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Preservar o Grande Aquífero Maya | Guillermo de Anda | TEDxManagua

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    (Aves na selva)
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    Tudo bem? Como estão?
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    Sou Guillermo de Anda.
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    Sou arqueólogo e explorador
    da National Geograhic.
  • 0:43 - 0:45
    (Aplausos) (Vivas)
  • 0:45 - 0:46
    Obrigado.
  • 0:47 - 0:48
    (Aplausos) (Vivas)
  • 0:51 - 0:53
    Muito obrigado. Que energia!
  • 0:53 - 0:56
    Agradeço muitíssimo pela recepção.
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    Espero que se interessem
    pelo que vou falar.
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    Sou mexicano.
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    Perguntarão o que faz um mexicano
    na Nicarágua, em um TEDx.
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    Venho falar de certas semelhanças,
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    que provavelmente não estejam
    ainda muito claras, mas que existem
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    e que me fascinam.
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    Eu trabalho na água.
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    Sou arqueólogo subaquático
    e mergulho em cavernas
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    nesse mundo escuro, porém maravilhoso,
  • 1:29 - 1:31
    das cavernas inundadas
    de Yucatán e Quintana Roo,
  • 1:31 - 1:32
    que se chamam cenotes.
  • 1:32 - 1:35
    Este é o nome genérico
    que vem do maia "tz'onot".
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    Como podem ver, são
    lugares belíssimos por fora,
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    porém por dentro são incomparáveis.
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    Na verdade, é como estar em outro planeta
    dentro de nosso próprio planeta.
  • 1:48 - 1:52
    É um lugar que nos é totalmente estranho,
    porém com uma beleza extraordinária.
  • 1:53 - 1:55
    É um lugar imenso.
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    Para sobreviver precisamos de equipamentos
    como se estivéssemos em outro planeta.
  • 2:01 - 2:05
    Esses tanques que levamos
    contêm nosso gás vital
  • 2:05 - 2:07
    para podermos sobreviver nesse local.
  • 2:08 - 2:11
    E é incrível o que foi alcançado
    durante todos esses anos.
  • 2:12 - 2:14
    Mais uma vez se perguntarão:
    "Bom, Yucatán..."
  • 2:14 - 2:20
    Cancún, especificamente,
    está a 1.402 km de Manágua.
  • 2:21 - 2:23
    Estamos longe, porém estamos muito perto.
  • 2:23 - 2:26
    Estamos muito perto em muitas coisas.
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    Estamos muito perto no fato
    de termos grandes reservas naturais,
  • 2:31 - 2:36
    grandes fontes de água, e, também,
    uma grande cultura pré-colombiana.
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    Nós exploramos este mundo
    escuro das cavernas,
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    em que cada vez estamos
    pressionando mais e mais;
  • 2:42 - 2:45
    ou seja, estamos indo cada vez mais longe.
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    E observem este pequeno artefato
    que tem o mergulhador da fotografia,
  • 2:50 - 2:55
    um carretel com uma linha
    de nylon muito extensa.
  • 2:55 - 2:57
    Essa é nossa garantia de regresso à vida,
  • 2:57 - 3:00
    porque esses lugares
    são muito labirínticos.
  • 3:00 - 3:05
    Precisamos de uma guia para poder
    regressar e não nos perdermos e morrer,
  • 3:05 - 3:08
    porque não podemos respirar
    na água, todos sabemos.
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    Este carretel tem um nó
    a cada três metros;
  • 3:14 - 3:17
    ou seja, quando atiramos nossos carretéis
  • 3:17 - 3:20
    e chegamos ao ponto máximo de penetração,
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    ao regressar, contamos esses nós.
  • 3:22 - 3:26
    Contamos nós pelos últimos
    30 anos, mais ou menos,
  • 3:26 - 3:29
    e sabemos que o resultado desses nós
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    foram 1.390 quilômetros.
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    Se fizermos uma analogia, é quase
    a distância entre Manágua e Cancún.
  • 3:40 - 3:44
    Isso é impressionante,
    porque tudo isso se dá
  • 3:44 - 3:49
    em um pequeno setor
    do estado de Quintana Roo,
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    entre a Playa del Carmen, um lugar
    muito popular de turismo, e Tulum.
