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Por que é tão difícil falar sobre "a palavra com N"

  • 0:01 - 0:03
    Quando ela mencionou a palavra,
  • 0:03 - 0:06
    o silêncio na sala de aula
    foi ensurdecedor.
  • 0:07 - 0:11
    Normalmente meus alunos
    ficam supervidrados em mim,
  • 0:11 - 0:14
    mas se viraram e olharam pro outro lado.
  • 0:15 - 0:17
    Eu sou negra
  • 0:17 - 0:21
    e dou aulas sobre o racismo
    e a escravidão nos EUA.
  • 0:22 - 0:26
    Sei que minha identidade social
    está sempre em evidência.
  • 0:26 - 0:29
    Meu alunos também são vulneráveis,
    então sou cautelosa.
  • 0:30 - 0:34
    Tento prever que parte da minha aula
    pode acabar sendo problemática.
  • 0:34 - 0:37
    Mas, sinceramente,
    essa eu não pude prever.
  • 0:38 - 0:41
    Minha pós-graduação
    não me preparou pra saber o que fazer
  • 0:41 - 0:43
    quando essa palavra surgisse
    em minha aula.
  • 0:44 - 0:46
    Era meu primeiro ano dando aula
  • 0:46 - 0:49
    quando a aluna disse
    essa palavra durante a aula.
  • 0:50 - 0:52
    Ela não estava xingando ninguém.
  • 0:53 - 0:55
    Estava empolgada e com brilho nos olhos.
  • 0:56 - 0:58
    Ela vinha para as aulas
    com suas leituras feitas,
  • 0:58 - 1:00
    sentava-se na primeira fileira
  • 1:00 - 1:02
    e sempre estava no meu grupo.
  • 1:04 - 1:05
    Quando disse a palavra,
  • 1:05 - 1:07
    ela estava fazendo um comentário
    sobre minha aula,
  • 1:07 - 1:12
    usando uma citação
    de um filme de comédia dos anos 1970
  • 1:12 - 1:13
    que tinha dois xingamentos racistas:
  • 1:14 - 1:16
    um sobre pessoas de descendência chinesa
  • 1:16 - 1:18
    e outro com a palavra com N.
  • 1:19 - 1:23
    Assim que ela disse aquilo,
    levantei as mãos e disse: "Epa, epa".
  • 1:23 - 1:27
    Mas ela me garantiu:
    "É uma piada do filme 'Banzé no Oeste'",
  • 1:27 - 1:29
    e repetiu a piada.
  • 1:30 - 1:32
    Isso aconteceu dez anos atrás,
  • 1:32 - 1:35
    e a forma como lidei com isso
    me incomodou por muito tempo.
  • 1:36 - 1:39
    Não era a primeira vez
    que eu pensava sobre a palavra
  • 1:39 - 1:40
    num ambiente acadêmico.
  • 1:40 - 1:43
    Sou professora de história dos EUA.
  • 1:43 - 1:46
    Ela está em muitos dos textos que ensino.
  • 1:46 - 1:47
    Então, tive que fazer uma escolha.
  • 1:49 - 1:50
    Depois de falar com alguém de confiança,
  • 1:50 - 1:52
    decidi nunca repeti-la,
  • 1:52 - 1:54
    nem mesmo em citações.
  • 1:54 - 1:58
    Em vez disso, decidi usar
    o eufemismo "a palavra com N".
  • 1:59 - 2:02
    Até mesmo essa decisão foi complicada.
  • 2:02 - 2:04
    Eu ainda não tinha estabilidade
  • 2:04 - 2:07
    e temia que colegas mais antigos pensassem
  • 2:07 - 2:10
    que, por usar o eufemismo,
    eu não fosse uma professora séria.
  • 2:11 - 2:14
    Mas dizer a palavra de fato
    me parecia ainda pior.
  • 2:15 - 2:19
    O incidente em minha aula me forçou
    a publicamente lidar com a palavra,
  • 2:20 - 2:22
    a história, a violência,
  • 2:22 - 2:24
    mas também...
