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Como a linguagem começou | Dan Everett | TEDxSãoFrancisco

  • 0:09 - 0:11
    Então aqui estamos,
    no centro da tecnologia
  • 0:11 - 0:14
    e gostaria de fazer
    uma pergunta muito simples:
  • 0:14 - 0:18
    qual foi a maior descoberta
    tecnológica já feita,
  • 0:18 - 0:22
    a base de todas as descobertas
    subsequentes, e quando isso aconteceu?
  • 0:24 - 0:28
    O maior avanço tecnológico
    dos seres humanos é a linguagem,
  • 0:28 - 0:31
    inventada há 2 milhões de anos,
  • 0:31 - 0:33
    na primeira e maior era da informação,
  • 0:34 - 0:37
    pelo "Home erectus", mamãe e papai.
  • 0:37 - 0:39
    (Risos)
  • 0:39 - 0:42
    O Homo erectus foi uma das criaturas
    mais bem-sucedidas
  • 0:42 - 0:43
    da face da Terra.
  • 0:43 - 0:47
    Eles viveram neste planeta
    por quase 2 milhões de anos.
  • 0:47 - 0:49
    Até agora, nós vivemos neste planeta
  • 0:49 - 0:53
    por pelo menos 200 mil anos
    ou, possivelmente, por 500 mil anos.
  • 0:53 - 0:58
    Não chegamos a viver um quarto do tempo
    que o Homo erectus viveu aqui.
  • 0:58 - 0:59
    Era uma criatura admirável.
  • 0:59 - 1:03
    Tinha o maior cérebro
    que o mundo já tinha visto até então,
  • 1:03 - 1:05
    talvez que o Universo
    tenha visto até então.
  • 1:05 - 1:10
    O tamanho médio do cérebro do Homo erectus
    era de cerca de 950 cm³,
  • 1:10 - 1:16
    75% do tamanho de um "Homo sapiens" macho,
  • 1:16 - 1:20
    aproximadamente do tamanho
    de muitas fêmeas Homo sapiens,
  • 1:20 - 1:23
    o que prova que tamanho não é documento.
  • 1:23 - 1:25
    (Risos)
  • 1:25 - 1:30
    O corpo e o cérebro do Homo erectus
    eram ambos fenomenais.
  • 1:30 - 1:33
    O Homo erectus tinha a nossa altura.
  • 1:33 - 1:36
    Eles pesavam provavelmente uns 70 kg
  • 1:36 - 1:39
    e foram as primeiras criaturas
    na história do Universo
  • 1:39 - 1:41
    capazes de caçar de forma persistente.
  • 1:41 - 1:47
    Nossa bipedalidade nos permitiu
    correr longas distâncias
  • 1:47 - 1:50
    e nos refrescar mais eficientemente
    do que os quadrúpedes.
  • 1:50 - 1:53
    Assim, o Homo erectus
    era capaz de perseguir suas presas
  • 1:53 - 1:56
    até que elas morressem
    de exaustão térmica,
  • 1:56 - 2:00
    ou batiam nelas com um machado
    ou taco de pedra até que morressem.
  • 2:00 - 2:03
    O Homo erectus era
    uma criatura maravilhosa.
  • 2:03 - 2:05
    E eles alcançaram muitas realizações.
  • 2:05 - 2:10
    Criaram muitas ferramentas,
    começando com as "olduvaienses".
  • 2:10 - 2:13
    E eles mantinham, transportavam
  • 2:13 - 2:15
    e aperfeiçoavam essas ferramentas,
  • 2:15 - 2:18
    até chegar a um aprimoramento:
    as ferramentas "auchelianas".
  • 2:18 - 2:22
    Depois aperfeiçoaram
    para chegar às ferramentas Levallois.
  • 2:22 - 2:25
    E cada ferramenta era melhor
    do que a antecessora.
  • 2:25 - 2:27
    Mas não se limitavam
    às ferramentas de pedra.
  • 2:27 - 2:30
    O Homo erectus também produzia lanças
  • 2:30 - 2:34
    e ferramentas de madeira; há evidências
    de lanças de milhares de anos.
