Uma sobrevivente do Holocausto fala sobre memória, legado e futuro | Mala Tribich | TEDxCourtauldInstitute
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0:10 - 0:15Estou aqui porque sou testemunha
dos terríveis acontecimentos -
0:15 - 0:19que sucederam aos judeus da Europa
durante a Segunda Guerra Mundial. -
0:21 - 0:24E eu experienciei alguns deles:
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0:24 - 0:30vivi em um gueto, vivi como uma criança
escondida, como trabalhadora escrava -
0:31 - 0:33e em dois campos de concentração.
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0:34 - 0:39Sou uma dos sobreviventes do Holocausto,
que são cada vez mais raros, -
0:39 - 0:43que pode dizer: "Eu vi. Eu estava lá".
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0:44 - 0:51Minha tarefa desta manhã é condensar
cinco anos e meio e suas consequências -
0:51 - 0:57em 18 minutos, então eu tive
um trabalho de escolha muito difícil. -
0:59 - 1:03Eu nasci na Polônia,
numa cidade chamada Piotrków, -
1:04 - 1:07a atual Piotrków Trybunalski,
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1:08 - 1:12que possuía uma população
de cerca de 55 mil, -
1:12 - 1:15dos quais cerca de 15 mil eram judeus.
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1:16 - 1:18Havia muitas sinagogas.
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1:18 - 1:20Esta é a Grande Sinagoga,
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1:20 - 1:24uma construção esplêndida datada de 1793.
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1:24 - 1:27Ela foi gravemente danificada
durante a guerra. -
1:28 - 1:30Eu era a filha do meio de três,
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1:30 - 1:33com um irmão mais velho, Ben,
e uma irmã mais nova, Łucja. -
1:33 - 1:38Meu pai era sócio de um moinho de farinha.
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1:38 - 1:43Minha mãe era dona de casa,
cuidava de nós em casa. -
1:43 - 1:45Eu tinha parentes
em várias cidades próximas -
1:45 - 1:49e costumávamos visitá-los
e passar os feriados juntos. -
1:49 - 1:56Comecei minha educação no berçário
quando tinha quatro anos. -
1:56 - 2:00E fiz muitos amigos.
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2:00 - 2:03Mudei para o ensino fundamental
com seis anos de idade. -
2:04 - 2:06Nós celebrávamos as festividades judaicas,
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2:06 - 2:12Enfim, estava vivendo uma vida normal
e feliz em uma família amorosa -
2:12 - 2:13aos oito anos de idade.
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2:13 - 2:18Porém em 1939, no dia 1º de setembro,
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2:18 - 2:22quando o exército alemão
invadiu a Polônia, -
2:22 - 2:24meu mundo desmoronou.
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2:26 - 2:29Minha cidade natal,
que ficava próxima à fronteira, -
2:29 - 2:33foi atacada imediatamente
por aviões bombardeiros Stuka, -
2:33 - 2:37que tinham pequenas sirenes
acopladas às asas -
2:37 - 2:39para produzirem um barulho aterrorizante.
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2:39 - 2:44As bombas tinham apitos anexados às alças,
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2:44 - 2:48tudo desenvolvido para criar pânico,
o que de fato criaram. -
2:49 - 2:52O exército polonês
não era páreo para o alemão, -
2:52 - 2:56então Piotrków foi invadida rapidamente.
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2:57 - 3:03As tropas de ocupação começaram
uma campanha de saque e terror. -
3:04 - 3:07As pessoas eram atacadas
sem motivo nenhum. -
3:07 - 3:11O contador do meu pai foi baleado,
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3:11 - 3:17e seu corpo foi deixado em um apartamento
por uma semana inteira. -
3:17 - 3:21As autoridades alemãs rapidamente
impuseram restrições: -
3:22 - 3:24todos os rádios foram confiscados,
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3:24 - 3:28então ficamos isolados do mundo exterior,
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3:28 - 3:31e objetos de valor tinham
que ser entregues. -
3:32 - 3:35Os judeus foram colocados
sob toque de recolher -
3:35 - 3:40e não tinham permissão
de andar em certas ruas, -
3:40 - 3:44como mostra esta placa.
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3:44 - 3:50Também exigiram que usássemos
uma braçadeira com a Estrela de Davi, -
3:50 - 3:51como esta.