  • 2:25 - 2:30
    a história, a violência, mas também
    sempre que a direcionaram a mim,
  • 2:30 - 2:32
    ou a falaram na minha presença,
  • 2:32 - 2:35
    ou sempre que ela parou
    na ponta da língua de alguém,
  • 2:35 - 2:38
    eu voltava imediatamente àquele dia,
  • 2:38 - 2:40
    bem diante dos meus alunos,
  • 2:40 - 2:42
    e não sabia o que fazer.
  • 2:44 - 2:49
    Então, passei a chamar histórias
    como a minha de "experiências".
  • 2:50 - 2:52
    Uma experiência descreve o momento
  • 2:52 - 2:55
    em que você teve que encarar
    a palavra com N.
  • 2:56 - 3:00
    Se você já se sentiu perplexo
    ou provocado pela palavra,
  • 3:00 - 3:03
    seja como resultado
    de uma situação social embaraçosa,
  • 3:03 - 3:06
    uma conversa acadêmica desconfortável,
  • 3:06 - 3:08
    algo que tenha ouvido na cultura popular,
  • 3:08 - 3:11
    ou se você já foi chamado disso
  • 3:11 - 3:13
    ou presenciou alguém ser chamado disso,
  • 3:13 - 3:16
    você teve uma experiência.
  • 3:16 - 3:19
    Dependendo de quem você seja
    e como esse momento acontece,
  • 3:19 - 3:22
    você pode ter uma série
    de reações diferentes.
  • 3:22 - 3:24
    Você pode ficar um pouco confuso,
  • 3:24 - 3:27
    ou se sentir incrivelmente
    magoado e humilhado.
  • 3:28 - 3:32
    Já tive várias dessas
    experiências em minha vida,
  • 3:32 - 3:34
    mas uma coisa é verdade:
  • 3:34 - 3:37
    não há muito espaço
    para se falar sobre eles.
  • 3:40 - 3:44
    Aquele dia na minha aula
    foi bem parecido com todas as vezes
  • 3:44 - 3:47
    em que tive uma discussão indesejada
    com a palavra com N:
  • 3:47 - 3:48
    eu congelei.
  • 3:49 - 3:51
    É difícil falar sobre a palavra com N.
  • 3:53 - 3:56
    Uma das razões de ser tão difícil
    falar sobre a palavra com N
  • 3:56 - 3:59
    é que normalmente só se fala
    sobre ela de uma forma,
  • 3:59 - 4:00
    como figura de linguagem.
  • 4:00 - 4:04
    Ouvimos isso o tempo todo, não?
    "É só uma palavra".
  • 4:04 - 4:07
    A grande pergunta
    que circula pelas redes sociais
  • 4:07 - 4:10
    é quem pode ou não pode dizê-la.
  • 4:11 - 4:15
    O intelectual negro Ta-Nehisi Coates
    faz um trabalho inovador
  • 4:15 - 4:17
    na defesa do uso da palavra
    pelos afro-estadunidenses.
  • 4:17 - 4:19
    Por outro lado, Wendy Kaminer,
  • 4:19 - 4:22
    defensor da liberdade
    de expressão dos brancos,
  • 4:22 - 4:24
    afirma que, se todos
    simplesmente não a dissermos,
  • 4:24 - 4:26
    estaremos dando poder à palavra.
  • 4:26 - 4:28
    E muita gente acha o mesmo.
  • 4:29 - 4:31
    O Pew Center recentemente
    entrou nesse debate.
  • 4:32 - 4:37
    Numa pesquisa chamada
    "Racismo nos EUA 2019",
  • 4:37 - 4:40
    os pesquisadores perguntaram
    a adultos estadunidenses se achavam normal
  • 4:41 - 4:43
    uma pessoa branca dizer a palavra com N.
  • 4:43 - 4:47
    Setenta por cento de todos
    os adultos disse: "Jamais".
  • 4:48 - 4:50
    Esses debates são importantes,
  • 4:51 - 4:53
    mas eles na verdade ofuscam outra coisa:
  • 4:53 - 4:57
    eles nos impedem de chegarmos
    ao cerne da questão,
  • 4:58 - 5:00
    que é o fato de que a palavra
    com N não é só uma palavra.