  • 2:34 - 2:36
    E eles faziam dois tipos de lanças:
  • 2:36 - 2:39
    lanças para arremessar
    e lanças para introduzir.
  • 2:39 - 2:41
    O que significa "para introduzir"?
  • 2:41 - 2:47
    Significa um Homo erectus macho
    de 1,70m a 1,85m de altura, pesando 68 kg,
  • 2:47 - 2:50
    sair correndo e fincar
    aquela lança num mastodonte.
  • 2:50 - 2:55
    Vê-se que eles eram criaturas ferozes,
    eram criaturas corajosas
  • 2:55 - 2:57
    e criaturas extremamente inteligentes.
  • 2:57 - 3:00
    Ferramentas foram
    uma de suas grandes conquistas
  • 3:00 - 3:03
    e nos trazem a percepção do tipo
    de cérebro que estavam desenvolvendo.
  • 3:03 - 3:08
    Eles também faziam
    representações da realidade.
  • 3:08 - 3:12
    Esta é uma peça de 250 mil anos
  • 3:12 - 3:17
    moldada parcialmente
    pela natureza e pelo humano,
  • 3:17 - 3:19
    pelo Homo erectus, a "Vênus".
  • 3:19 - 3:21
    É chamada de "Vênus de Berekhat Ram",
  • 3:21 - 3:25
    e temos evidências de que era
    pintada de vermelho em algumas partes.
  • 3:25 - 3:28
    Uma concha achada na Ilha de Java
  • 3:28 - 3:33
    tinha gravuras feitas pelo Homo erectus.
  • 3:34 - 3:37
    O Homo erectus não era
    um simples fabricante de ferramentas.
  • 3:37 - 3:39
    Ele era fabricante de barcos.
  • 3:39 - 3:42
    Eles viajaram pelos oceanos
    há 2 milhões de anos atrás.
  • 3:42 - 3:44
    Como sabemos disso?
  • 3:44 - 3:47
    Bem, a primeira ilha
    em que descobrimos evidências deles
  • 3:47 - 3:50
    foi na Flores, na Indonésia,
  • 3:50 - 3:53
    no que teria sido uma viagem de barco
    de quase 38 km, visível da costa,
  • 3:53 - 3:55
    algo como atravessar o Canal da Mancha,
  • 3:55 - 3:58
    exceto pelo fato que Flores
    era, antes e agora,
  • 3:58 - 4:03
    rodeada pela correnteza marítima
    mais traiçoeira e forte do mundo.
  • 4:03 - 4:07
    Eles não poderiam ter nadado até Flores.
  • 4:07 - 4:10
    Eles chegaram lá de barco.
  • 4:10 - 4:14
    Na verdade, esta é a ilha das Flores...
  • 4:14 - 4:17
    e não acho que o Homo erectus
    fosse assim, mas...
  • 4:17 - 4:19
    (Risos)
  • 4:19 - 4:22
    Na verdade, arqueólogos tentaram simular
  • 4:22 - 4:26
    as viagens do Homo erectus
    e construíram jangadas
  • 4:26 - 4:29
    similares às que ele teria usado.
  • 4:29 - 4:33
    Sabemos, pela quantidade de ilhas
    onde encontramos suas colônias,
  • 4:33 - 4:36
    que o desembarque deles
    nessas ilhas não é coincidência.
  • 4:36 - 4:41
    Sabemos, pelo tamanho das colônias
    que eles provavelmente fizeram lá,
  • 4:41 - 4:44
    que muitos indivíduos teriam
    de ter chegado ao mesmo tempo
  • 4:44 - 4:46
    para começar essas colônias,
  • 4:46 - 4:49
    e sabemos, portanto,
    que eles tiveram de planejar isso.
  • 4:49 - 4:53
    Então uma ilha foi a Flores,
    a outra foi Socotorá, antes e agora,
  • 4:53 - 4:57
    240 km oceano adentro
    desde a ilha mais próxima,
  • 4:57 - 5:00
    onde encontramos colônias do Homo erectus.