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3:52 - 3:58Piotrków foi a primeira cidade
na Polônia a ter um gueto. -
3:58 - 4:03Ao início de novembro, todos os judeus
foram removidos de suas casas -
4:03 - 4:08e agrupados em uma pequena área da cidade
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4:08 - 4:14onde outros 10 mil judeus dos arredores
também foram alocados -
4:14 - 4:17então aquilo ficou
imediatamente superlotado. -
4:19 - 4:23Devia haver pelo menos
três famílias para cada quarto. -
4:24 - 4:28A desnutrição e as condições
sanitárias inadequadas -
4:28 - 4:32causaram muitas doenças
e várias epidemias, -
4:32 - 4:36o que, por sua vez, causaram
centenas de mortes. -
4:37 - 4:41Esta placa de rua
com a caveira e ossos cruzados, -
4:41 - 4:44da qual me lembro muito bem,
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4:44 - 4:46aponta para o gueto.
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4:46 - 4:49Apesar de haver várias detenções
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4:49 - 4:52e as pessoas serem mandadas
para vários campos, -
4:52 - 4:57a principal deportação
veio no outono de 1942, -
4:57 - 5:03e eu somente consegui evitá-la
porque meu pai e meu tio -
5:03 - 5:08pagaram para que minha prima Idzia e eu
ficássemos com uma família polonesa, -
5:08 - 5:13os Maciejewskis, em uma cidade
próxima, Częstochowa, -
5:14 - 5:16onde passamos a viver como cristãs.
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5:17 - 5:21Esta é uma foto da minha prima Idzia.
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5:22 - 5:29Aqui mostra onde Częstochowa ficava
em relação à minha cidade natal. -
5:29 - 5:33Nós nos sentíamos
muito vulneráveis e assustadas -
5:33 - 5:38porque havia, na verdade, uma recompensa
para quem entregasse judeus foragidos, -
5:38 - 5:42e Idzia, sendo filha única,
tinha muita saudade de casa -
5:42 - 5:44e implorava para ser levada de volta.
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5:45 - 5:46Então, depois de algum tempo,
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5:46 - 5:53os Maciejewskis, supostamente,
levaram-na para uns amigos poloneses -
5:53 - 5:57que diziam estar escondendo
os objetos de valor dos pais de Idzia. -
5:59 - 6:00Enquanto isso,
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6:00 - 6:0622 mil pessoas foram deportadas
para o campo de extermínio de Treblinka, -
6:08 - 6:11onde foram assassinadas imediatamente.
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6:11 - 6:16E o que era chamado
de "o grande gueto" foi liquidado. -
6:17 - 6:22Os habitantes remanescentes,
a maioria com permissão de trabalho, -
6:22 - 6:26foram confinados em uma área ainda menor,
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6:26 - 6:28e, quando parecia seguro,
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6:28 - 6:34meu pai arranjou para que eu retornasse
para o que chamávamos de "pequeno gueto". -
6:34 - 6:40Quando cheguei, descobri que, apesar
dos objetos de valor terem sido coletados, -
6:40 - 6:42Idzia não havia retornado.
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6:43 - 6:48Não havia nada que meus tios,
desolados, pudessem fazer a respeito, -
6:48 - 6:51e nunca descobrimos
o que aconteceu com Idzia. -
6:51 - 6:56Então, depois de apenas algumas semanas,
no começo de dezembro, -
6:56 - 7:02mais de 500 mulheres e crianças,
incluindo minha mãe e irmã mais nova, -
7:02 - 7:06foram reunidas e aprisionadas
na sinagoga profanada -
7:07 - 7:10por cerca de uma semana
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7:10 - 7:16sem comida, água, aquecimento
ou produtos de higiene. -
7:16 - 7:22E, na madrugada de um domingo,
dia 20 de dezembro de 1942, -
7:22 - 7:28elas marcharam em grupos de 50
para a floresta Rakow, -
7:28 - 7:34e foram assassinadas brutalmente em frente
a valas comunitárias recém escavadas. -
7:35 - 7:40Apenas o pensamento rápido de minha mãe
me salvou de estar com elas. -
7:42 - 7:46Então minha tia Irene Helfgott,
cujo marido tinha sido baleado, -
7:46 - 7:49foi deportada para um campo
de trabalho forçado -
7:49 - 7:53e fui deixada para cuidar
da minha prima Ann, -
7:54 - 7:57a filha de cinco anos da minha tia.
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7:57 - 8:00Então, houve a última seleção.
