Olá, sou Chris Anderson. Bem-vindo ao The TED Interview. Estamos preparando a sessão quatro com convidados extraordinários, mas não quero esperar por ela para o episódio de hoje porque estamos em meio a uma pandemia e tenho um convidado com quem realmente quero conversar agora. Adam Kucharski, um pesquisador de doenças contagiosas que se concentra na modelagem matemática de pandemias. É professor associado da London School of Hygiene and Tropical Medicine e TED Fellow. (Música) (TED Talk) Adam Kucharski: Quais comportamentos são realmente importantes em uma epidemia? Conversas, contato físico? Que tipo de dados deveríamos coletar antes de um surto, se queremos prever como a infecção pode se espalhar? Para descobrir isso, nossa equipe constrói um modelo matemático. Chris Anderson: Quando se trata de ter uma opinião sobre essa pandemia, conhecida tecnicamente como COVID-19 e informalmente como coronavírus, acho o pensamento dele incrivelmente útil. E estou empolgado por mergulhar nisso com você. Peço atenção especial dos meus amigos do Twitter que sugeriram várias perguntas. Sei que esse tópico está na mente de todos. Espero que este episódio nos dê uma visão mais detalhada para pensarmos sobre como essa pandemia se desenrolou até agora, o que ainda pode vir e o que podemos fazer a respeito, coletivamente. Vamos lá. (Música) Adam, bem-vindo ao The TED Interview. Adam Kucharski: Obrigado. CA: Vamos começar com o básico. A reação de muitas pessoas céticas, nas últimas semanas com certeza, talvez menos, agora, tem sido: "Ah, não é tudo isso, temos relativamente poucos casos, comparado com a gripe, com qualquer outra coisa. Temos problemas bem maiores no mundo. Por que tanto alvoroço quanto a isso?" E a resposta para isso se resume a cálculos. Falamos basicamente sobre cálculos de crescimento exponencial, certo? AK: Exato. Usamos um número para termos uma ideia da facilidade com que o vírus se espalha e o nível de transmissão com que estamos lidando. É o chamado "número de reprodução" que, conceitualmente, é: quantas pessoas são infectadas, em média, para cada caso. Isso nos dá uma ideia de como a infecção cresce, como vai ser esse crescimento. Para o coronavírus, vemos isso em diversos países, cada pessoa transmite, em média, para duas ou três outras. CA: Em relação ao número de reprodução, a primeira coisa é entender que qualquer valor acima de um significa que o surto vai aumentar. Qualquer valor abaixo de um quer dizer que vai diminuir. AK: Exato, se for acima de um, cada grupo de pessoas infectadas gera mais infecções do que havia antes. E veremos o efeito exponencial: se for dois, a cada ciclo dobraremos o número de infectados e, se for menor do que um, na média, vai diminuir. CA: Com um valor igual a dois ou maior, acho que todos conhecem a famosa história do tabuleiro de xadrez e os grãos de arroz: se dobrarmos o número de grãos em cada casa do tabuleiro, nas primeiras 10 ou 15 casas não acontece muita coisa, mas, na 64º casa, teremos toneladas de arroz para cada pessoa no planeta. O crescimento exponencial é algo incrível. E na verdade não devemos prestar atenção aos números baixos que temos agora, mas sim aos modelos do que está por vir. AK: Exato. Obviamente, se continuarmos com o crescimento exponencial, podemos chegar a números incrivelmente grandes. Mas, mesmo observando as projeções para daqui a um mês, se o número de reprodução for três, cada pessoa infecta três outras, na média, a diferença entre esse ciclos de infecção é de cerca de cinco dias. Então imagine que surja um caso agora, em um mês temos seis desses ciclos de cinco dias. Ao final do mês, essa pessoa pode ter gerado cerca de 729 casos. Então, mesmo em um mês, a escala de transmissão pode disparar, se não for controlada. CA: E isso parece acontecer na maioria dos números que analisamos agora, quando o vírus está nos estágios iniciais em um país. Você mostrou um modelo através do qual podemos entender mais claramente esse número de reprodução, e me parece que essa é a essência da forma como pensamos sobre o vírus, como reagimos a ele e o quanto devemos temê-lo. No seu raciocínio, você o separou em quatro componentes, que chamou de DOTS: