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Desacelerar o tempo (na escrita & em filme) — Aaron Sitze

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    Tive o meu primeiro acidente
    de carro aos 16 anos.
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    Tinha acabado de tirar a carta
    e estava a ir para casa
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    quando um carro entrou no cruzamento
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    e bang! Bateu-me.
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    Aconteceu tudo muito rápido.
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    Bang!
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    Mas quando recordo esse momento,
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    não demora dois segundos.
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    Vejo os pneus do carro
    a chegarem ao Stop.
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    Tenho tempo para pensar:
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    "Acho que aquele carro me vai bater."
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    Vejo o canto direito da carroçaria do carro
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    a ficar amassado como se
    fosse folha de alumínio.
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    Vejo a tinta vermelha a saltar,
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    vejo tudo isso, como se tivesse
    acontecido em câmara lenta.
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    Na minha memória, essa
    experiência durou dez segundos.
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    Mas porquê?
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    Porque é que a memória é mais longa
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    do que o tempo real?
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    É um fenómeno interessante
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    e não é restrito a acidentes de carro,
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    a uma montanha russa
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    ou ao primeiro beijo.
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    Estes eventos parecem durar
    mais do que realmente duram.
  • 1:04 - 1:05
    Mas porquê?
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    E quando temos que escrever
    sobre essa experiência,
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    como é que comunicamos
    essa sensação peculiar?
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    Como desacelero o tempo na escrita?
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    Para respondermos a isso,
    temos que visitar Hollywood.
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    A forma como os realizadores
    criam o efeito de câmara lenta
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    diz muito de como os escritores
    podem criar esse efeito.
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    Primeiro, vamos recordar
    como as gravações funcionam.
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    Quando a câmara está ligada,
    não está a gravar movimento,
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    está a tirar muitas e
    muitas fotografias individuais.
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    Mas quando essas imagens
    são reproduzidas num projetor,
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    elas juntam-se e criam
    a sensação de movimento,
  • 1:37 - 1:39
    como num flip book.
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    Portanto, vamos imaginar que
    um operador de câmara precisa de
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    filmar a sua atriz a andar
    por um campo de margaridas
  • 1:43 - 1:45
    a velocidade normal.
  • 1:45 - 1:47
    Pronto? Ação.
  • 1:47 - 1:49
    Ela anda pelo campo,
  • 1:49 - 1:50
    ele grava
  • 1:50 - 1:52
    e... corta.
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    Para facilitar a matemática vamos dizer
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    que o nosso operador de
    câmara tirou 50 fotografias,
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    50 pequenos fotogramas
    naquele pedaço de filme.
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    Agora, vamos pegar nesse filme e reproduzi-lo
  • 2:02 - 2:06
    à velocidade de 50 fotogramas em 5 segundos.
  • 2:06 - 2:07
    O ritmo é constante.
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    O projetor vai funcionar sempre
    à mesma velocidade.
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    É fácil. Temos 50 fotogramas, por isso,
    o nosso filme demora 5 segundos.
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    Ela anda pelo campo...
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    ... e corta!
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    Então, como é que reduzimos
    a velocidade num filme?
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    Como criamos a câmara lenta?
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    Pode ser uma surpresa,
    mas não tiramos menos fotografias.
  • 2:28 - 2:31
    Tiramos mais fotografias.
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    Pronto? Ação!
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    Ela anda pelo campo,
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    ele grava
  • 2:35 - 2:37
    e corta.
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    Agora temos muito filme, mais quantidade,
  • 2:41 - 2:43
    cerca de 100 fotogramas.
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    Agora, quando o voltamos a passar,
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    demora muito mais tempo a passar
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    e lá está a atriz, em câmara lenta,
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    a andar pelo campo de margaridas!
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    O que nos trás de volta à escrita.
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    Quando está a escrever uma narrativa,
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    pode querer usar o efeito de
    câmara lenta numa das cenas.
