Uma sobrevivente do Holocausto na memória, no legado e no futuro | Mala Tribich | TEDxCourtauldInstitute
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0:10 - 0:15Estou aqui porque sou testemunha
dos terríveis acontecimentos -
0:15 - 0:19que atormentaram os judeus europeus
durante a II Guerra Mundial. -
0:21 - 0:24Eu vivi alguns deles:
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0:24 - 0:30a vida num gueto, a vida enquanto
criança escondida, enquanto escrava -
0:31 - 0:33e em dois campos de concentração.
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0:34 - 0:39Sou uma dos sobreviventes do Holocausto
que estão a desaparecer rapidamente -
0:39 - 0:43e que podem dizer:
"Eu vi. Eu estive lá". -
0:44 - 0:51A minha tarefa esta manhã é condensar
cinco anos e meio e o que se seguiu -
0:51 - 0:57em 18 minutos, por isso
a minha dificuldade foi escolher. -
0:59 - 1:03Nasci na Polónia
numa cidade chamada Piotrków, -
1:04 - 1:07ou melhor, Piotrków Trybunalski,
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1:08 - 1:12que tinha uma população
de cerca de 55 000 de pessoas, -
1:12 - 1:15das quais 15 000 eram judeus.
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1:16 - 1:18Havia várias sinagogas.
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1:18 - 1:20Esta é a Grande Sinagoga,
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1:20 - 1:24um edifício magnífico
que remonta a 1793. -
1:24 - 1:27Foi duramente atingido durante a guerra.
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1:28 - 1:30Eu era a filha do meio, entre três filhos,
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1:30 - 1:33o meu irmão mais velho, Ben,
e a minha irmã mais nova, Lucja. -
1:33 - 1:38O meu pai tinha um moinho
— era sócio de um moinho. -
1:38 - 1:42A minha mãe era dona de casa
que tomava conta de nós, em casa. -
1:43 - 1:45Eu tinha parentes em várias
cidades vizinhas -
1:46 - 1:49e costumávamos visitá-los
e passar férias juntos. -
1:49 - 1:56Comecei a minha educação num infantário,
quando tinha quatro anos -
1:56 - 2:00e fiz muitos amigos.
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2:00 - 2:03Passei para a escola primária
aos seis anos. -
2:04 - 2:06Cumpríamos as festividades judaicas
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2:06 - 2:11e, em resumo, vivi uma vida feliz
numa família carinhosa -
2:12 - 2:13até aos oito anos.
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2:13 - 2:18Mas, em 1939, a 1 de setembro,
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2:19 - 2:22quando o exército alemão
invadiu a Polónia, -
2:22 - 2:24o meu mundo desmoronou-se.
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2:26 - 2:29Como a minha cidade natal
estava perto da fronteira, -
2:29 - 2:33foi atacada imediatamente
pelos bombardeiros Stuka -
2:33 - 2:37que tinham pequenas sereias
atadas às asas -
2:37 - 2:39que faziam um barulho assustador.
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2:39 - 2:44As bombas tinham assobios
atadas aos estabilizadores, -
2:44 - 2:48tudo destinado a criar o pânico,
o que resultava. -
2:49 - 2:53O exército polaco não tinha hipótese
de enfrentar os alemães, -
2:53 - 2:57por isso, Piotrków
foi rapidamente invadida. -
2:57 - 3:03As tropas ocupantes começaram
uma campanha de pilhagem e de terror. -
3:04 - 3:07As pessoas eram atacadas
sem qualquer razão. -
3:07 - 3:11O contabilista do meu pai
foi morto a tiro -
3:11 - 3:17e o corpo dele foi abandonado
num edifício durante uma semana. -
3:17 - 3:21As autoridades alemãs cedo
impuseram restrições: -
3:22 - 3:25todos os rádios foram confiscados,
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3:25 - 3:28portanto, ficámos isolados
do mundo exterior. -
3:28 - 3:31Tivemos de entregar as coisas de valor.