Duração, Oportunidades, probabilidade de Transmissão e Suscetibilidade. Seria realmente útil explicar cada um deles, porque há uma equação bem simples que vincula esses quatro componentes ao número de reprodução. Fale sobre eles. Duração, o que isso significa? AK: Duração é o tempo pelo qual uma pessoa pode infectar outras. Intuitivamente, se uma pessoa pode infectar outra por um período maior, vamos dizer, duas vezes mais que outra, ela espalha a infecção pelo dobro do tempo. CA: E qual é a estimativa de duração desse vírus comparado com a gripe ou outros patógenos? AK: Depende um pouco do que acontece enquanto uma pessoa pode infectar outras. Se ela for isolada rapidamente, esse tempo diminui, mas consideramos que ela infecta outras por cerca de uma semana, antes de ser isolada no hospital. CA: E ela pode nem apresentar sintomas durante a semana inteira, certo? Uma pessoa é infectada, há um período de incubação. Durante esse período, ela passa a infectar outras, e pode haver um período posterior em que ela apresenta sintomas, e não está claro como essas datas se encaixam, certo? AK: Não, estamos buscando mais informação. Um dos sinais que vemos nos dados, que sugere que ocorre transmissão precoce, é o intervalo que há entre uma infecção e outra. Isso parece ser cerca de cinco dias. O período de incubação, o tempo para os sintomas aparecerem, também é de cinco dias. Se a maioria das pessoas infecta as outras quando está assintomática, temos o período de incubação mais o tempo em que elas infectam outras pessoas. O fato de esses valores parecerem similares sugere que algumas pessoas transmitem muito no início ou possivelmente antes de apresentarem sintomas claros. CA: Isso quase significa que, na média, as pessoas infectam outras tanto antes quanto depois de apresentarem sintomas. AK: Possivelmente. Obviamente são dados iniciais, mas há boas evidências de que um número considerável de pessoas, antes de apresentarem sintomas claros ou quando ainda não apresentam febre e tosse, mas se sentem mal, espalham vírus durante esse período. CA: Isso é bem diferente da gripe, por exemplo? AK: Na verdade, nesse aspecto, é similar à gripe. Uma das razões para a gripe pandêmica ser tão difícil de controlar e tão temida é porque muitas transmissões ocorrem antes de a pessoa estar seriamente doente. Ou seja, quando identificamos um caso, essa pessoa provavelmente já infectou inúmeras outras. CA: Esse é o truque deste vírus, e explica por que é tão difícil fazer algo a respeito. O vírus está adiante de nós o tempo todo, e não podemos simplesmente prestar atenção em como alguém se sente ou o que está fazendo. A propósito, como isso acontece? Como uma pessoa infecta outra antes mesmo de apresentar sintomas? Normalmente pensamos que uma pessoa espirra, gotículas se espalham pelo ar, outra pessoa as inala, e a infecção acontece. O que realmente acontece para infectar antes de apresentar sintomas? AK: O nível de transmissão desse vírus não é o mesmo, por exemplo, do sarampo, em que alguém espirra, muitos vírus são expelidos, e muitas pessoas suscetíveis podem ser expostas a eles. Logo no início, mesmo que os sintomas sejam bem leves, talvez um pouco de tosse, é suficiente para expelir alguns vírus, e parte do nosso trabalho foi tentar analisar reuniões íntimas, refeições em que as pessoas estão muito próximas, como em uma cabana, e, mesmo nessas situações, alguém pode estar levemente doente, mas espalhar vírus suficiente e, de alguma forma, expor os outros; ainda não sabemos exatamente como, mas isso é suficiente para causar infecção. CA: Mas se alguém está levemente doente, ainda não apresenta sintomas? Não há evidências de que, mesmo antes de saberem que estão doentes, algo esteja acontecendo? Um artigo alemão publicado esta semana sugere que, mesmo bem no início, se passarmos um cotonete no fundo da garganta de alguém, centenas de milhares desses vírus já estão se reproduzindo lá. É possível alguém estar respirando normalmente e transmitindo alguns vírus pelo ar, sem nem saber, que vão infectar as pessoas diretamente ou se instalar em superfícies? AK: Estamos tentando definir o quanto isso [inaudível]. Como você disse, há