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8:00 - 8:05Todos sem permissão de trabalho,
o que incluía eu e Ann, -
8:05 - 8:11foram colocados em uma fila fora do gueto,
esperando para entrarem em caminhões. -
8:11 - 8:15Éramos vigiados, não muito gentilmente,
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8:15 - 8:19por policiais e soldados com rifles
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8:19 - 8:22supervisionados por um oficial alemão.
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8:22 - 8:26Eu não sei o que me deu
a ideia ou a coragem, -
8:26 - 8:28mas eu saí da fila,
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8:28 - 8:30andei até ele,
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8:30 - 8:35expliquei que havia sido separada
de meu pai e irmão -
8:35 - 8:38e perguntei se poderia voltar
para dentro do gueto. -
8:39 - 8:41Ele olhou para mim surpreso,
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8:41 - 8:43então sorriu
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8:44 - 8:48e falou para um dos policiais
para me levar de volta. -
8:48 - 8:53No caminho, depois de argumentar,
consegui levar minha prima Ann também. -
8:53 - 8:56Os que ficaram tinham a permissão
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8:56 - 9:00e foram mandados para dois campos
de trabalho forçados. -
9:00 - 9:02O gueto foi liquidado.
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9:02 - 9:07Meu pai e meu irmão foram alocados
na fábrica de compensado, -
9:07 - 9:10para onde, por um golpe
de sorte inacreditável, -
9:10 - 9:14consegui ir junto com eles.
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9:15 - 9:19Então, aos 12 anos de idade,
eu me tornei uma trabalhadora escrava. -
9:19 - 9:21Por quase dois anos,
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9:21 - 9:26trabalhei com máquinas que faziam
compensados para o exército alemão. -
9:27 - 9:33Não vivíamos juntos como uma família,
homens e mulheres eram alojados separados. -
9:33 - 9:39Enquanto eu trabalhava, outra mulher
na barraca ficava de olho em Ann. -
9:39 - 9:45As condições de vida eram cruéis,
e a comida em nível de subsistência, -
9:45 - 9:49mas, de alguma maneira,
conseguimos continuar. -
9:49 - 9:55Então, durante o fim de 1944,
a deportação final aconteceu. -
9:56 - 10:00Meu pai e meu irmão foram mandados
para Buchenwald com os homens, -
10:01 - 10:05Ann e eu, duas tias
e várias de minhas amigas -
10:05 - 10:10fomos deportadas com as mulheres
para o campo de concentração Ravensbrück, -
10:10 - 10:13que ficava na Alemanha,
ao norte de Berlin. -
10:13 - 10:18Apesar das condições
ficarem cada vez pior, -
10:18 - 10:23e às vezes sentirmos
que não dava para piorar mais, -
10:23 - 10:27de alguma maneira, conseguimos
manter a esperança. -
10:27 - 10:33Porém, quando chegamos em Ravensbrück,
achamos que não íamos sobreviver. -
10:33 - 10:38Tivemos que aguardar em fila
e todos nossos detalhes foram registrados. -
10:39 - 10:41Então, tivemos que nos despir,
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10:41 - 10:43tudo foi tirado de nós,
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10:44 - 10:46nossas cabeças foram raspadas,
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10:46 - 10:50entramos em um banho gelado coletivo
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10:51 - 10:53e recebemos o uniforme
do campo de concentração, -
10:53 - 10:59que consistia em uma saia fina listrada,
camisa e um par de tamancos. -
11:00 - 11:06Quando saímos do outro lado,
não conseguíamos nem nos reconhecer. -
11:06 - 11:08Nós todas parecíamos a mesma.
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11:09 - 11:14Nossas personalidades, nossas almas
foram arrancadas de nós. -
11:14 - 11:18E, naquele momento, perdemos a esperança.
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11:19 - 11:24Uma de minhas tias, Frania Klein,
morreu em alguns dias, -
11:24 - 11:29e minha melhor amiga,
Pema Blachman, morreu pouco depois. -
11:29 - 11:31As pessoas estavam desistindo.
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11:33 - 11:36Fiquei em Ravensbrück
por pouco mais de dois meses, -
11:36 - 11:41e minhas maiores lembranças
são dos intermináveis "Appells", -
11:41 - 11:46quando ficávamos de pé em um paredão
e éramos contadas repetidamente -
11:46 - 11:49até que os números estivessem corretos,
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11:49 - 11:51e as escassas rações diárias,
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11:51 - 11:55meia fatia de uma coisa preta
chamada de "pão", -
11:55 - 11:58um líquido verde chamado de "sopa"
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11:58 - 12:02e um pouco de líquido marrom
chamado de "substituto do café". -
12:03 - 12:06Mal sabíamos o que estava por vir.