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    É uma área onde se concentrou
  • 3:56 - 4:00
    uma grande quantidade
    de explorações e de descobertas.
  • 4:00 - 4:05
    Graças a estas explorações, pudemos
    encontrar coisas maravilhosas.
  • 4:05 - 4:07
    É o sonho de um arqueólogo.
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    Há alguns anos, encontramos estes
    animais que revelaram ser ursos;
  • 4:12 - 4:15
    os primeiros ursos
    registrados nessa região.
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    E revelaram ser ursos muito antigos,
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    provavelmente com 14 mil anos
    de antiguidade.
  • 4:21 - 4:23
    São da idade do gelo.
  • 4:24 - 4:26
    Isso nos deu uma nova perspectiva
  • 4:26 - 4:31
    sobre o povoamento da América
    e de sua biogeografia em geral.
  • 4:31 - 4:34
    Eu não estranharia se nesta região,
  • 4:34 - 4:39
    se fizéssemos explorações mais intensivas,
    encontrássemos coisas similares.
  • 4:39 - 4:42
    Na região de Yucatán, encontramos também
  • 4:42 - 4:46
    uma grande quantidade de elefantes
    antigos, parentes dos mamutes,
  • 4:46 - 4:51
    neste caso gonfotérios, dos quais vemos
    uma mandíbula extraordinária e enorme,
  • 4:51 - 4:55
    com todos seus dentes
    bem preservados debaixo da água.
  • 4:56 - 5:00
    Esse nível de preservação
    nos cenotes é extraordinário.
  • 5:00 - 5:04
    É incrível pensar que há
    10, 11 ou 12 mil anos,
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    este indivíduo jovem que vemos aí,
    se perdeu provavelmente em uma caverna
  • 5:10 - 5:15
    que hoje está a mais de mil metros,
    um pouco mais de um quilômetro.
  • 5:16 - 5:20
    E ele ficou em seu lugar
    de eterno repouso,
  • 5:20 - 5:25
    para que os mergulhadores, milhares
    de anos depois, pudessem encontrá-lo
  • 5:25 - 5:28
    e dar grandes respostas à ciencia.
  • 5:28 - 5:32
    Agora sabemos muito mais
    do povoamento inicial da América
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    graças à pesquisa que se faz
    no Grande Aquífero Maya,
  • 5:35 - 5:39
    em toda essa enorme região
    de cavernas inundadas,
  • 5:39 - 5:41
    especialmente no estado de Quintana Roo.
  • 5:42 - 5:46
    Esta foto é de um achado
    revelado recentemente.
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    É o cenote de Hoyo Negro,
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    onde foram encontrados
    os restos de uma mulher jovem,
  • 5:53 - 5:55
    de aproximadamente 15 anos,
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    associados a ossos enormes
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    de outro gonfotério,
    outro parente dos mamutes,
  • 6:02 - 6:04
    em um estado maravilhoso de preservação.
  • 6:04 - 6:06
    Deixem-me contar a vocês
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    que um dente dessa mulher foi extraído,
  • 6:12 - 6:16
    fizeram análises e foi
    possível obter o DNA.
  • 6:16 - 6:19
    Com isso se soube que esta
    mulher em particular
  • 6:19 - 6:23
    era descendente das pessoas
    que cruzaram o estreito de Bering
  • 6:23 - 6:25
    vindas da Ásia.
  • 6:25 - 6:27
    Esse tipo de resposta,
  • 6:27 - 6:31
    esse nível de conservação é o que nos dá
    esse contexto maravilhoso.
  • 6:32 - 6:37
    Como se isso não bastasse, ali
    viveram nossos ancestrais maias,
  • 6:37 - 6:43
    que tinham uma inclinação especial
    pelas cavernas e cenotes
  • 6:43 - 6:45
    porque eram considerados,
    em sua cosmovisão,
  • 6:45 - 6:50
    os lugares de onde havia emanado a vida,
  • 6:50 - 6:55
    o primeiro grão de milho para o homem
    e de onde vinha a chuva.
  • 6:55 - 6:58
    E de onde vinham coisas boas,
    mas também coisas ruins.
