
3:41 - 3:43Curiosamente, os que recontaram casos
-
3:43 - 3:46em que se gabaram para outra pessoa
-
3:46 - 3:48eram mais propensos a nos contar situações
-
3:48 - 3:51nas quais estavam se gabando
de conquistas, como uma promoção, -
3:51 - 3:54entrar na faculdade de medicina
ou tirar uma boa nota. -
3:54 - 3:57Os participantes que recordaram situações
-
3:57 - 3:59nas quais estavam escutando
outra pessoa se gabar -
3:59 - 4:03eram mais propensos a recordar
situações onde alguém se gabava -
4:03 - 4:05por ganhar muito dinheiro, ter dinheiro,
-
4:05 - 4:09ter poder, status ou ter bens materiais.
-
4:09 - 4:11Mas o resultado mais interessante foi
-
4:11 - 4:14que não importava o tema das histórias,
-
4:14 - 4:18os autopromotores
sistematicamente subestimavam -
4:18 - 4:22o quanto o receptor estava tendo
sentimentos negativos. -
4:22 - 4:27Achavam que mais ou menos um quarto
dos receptores estavam se sentindo mal -
4:27 - 4:29enquanto eles se gabavam.
-
4:29 - 4:35Na realidade mais de três quartos dos
receptores reportaram um sentimento ruim -
4:35 - 4:37enquanto escutavam outros se gabando.
-
4:37 - 4:40Isso também é verdade
quando olhamos o sentimento positivo. -
4:41 - 4:44Autopromotores sempre superestimavam
-
4:44 - 4:48o quanto os receptores estavam
realmente tendo sentimentos positivos. -
4:49 - 4:53Esses dois resultados são espelhados
por outro achado interessante. -
4:53 - 4:56Autopromotores, ao se gabarem,
-
4:56 - 4:59estavam tendo sentimentos positivos,
-
4:59 - 5:03e só uma pequena parcela
dos receptores percebeu isso, -
5:03 - 5:04como podem ver no gráfico.
-
5:05 - 5:09Os autopromotores estavam projetando
seus sentimentos positivos -
5:09 - 5:11nas pessoas que os escutavam.
-
5:11 - 5:14Isso fez com que superestimassem
-
5:14 - 5:17o quanto estavam compartilhando
sentimentos positivos -
5:17 - 5:21e subestimassem o quanto estavam
compartilhando sentimentos negativos. -
5:22 - 5:23Refizemos esse estudo
-
5:23 - 5:26tentando ir mais a fundo
nas reações emocionais -
5:26 - 5:31que autopromotores e receptores
experimentavam nessa interação. -
5:31 - 5:36Descobrimos que autopromotores
superestimam significativamente -
5:36 - 5:38o quanto seus ouvintes
-
5:38 - 5:42estão felizes e orgulhosos
deles quando se gabam. -
5:42 - 5:45Ao mesmo tempo, subestimam
-
5:45 - 5:47o quanto ficam irritados
com esse exibicionismo. -
5:48 - 5:51Achamos que foi um resultado interessante.
-
5:51 - 5:52Atribuímos isso
-
5:52 - 5:55a um fenômeno psicológico
chamado "lacuna de empatia". -
5:56 - 5:59De acordo com a lacuna de empatia,
se estivermos muito felizes, -
5:59 - 6:04fica muito difícil imaginar
como é não estar feliz -
6:04 - 6:05e é ainda mais difícil imaginar
-
6:05 - 6:09como é sentir algo negativo.
-
6:09 - 6:12Basicamente os dois lados da interação,
-
6:12 - 6:14os autopromotores e os receptores,
-
6:14 - 6:17acharam difícil saber como se sentiriam
-
6:17 - 6:19se os papéis fossem invertidos.
-
6:21 - 6:24Se as pessoas são tão descalibradas
-
6:24 - 6:29quanto à reação emocional
provocada por suas autopromoções, -
6:29 - 6:32talvez também estejam descalibradas
quando tentam entender -
6:32 - 6:35como se gabar afeta
como os outros os avaliam. -
6:35 - 6:38Então fizemos outra pesquisa.