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12:07 - 12:11Em fevereiro de 1945,
com o exército russo se aproximando, -
12:11 - 12:17os alemães ficaram ansiosos para esconder
as evidências de suas façanhas malignas. -
12:17 - 12:20Assim, marchamos novamente
para os caminhões de gado -
12:20 - 12:26e, ao final da jornada,
estávamos em Bergen-Belsen. -
12:26 - 12:29Quando chegamos, o lugar estava tão lotado
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12:29 - 12:33que fomos colocadas em uma grande tenda
em terreno descoberto, -
12:33 - 12:39no meio do inverno
com as temperaturas congelantes. -
12:39 - 12:43Na manhã seguinte,
entramos no campo principal, -
12:43 - 12:48e a cena a que assistimos
era indescritível. -
12:48 - 12:51Era como algo saído do inferno.
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12:51 - 12:55Havia um tipo de fumaça e um fedor
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12:55 - 13:00e figuras esqueléticas
se arrastando à deriva como zumbis. -
13:00 - 13:03Havia cadáveres por toda parte
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13:03 - 13:06e grandes pilhas de corpos retorcidos,
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13:06 - 13:10degradados, decompostos.
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13:12 - 13:14Tifo e outras doenças se alastravam.
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13:15 - 13:17Alimento era quase inexistente.
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13:18 - 13:23Fomos alocadas em uma cabana,
mas as acomodações eram tão cheias -
13:23 - 13:30que onde era para ter 80 pessoas,
devia ter centenas de pessoas, -
13:30 - 13:32talvez até milhares.
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13:33 - 13:35Então, por sorte,
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13:35 - 13:39soube que havia uma cabana de crianças
em algum lugar do campo, -
13:39 - 13:41assim, fui procurá-la.
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13:41 - 13:46Esta é a cabana 211,
a cabana das crianças. -
13:46 - 13:49Quando chegamos lá, fomos
entrevistadas pelos supervisores, -
13:49 - 13:52Doutor Bimko e Irmã Luba.
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13:53 - 13:56E, apesar de não nos aceitarem de início,
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13:56 - 13:59porque também estava superlotada,
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13:59 - 14:04com certa persistência, consegui
que minha prima e eu fôssemos admitidas. -
14:05 - 14:07As crianças eram na maioria alemãs,
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14:07 - 14:11mas havia de outras nacionalidades também.
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14:11 - 14:14Ainda tenho uma imagem vívida
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14:15 - 14:17da vista da minha janela:
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14:19 - 14:23havia um barracão para cadáveres
bem na nossa frente -
14:23 - 14:26e uma procissão constante o dia inteiro.
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14:27 - 14:31No começo, os corpos eram trazidos
por carrinhos destroçados, -
14:32 - 14:36mas depois eram jogados com lençóis,
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14:36 - 14:43e, finalmente, isso degenerou
para corpos arrastados por um membro -
14:43 - 14:46e jogados nessa cabana.
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14:47 - 14:52Tão terrível quanto isso,
é que as pessoas forçadas a fazerem isso -
14:52 - 14:55mal estavam vivas.
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14:56 - 15:00Apesar de as condições nessas casas
de crianças serem um pouco melhores, -
15:00 - 15:03acabei contraindo tifo
e fiquei extremamente doente. -
15:04 - 15:09Fiquei inconsciente por alguns dias
-
15:09 - 15:12e devia estar começando a me recuperar
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15:12 - 15:13quando, um dia,
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15:13 - 15:15no beliche de cima, através da janela,
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15:15 - 15:20vi um monte de pessoas raquíticas
correndo para os portões, -
15:20 - 15:26e tudo o que eu conseguia pensar era:
"Como eles têm forças para correr?" -
15:26 - 15:29Aquele foi o momento da libertação,
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15:29 - 15:35quando as tropas britânicas entraram
no campo em 15 de abril de 1945. -
15:36 - 15:39Em dois dias, um hospital foi instalado,
-
15:40 - 15:43e as enfermeiras e equipes de socorro,
-
15:43 - 15:47sob o comando do Brigadeiro Glyn Hughes,
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15:48 - 15:54deram seus próprios corpos e almas
para a tarefa de salvar vidas. -
15:54 - 15:59Graças à sua dedicação,
compromisso e compaixão, -
15:59 - 16:02eu recuperei minha saúde.