  • 6:58 - 7:00
    Quando você vê uma foto como esta -
  • 7:00 - 7:03
    aliás, umas fotos extraordinárias
    dos meus colegas da National Geographic;
  • 7:03 - 7:05
    esta em particular é de Paul Nicklen -
  • 7:05 - 7:07
    você pode se dar conta
  • 7:07 - 7:11
    de qual teria sido o sentimento
    de nossos ancestrais maias.
  • 7:12 - 7:17
    Por isso começa a se desenvolver
    uma nova disciplina científica,
  • 7:17 - 7:20
    que é a arqueologia de cavernas e cenotes.
  • 7:20 - 7:25
    Estamos mergulhando em um aquífero,
    em milhares de quilômetros de água,
  • 7:25 - 7:28
    em milhões de litros cúbicos de água,
  • 7:28 - 7:30
    um recurso que tende a esgotar-se,
  • 7:30 - 7:34
    um recurso que em breve será
    mais valioso que o próprio petróleo,
  • 7:34 - 7:40
    e em qual está depositada uma grande
    quantidade de materiais arqueológicos
  • 7:40 - 7:42
    em um excelente estado de preservação.
  • 7:43 - 7:47
    Porém este incrível aquífero nos dá
    respostas não só para o povoamento,
  • 7:47 - 7:50
    não só respostas sobre os rituais
    que praticavam os antigos maias,
  • 7:51 - 7:53
    mas quando vemos uma foto como esta,
  • 7:53 - 7:55
    e vemos uma entrada de luz tão especial...
  • 7:55 - 7:57
    Este é um cenote chamado Holtún,
  • 7:57 - 8:00
    no sítio arqueológico de Chichén Itzá.
  • 8:01 - 8:05
    Esta foto também é de Paul Nicklen,
    fotógrafo da National Geographic.
  • 8:05 - 8:09
    E tenho o enorme prazer
    de lhes contar que nesta foto
  • 8:09 - 8:13
    estão os dois primeiros latinos
    a aparecerem em uma capa
  • 8:13 - 8:14
    da National Geographic.
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    Esta foi a capa de agosto de 2013.
  • 8:19 - 8:22
    É meu colega Dante García e um servidor.
  • 8:23 - 8:24
    (Aplausos)
  • 8:24 - 8:25
    Obrigado.
  • 8:28 - 8:30
    Muito obrigado.
  • 8:30 - 8:33
    Isto, obviamente, é uma grande satisfação
    para nós como latinos
  • 8:33 - 8:38
    mas, também, estas fotos nos deram
    uma maneira de entender melhor o contexto.
  • 8:39 - 8:41
    Imaginem que essa luz que estão vendo,
  • 8:41 - 8:44
    atrás da pessoa que está na corda,
  • 8:44 - 8:48
    é a luz de uma entrada esculpida
    artificialmente pelos antigos maias
  • 8:48 - 8:54
    na forma de um retângulo, a mesma forma
    do universo maia, que tinha quatro cantos.
  • 8:54 - 8:56
    Para nós são o norte, sul, leste e oeste;
  • 8:56 - 8:58
    para eles eram amarelo,
    vermelho, branco e preto.
  • 8:58 - 9:04
    E havia um quinto rumo neste universo,
    que era o centro, o "axis mundi",
  • 9:04 - 9:07
    o eixo sagrado de onde tudo emanava.
  • 9:07 - 9:10
    E eles se deram ao luxo
    de esculpir uma entrada
  • 9:10 - 9:15
    em uma certa direção para que o sol
    pudesse entrar só duas vezes ao ano
  • 9:15 - 9:17
    de uma maneira especial.
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    Ou seja, era um observatório
    astronômico solar.
  • 9:20 - 9:24
    Todas essas são informações
    importantes que os cenotes nos dão.
  • 9:24 - 9:30
    Podemos ver esta foto impressionante,
    desse dia em especial,
  • 9:30 - 9:34
    em que o sol entra de maneira
    totalmente vertical.
  • 9:34 - 9:38
    Esta luz chega até o fundo,
    a 50 metros de profundidade.
