Como usamos a tecnologia do ADN para ajudar os agricultores a lutar contra as pragas
-
0:01 - 0:04Eu levanto-me da cama por dois motivos.
-
0:04 - 0:081. Os pequenos agricultores familiares
precisam de mais alimento. -
0:08 - 0:13É de loucos que, em 2019, os agricultores
que nos alimentam tenham fome. -
0:13 - 0:182. A ciência precisa
de ser mais diversificada e inclusiva. -
0:19 - 0:22Se vamos resolver os problemas
mais complicados do mundo, -
0:22 - 0:26como a falta de comida para os milhões
que vivem na extrema pobreza, -
0:26 - 0:29isso irá precisar de todos nós.
-
0:29 - 0:31Eu quero usar a tecnologia de ponta,
-
0:31 - 0:35com as equipas mais diversificadas
e inclusivas do mundo -
0:35 - 0:37para ajudar os agricultores
a terem mais comida. -
0:38 - 0:39Sou bióloga informática.
-
0:39 - 0:43O que vem a ser isso?
Como é que vai ajudar a acabar a fome? -
0:43 - 0:46Resumidamente,
gosto de computadores e de biologia, -
0:46 - 0:49e a união das duas coisas
resulta numa profissão. -
0:49 - 0:50(Risos)
-
0:50 - 0:51Eu não tenho uma história
-
0:51 - 0:55de querer ser bióloga desde criança.
-
0:55 - 0:58A verdade é que joguei
basquete na faculdade -
0:59 - 1:04E parte da minha bolsa estudantil
dizia que eu precisava de um estágio. -
1:04 - 1:06Então num dia, por acaso,
-
1:06 - 1:09fui de passeio até ao prédio
mais próximo do meu dormitório. -
1:09 - 1:12Acontece que era o prédio da biologia.
-
1:12 - 1:15Entrei e olhei para o quadro
de ofertas de emprego. -
1:15 - 1:18Sim, isso foi antes da Internet.
-
1:18 - 1:21Então vi um papel 3x5,
-
1:21 - 1:24anunciando um trabalho no herbário.
-
1:25 - 1:27Imediatamente anotei o número,
-
1:27 - 1:29porque dizia "horário flexível"
-
1:29 - 1:32e eu precisava de trabalhar nos intervalos
do horário do basquete. -
1:32 - 1:37Corri até a biblioteca
para descobrir o que era um herbário. -
1:37 - 1:39(Risos)
-
1:39 - 1:41Então descobri que um herbário
-
1:42 - 1:45é onde armazenavam
plantas mortas, secas. -
1:45 - 1:47Tive sorte em conseguir o trabalho.
-
1:47 - 1:50Então, o meu primeiro trabalho científico
-
1:50 - 1:56foi colar plantas mortas num papel
durante horas a fio. -
1:56 - 1:58(Risos)
-
1:59 - 2:00É uma maravilha!
-
2:00 - 2:04Foi assim que me tornei
numa bióloga informática. -
2:04 - 2:06Nessa época,
-
2:06 - 2:09o genoma e a informática
estavam a atingir a maturidade -
2:09 - 2:11e eu comecei o meu mestrado
-
2:11 - 2:14combinando a biologia e os computadores.
-
2:14 - 2:17Nessa época, trabalhei
no Laboratório Nacional de Los Alamos, -
2:17 - 2:20no grupo de biologia teórica e biofísica
-
2:20 - 2:24e foi ali que tive o primeiro encontro
com o supercomputador -
2:24 - 2:26e a minha mente explodiu.
-
2:26 - 2:28Com a potência do supercomputador
-
2:28 - 2:32que é basicamente milhares
de computadores conectados em esteroides -
2:32 - 2:38pudemos desvendar as complexidades
da gripe e da hepatite C. -
2:38 - 2:41E foi nessa época que eu vi o poder
-
2:41 - 2:45de usar computadores e biologia
combinados, para a humanidade -
2:45 - 2:48e quis que fosse esse
o caminho para a minha carreira. -
2:48 - 2:50Então, desde 1999,
-
2:50 - 2:53passei a maior parte
da minha carreira científica -
2:53 - 2:55em laboratórios de alta tecnologia,
-
2:55 - 2:58rodeada de equipamentos muito caros.
-
2:58 - 3:00Muita gente me pergunta
-
3:00 - 3:04como e porquê eu trabalho
para agricultores em África. -
3:04 - 3:06Bem, graças às minhas competências
com computadores -
3:07 - 3:11em 2013, um grupo de cientistas
do leste africano -
3:11 - 3:15pediram-me para participar da equipa
na luta para salvar a mandioca. -
3:16 - 3:19A mandioca é uma planta
cujas folhas e raízes -
3:20 - 3:23alimentam 800 milhões de pessoas,
a nível mundial. -
3:24 - 3:27E 500 milhões estão no leste africano.