  • 5:01 - 5:06
    Ela não deriva exatamente
    de um passado racista,
  • 5:06 - 5:08
    como uma lembrança da escravidão.
  • 5:09 - 5:15
    Na realidade, a palavra com N
    é uma ideia disfarçada de palavra:
  • 5:16 - 5:19
    a de que os negros são intelectualmente,
  • 5:19 - 5:20
    biologicamente
  • 5:20 - 5:24
    e imutavelmente inferiores aos brancos.
  • 5:25 - 5:28
    Eu acredito - e essa é
    a parte mais importante -
  • 5:29 - 5:33
    que essa inferioridade significa dizer
    que a injustiça que sofremos
  • 5:33 - 5:34
    e a desigualdade que vivemos
  • 5:34 - 5:36
    seria basicamente culpa nossa.
  • 5:39 - 5:42
    Então, pois é...
  • 5:49 - 5:52
    Falar da palavra apenas
    como um xingamento racista
  • 5:52 - 5:56
    ou como algo obsceno no hip hop
  • 5:56 - 5:59
    faz parecer como se fosse uma doença
  • 5:59 - 6:01
    nas cordas vocais estadunidenses
  • 6:01 - 6:03
    que pode ser simplesmente arrancada.
  • 6:03 - 6:06
    Não é, não pode ser.
  • 6:07 - 6:09
    Aprendi isso falando com meus alunos.
  • 6:10 - 6:13
    Então, na aula seguinte,
  • 6:13 - 6:14
    pedi desculpas
  • 6:14 - 6:17
    e fiz um pronunciamento.
  • 6:17 - 6:19
    Eu adotaria uma nova postura.
  • 6:20 - 6:24
    Os alunos veriam a palavra
    nos meus eslaides,
  • 6:24 - 6:27
    nos filmes, nos textos que lessem,
  • 6:27 - 6:32
    mas jamais diríamos
    a palavra na sala de aula.
  • 6:33 - 6:35
    Ninguém jamais a pronunciou de novo,
  • 6:35 - 6:37
    mas também não aprenderam muita coisa.
  • 6:38 - 6:40
    Depois, o que mais me incomodava
  • 6:40 - 6:43
    era que eu sequer
    havia explicado aos alunos
  • 6:43 - 6:47
    por que, de todas as palavras vãs
    e problemáticas da língua inglesa,
  • 6:47 - 6:51
    essa palavra em particular
    tinha tratamento especial,
  • 6:51 - 6:54
    o termo substituto "a palavra com N".
  • 6:54 - 6:56
    A maioria dos meus alunos,
  • 6:56 - 7:00
    dos quais a maior parte nascera
    a partir do fim da década de 1990,
  • 7:00 - 7:06
    sequer sabia que o termo "a palavra com N"
    é relativamente recente na língua inglesa.
  • 7:06 - 7:09
    Na minha infância, ele não existia.
  • 7:10 - 7:14
    Mas, no fim dos anos 1980,
  • 7:14 - 7:18
    alunos universitários, escritores
    e intelectuais negros
  • 7:18 - 7:24
    cada vez mais começaram a falar
    sobre os ataques racistas que sofriam.
  • 7:25 - 7:28
    Conforme falavam dessas histórias,
  • 7:28 - 7:31
    foram cada vez mais
    deixando de usar a palavra.
  • 7:32 - 7:34
    Passaram a reduzi-la a apenas "N",
  • 7:34 - 7:36
    e passaram a usar o termo
    "a palavra com N".
  • 7:37 - 7:39
    Sentiam que, sempre
    que a palavra era pronunciada,
  • 7:39 - 7:43
    abria velhas feridas
    e, portanto, se recusavam a dizê-la.
  • 7:43 - 7:47
    Sabiam que quem os escutasse
    ouviria a palavra real em sua mente.
  • 7:47 - 7:49
    Mas a questão não era essa.
  • 7:49 - 7:52
    A questão é que não queriam
    a palavra em sua própria boca
  • 7:52 - 7:54
    ou ressoando no ar.
  • 7:55 - 7:57
    Fazendo isso,
  • 7:57 - 8:01
    fizeram o país inteiro
    começar a hesitar em dizê-la.