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3:32 - 3:35Os judeus foram sujeitos
ao recolher obrigatório -
3:35 - 3:40e proibidos de percorrer
determinadas ruas, -
3:40 - 3:43como indicado aqui por este sinal.
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3:44 - 3:49Também nos obrigaram a usar
uma braçadeira com a Estrela de David, -
3:50 - 3:51como se mostra aqui.
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3:52 - 3:58Piotrków foi a primeira cidade
da Polónia a ter um gueto. -
3:58 - 4:03No início de novembro, todos os judeus
foram obrigados a sair de casa -
4:03 - 4:08e arrebanhados numa pequena
área da cidade -
4:08 - 4:14onde também foram concentrados
10 000 judeus das áreas vizinhas. -
4:14 - 4:17Rapidamente, o local ficou apinhado.
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4:19 - 4:23Chegou a haver três famílias num quarto.
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4:24 - 4:28A má alimentação e as deficientes
condições sanitárias -
4:28 - 4:32provocaram muitas doenças
e muitas epidemias, -
4:32 - 4:36que, por sua vez, causaram
milhares de mortes. -
4:37 - 4:41Este sinal na rua
com uma caveira e dois ossos cruzados, -
4:41 - 4:44de que me lembro muito bem,
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4:44 - 4:46aponta para o gueto.
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4:46 - 4:49Embora houvesse frequentes rusgas
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4:49 - 4:52e as pessoas fossem enviadas
para diversos campos, -
4:52 - 4:57a principal deportação ocorreu
no outono de 1942. -
4:57 - 5:02Eu só consegui evitá-la
porque o meu pai e o meu tio -
5:03 - 5:05pagaram para a minha prima Idzia e eu
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5:05 - 5:09ficarmos com uma família polaca,
os Maciejewskis, -
5:09 - 5:12numa cidade vizinha, Częstochowa,
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5:14 - 5:16onde vivíamos como cristãs.
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5:17 - 5:21Este é um diapositivo
da minha prima Idzia. -
5:22 - 5:28Isto mostra onde era Częstochowa
em relação à minha cidade natal. -
5:29 - 5:33Sentíamo-nos muito vulneráveis
e assustadas -
5:33 - 5:37porque havia uma recompensa
para denunciar os judeus escondidos. -
5:38 - 5:42Idzia, que era filha única,
tinha muitas saudades de casa -
5:42 - 5:44e pedia para regressar.
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5:45 - 5:46Então, algum tempo depois,
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5:46 - 5:53segundo parece, os Maciejewskis
levaram-na a amigos polacos -
5:53 - 5:58que, segundo ela dizia, tinham escondido
os valores dos seus pais. -
5:59 - 6:00Entretanto,
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6:00 - 6:06já tinham sido deportadas 22 000 pessoas
para o campo de extermínio de Treblinka, -
6:08 - 6:11onde eram assassinadas imediatamente.
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6:11 - 6:16E aquilo que veio a ser chamado
"o grande gueto" foi encerrado. -
6:17 - 6:22Os habitantes restantes, sobretudo
os que tinham autorização de trabalho, -
6:22 - 6:26foram encerrados numa área
muito mais pequena. -
6:26 - 6:28Quando se sentiu seguro,
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6:28 - 6:31o meu pai conseguiu que eu voltasse
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6:31 - 6:34para aquilo a que chamávamos
"o pequeno gueto". -
6:34 - 6:40Quando lá cheguei, descobri que, embora
os valores tivessem sido recuperados, -
6:40 - 6:42Idzia não tinha regressado.
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6:43 - 6:48Não havia nada que os meus tios
desesperados pudessem fazer -
6:48 - 6:51e nunca soubemos o que acontecera a Idzia.