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    É um momento mágico poder estar ali
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    e confirmar que os maias
    tinham uma grande sabedoria,
  • 9:46 - 9:49
    como todos os povos mesoamericanos,
  • 9:49 - 9:52
    como todos os pré-colombianos
    que nos antecederam.
  • 9:53 - 9:59
    Todo esse movimento de exploração
    nos levou também a lugares incríveis.
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    Há uma caverna no centro
    do estado de Yucatán,
  • 10:02 - 10:04
    que é a foto que vocês estão vendo,
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    em que há um caminho.
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    Os maias o chamavam
    de "sac be", o caminho branco.
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    Eram enormes obras de engenharia.
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    Esse é o único que foi encontrado
    dentro de uma caverna.
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    Ao final desse caminho,
    há um corpo de água, um cenote.
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    Para continuar tivemos que mergulhar.
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    Mergulhamos aproximadamente
    100 metros dentro da caverna
  • 10:24 - 10:28
    e do outro lado encontramos a continuação
    do caminho na mesma direção.
  • 10:28 - 10:29
    Começamos a nos perguntar:
  • 10:29 - 10:32
    como é possível que os antigos
    maias podiam mergulhar?
  • 10:32 - 10:35
    Como é possível que puderam
    chegar a este lugar?
  • 10:36 - 10:39
    Começamos a ver também
    uma série de marcas nos cenotes,
  • 10:39 - 10:43
    de linhas de nível da água, e isso
    começou a nos dar explicações.
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    Acontece que a água estava subindo
    e descendo; estava flutuando.
  • 10:48 - 10:51
    E houve muitas mudanças
    climáticas ao longo dos séculos,
  • 10:51 - 10:53
    nos últimos milhares de anos.
  • 10:53 - 10:56
    Houve aquecimento da Terra.
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    Parou de chover.
  • 10:58 - 11:03
    E essas intensas secas,
    que podem ter ocorrido
  • 11:03 - 11:07
    desde a Idade do Gelo até a era dos maias,
  • 11:07 - 11:11
    estão se manifestando na forma
    de material arqueológico:
  • 11:11 - 11:14
    o caminho que lhes falo,
  • 11:14 - 11:18
    um crânio depositado
    em uma espécie de altar natural,
  • 11:18 - 11:20
    ao qual se acessa somente mergulhando.
  • 11:20 - 11:23
    Nós nos perguntávamos:
    "Como os maias chegaram ali?"
  • 11:23 - 11:26
    E nesse mesmo cenote Holtún,
    do qual já lhes falei,
  • 11:26 - 11:28
    encontramos uma enorme oferenda,
  • 11:28 - 11:30
    que atualmente está
    a 8 metros de profundidade.
  • 11:30 - 11:36
    Foi isso que nos deu a ideia,
    que nos deu a resposta
  • 11:36 - 11:39
    de como era possível
    os maias mergulharem.
  • 11:39 - 11:41
    Não mergulhavam.
  • 11:41 - 11:44
    O nível da água era mais baixo
    por esta enorme seca,
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    que está documentada
    pelos paleoclimatologistas.
  • 11:47 - 11:51
    E vemos que há uma oferenda
    perfeitamente arrumada,
  • 11:52 - 11:55
    com materiais em certos
    cantos do universo,
  • 11:55 - 11:58
    que eram representativos de certas coisas.
  • 11:58 - 12:00
    Porém todos nos levam a uma coisa.
  • 12:00 - 12:03
    Todos nos levam a um culto à água.
  • 12:03 - 12:05
    A um culto à chuva.
  • 12:05 - 12:08
    A um desespero para que tivesse chuva.
  • 12:09 - 12:12
    Tinham água para beber, nunca se esgotava.
  • 12:12 - 12:14
    Mas o que acontece
    com a água dos cultivos?
  • 12:15 - 12:18
    Os maias parecem fazer um esforço enorme
  • 12:18 - 12:20
    quando baixa o nível da água,
  • 12:20 - 12:23
    quando deixa de chover
    por cinco, seis, dez anos...
  • 12:23 - 12:27
    E, então, entram diretamente
    nas entranhas das divindades,
  • 12:27 - 12:31
    nesse caso a entranha
    do deus da chuva, Chaac,
  • 12:31 - 12:33
    e lhe pedem:"Chaac,
    por favor, faça chover".