  • 8:03 - 8:06
    Foi uma decisão tão radical
  • 8:07 - 8:09
    que as pessoas ainda se chateiam com isso.
  • 8:11 - 8:15
    Críticos acusam aqueles que usam
    o termo "a palavra com N"
  • 8:16 - 8:20
    ou pessoas que ficam indignadas
    só por a palavra ser dita
  • 8:20 - 8:22
    de serem sistemáticos demais,
  • 8:22 - 8:24
    politicamente corretos
  • 8:24 - 8:27
    ou, como li há algumas semanas
    no The New York Times,
  • 8:27 - 8:29
    "insuportavelmente conscientes".
  • 8:29 - 8:30
    Pois é.
  • 8:30 - 8:33
    Então, eu também acreditei
    um tanto nessa ideia,
  • 8:33 - 8:37
    razão pela qual, quando dei
    aquela aula novamente,
  • 8:37 - 8:40
    propus um debate
    sobre liberdade de expressão:
  • 8:41 - 8:46
    "Você é a favor ou contra
    a palavra com N no meio acadêmico?"
  • 8:47 - 8:50
    Eu tinha certeza de que os alunos
    se interessariam em debater
  • 8:50 - 8:53
    sobre quem pode ou não pode dizê-la.
  • 8:54 - 8:55
    Mas não foi assim.
  • 8:57 - 8:58
    Na verdade,
  • 9:00 - 9:03
    meus alunos começaram a confessar.
  • 9:05 - 9:09
    Uma aluna branca de Nova Jersey
    falou sobre não ter feito nada
  • 9:09 - 9:12
    enquanto um aluno negro em sua escola
    sofria bullying com essa palavra.
  • 9:12 - 9:15
    Ela não fez nada e, anos depois,
    ainda carregava aquela culpa.
  • 9:17 - 9:19
    Outro aluno de Connecticut
  • 9:20 - 9:25
    falou sobre a dor de romper
    uma relação muito próxima com um familiar
  • 9:25 - 9:29
    porque esse familiar se recusava
    a parar de usar essa palavra.
  • 9:31 - 9:36
    Uma das históricas mais marcantes
    veio de uma aluna negra muito reservada
  • 9:36 - 9:37
    da Carolina do Sul.
  • 9:37 - 9:39
    Ela não entendia por que tanta polêmica.
  • 9:40 - 9:43
    Ela contou que todos
    em sua escola diziam a palavra.
  • 9:44 - 9:48
    Ela não se referia a alunos xingando
    uns aos outros nos corredores.
  • 9:49 - 9:53
    Ela explicou que, em sua escola,
  • 9:53 - 9:59
    quando professores e diretores
    se aborreciam com um aluno negro,
  • 9:59 - 10:02
    eles chamavam esse aluno
    usando a palavra com N.
  • 10:03 - 10:06
    Ele disse que isso
    não a incomodava nem um pouco.
  • 10:06 - 10:08
    Mas, alguns dias depois,
  • 10:08 - 10:12
    ela me procurou
    durante o intervalo e chorou.
  • 10:14 - 10:15
    Ela achava que estava imune.
  • 10:16 - 10:18
    Mas percebeu que não estava.
  • 10:20 - 10:22
    Nos últimos dez anos,
  • 10:22 - 10:26
    ouvi literalmente centenas
    de histórias como essas
  • 10:26 - 10:29
    de todos os tipos de pessoas,
    de todas as idades;
  • 10:29 - 10:33
    pessoas na casa dos 50 se lembrando
    de histórias da segunda série
  • 10:33 - 10:34
    e, quando tinham 6 anos,
  • 10:34 - 10:38
    ou chamavam ou eram chamados
    pela palavra com N,
  • 10:38 - 10:43
    mas carregavam isso
    por todos esses anos, sabe.
  • 10:43 - 10:48
    Enquanto eu ouvia pessoas
    falarem sobre suas experiências,
  • 10:48 - 10:52
    o padrão que percebi como professora
    e que achei mais perturbador
  • 10:52 - 10:57
    é que o lugar mais complicado
    para essas experiências
  • 10:57 - 10:59
    é a sala de aula.
