Olá. Meu nome é Herman, e sempre fiquei impressionado com o modo como as mudanças mais importantes, impactantes e devastadoras em nossa cultura e nossa sociedade sempre vêm das coisas que menos pensamos que terão impacto. Como cientista da computação, lembro-me de quando o Facebook era só sobre compartilhar imagens, mas alguns podem dizer que hoje está envolvido em influenciar eleições. Lembro-me de quando a criptomoeda ou o comércio automatizado eram ideias de alguns renegados das instituições financeiras do mundo para comércio automatizado ou on-line, para criptomoeda, e agora estão moldando rapidamente nosso modo de operar. Acho que todos se lembram daquele momento em que uma dessas ideias parecia ignorável e ridícula e, de repente, eis o preço do bitcoin. Ou, droga, adivinhem quem foi eleito. A realidade é que, pela minha perspectiva, estamos prestes a encontrar isso de novo. Acho que uma das maiores e mais impactantes mudanças no modo como vivemos para como somos educados, talvez até como acabamos gerando renda, está prestes a vir não da IA, das viagens espaciais ou da biotecnologia, que são invenções do futuro muito importantes, mas, nos próximos cinco anos, acho que virá dos videogames. Tudo bem, é uma afirmação ousada. Vejo alguns rostos céticos na plateia. Mas, se pararmos para tentar analisar o que os videogames já estão se tornando hoje em nossa vida, e o que apenas um pouco de avanço tecnológico está prestes a criar, isso começa a se tornar inevitável. Acho que as possibilidades são bastante emocionantes. Vamos pensar um pouco em termos de escala. Já existem 2,6 bilhões de pessoas que jogam videogames. A realidade é que há 1 bilhão a mais do que há cinco anos. Um bilhão a mais de pessoas. Nenhuma religião, mídia, nada se espalhou assim. É provável que haja 1 bilhão a mais quando a África e a Índia tiverem a infraestrutura para realizar totalmente as possibilidades dos jogos. Mas considero excepcional, e isso costuma chocar muitas pessoas, a idade média de um jogador, adivinhem, pensem nisso... Não é 6, não é 18, não é 12. É 34. [Idade média do jogador norte-americano] É superior à minha idade. Isso nos diz algo. Não é mais um entretenimento infantil. Já é um meio, como o literário, ou qualquer outro, que se torna parte fundamental de nossa vida. Gosto do fato de que as pessoas que escolheram jogar videogames nos últimos 15, 20 anos, geralmente não param. Algo mudou no modo de organização desse meio. Mais do que isso, não se trata mais de apenas jogar, não é mesmo? Já ouvimos alguns exemplos hoje, mas as pessoas ganham uma renda jogando videogames. E não da maneira óbvia. Sim, há esportes eletrônicos, prêmios e a oportunidade de ganhar dinheiro de modo competitivo. Mas também há quem obtenha renda modificando jogos, criando conteúdo, fazendo arte para eles. Há algo semelhante à Renascença Italiana, que acontece no celular do seu filho, na sala de estar, e está sendo ignorado. É ainda mais emocionante para mim o que está prestes a acontecer. Quando pensam em videogames, vocês já devem imaginar que eles apresentam mundos enormes e infinitos, mas a verdade é que os jogos ficaram extremamente limitados há muito tempo, de uma maneira que nós, da indústria, tentamos encobrir bastante com o máximo de artifícios possível. A metáfora que gosto de usar, se me permitirem meu momento "geek", é a noção de teatro. Nos últimos dez anos, os jogos melhoraram bastante os efeitos visuais, a imersão física, o cenário principal dos jogos. Mas, nos bastidores, a verdadeira realidade experimental do mundo dos jogos permaneceu lamentavelmente limitada. Vou colocar em perspectiva por um momento. Eu poderia sair daqui agora, fazer algumas pichações, brigar, me apaixonar. Posso, na verdade, fazer tudo isso depois, mas a questão é que tudo isso teria consequências e afetaria a realidade. Todos vocês poderiam interagir com isso ao mesmo tempo. Seria persistente. São qualidades muito importantes para o que torna real o mundo real. Agora, nos bastidores dos jogos, temos um limite há muito tempo. O limite é que, por trás do visual, as informações reais trocadas entre jogadores ou entidades no mundo de