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6:52 - 6:56Depois, ao fim de poucas semanas,
no início de dezembro, -
6:56 - 6:59mais de 500 mulheres e crianças,
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6:59 - 7:02incluindo a minha mãe
e a minha irmã mais nova, -
7:02 - 7:06foram cercadas e presas
na sinagoga abandonada, -
7:07 - 7:10durante uma semana
-
7:10 - 7:16sem comida, sem água, sem aquecimento
nem instalações higiénicas. -
7:16 - 7:22De madrugada, no domingo,
20 de dezembro de 1942, -
7:22 - 7:28foram enviadas, a pé, em grupos de 50,
para a floresta Rakow vizinha -
7:28 - 7:34e brutalmente assassinadas
em frente de valas comuns recém-abertas. -
7:35 - 7:40Só o sangue frio da minha mãe
me salvou de estar entre elas. -
7:42 - 7:46Depois, a minha tia Irene Helfgott
cujo marido tinha sido morto a tiro, -
7:46 - 7:49foi deportada para um campo de trabalho
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7:49 - 7:53e eu fiquei a tomar conta
da minha prima Ann, -
7:54 - 7:57a filha da minha tia, com cinco anos.
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7:57 - 8:00Depois, houve a seleção final.
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8:01 - 8:03Todos os que não tinham
autorização de trabalho, -
8:03 - 8:06o que me incluía a mim e a Ann,
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8:06 - 8:11foram alinhados no exterior do gueto
à espera de serem embarcadas em camiões. -
8:11 - 8:15Éramos guardados, nada gentilmente,
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8:15 - 8:19pela polícia e por soldados
com espingardas -
8:19 - 8:22supervisionados por um oficial alemão.
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8:22 - 8:26Não sei como arranjei a ideia ou a coragem
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8:26 - 8:28mas saí do alinhamento,
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8:28 - 8:30aproximei-me dele,
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8:30 - 8:35expliquei que tinha sido separada
do meu pai e do meu irmão -
8:35 - 8:38e pedi-lhe para regressar ao gueto.
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8:39 - 8:41Ele olhou para mim, espantado,
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8:41 - 8:43depois sorriu
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8:44 - 8:48e disse a um dos polícias
para me levar para dentro do gueto. -
8:48 - 8:53No caminho, depois duma discussão,
consegui apanhar a minha prima Ann. -
8:53 - 8:57Todos os que tinham ficado
tinham autorizações de trabalho -
8:57 - 9:00e foram enviados para dois campos
de trabalho locais -
9:00 - 9:02e o gueto foi encerrado.
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9:02 - 9:07O meu pai e o meu irmão foram enviados
para a fábrica de contraplacado local -
9:07 - 9:10para onde, por um incrível golpe de sorte,
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9:10 - 9:14eu consegui ir juntamente com eles.
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9:15 - 9:19Assim, aos 12 anos, passei a ser
uma trabalhadora escrava. -
9:19 - 9:21Durante quase dois anos,
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9:21 - 9:25trabalhei com máquinas que faziam
casernas de contraplacado -
9:25 - 9:27para o exército alemão.
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9:27 - 9:29Não vivíamos juntos como uma família:
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9:29 - 9:32os homens e as mulheres estavam separados.
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9:33 - 9:35Quando eu estava a trabalhar,
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9:35 - 9:39outras mulheres nas casernas
tomavam conta da Ann. -
9:39 - 9:42As condições de vida eram péssimas
-
9:42 - 9:45e a comida quase não chegava
para a subsistência -
9:45 - 9:49mas, não sei como,
conseguíamos sobreviver. -
9:49 - 9:55Depois, no final de 1944,
ocorreu a deportação final. -
9:56 - 10:00O meu pai e o meu irmão foram enviados
para Buchenwald, com os homens. -
10:01 - 10:05Ann e eu, duas tias
e uma série de amigas minhas, -
10:05 - 10:07fomos deportadas com as mulheres
-
10:07 - 10:10para o campo de concentração
de Ravensbrück -
10:10 - 10:13que ficava na Alemanha, a norte de Berlim.
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10:13 - 10:18Embora as condições estivessem
sempre a deteriorar-se -
10:19 - 10:23e, por vezes, sentíamos
que não poderiam piorar, -
10:23 - 10:27conseguíamos manter a nossa esperança.