-
3:27 - 3:29São quase mil milhões de pessoas
-
3:29 - 3:33que dependem desta planta
para as suas calorias diárias. -
3:33 - 3:36Se uma pequena plantação familiar
tiver mandioca suficiente, -
3:36 - 3:39pode alimentar a família
-
3:39 - 3:42e vender no mercado para gastar
em coisas importantes -
3:42 - 3:45como despesas escolares,
gastos médicos e poupanças. -
3:46 - 3:49Mas a mandioca
está a ser atacada em África. -
3:50 - 3:54As moscas brancas e os vírus
estão a devastar a mandioca. -
3:55 - 3:57As moscas brancas são pequenos insetos
-
3:57 - 4:00que se alimentam das folhas
de mais de 600 plantas. -
4:00 - 4:01São uma calamidade.
-
4:01 - 4:03Há muitas espécies
-
4:03 - 4:05que se tornam resistentes aos inseticidas
-
4:05 - 4:09e transmitem centenas de vírus de plantas
-
4:09 - 4:12que causam a doença da mancha castanha
-
4:12 - 4:14e a doença do mosaico na mandioca
-
4:14 - 4:17que matam totalmente a planta.
-
4:17 - 4:19Quando não há mandioca,
-
4:19 - 4:23não há comida nem receitas
para milhões de pessoas. -
4:24 - 4:27Bastou-me uma viagem à Tanzânia
-
4:27 - 4:30para perceber que estas mulheres
precisam de ajuda. -
4:30 - 4:34Estes pequenos agricultores familiares
maravilhosos e fortes, -
4:34 - 4:35na sua maioria mulheres,
-
4:35 - 4:37estão a sofrer com esta situação.
-
4:37 - 4:40Não têm comida suficiente
para alimentar a família -
4:40 - 4:41e é uma verdadeira crise.
-
4:42 - 4:45O que acontece é que
eles plantam a mandioca -
4:45 - 4:46quando chega a chuva.
-
4:46 - 4:49Nove meses depois, não têm nada,
-
4:49 - 4:51por causa das pragas e das doenças.
-
4:51 - 4:53E eu pensei:
-
4:53 - 4:57"Como é possível
um agricultor passar fome?" -
4:57 - 4:59Então, decidi passar um tempo no terreno
-
4:59 - 5:01com os agricultores e os cientistas
-
5:01 - 5:04para ver se eu tinha qualquer competência
que pudesse ser útil. -
5:04 - 5:08A situação no terreno é chocante.
-
5:08 - 5:12As moscas brancas destruíram as folhas
que são fontes de proteína -
5:12 - 5:15e os vírus destruíram as raízes
que são fontes de amido. -
5:16 - 5:18No final da estação de crescimento,
-
5:18 - 5:22o agricultor vai perder um ano inteiro
de receitas e de alimento -
5:22 - 5:25e a família vai sofrer uma grande
temporada de fome. -
5:26 - 5:28É possível impedir esta situação.
-
5:28 - 5:29Se os agricultores soubessem
-
5:29 - 5:32qual a variedade de mandioca
a plantar no seu terreno -
5:32 - 5:37que fosse resistente a esses vírus
e agentes patogénicos, -
5:37 - 5:39teriam mais comida.
-
5:39 - 5:42Nós temos toda a tecnologia necessária
-
5:42 - 5:45mas o conhecimento e os recursos
-
5:45 - 5:48não estão distribuídos
de forma igual pelo planeta -
5:49 - 5:51O que eu quero dizer
-
5:51 - 5:53é que as tecnologias genómicas antigas
-
5:53 - 5:55que eram necessárias
-
5:55 - 5:59para descobrir as complexidades
dessas pragas e doenças -
5:59 - 6:03— essas tecnologias não foram feitas
para a África subsaariana. -
6:03 - 6:05Custam mais de um milhão de dólares
-
6:05 - 6:07e necessitam de energia permanente
-
6:07 - 6:10e de competência humana especializada.
-
6:10 - 6:13Essas máquinas são poucas
e muito afastadas por todo o continente, -
6:13 - 6:17o que obriga muitos cientistas
que lutam nas linhas da frente -
6:17 - 6:20a enviarem as amostras por mar.
-
6:20 - 6:22Quando se enviam amostras por mar,
-
6:22 - 6:24as amostras degradam-se,
sai muito caro, -
6:24 - 6:27e tentar obter os resultados
com uma Internet fraca -
6:28 - 6:29é quase impossível.
-
6:29 - 6:34Às vezes pode demorar seis meses
até o agricultor obter os resultados. -
6:34 - 6:35E nessa altura, é tarde demais,
-
6:35 - 6:37as culturas já morreram,
-
6:37 - 6:41o que resulta em mais pobreza e mais fome.