evidências de que pessoas sem sintomas podem estar com o vírus na garganta. Então, com certeza, ele pode ser exalado, mas será que esse é um evento muito raro para que a transmissão real ocorra ou vemos mais infecções ocorrerem dessa forma? São dados muito iniciais, essa é uma peça do quebra-cabeça, mas estamos tentando descobrir como se encaixa com o que sabemos sobre outros tipos de transmissão. CA: Certo, então duração é a duração do período de transmissão. Achamos que é de cinco a seis dias, certo? AK: Possivelmente uma semana, depende do que acontece às pessoas que estão no período infeccioso. CA: E há pessoas com teste positivo muito depois de serem infectadas. Pode ser verdade, mas provavelmente não infectavam tanto, na época. Está correto pensar assim? AK: Estamos trabalhando com essa teoria, de que grande parte da infecção ocorre no início. Vemos isso para várias infecções respiratórias, quando as pessoas ficam gravemente doentes, o comportamento delas é muito diferente de quando podem andar por aí normalmente. CA: E comparando esse número D com o de outros casos, como a gripe, eles são semelhantes? Qual é o número D da gripe? AK: Para a gripe provavelmente é um pouco menor em termos do período em que as pessoas transmitem ativamente o vírus. A gripe passa muito rápido de um caso para o outro, na verdade. Possivelmente cerca de três dias para infectar outra pessoa. No outro extremo da escala, temos coisas como as DSTs, em que a duração pode ser de vários meses. CA: Certo. Bem, realmente nada tão incomum até agora, em termos desse vírus em particular. Vamos olhar para o O, oportunidade. O que é isso? AK: Oportunidade mede quantas chances o vírus tem para se propagar através de interações no período infeccioso de uma pessoa. É uma medida típica de comportamento social. Quantos contatos sociais as pessoas fazem, em média, que criam oportunidades de transmissão durante o período infeccioso? CA: Então, é o número de pessoas das quais você se aproximou o suficiente, durante um determinado dia, para ter a chance de infectá-las. E esse número, em um ambiente urbano normal, se as pessoas não tomarem precauções, pode chegar a centenas? AK: É possível, para algumas pessoas. Fizemos vários estudos analisando isso nos últimos anos, e a média, em termos de contato físico, é de cerca de cinco pessoas por dia. A maioria das pessoas tem conversas ou contato com cerca de 10 a 15 pessoas, mas as saudações físicas variam muito em cada cultura. CA: E posso presumir que, para esse vírus, esse número não é diferente do que para qualquer outro. Essa é apenas uma característica da vida que vivemos. AK: Para esse número, se é afetado por esse tipo de interação, e já vimos isso para a gripe e outras infecções respiratórias, as interações físicas cotidianas e os contatos muito próximos parecem ser os mais importantes para a transmissão. CA: Talvez haja uma diferença. O fato de uma pessoa infectar outras antes de apresentar sintomas pode significar que nesse caso haja mais oportunidades. Isso faz parte da "personalidade" desse vírus, por assim dizer. Por não deixar transparecer que está em alguém, as pessoas continuam a interagir, a ir para o trabalho, a pegar o metrô e assim por diante, sem nem saber que estão doentes. AK: Exato. E no caso da gripe, quando as pessoas ficam claramente doentes, seus contatos sociais diminuem. Portanto, um vírus que pode ser infeccioso enquanto as pessoas vivem seu dia a dia, realmente tem uma vantagem em termos de transmissão. CA: Na sua modelagem, o número de oportunidades é maior que o da gripe? AK: No momento, usamos valores semelhantes, então tentamos observar, por exemplo, contatos físicos em diferentes populações. Mas estamos aumentando o risco. Então, chegamos ao termo T. Entre cada contato, qual o risco de ocorrer um evento de transmissão? CA: Tudo bem, vamos para o próximo número, a probabilidade de transmissão T. Como você define isso? AK: Esse número mede, basicamente, a chance de o vírus se espalhar durante uma oportunidade ou interação específica. Pode-se ter uma conversa com alguém sem tossir ou espirrar ou na qual, por algum motivo, o vírus não se espalha e não expõe a outra