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Preservar o Grande Aquífero Maia | Guillermo de Anda | TEDxManagua

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    (Chilreio de pássaros)
  • 0:32 - 0:34
    Olá. Como estão?
  • 0:36 - 0:37
    Sou Guillermo de Anda.
  • 0:38 - 0:43
    Sou arqueólogo e explorador
    da National Geographic.
  • 0:43 - 0:45
    (Aplausos)
  • 0:45 - 0:46
    Obrigado.
  • 0:47 - 0:50
    (Aplausos)
  • 0:52 - 0:53
    Muito obrigado. Que energia!
  • 0:53 - 0:56
    Agradeço muito este acolhimento.
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    Espero que achem interessante
    o que vos vou dizer.
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    Sou mexicano.
  • 1:01 - 1:05
    Hão de perguntar o que faz um mexicano
    na Nicarágua, num TEDx.
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    Venho falar de certas semelhanças
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    que provavelmente não temos agora
    muito nítidas, mas que existem
  • 1:14 - 1:16
    e que me têm maravilhado.
  • 1:16 - 1:18
    Eu trabalho na água.
  • 1:18 - 1:24
    Sou arqueólogo subaquático
    e mergulho dentro de grutas
  • 1:24 - 1:28
    no mundo obscuro mas maravilhoso
  • 1:29 - 1:31
    que são as grutas inundadas
    de Iucatão e Quintana Roo,
  • 1:31 - 1:33
    que se chamam cenotes.
  • 1:33 - 1:36
    Este é o nome genérico
    que vem do maia "tz'onot".
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    Como podem ver,
    são locais belíssimos por fora
  • 1:39 - 1:42
    mas, por dentro, não têm igual.
  • 1:42 - 1:47
    Na realidade, é estar noutro planeta,
    dentro do nosso planeta.
  • 1:48 - 1:53
    É um local totalmente estranho,
    mas com uma beleza extraordinária.
  • 1:53 - 1:55
    É um local imenso.
  • 1:56 - 2:00
    Precisamos de equipamento
    como se estivéssemos noutro planeta,
  • 2:00 - 2:01
    para sobreviver.
  • 2:01 - 2:05
    Aquelas botijas que levamos
    transportam o gás vital
  • 2:05 - 2:07
    para podermos sobreviver nesta zona.
  • 2:08 - 2:11
    É incrível o que se conseguiu
    durante todos estes anos.
  • 2:12 - 2:15
    Mais uma vez perguntarão:
    "Bom, o Iucatão...
  • 2:15 - 2:21
    "Cancun está a 1402 km de Manágua".
  • 2:21 - 2:24
    Estamos longe mas estamos muito perto.
  • 2:24 - 2:26
    Estamos muito perto em muitas coisas.
  • 2:26 - 2:31
    Estamos muito perto porque
    temos grandes reservas naturais,
  • 2:31 - 2:36
    grandes mananciais de água e também
    uma grande cultura pré-colombiana.
  • 2:36 - 2:39
    Nós exploramos
    este mundo obscuro de grutas,
  • 2:39 - 2:42
    em que estamos a pressionar
    cada vez mais,
  • 2:42 - 2:46
    ou seja, estamos a tratar
    de andar cada vez mais longe.
  • 2:46 - 2:50
    Reparem neste pequeno artefacto
    que o mergulhador tem na fotografia.
  • 2:51 - 2:55
    É um carretel que tem
    uma linha de nylon muito comprida.
  • 2:55 - 2:57
    É a nossa garantia de regressar à vida
  • 2:57 - 3:00
    porque estes locais
    são verdadeiros labirintos.
  • 3:00 - 3:05
    Precisamos de um guia para poder
    voltar, não nos perdermos e morrer,
  • 3:05 - 3:08
    porque não podemos respirar água,
    toda a gente sabe.
  • 3:09 - 3:14
    Este carretel tem nós
    de três em três metros,
  • 3:14 - 3:17
    ou seja, quando chegamos
    ao fim de todos os nós,
  • 3:17 - 3:21
    chegamos ao ponto máximo de penetração.
  • 3:21 - 3:23
    E quando voltamos, contamos estes nós.
  • 3:23 - 3:27
    Há 30 anos, mais ou menos,
    que contamos estes nós
  • 3:26 - 3:29
    e em resultado de contar estes nós,
  • 3:30 - 3:33
    sabemos que foram 1390 km.