  • 5:00 - 5:02
    Isso requer imaginação,
  • 5:02 - 5:06
    velejar até um lugar para explorar,
  • 5:06 - 5:08
    e aparentemente eles fizeram isso.
  • 5:08 - 5:12
    Também temos evidência
    de que tiveram colônias em Creta.
  • 5:12 - 5:15
    Portanto, eles eram navegadores,
  • 5:15 - 5:17
    eram fabricantes de ferramentas,
  • 5:17 - 5:20
    o Homo erectus era
    uma pessoa muito inteligente,
  • 5:20 - 5:23
    mas eles fizeram mais do que isso.
  • 5:23 - 5:28
    O Homo erectus também
    viajou o mundo por terra.
  • 5:28 - 5:30
    O Homo erectus evoluiu
    há 1,9 milhão de anos.
  • 5:30 - 5:33
    Há cerca de 1,7 milhão de anos,
    o que não é muito tempo,
  • 5:33 - 5:35
    eles já estavam em Beijing,
  • 5:35 - 5:37
    na Indonésia,
  • 5:37 - 5:38
    no Oriente Médio,
  • 5:38 - 5:40
    na Europa.
  • 5:40 - 5:41
    O Homo erectus viajou...
  • 5:41 - 5:44
    Eu não ficaria surpreso
    quando os jornais finalmente noticiarem
  • 5:44 - 5:47
    que temos evidências
    do Homo erectus na Califórnia,
  • 5:47 - 5:52
    porque, se eles conseguiram chegar
    a Beijing num período tão curto,
  • 5:52 - 5:54
    seria simplesmente um pulo passar
  • 5:54 - 5:58
    pelo Estreito de Bering para o Novo Mundo.
  • 5:58 - 6:00
    Talvez eles tenham ido, talvez não.
  • 6:00 - 6:04
    Mas suas habilidades mostram que eram
    capazes de realizar feitos tremendos.
  • 6:05 - 6:09
    No entanto, nem tudo é notícia boa;
    existiam algumas deficiências.
  • 6:09 - 6:13
    O Homo erectus tinha o aparato vocal
    parecido com o de um gorila.
  • 6:13 - 6:16
    Não conseguiam produzir
    todos os sons que nós.
  • 6:16 - 6:20
    Eles tinham uma gama de sons
    mais parecida com a dos gorilas.
  • 6:20 - 6:24
    Seria isso tão importante quando
    falamos de língua? Na verdade, não.
  • 6:24 - 6:28
    Existem muitas línguas hoje
    que possuem menos de 12 sons.
  • 6:28 - 6:29
    Aqui temos uma:
  • 6:29 - 6:34
    (Falando Pirahã)
  • 6:34 - 6:38
    Essa é uma das línguas com que venho
    trabalhando na Amazônia há 40 anos,
  • 6:38 - 6:42
    Pirahã, e tem somente 10 sons,
    se for uma mulher falando,
  • 6:42 - 6:45
    e 11, se for um homem.
  • 6:45 - 6:49
    E, com 11 sons, consegue-se produzir
    uma língua humana totalmente funcional.
  • 6:49 - 6:52
    Mas será que o erectus
    era capaz de produzir 11 sons?
  • 6:52 - 6:55
    Na verdade, eles nem precisavam disso.
  • 6:55 - 6:58
    Para nos comunicar, conseguimos digitar
    qualquer coisa em português no computador.
  • 6:58 - 7:03
    Fazemos isso usando o Microsoft Word
    ou qualquer outro editor de texto,
  • 7:03 - 7:06
    e, quando o fazemos,
    quantas letras o computador usa?
  • 7:06 - 7:12
    O computador usa somente
    duas letras, dois sons: zero e um,
  • 7:13 - 7:16
    e, com esses sons,
    comunicamos qualquer coisa.
  • 7:16 - 7:18
    Então, o homo erectus, teoricamente,
  • 7:18 - 7:21
    só precisava produzir
    dois sons para se comunicar.