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10:27 - 10:33Mas, quando chegámos a Ravensbrück,
sentimos que não iríamos sobreviver. -
10:33 - 10:38Tivemos de alinhar em fila
e registaram todos os nossos pormenores. -
10:39 - 10:41Depois, tivemos de nos despir,
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10:41 - 10:44tiraram-nos tudo o que tínhamos,
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10:44 - 10:46raparam-nos a cabeça,
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10:46 - 10:50passámos sob os chuveiros comuns
de água fria -
10:51 - 10:54e deram-nos a farda
do campo de concentração, -
10:54 - 11:00que consistia numa saia e casaco
de pano fino às riscas, e um par de socas. -
11:00 - 11:06Quando saímos pelo outro lado,
nem nos reconhecíamos umas às outras. -
11:06 - 11:09Tínhamos todas o mesmo aspeto.
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11:09 - 11:14Tinham-nos despojado
da nossa personalidade, da nossa alma. -
11:14 - 11:18Naquele momento, perdemos a esperança.
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11:19 - 11:23Uma das minhas tias, Frania Klein,
morreu em poucos dias -
11:24 - 11:29e a minha melhor amiga, Pema Blachman,
morreu pouco tempo depois. -
11:29 - 11:32As pessoas estavam a desistir.
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11:33 - 11:36Estive em Ravensbrück
durante pouco mais de dois meses -
11:36 - 11:41e as minhas principais lembranças
são de intermináveis "chamadas" -
11:41 - 11:46— quando tínhamos de estar em parada
e sermos contadas várias vezes -
11:46 - 11:49até os números estarem corretos.
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11:49 - 11:52Também me lembro das magras
rações diárias -
11:52 - 11:55— meia fatia cuma coisa escura
chamada "pão", -
11:55 - 11:58um líquido cinzento chamado "sopa"
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11:58 - 12:02e um líquido castanho
chamado "sucedâneo de café". -
12:03 - 12:06Mas nem fazíamos ideia
do que estava para vir. -
12:07 - 12:11Em fevereiro de 1945, quando
o exército russo se estava a aproximar, -
12:11 - 12:17os alemães ficaram ansiosos por esconder
as provas das suas terríveis ações. -
12:17 - 12:20Por isso, fomos embarcados
em camiões de gado -
12:20 - 12:26e, no fim da viagem,
encontrámo-nos em Bergen-Belsen. -
12:26 - 12:29Quando lá chegámos, o local
estava tão apinhado -
12:29 - 12:33que fomos postos
numa grande tenda de chão de terra batida, -
12:34 - 12:39isto no meio do inverno
com temperaturas muito abaixo de zero. -
12:39 - 12:43Na manhã seguinte,
entrámos no campo principal -
12:43 - 12:47e a cena a que assistimos
desafia qualquer descrição. -
12:48 - 12:51Era uma coisa infernal.
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12:51 - 12:55Havia uma espécie de fumo e um cheiro
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12:55 - 13:00e figuras esqueléticas a vaguear
sem destino, como "zombies". -
13:00 - 13:03Havia cadáveres por toda a parte
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13:03 - 13:10e grandes pilhas de cadáveres
retorcidos, em decomposição. -
13:12 - 13:15Alastrava o tifo e outras doenças.
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13:15 - 13:17Quase não havia comida.
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13:18 - 13:23Atribuíram-nos uma caserna
mas o espaço estava tão apinhado -
13:23 - 13:26que uma caserna para 80 pessoas
-
13:27 - 13:32tanto podia conter
centenas de pessoas como mil. -
13:33 - 13:35Depois, por acaso,
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13:35 - 13:39ouvi dizer que havia uma caserna
para crianças, algures no campo, -
13:39 - 13:41por isso, resolvi procurá-la.
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13:41 - 13:45Esta é a caserna 211,
a caserna das crianças. -
13:46 - 13:49Quando lá chegámos, fomos
entrevistadas pelos responsáveis, -
13:49 - 13:52o Doutor Bimko e a Irmã Luba.