  • 3:34 - 3:36
    Se fizermos uma comparação,
  • 3:36 - 3:40
    é quase a distância
    entre Manágua e Cancun.
  • 3:41 - 3:45
    Isto é impressionante
    porque tudo isto ocorre
  • 3:45 - 3:49
    num pequeno setor
    do estado de Quintana Roo,
  • 3:49 - 3:54
    entre a Playa del Carmen, um local
    muito popular de turismo, e Tulum.
  • 3:54 - 3:56
    É uma área onde se concentrou
  • 3:56 - 4:01
    uma grande quantidade de explorações
    e de descobertas.
  • 4:01 - 4:05
    Graças a estas explorações,
    temos encontrado coisas maravilhosas.
  • 4:05 - 4:08
    É o sonho de um arqueólogo.
  • 4:08 - 4:12
    Há uns anos, encontrámos
    estes animais que eram ossos,
  • 4:12 - 4:16
    os primeiros ossos
    registados nesta zona.
  • 4:16 - 4:19
    Eram ossos muito antigos,
  • 4:19 - 4:22
    provavelmente com 14 000 anos
    de antiguidade.
  • 4:22 - 4:24
    São da Idade do Gelo.
  • 4:24 - 4:27
    Isto está a dar-nos
    uma perspetiva nova
  • 4:27 - 4:31
    sobre o povoamento da América,
    e a sua biogeografia em geral.
  • 4:31 - 4:34
    Não ficaria admirado que nesta região,
  • 4:34 - 4:38
    se iniciássemos explorações
    mais intensivas,
  • 4:38 - 4:40
    encontrássemos coisas semelhantes.
  • 4:40 - 4:42
    Na zona do Iucatão,
    encontrámos também
  • 4:42 - 4:45
    uma grande quantidade
    de elefantes antigos,
  • 4:45 - 4:46
    parentes dos mamutes,
  • 4:46 - 4:51
    neste caso, gonfotérios, de que vemos
    uma mandíbula extraordinária e enorme,
  • 4:51 - 4:55
    com todos os dentes bem preservados
    debaixo de água.
  • 4:57 - 5:00
    Este nível de preservação
    nos cenotes é extraordinário.
  • 5:00 - 5:04
    É incrível pensar que
    há 10, há 11 ou há 12 000 anos,
  • 5:05 - 5:10
    este indivíduo jovem que vemos ali,
    perdeu-se provavelmente numa gruta
  • 5:10 - 5:15
    que hoje está a mais de 1000 metros,
    um pouco mais de um quilómetro,
  • 5:16 - 5:20
    e ali encontrou o seu lugar
    de eterno repouso,
  • 5:20 - 5:25
    para que os mergulhadores,
    milhares de anos depois, o encontrassem
  • 5:25 - 5:28
    e ele desse grandes respostas à ciência.
  • 5:28 - 5:32
    Agora sabemos muito mais
    sobre o povoamento precoce da América
  • 5:32 - 5:35
    graças à investigação
    que se faz no aquífero maia,
  • 5:35 - 5:39
    em toda esta enorme zona
    de grutas inundadas.
  • 5:39 - 5:42
    particularmente no estado
    de Quintana Roo.
  • 5:42 - 5:46
    Esta foto é de uma descoberta
    que se deu a conhecer há pouco tempo.
  • 5:46 - 5:48
    É o cenote de Hoyo Negro,
  • 5:48 - 5:53
    onde se encontraram os restos
    de uma rapariga,
  • 5:53 - 5:55
    com cerca de 15 anos,
  • 5:55 - 5:58
    conjuntamente com ossos enormes,
  • 5:58 - 6:02
    neste caso de outro gonfotério,
    outro parente dos mamutes,
  • 6:02 - 6:04
    num estado maravilhoso de preservação.
  • 6:04 - 6:07
    Vou dizer-vos o seguinte:
  • 6:07 - 6:12
    extraiu-se um dente a esta mulher,
  • 6:12 - 6:16
    fizeram-se análises e obteve-se o ADN.
  • 6:16 - 6:20
    Com isto, supõe-se
    que esta mulher, em especial,
  • 6:20 - 6:23
    era descendente da gente
    que atravessou o estreito de Bering,
  • 6:23 - 6:25
    e que vinha da Ásia.