  • 7:22 - 7:27
    Nossos ancestrais foram
    os primeiros e únicos gorilas falantes,
  • 7:28 - 7:30
    com a anatomia que eles tinham.
  • 7:30 - 7:33
    O cérebro deles não só era menor,
  • 7:33 - 7:36
    mas também mais lento
    do que o nosso, pelas evidências.
  • 7:36 - 7:38
    O seu desenvolvimento infantil
    era mais rápido que o nosso,
  • 7:38 - 7:40
    o que é uma desvantagem cognitiva,
  • 7:40 - 7:44
    pois nossas crianças têm
    mais tempo para se desenvolver...
  • 7:44 - 7:46
    hoje em dia, isso leva cerca de 30 anos...
  • 7:46 - 7:48
    (Risos)
  • 7:48 - 7:51
    E eles são capazes de usar
    todo tipo de mecanismo cognitivo.
  • 7:51 - 7:55
    Quando conto essa piada na universidade,
    ninguém dá risada, mas...
  • 7:55 - 7:57
    (Risos)
  • 7:57 - 7:58
    Mas nós sabemos como é.
  • 7:58 - 8:02
    Então o Homo erectus tinha
    vantagens e desvantagens,
  • 8:02 - 8:05
    mas o mais importante
    é que nenhuma dessas desvantagens
  • 8:05 - 8:08
    os afastaram da linguagem
    e das conquistas que vemos.
  • 8:08 - 8:11
    Agora mesmo, cientistas estão escavando
    uma vila do Homo erectus,
  • 8:11 - 8:13
    com cerca de 750 mil anos,
  • 8:13 - 8:17
    em Gesher Benot Ya'aqov, em Israel.
  • 8:17 - 8:21
    E descobrimos que essa vila
    é organizada hierarquicamente.
  • 8:21 - 8:24
    Há uma seção da vila
    para processamento de produtos animais,
  • 8:24 - 8:27
    uma seção para processamento
    de produtos vegetais,
  • 8:27 - 8:31
    e outra seção onde encontramos
    evidências de habitações.
  • 8:31 - 8:35
    Então, eles não só construíam vilas,
    mas o faziam de maneira estruturada.
  • 8:35 - 8:37
    Eles eram capazes
    de pensar hierarquicamente,
  • 8:37 - 8:41
    de planejar, de imaginar.
  • 8:42 - 8:45
    O que constrói uma língua? O que faltava
    para que tivessem uma língua?
  • 8:45 - 8:48
    Uma língua é, em essência, duas coisas:
  • 8:48 - 8:51
    símbolos e gramática.
  • 8:51 - 8:54
    E quantos símbolos e quanta gramática
    são necessários para tanto?
  • 8:54 - 8:56
    Para começar, o que é um símbolo?
  • 8:56 - 8:57
    Charles Sanders Peirce,
  • 8:57 - 9:01
    filósofo norte-americano
    que viveu cerca de cem anos atrás,
  • 9:01 - 9:02
    definiu três tipos de sinais.
  • 9:02 - 9:07
    Os indícios, que são sinais fisicamente
    conectados ao que representam.
  • 9:07 - 9:10
    Quando sentimos cheiro de fumaça,
    sabemos que há fogo.
  • 9:10 - 9:12
    A fumaça é um indício de fogo.
  • 9:12 - 9:14
    Vemos uma pegada, isso é um indício.
  • 9:15 - 9:18
    Todos os animais precisam de sinais.
  • 9:18 - 9:22
    Nossos cinco sentidos evoluíram
    para que fôssemos capazes de ler indícios.
  • 9:22 - 9:25
    Sem os indícios e a capacidade
    de interpretá-los,
  • 9:25 - 9:27
    não funcionaríamos no mundo.
  • 9:27 - 9:29
    O próximo tipo de sinal é o ícone:
  • 9:29 - 9:32
    não há uma conexão física,
    mas há uma semelhança física.
  • 9:32 - 9:38
    A figura de Berekhat Ram, Vênus,
    que mostrei mais cedo, é um ícone.