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13:53 - 13:56Embora, a princípio,
não quisessem aceitar-nos, -
13:56 - 13:59porque também estava apinhada,
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13:59 - 14:04com uma certa persistência, consegui
que a minha prima e eu fôssemos aceites. -
14:05 - 14:07As crianças eram quase todas holandesas,
-
14:07 - 14:11mas também havia algumas
de outras nacionalidades. -
14:11 - 14:14Eu ainda tenho uma viva imagem
-
14:15 - 14:18do que se via da minha janela:
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14:19 - 14:23Havia um barracão para os cadáveres
mesmo à nossa frente -
14:23 - 14:26e uma permanente procissão
durante todo o dia. -
14:27 - 14:31A princípio, os corpos eram levados
em carroças bastante decrépitas -
14:31 - 14:36mas, depois, eram arrastados em cobertores
-
14:36 - 14:43e, por fim, tudo se resumia
a arrastarem um corpo por uma perna -
14:43 - 14:47que era atirado para aquele barracão.
-
14:47 - 14:52Igualmente horrível era que as pessoas
que eram forçadas a fazer aquilo -
14:52 - 14:55também estavam mais mortas que vivas.
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14:56 - 15:00Embora as condições naquelas casernas
das crianças fossem um pouco melhores, -
15:00 - 15:04eu apanhei tifo e fiquei muito doente.
-
15:04 - 15:09Estive inconsciente do que me rodeava
durante uns dias -
15:09 - 15:12e devo ter começado a recuperar
-
15:12 - 15:13quando, um dia,
-
15:13 - 15:16na parte superior de um beliche
perto da janela -
15:16 - 15:20vi umas pessoas macilentas
a correr para o portão. -
15:20 - 15:26Só consegui pensar:
Como é que têm forças para correr? -
15:26 - 15:29Mas era o momento da libertação,
-
15:29 - 15:35quando as tropas britânicas entraram
no campo a 15 de abril de 1945. -
15:36 - 15:40Em dois dias, foi instalado um hospital,
-
15:40 - 15:44e os cuidados médicos
e as equipas de assistência -
15:44 - 15:48sob o comando do brigadeiro Glyn Hughes
-
15:48 - 15:53deram alma e coração
para salvarem vidas. -
15:54 - 15:59Graças à sua dedicação,
empenho e compaixão, -
15:59 - 16:02fui tratada até ficar boa.
-
16:02 - 16:05Ainda me lembro da gentileza deles
-
16:05 - 16:09depois de anos de sofrimento,
de crueldade e de privações. -
16:11 - 16:13Quando os britânicos me encontraram,
-
16:13 - 16:18o comandante alemão Kramer
foi imediatamente preso, -
16:18 - 16:22e os guardas foram forçados
a juntar os cadáveres -
16:23 - 16:27que só puderam ser sepultados
em valas comuns. -
16:28 - 16:31Depois, todas as casernas foram queimadas
-
16:33 - 16:37e foi erguido um memorial temporário.
-
16:39 - 16:42Em julho de 1945,
-
16:43 - 16:47Ann e eu fomos para a Suécia
com um grupo de crianças -
16:47 - 16:49para reabilitação
-
16:49 - 16:51e, subsequentemente,
-
16:51 - 16:53eu soube que o meu irmão Ben
-
16:53 - 16:57era o outro único sobrevivente
da minha família chegada. -
16:58 - 17:01Estava num grupo de crianças sobreviventes
-
17:01 - 17:05que tinham sido enviadas
para Inglaterra, em agosto de 1945. -
17:05 - 17:10Por ele, soube que o nosso pai
tinha sido morto a tiro, -
17:11 - 17:15ao tentar fugir duma marcha para a morte,
-
17:15 - 17:19isso apenas quatro dias
antes do fim da guerra. -
17:21 - 17:26Ben e eu reunimo-nos
quando cheguei a Inglaterra em 1947. -
17:27 - 17:31Naquela época, não havia
apoio financeiro para imigrantes. -
17:31 - 17:35Eu fui protegida por uma organização
de caridade judaica -
17:36 - 17:40e a minha primeira tarefa
foi aprender a língua -
17:40 - 17:43e competências suficientes
para ser independente, -
17:43 - 17:47o que consegui ao fim de 12 meses.