  • 6:25 - 6:27
    Este tipo de respostas,
  • 6:27 - 6:31
    este tipo de conservação é
    o que nos dá este contexto maravilhoso.
  • 6:32 - 6:37
    Como se isto fosse pouco,
    aqui viveram os nossos antepassados maias,
  • 6:37 - 6:43
    que tinham uma inclinação especial
    para as grutas e cenotes
  • 6:43 - 6:45
    porque eram considerados,
    na sua visão do cosmos,
  • 6:45 - 6:50
    como os locais de onde
    tinha emanado a vida,
  • 6:50 - 6:55
    o primeiro grão de milho para o homem
    e de onde vinha a chuva,
  • 6:55 - 6:58
    de onde vinham coisas boas
    mas também vinham os males.
  • 6:58 - 7:00
    Quando vemos uma foto destas,
  • 7:00 - 7:03
    umas fotos extraordinárias
    dos meus colegas da National Geographic
  • 7:03 - 7:05
    — esta é de Paul Nicklen —
  • 7:05 - 7:08
    podemos dar-nos conta
  • 7:08 - 7:12
    de qual teria sido o sentimento
    dos nossos antepassados maias.
  • 7:12 - 7:17
    Assim, começa a desenvolver-se
    uma nova disciplina científica
  • 7:17 - 7:20
    que é a arqueologia de grutas e cenotes.
  • 7:20 - 7:23
    Estamos a mergulhar num aquífero,
  • 7:23 - 7:28
    com milhares de quilómetros de água,
    com milhões de litros de água,
  • 7:28 - 7:30
    um recurso que tende a esgotar-se,
  • 7:30 - 7:34
    um recurso que em breve
    será mais valioso do que o petróleo,
  • 7:34 - 7:40
    e no qual está depositada uma grande
    quantidade de materiais arqueológicos
  • 7:40 - 7:43
    num ótimo estado de preservação.
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    Mas este aquífero incrível dá-nos
    respostas não apenas para o povoamento
  • 7:47 - 7:51
    não apenas respostas sobre os rituais
    que os antigos maias praticavam,
  • 7:51 - 7:53
    mas também, quando vemos
    uma foto como esta,
  • 7:53 - 7:55
    e vemos uma entrada de luz tão especial...
  • 7:56 - 7:58
    Este é um cenote que se chama Holtún
  • 7:58 - 8:00
    e está no sítio arqueológico
    de Chichén Itzá.
  • 8:01 - 8:05
    Esta foto também é de Paul Nicklen,
    fotógrafo da National Geographic.
  • 8:05 - 8:09
    Tenho o enorme prazer
    de vos dizer que, nesta foto,
  • 8:09 - 8:13
    estão os primeiros dois latinos
    que aparecem numa capa
  • 8:13 - 8:15
    da National Geographic.
  • 8:15 - 8:20
    Esta foi a capa de agosto de 2013.
  • 8:20 - 8:23
    É o meu colega Dante Garcia
    e um empregado.
  • 8:23 - 8:24
    (Aplausos)
  • 8:24 - 8:26
    Obrigado.
  • 8:28 - 8:30
    Muito obrigado.
  • 8:30 - 8:34
    Isto, obviamente, é uma grande satisfação
    para nós, enquanto latinos,
  • 8:34 - 8:39
    mas estas fotos também nos deram
    uma forma de entender melhor o contexto.
  • 8:39 - 8:41
    Reparem que esta luz que estão a ver,
  • 8:41 - 8:44
    que está por detrás da pessoa
    que está à corda,
  • 8:44 - 8:49
    é a luz de uma entrada que foi aberta
    artificialmente pelos antigos maias,
  • 8:49 - 8:52
    com a forma de um retângulo
    que era a forma do seu universo
  • 8:52 - 8:54
    que tinha quatro cantos.
  • 8:54 - 8:56
    Para nós são o norte, o sul,
    o este e o oeste,
  • 8:56 - 9:00
    e para eles eram o amarelo, o vermelho,
    o branco e o preto.
  • 9:00 - 9:04
    Havia um quinto caminho neste universo
    que era o centro, o "eixo do mundo",
  • 9:04 - 9:07
    o eixo sagrado de onde emanava tudo.