  • 11:00 - 11:05
    A maioria dos jovens estadunidenses
    ouvir a palavra com N em sala.
  • 11:06 - 11:10
    Um dos livros mais utilizados
    nas escolas secundárias nos EUA
  • 11:10 - 11:12
    é o de Mark Twain,
    "As Aventuras de Huckleberry Finn",
  • 11:12 - 11:16
    no qual a palavra aparece
    mais de 200 vezes.
  • 11:16 - 11:19
    E isso não é uma denúncia
    contra "Huck Finn", especificamente.
  • 11:19 - 11:23
    A palavra aparece em muito
    da literatura e da história estadunidense.
  • 11:23 - 11:26
    Está em toda a literatura
    afro-estadunidense.
  • 11:26 - 11:29
    Mas eu ouço alunos dizerem
  • 11:29 - 11:33
    que, quando a palavra
    é dita durante uma aula
  • 11:33 - 11:36
    sem um debate e sem contexto,
  • 11:36 - 11:41
    ela envenena todo
    o ambiente da sala de aula,
  • 11:41 - 11:45
    e a confiança entre professor
    e alunos se quebra.
  • 11:47 - 11:48
    Mesmo assim,
  • 11:49 - 11:53
    muitos professores,
    geralmente com a melhor das intenções,
  • 11:53 - 11:55
    ainda dizem a palavra com N em sala.
  • 11:57 - 12:02
    Eles querem mostrar e enfatizar
    os horrores do racismo nos EUA,
  • 12:02 - 12:05
    e usam a palavra para causar impacto,
  • 12:06 - 12:12
    pois mencioná-la escancara o horror
    do passado da nossa nação.
  • 12:12 - 12:14
    Mas eles se esquecem
  • 12:14 - 12:18
    de que as ideias continuam latentes
    em nosso tecido cultural.
  • 12:25 - 12:31
    A palavra de seis letras
    é como uma cápsula de dor acumulada.
  • 12:33 - 12:35
    Toda vez em que ela é dita, sempre,
  • 12:35 - 12:39
    libera-se no ambiente a ideia odiosa
  • 12:39 - 12:42
    de que os negros são inferiores.
  • 12:44 - 12:45
    Meus alunos negros me dizem
  • 12:45 - 12:48
    que, quando a palavra é citada
    ou dita em sala,
  • 12:48 - 12:52
    eles sentem como se estivessem
    sob um enorme holofote.
  • 12:53 - 12:54
    Um dos meus alunos me contou
  • 12:54 - 12:57
    que seus colegas eram como
    ventiladores de pé,
  • 12:57 - 12:59
    virando-se pra avaliar a reação dele.
  • 13:01 - 13:04
    Um aluno branco me disse
    que, na oitava série,
  • 13:04 - 13:07
    quando a turma estava estudando
    "O Sol é para Todos"
  • 13:09 - 13:10
    e lendo-o em voz alta na aula,
  • 13:10 - 13:15
    ele ficou tão estressado
    com o fato de ter que ler a palavra,
  • 13:16 - 13:19
    já que o professor insistia
    que todos os alunos o fizessem,
  • 13:19 - 13:23
    que ele acabou passando
    a maior parte da aula
  • 13:23 - 13:25
    se escondendo no banheiro.
  • 13:26 - 13:27
    Isso é grave.
  • 13:27 - 13:30
    Alunos em todo o país
  • 13:30 - 13:33
    pensam em mudar de curso
    ou abandonar disciplinas
  • 13:33 - 13:36
    por causa de abordagens equivocadas
    em torno da palavra com N.
  • 13:36 - 13:40
    O problema de professores
    falarem a palavra indiscriminadamente
  • 13:40 - 13:43
    chegou a um ponto tão crítico
  • 13:43 - 13:47
    que levou a protestos em Princeton, Emory,
  • 13:47 - 13:48
    na The New School,
  • 13:48 - 13:51
    na Smith College, onde leciono,
  • 13:51 - 13:53
    e na Williams College,
  • 13:53 - 13:58
    onde recentemente alunos boicotaram
    todo o Departamento de Língua Inglesa
  • 13:58 - 14:01
    por causa desse e de outros problemas.