  • 9:38 - 9:40
    A "Mona Lisa" é um ícone.
  • 9:41 - 9:45
    A cruz na Cristandade nasceu como um ícone
  • 9:45 - 9:47
    e se tornou um símbolo.
  • 9:47 - 9:48
    Então, há isso tudo.
  • 9:48 - 9:50
    E o que é um símbolo então?
  • 9:50 - 9:53
    O símbolo é convencionalmente
  • 9:53 - 9:57
    um sinal convencional ou culturalmente
    ligado a um significado.
  • 9:57 - 10:02
    Peguem por exemplo o número quatro:
    q-u-a-t-r-o, ou nos dedos "quatro".
  • 10:02 - 10:03
    O que isso significa?
  • 10:03 - 10:07
    Significa a cardinalidade do quatro,
    temos de continuar falando em português.
  • 10:07 - 10:12
    Mas o quatro é uma forma
    culturalmente determinada
  • 10:12 - 10:14
    com um significado determinado.
  • 10:14 - 10:16
    Nem todas as línguas possuem matemática.
  • 10:16 - 10:19
    A Pirahã, por exemplo,
    não tem nem o número um.
  • 10:19 - 10:22
    Nessa língua não existe
    nenhum conceito matemático.
  • 10:22 - 10:25
    Então, a matemática
    é uma descoberta cultural,
  • 10:25 - 10:27
    se não um construto cultural,
  • 10:27 - 10:32
    e nem todos têm
    a matemática nesse sentido.
  • 10:32 - 10:35
    Os símbolos matemáticos
    são determinados culturalmente,
  • 10:35 - 10:37
    são dados pela cultura.
  • 10:37 - 10:40
    Outro ponto que é preciso
    para construir uma língua...
  • 10:40 - 10:42
    Mas, antes, temos um fato fascinante:
  • 10:42 - 10:46
    quando Peirce disse que indícios vêm
    primeiro ou mais fáceis e depois os ícones
  • 10:46 - 10:47
    e depois os símbolos,
  • 10:47 - 10:52
    ele, acidental e indiretamente,
    previu exatamente o que descobrimos
  • 10:52 - 10:54
    nos registros arqueológicos.
  • 10:54 - 10:56
    Assim, indícios, todas as criaturas têm.
  • 10:56 - 10:59
    Existem há 5 bilhões de anos
    ou o tempo em que existe vida na Terra,
  • 10:59 - 11:00
    perto de 4 bilhões.
  • 11:00 - 11:03
    Mas quando foi que o primeiro ícone,
    a primeira imagem,
  • 11:03 - 11:05
    apareceu nos registros arqueológicos?
  • 11:05 - 11:08
    Bem, temos de voltar 3 milhões de anos,
  • 11:08 - 11:10
    o que não é tanto tempo assim,
  • 11:10 - 11:12
    até os "Australopithecus africanus".
  • 11:12 - 11:14
    Achamos numa caverna dos Australopithecus
  • 11:14 - 11:18
    a caverna Makapansgat, na África do Sul,
  • 11:18 - 11:23
    um pequeno seixo de 5 cm por 7 cm
    chamada de seixo de Makapansgat,
  • 11:23 - 11:27
    ou de Makapansgat Manuport
    porque foi carregado até a caverna,
  • 11:27 - 11:31
    e alguns Australopithecus reconheceram
    nessa pequena pedra um rosto humano.
  • 11:31 - 11:34
    Parece a camiseta oficial
    da "carinha feliz".
  • 11:35 - 11:38
    E os Australopithecus
    eram fascinados por ela.
  • 11:38 - 11:41
    Sabemos disso porque eles
    a carregaram por quilômetros,
  • 11:41 - 11:45
    trouxeram para sua caverna
    e a mantiveram lá.
  • 11:45 - 11:49
    Talvez tenha sido uma coincidência,
    e ela tenha ficado presa nos dedos do pé.
  • 11:49 - 11:53
    Mas 5 cm por 7 cm é um pouco grande
    até para os dedos dos Australopithecus.