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16:02 - 16:05Ainda me lembro do carinho deles
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16:05 - 16:09depois de ter sofrido anos
de crueldade e privação. -
16:11 - 16:13Quando os britânicos assumiram,
-
16:13 - 16:18o comandante alemão Kramer
foi imediatamente preso, -
16:18 - 16:22e os guardas foram forçados
a recolher os corpos, -
16:23 - 16:27que só puderam ser enterrados
em valas comuns. -
16:28 - 16:31Então, todas as cabanas foram queimadas,
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16:33 - 16:37e um memorial temporário foi instaurado.
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16:39 - 16:42Em julho de 1945,
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16:43 - 16:47Ann e eu fomos mandadas para a Suécia
com um grupo de crianças -
16:47 - 16:49para reabilitação,
-
16:49 - 16:52e na sequência eu soube
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16:52 - 16:57que meu irmão Ben foi o único
sobrevivente do meu núcleo familiar. -
16:58 - 17:01Ele estava entre um grupo
de crianças sobreviventes -
17:01 - 17:05que havia sido enviado
para a Inglaterra em agosto de 1945. -
17:05 - 17:06E, através dele,
-
17:06 - 17:11soube que nosso pai foi baleado
-
17:11 - 17:14tentando escapar
de uma marcha de extermínio, -
17:15 - 17:19e isso apenas quatro dias
antes do fim da guerra. -
17:21 - 17:26Ben e eu fomos reunidos
quando cheguei na Inglaterra em 1947. -
17:27 - 17:31Não havia suporte financeiro
para imigrantes naquela época. -
17:31 - 17:35Fui apadrinhada por uma
organização de caridade judaica, -
17:36 - 17:40e minha primeira tarefa
foi aprender o idioma -
17:40 - 17:43e habilidades suficientes
para manter a mim mesma, -
17:43 - 17:47o que consegui fazer em 12 meses.
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17:47 - 17:50Associei-me a um clube
que havia sido designado -
17:50 - 17:54para ajudar os sobreviventes
a se integrarem na comunidade, -
17:54 - 17:58e, através de amigos,
conheci Morris Tribich, -
17:58 - 17:59um jovem arquiteto
-
17:59 - 18:04que tinha passado cinco anos e meio
no Corpo de Engenheiros Reais, -
18:04 - 18:07parte desse tempo na linha de frente
no Norte da África -
18:07 - 18:11e em Montecassino, na Itália.
-
18:11 - 18:16Nos casamos em 1950,
tivemos dois filhos, três netos -
18:16 - 18:22e aproveitamos uma vida feliz
juntos por 43 anos -
18:22 - 18:24até que ele, infelizmente, faleceu.
-
18:24 - 18:27Assim que meus filhos foram para a escola,
-
18:27 - 18:31comecei a trabalhar na educação que perdi;
-
18:31 - 18:34consegui os certificados
da educação básica -
18:34 - 18:40e, por fim, me graduei em sociologia
pela Universidade de Londres. -
18:40 - 18:45Alguns anos atrás, para me ajudar
a me preparar para uma apresentação, -
18:45 - 18:50meu amigo David, médico aposentado
e antigo amigo da família, -
18:50 - 18:54fez uma pesquisa por computador
a respeito da minha cidade natal, -
18:55 - 18:58e encontrou a lista original digitada
-
18:58 - 19:05com os nomes e idades do transporte 132
-
19:05 - 19:10de 277 mulheres e 9 crianças judias
-
19:10 - 19:14que foram deportadas
de Piotrków para Ravensbrück -
19:14 - 19:17ao final de novembro de 1944.
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19:18 - 19:24Naquela lista, encontrou meu nome,
os nomes das minhas tias, minha prima Ann, -
19:24 - 19:29e me contou que, apesar de ter me ouvido
contar minha história tantas vezes, -
19:29 - 19:35ver a evidência física
do que aconteceu conosco -
19:35 - 19:38deixou-o em lágrimas.
-
19:38 - 19:44Mesmo assim, ainda existem pessoas
que dizem que nunca aconteceu. -
19:45 - 19:47Por volta de 20 anos atrás,
-
19:47 - 19:52comecei a falar em público sobre
minhas experiências durante a guerra, -
19:52 - 19:57geralmente em escolas, com o financiamento
do Holocaust Educational Trust, o HET, -
19:57 - 19:59e em Beth Shalom,
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19:59 - 20:01o Centro do Holocausto em Nottingham.