  • 14:01 - 14:04
    E esses são apenas os exemplos
    que viraram notícia.
  • 14:05 - 14:07
    Trata-se de uma crise.
  • 14:07 - 14:12
    Embora a reação estudantil
    pareça um ataque à liberdade de expressão,
  • 14:12 - 14:15
    garanto a vocês que se trata
    de um problema no ensino.
  • 14:16 - 14:21
    Meus alunos não têm medo
    de materiais que contenham a palavra.
  • 14:21 - 14:23
    Eles querem estudar James Baldwin,
  • 14:24 - 14:25
    William Faulkner
  • 14:25 - 14:27
    e sobre o movimento dos direitos civis.
  • 14:29 - 14:32
    Na verdade, suas histórias mostram
  • 14:33 - 14:40
    que essa palavra é um elemento central
    de suas vidas enquanto jovens nos EUA.
  • 14:41 - 14:42
    Está na música que curtem,
  • 14:43 - 14:45
    na cultura popular que reproduzem,
  • 14:45 - 14:47
    na comédia a que assistem,
  • 14:47 - 14:50
    na TV e nos filmes,
  • 14:50 - 14:52
    eternizada nos museus.
  • 14:53 - 14:54
    Eles a ouvem nos vestiários da escola,
  • 14:55 - 14:56
    no Instagram,
  • 14:56 - 14:58
    nos corredores da escola,
  • 14:58 - 15:01
    nas salas de bate-papo de jogos online.
  • 15:01 - 15:04
    Está em toda parte de suas vidas.
  • 15:04 - 15:09
    Mas eles não sabem refletir sobre ela,
    nem sequer o que ela significa.
  • 15:10 - 15:14
    Nem eu entendia o significado da palavra,
    até pesquisar sobre ela.
  • 15:15 - 15:17
    Fiquei chocada ao descobrir
  • 15:17 - 15:21
    que a palavra foi incorporada
    ao vocabulário pelos negros
  • 15:21 - 15:23
    como forma de protesto político
  • 15:23 - 15:26
    não na década de 1970 ou 1980,
  • 15:26 - 15:29
    mas já nos anos 1770.
  • 15:29 - 15:32
    E eu gostaria de ter mais tempo pra falar
  • 15:32 - 15:37
    sobre a longa e subversiva história
    do uso da palavra por parte dos negros.
  • 15:37 - 15:38
    Mas vou dizer o seguinte:
  • 15:39 - 15:41
    muitas vezes, meus alunos
    me procuram e dizem:
  • 15:42 - 15:46
    "Entendo a origem horrenda
    dessa palavra, e é a escravidão".
  • 15:47 - 15:49
    Eles estão certos, em parte.
  • 15:50 - 15:54
    Essa palavra já existia
    antes de ser usada como xingamento,
  • 15:54 - 16:00
    mas se tornou xingamento num momento
    bem distinto da história dos EUA,
  • 16:00 - 16:05
    quando muitos negros
    começaram a se tornar livres,
  • 16:05 - 16:08
    começando pelo norte dos EUA,
    na década de 1820.
  • 16:08 - 16:10
    Em outras palavras,
  • 16:10 - 16:15
    essa palavra é basicamente
    uma agressão à liberdade negra,
  • 16:15 - 16:17
    à mobilidade negra
  • 16:17 - 16:19
    e à aspiração negra.
  • 16:20 - 16:21
    Até hoje,
  • 16:21 - 16:25
    nada desencadeia tão rapidamente
    o discurso da palavra com N
  • 16:25 - 16:28
    quanto uma pessoa negra
    que afirma seus direitos,
  • 16:28 - 16:31
    ou que tem liberdade de ir e vir
    ou de ser próspera.
  • 16:31 - 16:35
    Pensem nos ataques contra
    Colin Kaepernick, quando ele se ajoelhou,
  • 16:35 - 16:38
    ou contra Barack Obama,
    quando se tornou presidente.
  • 16:39 - 16:42
    Meus alunos querem conhecer essa história.
  • 16:43 - 16:47
    Mas, quando fazem perguntas,
    são repreendidos e aviltados.