-
6:41 - 6:44Nós sabíamos que podíamos resolver isso.
-
6:44 - 6:46Em 2017,
-
6:46 - 6:50ouvimos falar do sequenciador
portátil de ADN, -
6:50 - 6:53chamado Oxford Nanopore MinION,
-
6:53 - 6:57que estava a ser usado na África Ocidental
para combater o Ébola. -
6:57 - 6:59Então pensámos:
-
6:59 - 7:02"Porque não usar isto no leste africano
para ajudar os agricultores?" -
7:02 - 7:06Então, preparámo-nos para isso.
-
7:07 - 7:10Naquela época, a tecnologia
era muito recente -
7:10 - 7:13e muitos duvidaram que pudéssemos
aplicá-la na agricultura. -
7:13 - 7:14Quando decidimos fazer isso,
-
7:14 - 7:18um dos nossos colaboradores
no Reino Unido -
7:18 - 7:22disse que nunca conseguiríamos
usar isso no leste africano -
7:22 - 7:24quanto mais na agricultura.
-
7:24 - 7:26Mas nós aceitámos o desafio.
-
7:26 - 7:32Essa pessoa até chegou a apostar connosco
duas garrafas do melhor champagne -
7:32 - 7:36em como nunca conseguiríamos
pôr aquilo a funcionar. -
7:37 - 7:38Duas palavras:
-
7:38 - 7:40Ele pagou.
-
7:40 - 7:42(Risos)
-
7:42 - 7:45(Aplausos)
-
7:46 - 7:49Pagou, porque conseguimos.
-
7:49 - 7:52Levámos todo o nosso laboratório
molecular, de alta tecnologia, -
7:52 - 7:56para os agricultores
da Tanzânia, do Quénia e do Uganda -
7:56 - 7:59e chamámos-lhe Laboratório da Árvore.
-
7:59 - 8:00O que é que fizemos?
-
8:00 - 8:03Primeiro, arranjámos
um nome para a equipa, -
8:03 - 8:05chama-se Grupo de Ação
do Vírus da Mandioca. -
8:05 - 8:07Criámos um "site".
-
8:07 - 8:10Conseguimos apoio das comunidades
genómicas e informáticas -
8:10 - 8:12e fomos ter com os agricultores.
-
8:13 - 8:16Tudo aquilo de que precisamos
para o nosso Laboratório da Árvore -
8:16 - 8:18é transportado por esta equipa.
-
8:18 - 8:22Todos os requisitos moleculares
e informáticos necessários -
8:22 - 8:25para diagnosticar plantas doentes está lá,
-
8:25 - 8:29tal como está tudo aqui,
também, neste palco. -
8:29 - 8:33Descobrimos que, se pudéssemos levar
os dados para perto do problema -
8:33 - 8:35e para perto dos agricultores,
-
8:35 - 8:38poderíamos dizer mais depressa
o que havia de errado com as plantas. -
8:38 - 8:40E não só dizer o que havia de errado,
-
8:40 - 8:41mas também qual a solução.
-
8:42 - 8:45E a solução é queimar a plantação
e as variedades da planta -
8:45 - 8:50que são resistentes às pragas e às doenças
que eles têm nos seus terrenos. -
8:50 - 8:54Então a primeira coisa que fizemos
foi realizar uma extração de ADN. -
8:54 - 8:57Utilizámos esta máquina aqui
-
8:57 - 9:00que se chama DReX
-
9:00 - 9:04que significa
"Extração Diabolicamente Rápida". -
9:04 - 9:06(Risos)
-
9:06 - 9:08Eu sei,
-
9:08 - 9:11o meu amigo Joe é muito giro.
-
9:11 - 9:15Um dos maiores desafios em realizar
uma extração de ADN -
9:15 - 9:18é que normalmente precisa
de equipamento muito caro -
9:18 - 9:20e demora horas.
-
9:20 - 9:21Mas com aquela máquina,
-
9:21 - 9:24conseguimos extrai-lo em 20 minutos
-
9:24 - 9:26por uma fração do custo
-
9:26 - 9:29e funciona com uma bateria de motociclo.
-
9:29 - 9:34A partir daí, preparamos o ADN extraído
para o meter numa biblioteca genómica, -
9:34 - 9:40pronta para ser carregada
neste sequenciador portátil, -
9:40 - 9:42que está aqui,
-
9:42 - 9:45e que depois é ligado
a um mini supercomputador -
9:45 - 9:47que se chama MinIT.