  • 11:53 - 11:57
    Então, aparentemente eles levaram
    até lá pelo que ela representava.
  • 11:57 - 11:59
    Primeiro vemos indícios,
  • 11:59 - 12:01
    depois vemos ícones
  • 12:01 - 12:03
    e, por último, vemos símbolos.
  • 12:03 - 12:05
    Então, o que seria um símbolo?
  • 12:05 - 12:06
    Pensem numa pá.
  • 12:06 - 12:09
    Em geral, ao falar sobre símbolo,
    pensamos em arte abstrata,
  • 12:09 - 12:13
    mas a arte abstrata não é
    necessariamente um símbolo.
  • 12:13 - 12:14
    Pensem numa pá.
  • 12:14 - 12:17
    A pá é uma ferramenta,
    mas, quando olhamos para uma pá,
  • 12:17 - 12:18
    pensamos em trabalho,
  • 12:18 - 12:20
    pensamos em feridas,
  • 12:20 - 12:21
    pensamos em jardinagem,
  • 12:21 - 12:23
    pensamos na nossa família...
  • 12:23 - 12:25
    temos todos os tipos de memórias.
  • 12:25 - 12:29
    A pá se transforma num símbolo
    por uma série de valores culturais.
  • 12:29 - 12:35
    As ferramentas que o erectus usava
    eram facilmente vistas como símbolos.
  • 12:35 - 12:38
    Na maneira como eram cuidadas,
    elas representavam símbolos.
  • 12:38 - 12:42
    De fato, achamos um biface
    especial, batizado de Excalibur,
  • 12:42 - 12:47
    uma machadinha de quartzo pintada,
    enterrada num cemitério erectus,
  • 12:47 - 12:51
    que indica que eles viam
    aquela ferramenta,
  • 12:51 - 12:54
    como mencionei, como algo simbólico.
  • 12:54 - 12:58
    Então, eles tinham símbolos,
    tinham a aptidão para símbolos,
  • 12:58 - 13:00
    eles planejavam, tinham
    um tipo de sistema hierárquico
  • 13:00 - 13:02
    tinham pensamentos ordenados.
  • 13:03 - 13:06
    Precisavam, portanto, de uma gramática.
    E quais tipos de gramática existem?
  • 13:06 - 13:09
    Bem, existe uma teoria
    popular sobre gramática,
  • 13:09 - 13:11
    feita por alguém que não vou mencionar,
  • 13:11 - 13:16
    mas essa teoria em particular é
    um pouco mais elaborada do que precisamos.
  • 13:17 - 13:19
    Identifiquei 3 tipos de gramática
  • 13:19 - 13:22
    nos meus 40 anos de estudos de campo.
  • 13:22 - 13:27
    Vou chamar uma de G1, a outra de G2,
    e a última, para ser original, de G3.
  • 13:27 - 13:30
    As G1 são gramáticas em ordem linear.
  • 13:30 - 13:32
    Temos exemplos disso no inglês:
  • 13:32 - 13:35
    "Você bebe, você dirige, você é preso";
  • 13:35 - 13:37
    "Sem camiseta, sem sapatos,
    sem atendimento".
  • 13:37 - 13:39
    São apenas palavras em ordem.
  • 13:39 - 13:43
    É preciso esclarecer que existem
  • 13:43 - 13:47
    línguas modernas, como a Riau,
    da Indonésia, e a Pirahã,
  • 13:47 - 13:51
    sobre as quais psicolinguistas renomados
    defendem que sua gramática
  • 13:51 - 13:54
    é do tipo G1, ou seja, somente
    palavras em ordem linear.
  • 13:54 - 13:57
    Uma gramática G2 tem hierarquia:
  • 13:57 - 14:00
    "Se você beber e você
    dirigir, você vai preso".
  • 14:00 - 14:02
    Pegamos as palavras e construímos
    uma sentença maior.