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    É um efeito fixe, tal como em Hollywood,
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    e dirige a atenção do leitor
    para os momentos importantes.
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    Bem, e é assim que o fazemos.
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    Quando lemos,
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    o nosso cérebro converte
    as palavras em imagens
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    e as imagens juntam-se em ações.
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    Portanto, o que lemos é o que vemos
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    no tempo que demoramos a ler.
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    Por exemplo, imagine
    que está a escrever sobre
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    o lançamento livre com que
    venceu o jogo do campeonato.
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    É um momento em que, enquanto escritor,
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    pode querer desacelerar o tempo
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    para capturar realmente a tensão ao segundo
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    sentida na cena.
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    Concentra-se,
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    põe o lápis no papel,
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    quer mesmo reduzir a velocidade,
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    e escreve:
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    "Lanço a bola ao cesto.
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    "O tempo desacelerou. E então ganhámos."
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    Ler isso leva-nos dois segundos;
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    portanto, o seu leitor imagina
    uma cena que dura dois segundos.
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    A bola sobe, desce, está feito.
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    Porque, apesar de ter escrito:
    "o tempo desacelerou,"
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    não provocou esse efeito no leitor.
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    Apenas dizer, não faz com que aconteça.
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    Agora, vamos pegar
    no que fazemos no cinema.
  • 4:02 - 4:04
    O tempo abranda com mais imagens,
  • 4:04 - 4:06
    e tentamos de novo.
  • 4:06 - 4:10
    Desta vez, escreva MUITO mais.
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    "Eu dobrei os joelhos e
    segurei a bola folgadamente.
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    "Deixando que a bola batesse
    no chão mais uma vez,
  • 4:15 - 4:16
    "reuni os meus pensamentos.
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    "Este era o momento.
  • 4:18 - 4:22
    "O meu braço direito estendeu-se enquanto
    larguei a bola, com um pequeno jeito,
  • 4:22 - 4:27
    "e rodou gentilmente enquanto
    fazia o arco na direção do cesto.
  • 4:27 - 4:29
    "Sustive a respiração.
  • 4:29 - 4:32
    "A bola bateu no aro de trás
  • 4:32 - 4:37
    "e caiu na rede, com um
    silvo suave e satisfatório.
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    "E a multidão saltou dos bancos."
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    Vê, acabámos de desacelerar
    o tempo com a escrita.
  • 4:45 - 4:46
    A conclusão é a seguinte:
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    há momentos na vida que duram mais
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    do que o tempo que demoram.
  • 4:50 - 4:52
    Quando está a planear a sua narrativa,
  • 4:52 - 4:54
    pense nesses momentos,
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    nesses fragmentos de vida que
    demoraram mais do que o relógio:
  • 4:57 - 4:59
    o momento em que recebeu más notícias,
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    o momento em que ouviu boas notícias,
  • 5:01 - 5:05
    o momento de alegria em que
    percebeu que acertou no cesto,
  • 5:05 - 5:09
    ou o momento em que
    percebe que o vai falhar.
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    Quando tiver identificado estes
    momentos na sua narrativa,
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    pode usar este efeito de
    câmara lenta quando escreve.
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    Lembre-se apenas, não é suficiente
    dizer que "o tempo desacelerou"
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    e não é suficiente atirar alguns adjetivos
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    numa frase e achar que está feito.
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    Escrita descritiva é boa escrita, é verdade.
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    Mas se quer expressar a sensação
    de câmara lenta na vida,
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    tem que efetivamente ocupar
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    mais espaço físico na página,
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    usar mais fotogramas,
    por assim dizer.
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    Ao fazer isso, estará a criar tensão
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    e a manter o seu leitor interessado.
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    E dessa forma, da
    próxima vez que escrever,
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    estará a controlar a câmara
    da sua própria escrita.
Title:
Desacelerar o tempo (na escrita & em filme) — Aaron Sitze
Description:

Veja a lição completa: http://ed.ted.com/lessons/slowing-down-time-in-writing-film-aaron-sitze

Alguns momentos na vida parecem durar uma eternidade. Quer seja o seu primeiro beijo ou um acidente de carro, o tempo parece esticar... ou até parar. Aaron Sitze explica como esta sensação é transmitida no cinema e como as mesmas convenções podem ser usadas para desacelerar o tempo na sua escrita.

Lição de Aaron Sitze, animação de TED-Ed.

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English
Team:
closed TED
Project:
TED-Ed
Duration:
06:00

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