-
9:48 - 9:52Estas duas coisas são conectadas
numa bateria portátil. -
9:53 - 9:55Assim, conseguimos eliminar
-
9:55 - 9:57os requisitos de alimentação
de energia e Internet -
9:57 - 10:01que são dois fatores muito limitativos
numa pequena plantação familiar. -
10:02 - 10:05Analisar os dados rapidamente
também pode ser um problema. -
10:05 - 10:09Mas é aí que eu, como bióloga informática,
faço o meu trabalho. -
10:09 - 10:12Todas aquelas colagens de plantas mortas,
-
10:12 - 10:13todas aquelas medições,
-
10:13 - 10:16e todo aquele trabalho informático
-
10:16 - 10:19finalmente deram jeito
no mundo real, em tempo real. -
10:20 - 10:23Consegui fazer bancos de dados
personalizados -
10:23 - 10:27e conseguimos dar resultados
aos agricultores em três horas, -
10:27 - 10:29em vez de seis meses.
-
10:30 - 10:33(Aplausos)
-
10:38 - 10:41Os agricultores ficaram encantados.
-
10:42 - 10:45Então, como sabemos
que estamos a ter impacto? -
10:45 - 10:47Nove meses depois do Laboratório da Árvore
-
10:47 - 10:50Asha passou de zero toneladas por hectare
-
10:50 - 10:52para 40 toneladas por hectare.
-
10:52 - 10:54Ela teve o suficiente
para alimentar a família -
10:54 - 10:57e também para vender no mercado
-
10:57 - 11:00e agora ela está a construir
uma casa para a família. -
11:00 - 11:02Pois é, muito bom.
-
11:02 - 11:05(Aplausos)
-
11:06 - 11:08Como expandir o Laboratório da Árvore?
-
11:08 - 11:11Na verdade, os agricultores
africanos já se organizaram. -
11:11 - 11:14Essas mulheres trabalham
em grupos de agricultores. -
11:14 - 11:18Assim, ao ajudar Asha, estamos a ajudar
3000 pessoas da sua aldeia -
11:18 - 11:21porque ela partilhou os resultados
e também a solução. -
11:22 - 11:26Eu lembro-me de cada uma
das agricultoras que conheci: -
11:27 - 11:30o seu sofrimento e a sua alegria
-
11:30 - 11:32estão marcados na minha memória
-
11:33 - 11:35A nossa ciência é para eles.
-
11:36 - 11:38O Laboratório da Árvore
é a nossa melhor tentativa -
11:38 - 11:41de os ajudar a terem
maior segurança alimentar. -
11:41 - 11:43Eu nunca imaginei
-
11:43 - 11:46que a melhor ciência
que eu faria em toda a minha vida -
11:46 - 11:49seria naquela região do leste africano
-
11:50 - 11:52com aparelhos de genoma mais avançados.
-
11:52 - 11:55Mas a nossa equipa sonhou
-
11:55 - 11:59que podíamos responder aos agricultores
em três horas em vez de seis meses -
11:59 - 12:01e conseguimos.
-
12:01 - 12:05Porque é esse o poder da diversidade
e da inclusão na ciência. -
12:05 - 12:06Obrigada.
-
12:06 - 12:10(Aplausos)
- Title:
- Como usamos a tecnologia do ADN para ajudar os agricultores a lutar contra as pragas
- Speaker:
- Laura Boykin
- Description:
-
Quase 800 milhões de pessoas, no mundo inteiro, dependem da mandioca para sobreviverem, mas este alimento fundamental está sob o ataque perfeitamente evitável de vírus, diz a bióloga e TED Senior Fellow Laura Boykin. Laura leva-nos às plantações da África Oriental onde trabalha com uma equipa diversificada de cientistas para ajudar os agricultores a manter saudáveis as culturas usando um laboratório portátil de ADN e um mini supercomputador que identifica vírus em poucas horas, em vez de meses.
- Video Language:
- English
- Team:
- closed TED
- Project:
- TEDTalks
- Duration:
- 12:27
Margarida Ferreira approved Portuguese subtitles for How we're using DNA tech to help farmers fight crop diseases | ||
Margarida Ferreira edited Portuguese subtitles for How we're using DNA tech to help farmers fight crop diseases | ||
Margarida Ferreira accepted Portuguese subtitles for How we're using DNA tech to help farmers fight crop diseases | ||
Margarida Ferreira edited Portuguese subtitles for How we're using DNA tech to help farmers fight crop diseases | ||
Margarida Ferreira edited Portuguese subtitles for How we're using DNA tech to help farmers fight crop diseases | ||
Margarida Ferreira edited Portuguese subtitles for How we're using DNA tech to help farmers fight crop diseases | ||
José Roberto Szelmenczi Lima edited Portuguese subtitles for How we're using DNA tech to help farmers fight crop diseases | ||
José Roberto Szelmenczi Lima edited Portuguese subtitles for How we're using DNA tech to help farmers fight crop diseases |