  • 12:33 - 12:36
    E fazem sacrifícios nessa plataforma.
  • 12:36 - 12:39
    Provavelmente é isso que acontece,
  • 12:40 - 12:43
    causado por uma grande seca.
  • 12:44 - 12:47
    Essa é a parte agradável disso tudo.
  • 12:47 - 12:51
    Porém também existem arestas,
    e é importante contá-las.
  • 12:51 - 12:54
    Minha palestra se chama
    "Protegendo o grande aquífero".
  • 12:54 - 12:57
    Esta foto faz parte desta pesquisa,
  • 12:57 - 13:01
    outro lugar onde encontramos
    sinais de mudança no nível da água.
  • 13:02 - 13:04
    É uma foto de um lugar belíssimo.
  • 13:05 - 13:07
    Foi tirada em 2006.
  • 13:07 - 13:10
    Em 2006, durante este projeto,
  • 13:10 - 13:14
    fizemos uma apresentação
    em uma vila, no final,
  • 13:14 - 13:18
    em uma cidade que se chama Homún,
    sede municipal de todo o município.
  • 13:19 - 13:25
    A fotografia encantou os habitantes,
    especialmente o senhor prefeito municipal.
  • 13:25 - 13:27
    Eles perguntaram: "Que lugar é este?
  • 13:27 - 13:30
    É um lugar maravilhoso
    para explorar turisticamente".
  • 13:30 - 13:33
    Obviamente, nos deu um pouco de medo,
  • 13:33 - 13:37
    mas propusemos alternativas
  • 13:37 - 13:41
    para fazer um turismo
    consciente e sustentável.
  • 13:41 - 13:45
    Mas eles foram mais rápidos.
  • 13:45 - 13:48
    E acontece que quiseram tornar
    este cenote mais bonito.
  • 13:49 - 13:54
    E, para torná-lo mais bonito,
    na visão deles, quebraram a entrada.
  • 13:55 - 13:57
    Vemos uma enorme diferença.
  • 13:57 - 13:59
    Entra uma grande quantidade de luz.
  • 14:00 - 14:04
    Mudaram o equilíbrio de toda a caverna.
  • 14:05 - 14:07
    Perdeu-se material arqueológico.
  • 14:08 - 14:12
    Perderam-se estalactites,
    estas formações maravilhosas.
  • 14:12 - 14:15
    "Melhor tirá-la e fazer uma foto bonita."
  • 14:15 - 14:17
    Neste lugar,
  • 14:18 - 14:22
    havia pinturas rupestres nas paredes:
  • 14:22 - 14:26
    manifestações de mãos,
    que são muito comuns nas cavernas,
  • 14:27 - 14:30
    que desapareceram, porque a luz
    as destruiu quando entrou.
  • 14:31 - 14:35
    Manifestações de mãos,
    como as que vemos nesta caverna.
  • 14:35 - 14:37
    Mãos pintadas...
  • 14:37 - 14:42
    Vemos estalactites cortadas
    intencionalmente de maneira ritual.
  • 14:42 - 14:46
    Os maias e os pré-colombianos
    cortavam as estalactites
  • 14:46 - 14:50
    porque eram sinal de fertilidade
    e, algumas vezes, as punham em enterros
  • 14:50 - 14:53
    ou as punham como oferenda para os deuses
    da chuva, para que chovesse.
  • 14:54 - 15:00
    Porém, esta foto que vocês veem,
    casualmente, não é em Yucatán.
  • 15:00 - 15:02
    Quando eu preparei esta palestra,
  • 15:02 - 15:05
    me surpreendi e pesquisei um pouco
  • 15:05 - 15:08
    sobre a arqueologia da Nicarágua.
  • 15:08 - 15:11
    E este é um lugar aqui na Nicarágua.
  • 15:11 - 15:14
    Ao norte, próximo
    à fronteira com Honduras.
  • 15:14 - 15:19
    O lugar me surpreendeu pela semelhança
    com alguns dos nossos sítios
  • 15:19 - 15:23
    e, também, por este costume
    de cortar as estalactites,
  • 15:23 - 15:26
    talvez para alguma oferenda.