  • 9:08 - 9:11
    Deram-se ao luxo de abrir uma entrada
  • 9:11 - 9:15
    numa certa direção para que o sol
    só entrasse duas vezes por ano
  • 9:15 - 9:17
    de uma forma especial.
  • 9:17 - 9:20
    Ou seja, era um observatório
    astronómico solar.
  • 9:20 - 9:25
    Estas são todas as informações importantes
    que os cenotes nos estão a dar.
  • 9:25 - 9:30
    Vemos esta foto impressionante
    desse dia, em especial,
  • 9:30 - 9:34
    em que o sol entra
    de um modo totalmente vertical.
  • 9:34 - 9:38
    Esta luz chega ao fundo
    a 50 metros de profundidade.
  • 9:38 - 9:42
    É um momento mágico
    poder estar ali
  • 9:42 - 9:47
    e confirmar que os maias
    tinham uma grande sabedoria,
  • 9:47 - 9:49
    como todos os povos mesoamericanos.
  • 9:49 - 9:52
    como todos os pré-colombianos
    que nos antecederam.
  • 9:54 - 9:59
    Todo este movimento de exploração
    levou-nos também a locais incríveis.
  • 9:59 - 10:02
    Há uma gruta no centro
    do estado do Iucatão
  • 10:02 - 10:04
    — é a foto que estão a ver —
  • 10:04 - 10:06
    onde há um caminho.
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    Os maias chamavam-lhe
    o "sac be", o caminho branco.
  • 10:08 - 10:11
    Eram enormes obras de engenharia.
  • 10:11 - 10:14
    Este é o único que se encontrava
    dentro de uma gruta.
  • 10:14 - 10:19
    Acontece que, no final deste caminho,
    está uma massa de água, um cenote.
  • 10:18 - 10:21
    Para continuar, tivemos que mergulhar.
  • 10:21 - 10:24
    Mergulhámos cerca de 100 metros
    dentro da gruta
  • 10:24 - 10:28
    e do outro lado encontrámos a continuação
    do caminho na mesma direção.
  • 10:28 - 10:29
    Começávamos a perguntar:
  • 10:29 - 10:32
    "Como é possível que os antigos maias
    pudessem mergulhar?"
  • 10:32 - 10:35
    "Como é possível que tenham
    conseguido chegar a este lugar?"
  • 10:36 - 10:40
    Também começámos a ver uma série
    de marcas nos cenotes,
  • 10:40 - 10:44
    de linhas de nível de água
    e isso começou a dar-nos uma explicação.
  • 10:44 - 10:48
    Acontece que a água estava a subir
    e a baixar, estava a flutuar.
  • 10:48 - 10:51
    Houve muitas alterações climáticas
    ao longo dos séculos,
  • 10:51 - 10:54
    nos últimos milhares de anos.
  • 10:54 - 10:56
    Houve aquecimentos da Terra.
  • 10:56 - 10:58
    deixou de chover.
  • 10:58 - 11:03
    Estas secas intensas
    que poderão ter acontecido
  • 11:03 - 11:07
    desde a Idade do Gelo
    até à era dos maias,
  • 11:07 - 11:12
    estão a manifestar-se sob a forma
    de material arqueológico.
  • 11:12 - 11:14
    O caminho de que vos falo,
  • 11:14 - 11:18
    um crânio depositado
    numa espécie de altar natural,
  • 11:18 - 11:20
    ao qual se tem acesso
    apenas mergulhando.
  • 11:20 - 11:23
    Perguntávamos:
    "Como é que os maias chegaram ali?"
  • 11:23 - 11:26
    Neste mesmo cenote Holtún,
    de que vos falei,
  • 11:26 - 11:28
    encontrámos uma enorme oferenda,
  • 11:28 - 11:30
    que está a oito metros de profundidade.
  • 11:30 - 11:36
    Este foi o elemento que nos deu a ideia,
    que nos deu a resposta
  • 11:36 - 11:39
    de como seria possível
    que os maias entrassem a mergulhar.
  • 11:39 - 11:41
    Não entravam a mergulhar.
  • 11:41 - 11:44
    O nível da água era mais baixo
    durante esta seca enorme,
  • 11:44 - 11:47
    que está documentada
    pelos paleoclimatólogos.
  • 11:47 - 11:51
    Vemos que há uma oferenda
    perfeitamente arrumada
  • 11:52 - 11:55
    com materiais em certos
    cantos do universo,
  • 11:55 - 11:58
    que eram representativos
    de certas coisas.