-
6:38 - 6:41Se você fosse um participante da pesquisa,
-
6:41 - 6:44pediríamos que escrevesse
algumas coisas sobre si mesmo -
6:44 - 6:46para se apresentar a outras pessoas.
-
6:46 - 6:49Você precisa escrever
cinco coisas para criar um perfil -
6:49 - 6:54como fazemos nas redes sociais
ou nos sites de encontro. -
6:54 - 6:56Eles podiam escrever o que quisessem.
-
6:56 - 6:59Podiam escrever sobre trabalho, educação,
-
6:59 - 7:03aparência, personalidade,
hobbies, interesses, qualquer coisa. -
7:04 - 7:08Para metade dos participantes
demos uma instrução adicional. -
7:08 - 7:11Falamos para escreverem de forma
-
7:11 - 7:14a maximizar o interesse
dos outros em os conhecer. -
7:15 - 7:19Quando acabaram de escrever seus perfis,
-
7:19 - 7:21também pedimos para que previssem
-
7:21 - 7:26o quanto os outros iriam gostar deles
-
7:26 - 7:28e o quanto gostariam de conhecê-los.
-
7:28 - 7:30Aí pegamos esses perfis
-
7:30 - 7:33e os demos para outros participantes,
-
7:33 - 7:35diferentes dos que escreveram,
-
7:35 - 7:37e pedimos para esses participantes
-
7:37 - 7:40nos dizerem o quanto gostaram
do perfil dos escritores -
7:40 - 7:43e quanto interesse tinham em conhecê-los.
-
7:43 - 7:47Também tivemos outra amostra
na qual pedimos que indicassem -
7:47 - 7:50quanto os escritores estavam
se gabando nos seus perfis, -
7:50 - 7:52na opinião deles.
-
7:53 - 7:55Quando olhamos os resultados,
a primeira coisa que notamos -
7:55 - 7:59foi que os participantes não tinham ideia
de como seriam avaliados. -
7:59 - 8:03Quando comparamos a previsão
de quanto seriam aprovados -
8:03 - 8:07e o quanto realmente foram aprovados
por quem leu o perfil, -
8:07 - 8:09a correlação foi basicamente zero.
-
8:09 - 8:14Os participantes não tinham ideia
se gostariam deles ou não -
8:14 - 8:17e o mesmo foi verdade com relação
ao interesse em conhecê-los. -
8:17 - 8:19Mas o segundo resultado interessante
-
8:19 - 8:21foi que os participantes
que foram instruídos -
8:21 - 8:25a escrever de tal forma que fariam
com que gostassem deles -
8:25 - 8:26se gabaram mais.
-
8:26 - 8:29Porém, esses esforços falharam.
-
8:30 - 8:33As pessoas não ficaram
mais interessadas em conhecê-los -
8:33 - 8:35e acabaram gostando menos deles
-
8:35 - 8:38do que dos participantes
que não fizeram esse esforço. -
8:38 - 8:40Achamos isso um resultado marcante.
-
8:40 - 8:43Nos perguntamos: "Como é possível?
-
8:43 - 8:48Por que não é óbvio para todos
que se gabar tem consequências negativas?" -
8:49 - 8:52Achamos que a resposta estava
mais uma vez na lacuna de empatia. -
8:52 - 8:56Temos a tendência de projetar
nossos sentimentos nos nossos ouvintes -
8:56 - 8:58e quando nos entusiasmamos
com alguma coisa, -
8:58 - 9:02uma conquista, uma melhora inesperada
ou quando estamos em um lugar bonito, -
9:02 - 9:06ficamos que nem crianças esperando que
os outros compartilhem nosso entusiasmo. -
9:06 - 9:08Ao mesmo tempo, não vemos
-
9:08 - 9:12que os outros podem não ficar felizes
com as coisas que aconteceram conosco. -
9:13 - 9:15Esses resultados são
particularmente interessantes -
9:15 - 9:19numa era em que estamos
cada vez mais conectados uns aos outros. -
9:19 - 9:23Primeiramente, com o aumento
do número das conexões -
9:23 - 9:27tendemos a achar que estamos
falando com um público. -
9:27 - 9:29Chamamos isso de "divulgação".