-
17:47 - 17:49Juntei-me a um clube social
-
17:49 - 17:50que tinha sido instituído
-
17:50 - 17:54para ajudar os sobreviventes
a integrar-se na comunidade -
17:54 - 17:58e por intermédio de amigos,
conheci Morris Tribich, -
17:58 - 18:00um jovem arquiteto
-
18:00 - 18:04que passara cinco anos e meio
nos Royal Engineers, -
18:04 - 18:07alguns dos quais na linha da frente
no Norte de África -
18:07 - 18:10e em Montecassino, na Itália.
-
18:11 - 18:16Casámos em 1950,
tivemos dois filhos, três netos -
18:16 - 18:21e gozámos uma vida feliz
juntos, durante 43 anos -
18:22 - 18:24antes de, infelizmente, ele ter morrido.
-
18:24 - 18:27Logo que os meus filhos
foram para a escola, -
18:27 - 18:31dediquei-me a trabalhar
na educação que me faltara -
18:31 - 18:34e acabei o secundário
-
18:34 - 18:39e acabei por me formar em Sociologia
na Universidade de Londres. -
18:40 - 18:45Há uns anos, para me ajudar a preparar
uma apresentação em PowerPoint, -
18:45 - 18:50o meu amigo David, um médico reformado
e um velho amigo da família, -
18:50 - 18:54fez uma pesquisa de informações
sobre a minha cidade natal -
18:55 - 18:58e descobriu a lista datilografada original
-
18:58 - 19:05dos nomes e idades do transporte 132
-
19:05 - 19:10de 277 mulheres e 9 crianças judias
-
19:10 - 19:14que tinham sido deportadas
de Piotrków para Ravensbrück -
19:14 - 19:17no final de novembro de 1944.
-
19:18 - 19:21Nessa lista, encontrou o meu nome
-
19:21 - 19:24e os nomes das minhas tias,
da minha prima Ann -
19:24 - 19:28e disse-me que, embora tivesse ouvido
a minha história várias vezes, -
19:29 - 19:35ver a prova física do que
nos tinha acontecido, -
19:35 - 19:38o tinha deixado em lágrimas.
-
19:38 - 19:44Contudo, ainda há pessoas
que dizem que aquilo nunca aconteceu. -
19:45 - 19:47Há cerca de 20 anos,
-
19:47 - 19:49comecei a falar em público
-
19:49 - 19:52sobre a minha experiência
durante a guerra, -
19:52 - 19:57sobretudo em escolas, sob os auspícios
do Holocaust Educational Trust (HET) -
19:57 - 20:01e em Beth Shalom,
o Holocaust Centre em Nottingham. -
20:02 - 20:06Mais recentemente, desde a nomeação
de embaixadores do HET, -
20:06 - 20:10tenho vindo a falar muitas vezes
em universidades. -
20:10 - 20:16Contrariamente aos rumores
que nos chegam de além-mar, -
20:16 - 20:20o ensino sobre o Holocausto
é muito ativo no Reino Unido -
20:20 - 20:23e é profundamente apoiado pelo governo.