  • 14:02 - 14:06
    E a gramática G3 tem
    hierarquia e repetição:
  • 14:06 - 14:08
    "Se você beber e dirigir,
    sabendo que não deveria,
  • 14:08 - 14:12
    pois sua esposa vai ficar chateada,
    porque, da última vez, o pai dela avisou
  • 14:12 - 14:15
    que não te emprestaria mais dinheiro",
  • 14:15 - 14:16
    e assim vai.
  • 14:16 - 14:20
    Esse tipo de gramática é encontrada
    facilmente em muitas línguas no mundo,
  • 14:20 - 14:25
    mas pode-se expressar
    qualquer coisa da G3 na G1,
  • 14:25 - 14:27
    matematicamente elas têm o mesmo poder.
  • 14:27 - 14:29
    Então, uma vez que tenhamos
    símbolos e a gramática G1,
  • 14:29 - 14:32
    temos uma língua,
    uma língua completamente humana.
  • 14:32 - 14:34
    Temos isso hoje em dia.
  • 14:34 - 14:36
    O Homo erectus era capaz disso?
  • 14:36 - 14:37
    Sim, eles eram.
  • 14:37 - 14:41
    Será que demonstraram
    os tipos de comunicação,
  • 14:41 - 14:43
    correção, cooperação e planejamento,
  • 14:43 - 14:45
    que são requisitos para uma língua humana?
  • 14:45 - 14:47
    Sim, eles demonstraram.
  • 14:47 - 14:49
    Todos os animais se comunicam,
  • 14:49 - 14:51
    não existe um único animal
    entre todas as espécies
  • 14:51 - 14:52
    que não se comunique,
  • 14:52 - 14:56
    mesmo assim, parece que só os humanos
    se comunicam através de uma língua.
  • 14:56 - 15:00
    Somente os humanos têm sistemas
    elaborados, simbólicos e gramaticais
  • 15:00 - 15:02
    que nos permitem nos comunicar.
  • 15:02 - 15:04
    Mas existe alguma coisa
    sobre o que falamos
  • 15:04 - 15:09
    que justifique que a gramática
    seja uma mutação?
  • 15:09 - 15:11
    Ou que as gramáticas sejam inatas?
  • 15:11 - 15:14
    Ou que as gramáticas sejam instintivas?
  • 15:14 - 15:17
    Seria isso diferente de ter
    um instinto para química,
  • 15:17 - 15:20
    para a produção de carros,
  • 15:20 - 15:23
    ou para fazer burritos?
  • 15:23 - 15:25
    Consigo achar uma receita
    de burritos na minha cabeça.
  • 15:25 - 15:27
    Se formos para o campo da anatomia,
  • 15:27 - 15:30
    podemos identificar onde está a receita
    dentro do meu cérebro,
  • 15:30 - 15:33
    onde está a informação,
    mas não significa que seja inata.
  • 15:33 - 15:35
    Só significa que é para onde vai
    quando eu aprendo,
  • 15:35 - 15:37
    por uma variedade de razões.
  • 15:38 - 15:41
    Assim, a linguagem,
    por tudo o que sabemos,
  • 15:41 - 15:45
    foi inventada e desenvolvida com o tempo.
  • 15:45 - 15:49
    No momento em que uma cultura se apropria
    de uma língua, começa a transformá-la.
  • 15:49 - 15:51
    As línguas estão sempre em mudança.
  • 15:51 - 15:54
    Às vezes tornam-se mais elaboradas,
    às vezes mais simples.
  • 15:56 - 16:00
    O Homo erectus começou
    o processo da linguagem
  • 16:00 - 16:03
    através das suas conquistas,
  • 16:03 - 16:05
    através do que sabemos
    sobre seu raciocínio,
  • 16:05 - 16:09
    através de seus artefatos e suas vilas,
  • 16:09 - 16:14
    e evidências de viagens que deixaram
    nos registros arqueológicos.
  • 16:14 - 16:17
    A linguagem, se isso tudo está correto,
  • 16:17 - 16:20
    e insisto na visão de que esteja,
  • 16:20 - 16:24
    começou há 60 mil gerações.