  • 11:58 - 12:00
    Mas tudo nos leva a uma coisa.
  • 12:00 - 12:03
    Tudo nos leva a um culto da água.
  • 12:03 - 12:05
    Ao culto da chuva.
  • 12:05 - 12:09
    Ao desespero para que chovesse.
  • 12:09 - 12:12
    Tinham água para beber,
    nunca se esgotava,
  • 12:12 - 12:15
    mas como ter água para as culturas?
  • 12:15 - 12:18
    Segundo parece, os maias
    passam grandes dificuldades
  • 12:18 - 12:20
    quando o nível da água desce,
  • 12:20 - 12:23
    quando deixa de chover
    durante 5, 6, 10 anos.
  • 12:23 - 12:27
    Então, entram diretamente
    nas entranhas das divindades
  • 12:27 - 12:31
    — neste caso, as entranhas
    do deus da chuva, Chaac —
  • 12:31 - 12:33
    e pedem-lhe:
    "Chaac, por favor, faz chover".
  • 12:33 - 12:36
    Fazem sacrifícios nesta plataforma.
  • 12:36 - 12:39
    Isto provavelmente é o que está a suceder
  • 12:40 - 12:43
    por causa de uma grande seca.
  • 12:44 - 12:47
    Estes são os lados
    muito agradáveis de tudo isto.
  • 12:47 - 12:51
    Mas também há problemas
    e é importante contá-los.
  • 12:51 - 12:54
    A minha prática chama-se
    "Proteger o grande aquífero".
  • 12:54 - 12:57
    Esta foto faz parte desta investigação,
  • 12:57 - 13:02
    de outro lugar onde encontramos sinais
    de mudança no nível da água.
  • 13:02 - 13:05
    É uma foto de um local belíssimo.
  • 13:05 - 13:07
    Foi tirada em 2006.
  • 13:07 - 13:10
    Em 2006, durante este projeto,
  • 13:10 - 13:14
    fizemos uma apresentação
    numa vila,
  • 13:14 - 13:19
    numa povoação chamada Homún,
    a capital do município.
  • 13:20 - 13:24
    Os habitantes, em especial
    o senhor presidente do município,
  • 13:24 - 13:26
    ficaram encantados com a fotografia.
  • 13:26 - 13:28
    Disseram-nos: "Que local é esse?
  • 13:28 - 13:31
    "É um lugar maravilhoso
    para explorar turisticamente".
  • 13:31 - 13:34
    Obviamente, ficámos com um pouco de medo,
  • 13:34 - 13:37
    mas propusemos alternativas
  • 13:37 - 13:41
    para fazer um turismo
    consciente e sustentável.
  • 13:41 - 13:45
    Mas eles foram muito rápidos
    e ultrapassaram-nos.
  • 13:45 - 13:49
    Acontece que quiseram fazer
    este cenote mais bonito.
  • 13:49 - 13:54
    Para fazê-lo mais bonito,
    destruíram a entrada.
  • 13:55 - 13:57
    Vemos uma diferença enorme.
  • 13:57 - 14:00
    Entra uma grande quantidade de luz.
  • 14:00 - 14:04
    Alteraram o equilíbrio de toda a gruta.
  • 14:05 - 14:07
    Perdeu-se material arqueológico.
  • 14:08 - 14:12
    Perderam-se estalactites,
    essas formações maravilhosas.
  • 14:12 - 14:15
    — É melhor tirá-la e pôr a foto bonita.
  • 14:15 - 14:17
    Neste local,
  • 14:18 - 14:23
    havia manifestações
    de pinturas rupestres nas paredes,
  • 14:23 - 14:27
    manifestações de mãos, que
    são muito vulgares nas grutas,
  • 14:27 - 14:30
    que desapareceram porque,
    quando entrou a luz, esta destruiu-as.
  • 14:32 - 14:35
    Manifestações de mãos como estas
    que vimos nesta gruta.
  • 14:36 - 14:37
    Mãos pintadas.
  • 14:37 - 14:42
    Vemos estalactites cortadas
    intencionalmente de modo ritual.
  • 14:42 - 14:46
    Os maias e os pré-colombianos
    cortavam as estalactites
  • 14:46 - 14:48
    porque eram sinal de fertilidade.