-
9:29 - 9:34Quando divulgamos tendemos a compartilhar
mais material autopromotor. -
9:35 - 9:38Apesar de estarmos
cada vez mais conectados, -
9:38 - 9:40isso não significa necessariamente
-
9:40 - 9:43que a distância psicológica
esteja diminuindo. -
9:43 - 9:45Pode estar aumentando
-
9:46 - 9:48e isso pode exacerbar a lacuna de empatia.
-
9:48 - 9:52Vai ficar mais difícil
para o autopromotor descobrir -
9:52 - 9:55qual será a reação dos ouvintes,
-
9:55 - 9:59e, ao mesmo tempo, reduz a probabilidade
de que o receptor tenha qualquer interesse -
9:59 - 10:03em compartilhar os sentimentos
positivos do autopromotor. -
10:03 - 10:08A terceira coisa que percebi recentemente
-
10:08 - 10:11é que as empresas começaram
a fazer algo muito estranho -
10:11 - 10:15que é incentivar os consumidores
a se gabar sobre os seus produtos. -
10:15 - 10:18Outro dia eu vi uma carta
de uma companhia aérea -
10:18 - 10:21convidando fregueses frequentes
-
10:21 - 10:24a colocar fotos dos seus cartões
de passageiros frequentes, -
10:24 - 10:27usando a hashtag "brag tag", "ostentação".
-
10:27 - 10:30Estavam convidando-os a se gabarem
do seu status para outros. -
10:30 - 10:37Achei isso uma evolução interessante
do marketing em redes sociais. -
10:37 - 10:40O que podemos fazer
para diminuir esses problemas, -
10:40 - 10:44para tornar nossas interações sociais,
principalmente online, melhores? -
10:44 - 10:50Acho que pequenas ações podem
ajudar a melhorar a situação -
10:50 - 10:54e envolvem tentar reduzir
a lacuna de empatia. -
10:54 - 10:57Se estiver com vontade
de compartilhar algo -
10:57 - 11:00com um público, com amigos online,
-
11:00 - 11:03fazer algo simples como se colocar
no lugar do receptor -
11:04 - 11:06e tentar descobrir qual a probabilidade
-
11:06 - 11:10de ficarem felizes
com nossas boas notícias -
11:10 - 11:12ou se vão ficar irritados com ela,
-
11:12 - 11:14pode conter nosso impulso de compartilhar
-
11:14 - 11:18ou fazer com que só compartilhemos
com pessoas realmente próximas. -
11:19 - 11:25Outra pequena ação envolve os receptores.
-
11:25 - 11:29Quando estivermos lendo
alguém se vangloriar demais, -
11:29 - 11:36talvez possamos aumentar nossa tolerância
e perceber que estão se gabando -
11:37 - 11:41acreditando que nós realmente
compartilhamos seus sentimentos positivos. -
11:42 - 11:43Essas são pequenas ações,
-
11:43 - 11:47mas acho que podem contribuir
para reduzir a lacuna de empatia. -
11:47 - 11:51Ao caminharmos para um mundo
cada vez mais conectado, -
11:51 - 11:55elas podem melhorar em muito
nossas interações sociais. -
11:56 - 11:57Obrigada.
-
11:57 - 12:00(Aplausos)
- Title:
- Por que as pessoas se gabam? A psicologia do ato de se gabar | Irene Scopelliti | TEDxSquareMile
- Description:
-
Esta palestra foi dada em um evento TEDx, que usa o formato de conferência TED, mas é organizado de forma independente por uma comunidade local. Para saber mais, visite http://ted.com/tedx
Por que as pessoas se gabam online? Estão tentando nos deixar com inveja ou são simplesmente inseguras?
Por que não percebem o desconforto dos outros quando ficam se gabando? A palestrante de marketing e especialista em psicologia do consumo tem uma explicação intrigante.
Irene é uma palestrante experiente de marketing na Cass Business School, com interesse em pesquisa de psicologia do consumo, juízo e tomada de decisão. Sua pesquisa foi publicada em revistas de psicologia e foi citada por importantes jornais, como BBC News, The New York Times, Forbes Magazine e The Huffington Post.
- Video Language:
- English
- Team:
- closed TED
- Project:
- TEDxTalks
- Duration:
- 12:15