  • 16:48 - 16:52
    Ao evitarmos falar sobre a palavra com N
  • 16:52 - 16:56
    tornamos essa palavra um grande tabu,
  • 16:56 - 16:59
    transformando-a em algo tão atormentante
  • 16:59 - 17:04
    que, para todos os jovens estadunidenses,
    seja qual for sua origem racial,
  • 17:05 - 17:09
    parte de se tornarem adultos tem a ver
    com como lidar com essa palavra.
  • 17:09 - 17:12
    Tratamos conversas sobre ela
    como o sexo antes da educação sexual.
  • 17:13 - 17:16
    Somos melindrosos, nós os silenciamos.
  • 17:16 - 17:21
    Então, eles aprendem sobre ela
    com amigos desinformados e boatos.
  • 17:22 - 17:24
    Queria pode voltar àquela aula aquele dia,
  • 17:24 - 17:26
    enfrentar meu medo
  • 17:26 - 17:30
    e falar sobre o fato
    de que algo realmente aconteceu,
  • 17:30 - 17:32
    não só comigo e meus alunos negros,
  • 17:32 - 17:34
    mas com todos nós.
  • 17:35 - 17:37
    Sabe, eu acho
  • 17:37 - 17:42
    que estamos todos conectados por nossa
    incapacidade de falar sobre a palavra,
  • 17:42 - 17:45
    mas e se explorássemos nossas experiências
  • 17:45 - 17:48
    e realmente começássemos
    a falar sobre ela?
  • 17:49 - 17:52
    Hoje, tento criar condições
    em minhas aulas
  • 17:52 - 17:55
    para que ocorram debates
    abertos e francos sobre ela.
  • 17:55 - 17:58
    Uma dessas condições
    é não mencionar a palavra.
  • 17:59 - 18:02
    Conseguimos falar sobre ela justamente
    porque ela não é mencionada em sala.
  • 18:03 - 18:04
    Outra condição importante
  • 18:04 - 18:07
    é que não transfiro aos meus alunos negros
  • 18:07 - 18:10
    a responsabilidade de ensinar
    a seus colegas sobre ela.
  • 18:10 - 18:11
    Essa função é minha.
  • 18:11 - 18:13
    Então, eu vou preparada para a aula,
  • 18:13 - 18:16
    mantenho o debate sob rédeas curtas,
  • 18:17 - 18:20
    e vou armada com
    o conhecimento da história.
  • 18:20 - 18:24
    Sempre faço a mesma pergunta aos alunos:
  • 18:24 - 18:28
    "Por que é difícil falar
    sobre a palavra com N?"
  • 18:28 - 18:31
    As respostas são impressionantes.
  • 18:31 - 18:33
    Impressionantes.
  • 18:34 - 18:36
    Porém, mais do que qualquer outra coisa,
  • 18:36 - 18:42
    passei a ser profundamente consciente
    das minhas próprias experiências,
  • 18:42 - 18:45
    da minha história pessoal
    com essa palavra,
  • 18:45 - 18:48
    porque, quando a palavra
    com N entra na escola,
  • 18:48 - 18:51
    ou em qualquer outro lugar,
  • 18:51 - 18:56
    ela traz consigo toda a complexidade
    da história do racismo nos EUA.
  • 18:57 - 18:58
    A história da nação
  • 18:59 - 19:00
    e a minha própria história,
  • 19:00 - 19:03
    aqui, agora,
  • 19:04 - 19:05
    não há como ignorá-las.
  • 19:06 - 19:08
    (Aplausos)
Title:
Por que é tão difícil falar sobre "a palavra com N"
Speaker:
Elizabeth Stordeur Pryor
Description:

A professora universitária Elizabeth Stordeur Pryor faz uma análise séria e histórica de uma das palavras mais controversas da língua inglesa: a palavra com N. A partir de sua experiência pessoal, ela explica como a reflexão sobre nossos experiências com a palavra pode ajudar na promoção de debates construtivos e, principalmente, criar espaço para reformulação do ensino em torno da complexidade da história do racismo nos Estados Unidos da América.

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
19:21

Portuguese, Brazilian subtitles

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