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20:02 - 20:06Mais recentemente, desde a nomeação
dos embaixadores do HET, -
20:06 - 20:10tenho falado bastante em universidades.
-
20:10 - 20:16Assim, diferentemente dos rumores
que chegam a nós por além dos mares, -
20:16 - 20:20a educação sobre o Holocausto
é bastante ativa no Reino Unido -
20:20 - 20:23e fortemente incentivada pelo governo.
-
20:23 - 20:27Quando falamos sobre o Holocausto,
temos que nos lembrar -
20:27 - 20:31que as vítimas não foram apenas os judeus.
-
20:32 - 20:37O programa de extermínio
teve início antes de 1940 -
20:37 - 20:41com deficientes físicos e mentais,
-
20:41 - 20:46com os quais, por tentativa e erro, aquele
que se tornou o reconhecido comandante -
20:46 - 20:50dos campos de concentração
de Sobibór e Treblinka, -
20:50 - 20:53Franz Stangl,
-
20:53 - 20:58aprendeu seu ofício
e como conciliar sua consciência. -
20:58 - 21:00E, quando estava a pleno vapor,
-
21:00 - 21:05as vítimas incluíam também
ciganos, testemunhas de Jeová -
21:05 - 21:09e outros grupos que não
se enquadravam no ideal nazista. -
21:11 - 21:17Alguns acharam que a revelação
dos crimes hediondos contra a humanidade -
21:17 - 21:21que aconteceram na Alemanha
e nos países dominados -
21:21 - 21:23durante a Segunda Guerra Mundial
-
21:23 - 21:26teriam sido um choque
tão grande para a humanidade, -
21:26 - 21:33que qualquer ressurgimento
de ódio racial e religioso tão destrutivo -
21:33 - 21:35seria inconcebível.
-
21:36 - 21:41Contudo, mesmo o Holocausto tendo sido
a mais bem documentada atrocidade -
21:41 - 21:44de toda a história da humanidade,
-
21:44 - 21:48ainda existem pessoas
que alegam não ter acontecido. -
21:48 - 21:55Para mim, esse é o valor do que nós,
sobreviventes, fazemos: -
21:55 - 22:00recordar as vítimas e ensinar
as gerações que nos sucedem -
22:01 - 22:03a estarem sempre vigilantes
-
22:03 - 22:07contra a negação
e a repetição de tamanho mal. -
22:07 - 22:12Quando fiz o primeiro ensaio
para esta palestra, David disse: -
22:12 - 22:18"Você não pode terminar com este slide,
precisa de algo mais otimista. -
22:19 - 22:24Você teria sonhado,
enquanto estava aterrorizada na fila, -
22:25 - 22:28quando chegou em Ravensbrück
-
22:28 - 22:32naquele dia congelante
de novembro de 1944, -
22:32 - 22:38que, quase 60 anos depois, estaria fazendo
o que está no próximo slide?" -
22:39 - 22:41E eu disse: "Nem em um milhão de anos".
-
22:42 - 22:44Muito obrigada.
-
22:44 - 22:46(Aplausos)
- Title:
- Uma sobrevivente do Holocausto fala sobre memória, legado e futuro | Mala Tribich | TEDxCourtauldInstitute
- Description:
-
Dia 27 de janeiro de 2015, 70º Dia Internacional da Lembrança do Holocausto e inauguração da Fundação Britânica da Memória do Holocausto. Ao promover a conscientização sobre o que houve durante o Holocausto, Mala espera que possamos permanecer vigilantes contra o antissemitismo e outras formas de preconceito na sociedade atual.
Mala Tribich nasceu em 1930 em Piotrkow Trybunalski, na Polônia. Quando os nazistas invadiram a cidade, em 1939, a família de Mala fugiu para o leste, mas pouco depois foram forçados a ficar no gueto instalado em sua cidade natal. Quando o gueto foi liquidado, Mala foi enviada para o campo de concentração de Ravensbrück e, depois, para o de Bergen-Belsen. Ela foi para a Inglaterra em 1947, onde se casou e obteve formação superior, e agora ela trabalha junto ao Holocaust Educational Trust, uma organização dedicada a educar jovens a respeito do Holocausto e das importantes lições que ele nos ensina.
Esta palestra foi dada em um evento TEDx, que usa o formato de conferência TED, mas é organizado de forma independente por uma comunidade local. Para saber mais, visite http://ted.com/tedx
- Video Language:
- English
- Team:
- closed TED
- Project:
- TEDxTalks
- Duration:
- 22:52