  • 16:24 - 16:26
    É um dos grandes avanços,
  • 16:26 - 16:29
    o começo da era da informação
    para a humanidade,
  • 16:29 - 16:32
    que permitiu todas as outras
    conquistas da nossa espécie.
  • 16:32 - 16:36
    E, se voltarmos para esse cara,
    vamos chamá-lo de "Johnny Erectus",
  • 16:37 - 16:40
    no sentido de andar de pé,
    em oposição a outros sentidos,
  • 16:40 - 16:41
    ele foi...
  • 16:41 - 16:43
    (Risos)
  • 16:43 - 16:48
    a primeira pessoa que falou.
  • 16:48 - 16:50
    A primeira pessoa que talvez
    tenha dito para outra:
  • 16:50 - 16:52
    "Eu te amo".
  • 16:52 - 16:53
    Ou disse: "Vamos".
  • 16:53 - 16:56
    Ou: "Eu quero isso".
  • 16:57 - 17:00
    Imaginem as possibilidades e elaborações
  • 17:00 - 17:02
    de 60 mil gerações de língua.
  • 17:02 - 17:05
    As palestras TED são um exemplo
  • 17:05 - 17:09
    da intenção de potencializar
    o poder da linguagem humana.
  • 17:09 - 17:12
    Não existe nada mais poderoso
    na Terra do que a linguagem.
  • 17:12 - 17:14
    Ainda não compreendemos tudo sobre isso,
  • 17:14 - 17:17
    mas sabemos o que nos torna quem somos:
  • 17:17 - 17:21
    a habilidade de falar
    e nos comunicar uns com os outros.
  • 17:21 - 17:24
    Então, quando forem embora
    do TED esta noite,
  • 17:24 - 17:28
    quando deixarem estas palestras
    e este dia que passamos juntos,
  • 17:28 - 17:31
    usem a língua, conversem e escutem,
  • 17:31 - 17:34
    e apreciem o valor
    dessa invenção maravilhosa
  • 17:34 - 17:38
    que os gorilas falantes,
    os Homo erectus, nossos ancestrais,
  • 17:38 - 17:41
    os primeiros humanos
    a caminhar na Terra, nos deram.
  • 17:41 - 17:43
    Obrigado.
  • 17:43 - 17:45
    (Aplausos)
Title:
Como a linguagem começou | Dan Everett | TEDxSãoFrancisco
Description:

Dan Everett nos leva de volta ao tempo do "Homo erectus", para narrar como a linguagem começou e por que é ela a ferramenta suprema evolucionário para o compartilhamento de conhecimento.

Dan Everett nasceu no sul da Califórnia. Ele se graduou em estudos bíblicos no Moody Bible Institute, em Chicago, e concluiu seu mestrado e doutorado em linguística na Unicamp, no Brasil.

Desde 1977, ele conduz regularmente pesquisas sobre a língua Pirahã, do Brasil. Ele também conduziu pesquisas em tseltal Mexico), selish (EUA), aruaque (Brasil), sateré (Brasil), Uari (Brasil), entre outras. Ele publicou 14 livros e mais de 110 artigos, e tem dado palestras sobre suas pesquisas pelo mundo afora.

Ele se converteu ao Cristianismo as 17 anos de idade e foi um evangélico devoto até abandonar sua fé por causa das lições aprendidas com os Pirahã (como discutido no livro "Don’t Sleep, There are Snakes" -- em tradução livre: "não durma, aqui tem cobra"). Seus livros mais recentes são "Dark Matter of the Mind: The Culturally Articulated Unconscious" (em tradução livre: "a matéria escura da mente: a articulação inconsciente da cultura"), publicado pela University of Chicago Press, e "Linguagem: a história da maior invenção da humanidade" (W.W.Norton/Liveright).

Esta palestra foi dada em um evento TEDx, que usa o formato de conferênciaTED, mas é organizado de forma independente por uma comunidade local. Para saber mais visite http://ted.com/tedx

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDxTalks
Duration:
17:47

Portuguese, Brazilian subtitles

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