pessoa. Como mencionei, digamos que as pessoas têm dez conversas por dia, mas não vemos uma pessoa infectar dez outras por dia com este vírus. Isso sugere que nem todas essas oportunidades resultam na disseminação do vírus. CA: Mas dizem que é um vírus infeccioso. Como é esse número de probabilidade de transmissão comparado, por exemplo, com o da gripe? AK: Em algumas análises observamos as interações muito próximas. Analisamos cerca de dez estudos de caso diferentes e descobrimos que um terço desses contatos foram infectados no estágio inicial, quando as pessoas não sabiam que estavam doentes. Portanto, nessas refeições em grandes grupos, cada contato teria, potencialmente, cerca de uma chance em três de ser exposto. Para a gripe sazonal, que tende a ser um pouco menor, mesmo em residências e ambientes fechados, os números não são necessariamente tão altos. Mesmo para a SARS, o risco por interação era menor do que constatamos para o coronavírus. O que intuitivamente faz sentido, deve haver um risco maior por interação, se ele se espalha tão facilmente. Certo, e a quarta letra do DOTS é o S, de suscetibilidade. O que é isso? AK: Essa é a medida da proporção da população suscetível ao vírus. Imagine que ocorrem interações, um vírus se espalha, pessoas são expostas a ele, mas algumas pessoas podem ter sido vacinadas ou ter alguma imunidade e não desenvolvem a infecção nem infectam outras pessoas. Portanto, temos que levar em conta essa potencial proporção de pessoas que não se transformam em casos. CA: Obviamente, ainda não há vacina para o coronavírus, e, pelo menos até onde sabemos, inicialmente ninguém está imune. Você está modelando um valor bem alto para esse número de suscetibilidade, isso é parte do problema? AK: Sim, a evidência é de que populações são totalmente suscetíveis, e, mesmo em áreas como a China, por exemplo, onde houve muita transmissão, mas houve medidas de controle muito fortes, estimamos que, ao final de janeiro, cerca de 95% da população de Wuhan ainda era suscetível ao vírus. Portanto, houve muita infecção, mas isso não afetou muito o DOTS, os quatro componentes que impulsionam a transmissão. CA: O modo como o cálculo funciona, devo confessar que, em meio ao estresse de toda essa situação, meu lado nerd ama a elegância da matemática, nunca pensei nisso dessa forma, mas basicamente multiplicamos esses números para obter o número de reprodução. É isso? AK: Sim, praticamente trilhamos o caminho da infecção durante a transmissão ao multiplicar esses números, e obtemos o número de reprodução do vírus. CA: E isso é muito lógico. É o número de dias em que você pode infectar outras pessoas, e o número de pessoas, em média, que você tem oportunidade de infectar durante esses dias. Multiplicamos isso pela probabilidade de transmissão, ou seja, a probabilidade de o vírus se instalar nessas pessoas, como disse. E então multiplicar pelo número de suscetibilidade. Nesse caso, qual você acha que é a probabilidade de suscetibilidade? AK: Podemos assumir que é de quase 100% em termos de propagação. CA: Certo, multiplicamos esses números e, hoje, para o coronavírus, dois a três é o número mais plausível, e significa um crescimento muito rápido. AK: Exato, nesses surtos não controlados, e vemos vários países neste estágio, esse crescimento realmente é rápido. CA: E como essa estimativa de dois a três se compara à gripe? A gripe sazonal deve ter uma estimativa, quando se espalha no inverno, que cai bem abaixo de um em outras épocas do ano, para o número de reprodução. Mas qual é a estimativa durante o período de gripe sazonal? AK: No início da temporada da gripe, provavelmente acharemos algo entre 1,2 e 1,4. Não é incrivelmente transmissível, se imaginarmos que a população tem alguma imunidade pela vacinação e outras coisas. Portanto, pode se espalhar, está acima de um, mas não necessariamente dispara tão rapidamente quanto o coronavírus. CA: Quero voltar a dois desses elementos, a oportunidade e a probabilidade de transmissão, porque eles parecem ter mais chance de realmente agir sobre a taxa de infecção. Antes disso, vamos falar sobre outro número-chave, que é a taxa de mortalidade. Antes de tudo, há duas