  • 14:48 - 14:51
    Por vezes, colocavam-nas em sepulturas
  • 14:51 - 14:54
    ou punham-nas como oferendas
    aos deuses da chuva, para que chovesse.
  • 14:55 - 15:00
    Mas esta foto que estão a ver
    por acaso não é de Iucatão.
  • 15:00 - 15:04
    Quando preparei esta palestra
    fiquei surpreendido
  • 15:05 - 15:08
    e investiguei um pouco
    a arqueologia da Nicarágua.
  • 15:08 - 15:11
    Este é um local de aqui,
    na Nicarágua,
  • 15:11 - 15:14
    a norte, perto da fronteira
    com as Honduras.
  • 15:14 - 15:19
    O local surpreendeu-me pela semelhança
    com alguns dos nossos sítios
  • 15:19 - 15:24
    e também por este costume
    de cortar as estalactites,
  • 15:24 - 15:26
    talvez para alguma oferenda.
  • 15:26 - 15:31
    No Iucatão, temos locais
    com muitas destas manifestações
  • 15:31 - 15:33
    e quando o vi aqui...
  • 15:33 - 15:36
    Segundo a investigação
    da Universidade Aberta,
  • 15:36 - 15:39
    dizem que é a gruta
    mais a sul da Mesoamérica
  • 15:39 - 15:41
    onde se veem estas manifestações.
  • 15:41 - 15:45
    Tenho a certeza que vamos encontrar
    muito mais coisas, se nos dedicarmos,
  • 15:45 - 15:48
    uma coisa que quero fazer,
    se me aceitarem neste país maravilhoso.
  • 15:48 - 15:50
    (Aplausos)
  • 15:50 - 15:52
    Obrigado. Muito obrigado.
  • 15:53 - 15:55
    (Aplausos)
  • 15:56 - 15:57
    Que amáveis. Obrigado.
  • 15:58 - 16:01
    Esta foto que estamos a ver
    também é da Nicarágua.
  • 16:02 - 16:03
    É desta mesma gruta.
  • 16:03 - 16:05
    Chama-se "Cueva La Conga".
  • 16:07 - 16:12
    Há mãos e há dois elementos
    que atraíram a minha atenção.
  • 16:12 - 16:17
    Em cima, quase ao centro, há
    uma espécie de sol, olho ou inseto,
  • 16:18 - 16:21
    que se repete na parte inferior,
    à esquerda.
  • 16:21 - 16:24
    Há anos, quando mergulhei
    num cenote em Chichén Iztá
  • 16:24 - 16:27
    — um cenote muito profundo,
    com 75 metros de profundidade —
  • 16:27 - 16:31
    encontrámos uma vasilha
    que nos deixou intrigados
  • 16:31 - 16:35
    porque é o único desenho que vimos
    deste tipo no Iucatão
  • 16:35 - 16:41
    ou na península em geral,
    na cerâmica maia em geral.
  • 16:41 - 16:45
    Encontro-me com o mesmo padrão
    nesta gruta.
  • 16:46 - 16:49
    Isto foi maravilhoso
    porque vejo que há um ponto de união.
  • 16:49 - 16:51
    De manhã, estávamos a tomar
    o pequeno-almoço
  • 16:51 - 16:54
    e César, que apresentei há pouco,
    disse uma coisa
  • 16:54 - 16:56
    — porque estávamos a falar
    da comida riquíssima
  • 16:57 - 16:59
    e da parecença com algumas coisas
    que comemos no México —
  • 16:59 - 17:02
    e disse-me: "Somos os mesmos".
  • 17:02 - 17:04
    Tem toda a razão.
  • 17:04 - 17:08
    Estamos a ver isso desde as nossas origens,
    desde há muito tempo.
  • 17:08 - 17:10
    Somos os mesmos.
  • 17:10 - 17:11
    Somos americanos.
  • 17:11 - 17:15
    Temos os mesmos antepassados.
  • 17:15 - 17:18
    Esta é outra foto da mesma gruta.
  • 17:18 - 17:22
    Nas grutas, às vezes, encontramos
    estas manifestações fantásticas
  • 17:22 - 17:24
    das formações das grutas.
  • 17:24 - 17:27
    Chamo-lhes "guardiãs" das grutas.
  • 17:27 - 17:30
    Vemos que há aqui uma guardiã
    dentro do quadro amarelo.