  • 15:26 - 15:31
    Em Yucatán, temos lugares
    com muitíssimas dessas manifestações,
  • 15:31 - 15:32
    e quando as vi aqui...
  • 15:32 - 15:35
    e segundo pesquisa
    da Universidade de Alberta,
  • 15:35 - 15:39
    dizem que é a caverna
    mais ao sul da Mesoamérica
  • 15:39 - 15:41
    em que se veem essas manifestações.
  • 15:41 - 15:44
    Estou certo que vamos encontrar
    muito mais, se nos dedicarmos,
  • 15:44 - 15:48
    algo que quero fazer, se me aceitarem
    neste maravilhoso país.
  • 15:48 - 15:50
    (Aplausos)
  • 15:50 - 15:52
    Obrigado. Muito obrigado.
  • 15:52 - 15:55
    (Aplausos)
  • 15:56 - 15:57
    Que amáveis. Obrigado, verdade.
  • 15:57 - 16:01
    Esta foto que vemos agora
    também é da Nicarágua.
  • 16:02 - 16:05
    É desta mesma caverna.
    A propósito, se chama "Cueva la Conga".
  • 16:07 - 16:11
    Há mãos e há dois elementos
    que me chamaram muita atenção.
  • 16:11 - 16:16
    Acima, quase ao centro,
    há uma espécie de sol, olho ou inseto,
  • 16:18 - 16:20
    que se repete na parte inferior esquerda.
  • 16:21 - 16:24
    Anos atrás, mergulhando
    em um cenote em Chichén Itzá,
  • 16:24 - 16:27
    um cenote muito profundo,
    de 75 metros de profundidade,
  • 16:27 - 16:30
    encontramos uma vasilha,
    que nos tem intrigado
  • 16:30 - 16:35
    porque é o único desenho
    desse tipo que vimos em Yucatán,
  • 16:35 - 16:40
    ou na península em geral,
    ou em geral na cerâmica maia.
  • 16:41 - 16:44
    E encontro o mesmo padrão nesta caverna.
  • 16:46 - 16:49
    Realmente, isso foi maravilhoso
    porque vejo que há um ponto de união.
  • 16:49 - 16:51
    Pela manhã, tomávamos café
  • 16:51 - 16:53
    e César, que se apresentou
    mais cedo, disse algo -
  • 16:53 - 16:56
    porque falávamos da comida deliciosa
  • 16:56 - 16:59
    e de como se parece com algumas
    coisas que comemos no México -
  • 16:59 - 17:02
    e ele me disse: "Somos os mesmos".
  • 17:02 - 17:03
    E isto é muito certo.
  • 17:03 - 17:07
    Vemos isso desde nossas origens,
    há muito tempo.
  • 17:08 - 17:10
    Somos os mesmos.
  • 17:10 - 17:11
    Somos americanos.
  • 17:11 - 17:15
    Temos os mesmos ancestrais.
  • 17:15 - 17:18
    Está é outra foto desta mesma caverna.
  • 17:18 - 17:22
    Nas cavernas, às vezes encontramos
    estas manifestações fantásticas
  • 17:22 - 17:24
    de formações das cavernas.
  • 17:24 - 17:26
    Eu as chamo "guardiãs" das cavernas.
  • 17:26 - 17:30
    E vemos que aqui há um guardião,
    dentro do quadro amarelo.
  • 17:30 - 17:32
    É uma espécie de animal,
  • 17:32 - 17:37
    com os olhos esculpidos
    pelos habitantes da região
  • 17:37 - 17:41
    e, de alguma maneira, modificaram
    a cara para fazê-lo mais animal,
  • 17:41 - 17:43
    para que fosse como uma espécie de...
  • 17:43 - 17:46
    Eu os chamo de "guardiões" porque
    parece que estão protegendo a caverna,
  • 17:46 - 17:49
    são como divindades do mundo subterrâneo.
  • 17:49 - 17:53
    E me surpreende porque, em Yucatán,
    temos este outro "guardião",
  • 17:53 - 17:55
    que também foi esculpido sobre uma rocha,
  • 17:55 - 18:01
    e ao qual inclusive pintaram olhos
    e detalharam as orelhas.