-
20:24 - 20:27Quando falamos sobre o Holocausto
temos de nos lembrar -
20:27 - 20:31que não foram só os judeus
que foram vítimas. -
20:32 - 20:37O programa de exterminação
começou em 1940 -
20:37 - 20:41com os deficientes mentais e físicos,
-
20:41 - 20:43com os quais, por erros e tentativas,
-
20:43 - 20:46o homem que se tornou
no afamado comandante -
20:46 - 20:50dos campos de extermínio
em Sobibór, e Treblinka, -
20:50 - 20:53Franz Stangl,
-
20:53 - 20:57aprendeu a sua profissão
e a apaziguar a sua consciência. -
20:58 - 21:00Quando estava no seu auge,
-
21:00 - 21:05as vítimas também incluíam
os ciganos, as testemunhas de Jeová, -
21:05 - 21:10e outros grupos
que não aceitavam o ideal nazi. -
21:11 - 21:17Julgar-se-ia que a revelação
dos horríveis crimes contra a humanidade -
21:17 - 21:20que ocorreram na Alemanha
e nos países ocupados, -
21:20 - 21:23durante a II Guerra Mundial,
-
21:23 - 21:27seria um tal choque para a humanidade
-
21:27 - 21:33que qualquer reaparecimento de um ódio
racial e religioso tão destruidor -
21:33 - 21:35seria inconcebível.
-
21:36 - 21:41No entanto, apesar de o Holocausto
ser a atrocidade mais bem documentada -
21:41 - 21:44em toda a história da humanidade,
-
21:44 - 21:48há pessoas que afirmam
que ele nunca aconteceu. -
21:48 - 21:51Isso, para mim, é o valor
-
21:51 - 21:54do que nós, os restantes sobreviventes
estamos a fazer; -
21:55 - 22:00recordando as vítimas e ensinando
as gerações que nos seguem -
22:01 - 22:03a estarem sempre em guarda
-
22:03 - 22:07contra a negação e a repetição
de tais atrocidades. -
22:08 - 22:12Quando fiz o primeiro teste
desta palestra, David disse: -
22:12 - 22:18"Não podes terminar com esse diapositivo,
precisas duma coisa mais otimista. -
22:19 - 22:24"Já alguma vez pensaste,
quando estavas na fila, a tremer de frio, -
22:25 - 22:28"quando chegaste a Ravensbrück,
-
22:28 - 22:32"naquele dia gelado de novembro, em 1944,
-
22:32 - 22:35"que, quase 60 anos depois,
-
22:35 - 22:39"estarias a fazer o que está
no diapositivo a seguir?" -
22:39 - 22:41E eu disse: "Nunca na vida".
-
22:42 - 22:44Muito obrigada.
-
22:44 - 22:46(Aplausos)
- Title:
- Uma sobrevivente do Holocausto na memória, no legado e no futuro | Mala Tribich | TEDxCourtauldInstitute
- Description:
-
O dia 27 de janeiro de 2015 marcou o 70.º Dia da Memória do Holocausto e a inauguração da Fundação do Memorial do Holocausto do Reino Unido. Ao promover a consciência do que aconteceu durante o Holocausto, Mala espera que possamos manter-nos vigilantes contra o antissemitismo e outras formas de preconceito na sociedade atual.
Esta palestra foi feita num evento TEDx usando o formato de palestras TED, mas organizado independentemente por uma comunidade local. Saiba mais em http://ted.com/tedx
- Video Language:
- English
- Team:
- closed TED
- Project:
- TEDxTalks
- Duration:
- 22:52
Margarida Ferreira approved Portuguese subtitles for A Holocaust survivor on memory, legacy, and the future | Mala Tribich | TEDxCourtauldInstitute | ||
Margarida Ferreira edited Portuguese subtitles for A Holocaust survivor on memory, legacy, and the future | Mala Tribich | TEDxCourtauldInstitute | ||
Mafalda Ferreira accepted Portuguese subtitles for A Holocaust survivor on memory, legacy, and the future | Mala Tribich | TEDxCourtauldInstitute | ||
Mafalda Ferreira edited Portuguese subtitles for A Holocaust survivor on memory, legacy, and the future | Mala Tribich | TEDxCourtauldInstitute | ||
Margarida Ferreira edited Portuguese subtitles for A Holocaust survivor on memory, legacy, and the future | Mala Tribich | TEDxCourtauldInstitute | ||
Margarida Ferreira edited Portuguese subtitles for A Holocaust survivor on memory, legacy, and the future | Mala Tribich | TEDxCourtauldInstitute |