  • 17:30 - 17:32
    É uma espécie de animal,
  • 17:32 - 17:37
    a que os habitantes da zona
    gravaram os olhos
  • 17:37 - 17:41
    e, de certo modo, modificaram a cara
    para torná-la mais animal,
  • 17:41 - 17:43
    para que fosse uma espécie de
  • 17:43 - 17:46
    eu chamo-lhes "guardiãs" porque parece
    estarem a proteger a gruta,
  • 17:46 - 17:49
    são como divindades do inframundo.
  • 17:49 - 17:53
    Surpreende-me porque, no Iucatão,
    temos esta outra "guardiã",
  • 17:53 - 17:56
    que também foi gravada numa rocha
  • 17:56 - 18:01
    e a que também pintaram olhos,
    e acrescentaram as orelhas.
  • 18:01 - 18:04
    Estamos a ver um mesmo padrão cultural,
  • 18:04 - 18:09
    uma mesma forma de adorar
    os sítios sagrados,
  • 18:09 - 18:13
    uma união na forma de fazer oferendas
  • 18:13 - 18:16
    aos deuses da chuva e à água.
  • 18:16 - 18:19
    A água, este elemento
    vital e indispensável,
  • 18:19 - 18:22
    que nos damos ao luxo de desperdiçar
    por toda a parte,
  • 18:22 - 18:25
    que nos damos ao luxo de contaminar.
  • 18:26 - 18:29
    Devemos ter um grande cuidado com ela.
  • 18:29 - 18:32
    Esta é outra semelhança impressionante.
  • 18:32 - 18:34
    Noutra gruta...
  • 18:35 - 18:38
    —não registámos exatamente o nome
    da gruta na investigação —
  • 18:38 - 18:41
    mas a figura que tem em cima
    à esquerda é nicaraguense.
  • 18:42 - 18:48
    Em baixo à direita é uma gruta no Iucatão,
    perto de um local chamado Uxmal.
  • 18:48 - 18:51
    Ambas são manifestações que
    alguns investigadores interpretaram
  • 18:51 - 18:53
    — e eu concordo —
  • 18:53 - 18:54
    como uma imagem de Tláloc.
  • 18:54 - 18:58
    Tláloc é o deus da chuva
    mas do centro do México.
  • 18:58 - 19:00
    É como uma representação de Tláloc.
  • 19:00 - 19:02
    Estamos a falar de novo
    da água, da chuva.
  • 19:02 - 19:07
    E estamos a ver de novo a manifestação
    em arte rupestre nas duas zonas,
  • 19:07 - 19:09
    em zonas aparentemente distantes
  • 19:09 - 19:11
    e que não tiveram nada a ver entre elas.
  • 19:11 - 19:14
    Mas parece que, afinal,
    têm tudo a ver.
  • 19:14 - 19:18
    Este local, este país maravilhoso.
  • 19:18 - 19:22
    Nestas fotos muito antigas deste lago,
  • 19:22 - 19:28
    vemos tubarões de água doce
    e um peixe-serra enorme,
  • 19:28 - 19:31
    que é um animal em perigo de extinção
    em todo o mundo.
  • 19:31 - 19:33
    Espero que ainda existam muitos.
  • 19:34 - 19:41
    O mais importante de estes dois animais
    é que vivem, suponho, em água doce.
  • 19:42 - 19:44
    Todos conhecemos
    o importantíssimo fenómeno
  • 19:44 - 19:47
    de animais que conseguiram evoluir
  • 19:47 - 19:49
    que, normalmente, vivem em água salgada
  • 19:49 - 19:53
    e que estão a viver nestas massas
    de água incríveis da Nicarágua.
  • 19:54 - 19:56
    É uma missão importante.
  • 19:56 - 19:58
    Vejo muitos jovens
    e isso alegra-me.
  • 19:58 - 20:03
    É uma missão muito importante
    a que os jovens e os menos jovens,
  • 20:03 - 20:06
    todos nós nos dediquemos,
  • 20:06 - 20:09
    todos nós nos empenhemos em proteger
  • 20:09 - 20:13
    maravilhas naturais e culturais
    que partilhamos
  • 20:13 - 20:17
    e que nos esqueçamos de fronteiras
    políticas e geográficas.
  • 20:17 - 20:18
    É um todo.