versões diferentes da taxa de mortalidade que talvez confundam as pessoas. Você poderia defini-las? AK: O que é frequentemente conhecido como taxa de mortalidade é a proporção dos casos com sintomas que se tornam fatais. Às vezes também falamos sobre a taxa de mortalidade da infecção, ou seja, de todos os infectados, independentemente dos sintomas, quantos se tornarão fatais. Mas a maioria dos valores que vemos é a taxa de mortalidade de casos. CA: Então, qual é a taxa de mortalidade deste vírus e, novamente, como isso se compara a outros patógenos? AK: Alguns números estão surgindo. Um dos desafios em tempo real é que muitas vezes não vemos todos os casos, há pessoas sintomáticas que não são reportadas. E também há um atraso. Por exemplo, se 100 pessoas compareceram a um hospital com coronavírus e nenhuma morreu ainda, não significa que a taxa de mortalidade é zero; precisamos esperar pelo que vai acontecer a elas. Quando ajustamos a subnotificação e o atraso, a melhor estimativa para a mortalidade dos casos é de cerca de 1%. Portanto, em média, cerca de 1% das pessoas com sintomas têm um resultado fatal. E isso deve ser dez vezes pior que a gripe sazonal. CA: É uma comparação assustadora dado o número de pessoas que morrem de gripe. Quando a Organização Mundial da Saúde mencionou um número mais alto, de 3,4%, há pouco tempo, foi criticada. Explique por que isso pode ter desorientado as pessoas, e como pensar e se ajustar a isso. AK: É muito comum as pessoas olharem esses números brutos, analisarem quantos casos e quantas mortes temos até agora, e considerarem essa proporção. Mesmo há algumas semanas, esse número era 2%. Mas, se considerarmos o efeito do atraso, mesmo que não surjam novos casos, ainda ocorrerão resultados fatais ao longo do tempo, que podem aumentar esse número. Isso ocorreu em todas as epidemias, da gripe pandêmica ao Ebola, vemos isso constantemente. Alertei várias pessoas de que esse número aumentará, à medida que os casos na China diminuírem, parecerá que estão aumentando, mas é só uma particularidade estatística. Não há nada por trás disso, não estão ocorrendo mutações ou algo assim. CA: Se entendi bem, há dois efeitos em andamento. Um é que o número de mortes dos casos existentes aumentará, o que na verdade elevará ainda mais esses 3,4%. Mas devemos compensar isso com o fato de que, aparentemente, um grande número de casos passou despercebido e, devido a falhas na testagem, o número de mortes provavelmente reflete um número prévio de casos muito maior, certo? AK: Exato, temos algo que eleva esse número e algo que o diminui. Significa que, se as estimativas iniciais só forem ajustadas em relação ao atraso sem pensarmos nos casos não relatados, começamos a ter números realmente muito assustadores. Podemos chegar a 20%, 30%, o que realmente não se enquadra no que sabemos sobre esse vírus em geral. CA: Certo. Há muito mais dados agora. Do seu ponto de vista, a taxa de mortalidade provável, pelo menos no estágio inicial de uma infecção, é de cerca de 2%? AK: No geral, podemos pensar em algo na faixa de 0,5% a 2%, e isso está em vários conjuntos de dados diferentes. Isso para pessoas que apresentam sintomas. Em média, 1% é um bom número para se trabalhar. CA: Certo, 1%. Para a gripe, costuma ser 0,1%, então, essa doença é de cinco a dez vezes mais perigosa que a gripe. E esse perigo não é simétrico entre as faixas etárias, como se sabe. Afeta principalmente os idosos. AK: Sim, na média é 1%, mas, para pessoas com mais de 60, 70, esse número realmente dispara. Estimamos que nos grupos de maior faixa etária haja 5%, talvez 10% de mortalidade. Além disso, claro, precisamos considerar os casos graves e as pessoas que precisarão de hospitalização. E esses riscos aumentam muito nos grupos de maior faixa etária. CA: Adam, junte esses números para nós. Nos seus modelos, se você considerar uma taxa de reprodução de 2% a 3% e uma taxa de mortalidade de 0,5% a 1% e executar a simulação, como ela será? AK: Se temos uma transmissão descontrolada e número de reprodução de 2% ou 3% e não fazemos nada a respeito, a única maneira de o surto terminar é com um número suficiente de pessoas contraindo a