  • 18:01 - 18:04
    Vemos um mesmo padrão cultural,
  • 18:04 - 18:08
    uma mesma forma de adorar
    os lugares sagrados,
  • 18:08 - 18:13
    uma união na forma de fazer oferendas
  • 18:13 - 18:15
    aos deuses da chuva.
  • 18:15 - 18:17
    A água...
  • 18:17 - 18:19
    este elemento vital e indispensável
  • 18:19 - 18:22
    que nos damos ao luxo
    de desperdiçar em todos os lugares,
  • 18:22 - 18:25
    que nos damos ao luxo de contaminar.
  • 18:26 - 18:29
    Por isso devemos ter muito cuidado.
  • 18:29 - 18:31
    Esta é outra semelhança impressionante.
  • 18:32 - 18:34
    Em outra caverna de...
  • 18:34 - 18:38
    Não se registra exatamente
    o nome da caverna na pesquisa,
  • 18:38 - 18:41
    porém a figura que veem acima
    à esquerda é nicaraguense.
  • 18:42 - 18:45
    A de baixo à direita
    é uma caverna em Yucatán,
  • 18:45 - 18:48
    perto de um lugar chamado Uxmal.
  • 18:48 - 18:51
    As duas são manifestações que alguns
    pesquisadores interpretaram,
  • 18:51 - 18:52
    e eu estou de acordo,
  • 18:52 - 18:54
    como uma imagem de Tláloc.
  • 18:54 - 18:58
    Tláloc é o deus da chuva,
    porém do centro do México.
  • 18:58 - 19:00
    É como uma representação de Tláloc.
  • 19:00 - 19:02
    Estamos falando outra vez
    de água, de chuva...
  • 19:02 - 19:07
    E outra vez estamos vendo evidências
    em arte rupestre nas duas regiões,
  • 19:07 - 19:09
    duas regiões aparentemente distantes
  • 19:09 - 19:11
    e que não tiveram nada a ver entre si.
  • 19:11 - 19:14
    Porém parece que têm tudo a ver.
  • 19:14 - 19:17
    Este lugar... este país é maravilhoso.
  • 19:18 - 19:22
    Nestas fotos muito antigas deste lago
  • 19:22 - 19:28
    vemos tubarões de água doce
    e um peixe-serra enorme,
  • 19:28 - 19:31
    que é um animal em perigo
    de extinção em todo o mundo.
  • 19:31 - 19:33
    Eu espero, porém, que existam muitos.
  • 19:34 - 19:41
    O mais importante destes dois animais
    é que vivem, suponho, em água doce.
  • 19:42 - 19:47
    Conhecemos o fenômeno importantíssimo
    de animais que atingiram uma evolução,
  • 19:47 - 19:48
    que normalmente vivem em água salgada
  • 19:48 - 19:53
    e que vivem nestes corpos de água
    incríveis da Nicarágua.
  • 19:54 - 19:56
    É uma missão importante...
  • 19:56 - 19:58
    Vejo muito jovens e isso me alegra.
  • 19:58 - 20:03
    É uma missão muito importante
    que os jovens e os não tão jovens,
  • 20:03 - 20:06
    todos nos empoderemos,
  • 20:06 - 20:09
    todos nos empenhemos em proteger
  • 20:09 - 20:13
    as maravilhas naturais e culturais
    que compartilhamos,
  • 20:13 - 20:16
    esquecendo das fronteiras
    políticas e geográficas.
  • 20:17 - 20:18
    É um todo.
  • 20:19 - 20:20
    Somos os mesmos.
  • 20:20 - 20:22
    E devemos protegê-lo.
  • 20:23 - 20:27
    Vocês estão vendo
    estas imagens maravilhosas,
  • 20:27 - 20:29
    que nos dão tanta paz:
  • 20:29 - 20:33
    uma mãe banhando seu filho
    com água do lago.
  • 20:34 - 20:39
    Que melhor sinal de vida, de otimismo
    e de esperança poderíamos ter?
  • 20:40 - 20:42
    Começava a dizer-lhes que...