  • 20:19 - 20:20
    Somos os mesmos.
  • 20:20 - 20:23
    E devemos protegê-lo.
  • 20:23 - 20:27
    Estão a ver estas imagens maravilhosas
  • 20:27 - 20:30
    que nos dão tanta paz.
  • 20:30 - 20:34
    Uma mãe a dar banho ao filho
    com água do lago.
  • 20:34 - 20:39
    Que melhor sinal de vida, de otimismo
    e de esperança podíamos ter?
  • 20:40 - 20:42
    Eu ia começar a dizer-lhes que
  • 20:43 - 20:49
    todos sabemos que há uma ideia
    revolucionária de fazer um canal
  • 20:49 - 20:51
    que não é novidade,
    já tem muitos anos
  • 20:51 - 20:53
    e é muito polémico.
  • 20:53 - 20:57
    Já conversei com muitos de vocês
    e as opiniões dividem-se.
  • 20:57 - 21:02
    Creio que qualquer que seja
    a medida que vier a ser tomada,
  • 21:02 - 21:04
    seja o que for que aconteça,
  • 21:04 - 21:07
    espero que seja de modo
    muito organizado.
  • 21:07 - 21:09
    Sei que há aspetos muito benéficos.
  • 21:09 - 21:12
    Estive a ler um relatório
    de um arqueólogo nicaraguense
  • 21:12 - 21:16
    que dizia que, graças apenas
    aos trabalhos do traçado,
  • 21:16 - 21:19
    se encontraram mais de 250
    locais arqueológicos.
  • 21:20 - 21:21
    Isto é maravilhoso.
  • 21:21 - 21:25
    Isto é uma coisa muito importante
    que pode ser,
  • 21:25 - 21:30
    não um dano colateral,
    mas um efeito colateral,
  • 21:29 - 21:32
    e devem aproveitar-se estas coisas.
  • 21:32 - 21:35
    Mas onde está a resposta?
  • 21:35 - 21:37
    Quem pode proteger este país?
  • 21:37 - 21:40
    Quem pode proteger
    as suas riquezas naturais?
  • 21:40 - 21:42
    Quem pode proteger a sua cultura?
  • 21:42 - 21:44
    Claro que são vocês.
  • 21:44 - 21:47
    Temos estado a ver
    palestras maravilhosas
  • 21:47 - 21:49
    que nos têm falado, precisamente
    do poder das pessoas.
  • 21:49 - 21:51
    O poder está em todos nós.
  • 21:51 - 21:54
    Simplesmente, temos que
    mudar a nossa mentalidade.
  • 21:54 - 21:56
    Temos que conhecer o que temos,
  • 21:56 - 21:58
    Creio que é esse o primeiro passo.
  • 21:58 - 22:00
    Saber o que é que existe
    para poder protegê-lo, amá-lo.
  • 22:01 - 22:03
    Não vamos protegê-lo se não o amarmos.
  • 22:03 - 22:06
    É em nós que reside esta escolha
    que os maias enfrentaram,
  • 22:06 - 22:08
    de vida ou morte,
  • 22:08 - 22:13
    esta dicotomia que podemos ver
    claramente num cenote.
  • 22:13 - 22:16
    A vida, a água, tudo
  • 22:16 - 22:17
    e a morte.
  • 22:18 - 22:22
    Espero que possamos ver-nos
    mais amiúde neste país.
  • 22:22 - 22:24
    Eu estou ao vosso dispor.
  • 22:24 - 22:26
    Estou encantado por estar aqui convosco.
  • 22:26 - 22:28
    Muito obrigado.
  • 22:28 - 22:31
    (Aplausos)
Title:
Preservar o Grande Aquífero Maia | Guillermo de Anda | TEDxManagua
Description:

Através desta palestra, conheceremos o Grande Aquífero Maia no Iucatão, a sua importância científica e a necessidade de preservá-lo. Guillermo, com a sua experiência, demonstrará a importância de patrimónios arqueológicos e de como estudar este passado nos dará as pistas do que pode acontecer no futuro.

Esta palestra foi feita num evento TEDx, usando o formato das Conferências TED, mas organizado de forma independente por uma comunidade local. Saiba mais em: http://ted.com/tedx

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Video Language:
Spanish
Team:
closed TED
Project:
TEDxTalks
Duration:
22:46

Portuguese subtitles

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