um único jogo foram bastante limitadas pelo fato de os jogos ocorrerem principalmente em um único servidor ou em uma única máquina. Até o "World of Warcraft" são, na verdade, milhares de mundos menores. Quando ouvimos sobre os shows em "Fortnite", ouvimos, na verdade, sobre milhares de pequenos shows individuais, como foi dito hoje, fogueiras ou sofás. Não existe realmente a possibilidade de reunir tudo. Vamos parar um pouco para entender o que isso significa. Quando analisamos um jogo, podemos ver belos recursos visuais, tudo isso acontecendo diante de nós. Porém, nos bastidores de um jogo on-line, é assim que se parece. Tudo que um cientista da computação vê são apenas algumas informações trocadas por um grupo minúsculo de entidades ou objetos significativos. Vocês devem estar pensando: "Joguei em um mundo infinito". Na verdade, foi mais como andar em uma esteira. Enquanto vocês andam por esse mundo, fazemos com que as partes dele em que vocês não estão desapareçam e as partes dele diante de vocês apareçam. É um bom artifício, mas não a base para a revolução que prometi a vocês no início desta palestra. A realidade é que, para os jogadores apaixonados, que podem estar animados com isso, e para os que podem ou não estar temerosos, tudo isso está prestes a mudar, porque, finalmente, a tecnologia existe para ir muito além dos limites que vimos anteriormente. Dediquei minha carreira a isso. Há muitos outros trabalhando com o problema. Eu não aceitaria levar o crédito por ele, mas estamos no momento de poder finalmente fazer essa coisa difícil e impossível de combinar milhares de máquinas diferentes em simulações únicas, convenientes o bastante para não serem únicas, mas poderem ser construídas por qualquer um, e chegar no momento de poder começar a experimentar o que ainda não conseguimos compreender. Vamos parar para visualizar isso. Não estou falando de pequenas simulações individuais, mas de uma vasta possibilidade de enormes redes de interação. Eventos globais imponentes que podem acontecer. Coisas que, mesmo no mundo real, tornam-se difíceis de produzir nesse tipo de escala. Sei que alguns de vocês são jogadores. Então, vou mostrar cenas de algumas coisas que tenho certeza de poder mostrar, de alguns de nossos parceiros. O TED e eu conversamos a respeito. São algumas coisas que poucas pessoas já viram antes, são experiências novas movidas por esse tipo de tecnologia. Vou lhes mostrar algumas dessas coisas. Este é o mundo de um único jogo, com milhares de pessoas ao mesmo tempo participando de um conflito. Ele também tem um ecossistema próprio, senso próprio de predador e presa. Cada objeto que vemos aqui é simulado de alguma maneira. Este jogo foi feito por uma das maiores empresas do mundo, NetEase, uma enorme empresa chinesa. Eles criaram uma simulação criativa assistente, na qual grupos de jogadores podem criar juntos, em vários dispositivos, num mundo que não desaparece quando você acaba. É um lugar para contar histórias e ter aventuras. Até o clima é simulado. E isso é incrível. Este é o meu favorito: um grupo de pessoas pioneiras em Berlim chamado Klang Games. Elas são totalmente loucas, e vão me adorar por dizer isso. Descobriram um modo de modelar um planeta inteiro. Elas vão ter uma simulação com o envolvimento de milhões de personagens que jogam e que não jogam. Na verdade, pegaram Lawrence Lessig para ajudar a entender as ramificações políticas do mundo que estão criando. É o tipo de conjunto surpreendente de experiências, muito além do que poderíamos imaginar e que agora serão possíveis. Esse é apenas o primeiro passo nessa tecnologia. O que acontece se formos além? A ciência da computação tende a ser toda exponencial quando resolvemos problemas difíceis. Estou certo de que logo estaremos num lugar onde podemos fazer esse tipo de poder computacional parecer nada. Quando isso acontecer, as oportunidades... Vale a pena parar para tentar imaginar o que estou falando aqui: centenas de milhares ou milhões de pessoas capazes de coabitar o mesmo espaço. A última vez que qualquer um de nós, como espécie, teve a oportunidade de construir ou fazer algo junto com tantas pessoas