  • 20:43 - 20:49
    Todos sabemos que há uma ideia
    revolucionária de fazer um canal,
  • 20:49 - 20:52
    que não é nova, tem há muito anos,
    e é muito polêmica.
  • 20:52 - 20:57
    Eu conversei com muitos de vocês
    e as opiniões se dividem.
  • 20:57 - 21:02
    Creio que qualquer medida que se tome,
  • 21:02 - 21:04
    o que quer que aconteça,
  • 21:04 - 21:07
    espero que seja
    de maneira muito controlada.
  • 21:07 - 21:09
    Sei que há aspectos muito benéficos.
  • 21:09 - 21:13
    Li um relatório de um arqueólogo
    nicaraguense que dizia
  • 21:13 - 21:16
    que graças, simplesmente,
    aos trabalhos de traçado,
  • 21:16 - 21:19
    foram encontrados mais
    de 250 sítios arqueológicos.
  • 21:19 - 21:21
    Isso é maravilhoso.
  • 21:21 - 21:25
    Isso é algo muito importante que pode ser,
  • 21:25 - 21:29
    não um dano colateral,
    mas um efeito colateral,
  • 21:29 - 21:32
    e devemos aproveitar essas coisas.
  • 21:32 - 21:34
    Porém, onde está a resposta?
  • 21:34 - 21:37
    Quem pode proteger este país?
  • 21:37 - 21:40
    Quem pode proteger suas riquezas naturais?
  • 21:40 - 21:42
    Quem pode proteger sua cultura?
  • 21:42 - 21:44
    Com certeza, vocês.
  • 21:44 - 21:46
    Vimos palestras maravilhosas,
  • 21:46 - 21:49
    que nos falam, justamente,
    do poder das pessoas.
  • 21:49 - 21:51
    O poder está em nós.
  • 21:51 - 21:54
    Simplesmente, temos
    que mudar nossa mentalidade.
  • 21:54 - 21:55
    Precisamos conhecer o que temos.
  • 21:55 - 21:59
    Creio que esse é o primeiro passo:
    saber o que existe para poder proteger.
  • 21:59 - 22:00
    Amar.
  • 22:00 - 22:03
    Não vamos proteger se não o amarmos.
  • 22:03 - 22:08
    Esta disjunção que os maias enfrentaram,
    de vida e morte, está dentro de nós,
  • 22:08 - 22:13
    esta dicotomia que podemos
    ver claramente em um cenote.
  • 22:13 - 22:15
    A vida, a água, o todo....
  • 22:16 - 22:17
    e a morte.
  • 22:18 - 22:22
    Espero que possamos nos ver
    mais vezes neste país.
  • 22:22 - 22:24
    Eu estou às ordens.
  • 22:24 - 22:26
    Estou encantado de estar aqui com vocês.
  • 22:26 - 22:28
    Muito obrigado.
  • 22:28 - 22:30
    (Aplausos)
Title:
Preservar o Grande Aquífero Maya | Guillermo de Anda | TEDxManagua
Description:

Esta palestra foi dada em um evento TEDx, que usa o formato de conferência TED, mas é organizado de forma independente por uma comunidade local. Para saber mais visite http://ted.com/tedx

Através desta apresentação conheceremos o Grande Aquífero Maya em Yucatán, sua importância científica e a necessidade de preservá-lo. Guillermo, com sua experiência, demonstrará a importância dos patrimônios arqueológicos e de como estudar este passado nos dará as pistas do que pode vir no futuro.

Explorador da National Geographic e arqueólogo subaquático especializado em estudo de cavernas e cenotes por mais de 30 anos. Professor e pesquisador da Universidade Autônoma de Yucatán por mais de 15 anos.
É instrutor de mergulhos em cavernas e dirige os projetos "O culto ao Cenote", e o projeto do Grande Aquífero Maya, no México. De Anda é sócio ativo da Sociedade Mexicana de Geografia e Estatística e em 2007 recebeu a menção honorífica em Antropologia Física outorgada pelo INAH.

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Video Language:
Spanish
Team:
closed TED
Project:
TEDxTalks
Duration:
22:46

Portuguese, Brazilian subtitles

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