doença, a imunidade geral aumenta, e o surto acabar por conta própria. Nesse caso, espera-se que uma parcela muito grande da população seja infectada. É o que vemos em muitos outros surtos não contidos, que basicamente se espalham pela população, e um grande número de pessoas são infectadas. Com taxas de mortalidade e de hospitalização como essas, seria realmente muito prejudicial se isso ocorresse. Nacionalmente, e a Itália é um bom exemplo no momento, se temos uma transmissão inicial não detectada e um crescimento tão rápido, o sistema de saúde rapidamente fica sobrecarregado. Um dos aspectos mais desagradáveis deste vírus é que, por haver esse tempo entre a infecção, os sintomas e o comparecimento das pessoas às unidades de saúde, se o sistema de saúde está sobrecarregado, mesmo que se interrompa completamente a transmissão, já temos todas as pessoas que foram expostas, então ainda aparecerão casos, e alguns deles graves, por mais algumas semanas. Esse enorme acúmulo de infecções e sobrecarga acaba atingindo a população através do sistema de saúde. CA: Então, na verdade, há outro número-chave: como se relaciona o número total de casos à capacidade do sistema de saúde de um país para processar todos eles? Isso deve fazer uma enorme diferença na taxa de mortalidade, pessoas chegando com uma doença grave em um sistema de saúde capaz de atender ou em um sobrecarregado. A taxa de mortalidade será muito diferente nesse aspecto. AK: Se alguém precisar um leito de UTI, vai ocupá-lo por algumas semanas e há mais casos entrando no sistema, então a situação fica muito difícil rapidamente. CA: Fale sobre a diferença entre contenção e mitigação. São termos diferentes sobre os quais temos ouvido falar muito. Nos estágios iniciais do vírus, os governos estão focando a contenção. O que isso significa? AK: Contenção é a ideia de que podemos concentrar os esforços no controle dos casos e de seus contatos. Isso não causa perturbações para a população em geral: temos um caso, que será isolado, descobrimos com quem ele teve contato, quais foram as possíveis oportunidades de exposição e podemos acompanhar essa pessoa, colocá-la em quarentena para garantir que não ocorram transmissões adicionais. É um método muito focado e direcionado que funcionou muito bem para o SARS. Mas acho que, para esta infecção, como alguns casos não serão detectados, devemos realmente testar um grande número de pessoas em risco. Mas se alguns poucos escaparem dessa rede, possivelmente teremos um surto. CA: Algum país foi capaz de empregar essa estratégia e efetivamente conter o vírus? AK: Singapura tem feito um trabalho realmente notável nas últimas seis semanas. Além de algumas medidas mais amplas, eles fazem um trabalho incrível para rastrear quem teve contato com pessoas infectadas. Analisando imagens de CFTV, descobrindo qual táxi alguém pegou, quem pode estar em risco, um acompanhamento realmente completo. E por cerca de seis semanas, isso impediu a transmissão. CA: Isso é incrível. Então, alguém entra no país, tem resultado positivo no teste, eles vão a campo, com uma equipe enorme, e rastreiam tudo a ponto de dizer: "Não sabe qual táxi pegou? Vamos descobrir". E quando encontram o motorista do táxi, precisam tentar descobrir todos os outros que estiveram naquele táxi? AK: Eles se concentram nos contatos próximos das pessoas em maior risco, mas realmente diminuem a chance de alguém escapar dessa rede. CA: Mas mesmo em Singapura, se não me engano, os números começaram a se aproximar de zero, mas, recentemente, voltaram a aumentar um pouco. Ainda não está claro se eles realmente serão capazes de sustentar a contenção. AK: Exato. Vimos o número de reprodução cair para 0,8, 0,9, talvez, portanto abaixo da taxa crucial de um. Mas, na última semana ou duas, ele parece ter aumentado, e eles estão tendo mais casos. Mesmo que estejam contendo o vírus, acho que o mundo está passando por surtos e continua jogando faíscas de infecção, e fica cada vez mais difícil acabar com todas elas com esse nível de esforço intensivo. (Música) CA: No caso deste vírus, a maioria dos países foi alertada de que isso estava acontecendo. As notícias vindas da China rapidamente