foi na Antiguidade. As circunstâncias foram menos do que ótimas, devemos dizer. Na maioria, conflitos ou construção de pirâmides, não necessariamente a melhor coisa para gastarmos nosso tempo. Porém, se reunirmos muitas pessoas, o tipo de experiência compartilhada que pode criar... acho que exercita um poder social em nós que perdemos e esquecemos. Indo além, quero parar para pensar no que isso significa para relacionamentos e identidade. Se pudermos dar uns aos outros mundos, experiências em escala, para usarmos uma quantidade significativa de tempo, poderemos mudar o que significa ser um indivíduo, ir além de uma única identidade para um conjunto diverso de identidades pessoais. O gênero, a raça, os traços de personalidade com os quais nascemos podem ser algo com o qual queremos experimentar de modo diferente. Podemos ser alguém que quer ser mais de uma pessoa. Todos somos, internamente, várias pessoas. Raramente temos a chance de flexibilizar isso. Trata-se também de empatia. Tenho uma avó com quem não tenho nada em comum. Eu a amo muito, mas toda história que ela tem começa em 1940 e termina em 1950. E toda história que tenho é de 50 anos depois. Mas, se pudéssemos coabitar, experimentar coisas juntos, que não diminuíssem por fragilidade física ou falta de contexto, criar oportunidades juntos, isso muda as coisas, isso une as pessoas de maneiras diferentes. Fico impressionado como as mídias sociais ampliaram nossas muitas diferenças e nos tornaram mais quem somos na presença de outras pessoas. Acho que os jogos poderiam realmente começar a criar uma nova chance para nos identificarmos, para compartilharmos adversidades e oportunidades. Estatisticamente, neste momento, há pessoas que estão em lados opostos de um conflito, que foram reunidas em um jogo e nem sabem disso. É uma chance incrível de mudar o modo de encarar as coisas. Finalmente, para aqueles que talvez sejam mais céticos sobre tudo isso, que talvez pensem que mundos e jogos virtuais não sejam a sua praia, há uma realidade a ser aceita: o impacto econômico ao qual me refiro será profundo. Neste momento, milhares de pessoas estão trabalhando em tempo integral com jogos. Em breve, serão milhões de pessoas. Onde quer que haja um celular, haverá um emprego, uma oportunidade para algo que seja criativo e rico e lhe dê uma renda, não importa em que país você esteja, não importa quais habilidades ou oportunidades que você pense ter. Talvez o primeiro salário da maioria que nasce hoje possa ser em um jogo. Essa será a nova rota do papel, a nova oportunidade de renda o mais cedo possível em sua vida. Quero finalizar com quase um apelo, mais do que pensamentos. Um senso de como precisamos encarar essa nova oportunidade de um jeito um pouco diferente do passado. É tão hipócrita para que outro tecnólogo suba ao palco e diga: "O futuro será ótimo, a tecnologia o consertará". A realidade é que isso terá desvantagens. Mas essas desvantagens só serão ampliadas se abordarmos, mais uma vez, com ceticismo e escárnio, as oportunidades que isso apresenta. A pior coisa que poderíamos fazer é deixar as mesmas quatro ou cinco empresas acabarem dominando mais um espaço próximo. (Aplausos) Porque elas não vão apenas definir como e quem ganha dinheiro com isso. A realidade é que agora estamos falando sobre a definição de nosso modo de pensar, das regras em torno da identidade e da colaboração, das regras do mundo em que vivemos. Isso deve ser algo que todos nós temos e criamos juntos. Meu apelo final é para os engenheiros, cientistas e artistas da plateia hoje. Talvez alguns de vocês sonharam em trabalhar em viagens espaciais. A realidade é que existem mundos que vocês podem construir aqui, agora, que podem transformar a vida das pessoas. Ainda há enormes fronteiras tecnológicas que precisam ser superadas aqui, semelhantes às que enfrentamos quando criamos a internet. Toda a tecnologia por trás dos mundos virtuais é diferente. Este é meu apelo a vocês: vamos nos engajar, vamos todos nos engajar, vamos tentar fazer disso algo que moldamos de uma maneira positiva, em vez de, mais uma vez, ser algo que tenha sido feito para nós. Obrigado. (Aplausos)