se tornaram muito sombrias e as pessoas tiveram tempo de se preparar. Como seria a preparação ideal sabendo que algo assim está por vir e que há muita coisa em jogo se conseguir contê-la com sucesso antes que ela realmente fuja do controle? AK: Acho que duas coisas fariam uma diferença enorme. Uma é ter um acompanhamento e detecção o mais meticuloso possível. Fizemos alguns modelos analisando a eficácia desse tipo de contenção inicial. E pode ser eficaz, se forem identificadas 70% ou 80% das pessoas que podem ter entrado em contato com o vírus. Mas, se não detectar os casos novos e os contatos deles, e no início o foco principal estava no histórico de viagens para a China, depois ficou claro que a situação estava mudando, mas como confiavam nisso como definição de caso, muitos outros casos que correspondiam à definição não foram testados porque não pareciam estar potencialmente em risco. CA: Então, se sabemos que detecção precoce é a chave, uma medida inicial essencial é garantir rapidamente que se tenha testes suficientes disponíveis onde forem necessários, para que se possa reagir, estar pronto para entrar em ação assim que alguém for detectado, e muito rapidamente testar os contatos dele e assim por diante, para ter uma chance de manter isso sob controle. AK: Exatamente. Minha linha de trabalho é de que há valor em um teste negativo, porque mostra que algo que procuramos não está lá. Portanto, um pequeno número de pessoas testadas não garante que não estamos deixando casos passarem, mas, se acompanharmos minuciosamente os contatos, como já vimos na Coreia, um grande número de pessoas é testada. Portanto, embora ainda apareçam casos, isso garante que eles têm uma ideia de onde estão essas infecções. CA: Você está no Reino Unido agora, eu estou nos EUA. Qual é a probabilidade de tanto o Reino Unido quanto os EUA conseguirem conter isso? AK: Acho bastante improvável, nos dois casos. Acho que o Reino Unido terá de introduzir algumas medidas adicionais. O momento para isso, obviamente, depende um pouco da situação atual, mas já testamos quase 30 mil pessoas. Acho que os EUA passarão desse número, dada a quantidade de evidências de haver transmissão extensiva, e, sem ter uma ideia clara do número de infectados e sem esse nível de testes, é muito difícil realmente saber qual é o quadro atual nos EUA. CA: Não quero levar isso para a política, mas você não se impressiona... o Reino Unido testou 30 mil pessoas, os EUA são 5 ou 6 vezes maior e o número total de testes aqui era de 5 mil ou 6 mil há alguns dias. Isso te parece bizarro? Sinceramente, não entendo como isso aconteceu em um país letrado, com tanto conhecimento sobre doenças infecciosas. AK: Sim, e obviamente há vários fatores envolvidos, logística e outros, mas houve um período de alerta de que é uma ameaça e está chegando. Os países precisam garantir que são capazes de detectar o máximo possível de casos nos estágios iniciais, porque é quando vão identificá-los e terão uma chance melhor de contê-los. CA: Se não conseguirmos contê-los, precisaremos mudar para alguma estratégia de mitigação. O que entra em jogo daí? E quero relembrar dois dos fatores DOTS: oportunidade e probabilidade de transmissão, pois o vírus é isso mesmo, e não há muito a fazer quanto ao período em que alguém pode infectar outros. Em relação à suscetibilidade, não podemos fazer muito até haver uma vacina. Podemos falar sobre isso daqui a pouco. Mas em relação à oportunidade e probabilidade de transmissão, podemos fazer algo. Talvez você queira falar sobre isso, ou sobre como criar uma estratégia de mitigação? Pensando primeiro em oportunidade, como reduzir o número de oportunidades de transmissão do vírus? AK: Para isso precisa haver uma mudança enorme em nossas interações sociais. Considerando um número de reprodução por volta de dois ou três, realmente precisamos cortar alguns aspectos dessa transmissão pela metade ou em dois terços para que ele fique abaixo de um. Para isso é preciso que todas as oportunidades de espalhar o vírus, os contatos próximos, sejam reduzidas, por toda a população, em dois terços, em média, para controlar o surto. Pode ser através do trabalho em casa, da mudança de estilo de vida, se você vai a lugares e jantares lotados. E, claro, medidas como fechamento de escolas e outras que tentam reduzir os contatos sociais de uma população. CA: Fale mais sobre o fechamento de escolas, porque, se bem me lembro, isso foi citado muitas vezes em pandemias passadas como uma medida absolutamente essencial, que as escolas representam esse tipo de reunião de pessoas, quando se trata de gripes e resfriados, as crianças são portadoras do vírus. Mas as crianças não parecem ficar doentes com este vírus em particular, ou pelo menos muito poucas. Elas podem transmitir o vírus? Podem ser portadoras não intencionais dele? Ou, de fato, há evidências de que o fechamento das escolas pode não ser tão importante neste caso quanto em outros? AK: A questão do papel das crianças é crucial, e ainda não há uma boa base de evidências. A partir do acompanhamento dos contatos dos casos, não há evidências de que crianças sejam infectadas; elas são expostas e, quando as testamos, não é que não estejam infectadas, mas não apresentam sintomas da mesma maneira. Especialmente para a gripe, ao analisar as implicações do fechamento das escolas: no Reino Unido, em 2009, durante a gripe suína, houve um declínio no surto durante as férias escolares, pode-se ver na curva da epidemia: ela cai no verão e sobe no outono. Mas, em 2009, havia alguma imunidade nas faixas etárias maiores. Isso levou a transmissão para os mais jovens. Estamos tentando entender isso. O fechamento das escolas reduz as interações, mas traz efeitos sociais indiretos, podendo afetar avós no papel de cuidadores alternativos, se os pais têm que trabalhar. Há muitas peças a considerar. CA: Com base em todas as diferentes evidências que você analisou, se dependesse de você, recomendaria que neste momento a maioria dos países analisasse com atenção o fechamento geral das escolas como medida de precaução? Vale a pena fazer isso como uma estratégia dolorosa de dois, três, quatro, cinco meses? O que você recomendaria? AK: O principal, dada a distribuição etária do risco e a gravidade nos grupos mais velhos, é reduzir as interações que trazem a infecção para esses grupos. Depois reduzir as interações entre todas as pessoas o máximo possível. O principal é que a carga da doença está tão localizada no grupo de mais de 60 anos que não se trata apenas de todos tentarem evitar todas as interações, mas de evitar os comportamentos que levam as infecções a esses grupos. CA: Isso significa que as pessoas deveriam pensar duas vezes antes de visitar um ente querido em clínicas ou lares para idosos? Devemos prestar uma atenção muito especial a isso, essas instalações devem tomar muito cuidado com quem elas admitem, verificando temperatura e sintomas ou algo assim? AK: Essas medidas definitivamente devem ser consideradas. No Reino Unido, estamos planejando uma estratégia chamada de "encasulamento" para os grupos de mais idade, na qual podemos realmente tentar isolar o máximo possível as interações de pessoas que podem transmitir o vírus. Basicamente, como você disse, não podemos atacar outros aspectos da transmissão, apenas reduzir o risco de exposição desses grupos, então qualquer coisa que se possa fazer individualmente para reduzir o risco de cada pessoa, seja ela idosa ou de outro grupo de risco, é crucial. No âmbito geral, essas medidas em larga escala podem ajudar a reduzir as interações em geral, mas se essas reduções acontecerem sem reduzir o risco das pessoas que sofrerão doenças graves, essa carga incrivelmente pesada se manterá. CA: As pessoas precisam aplicar essa lente dupla ao pensar essas questões? Ao seguir com sua vida, o risco é você se infectar, pegar esse vírus. Mas também há o risco de, sem querer, ser portador para alguém que sofrerá muito mais do que você. E precisamos ter essas duas coisas em mente. AK: Sim, não é só a mão de quem você aperta, é a mão de quem a outra pessoa vai apertar. E precisamos pensar nessas etapas secundárias: você pode achar que tem risco baixo e que faz parte de um grupo mais jovem, mas muitas vezes estará a uma distância muito curta de alguém que vai ser atingido fortemente por isso. Precisamos ter uma atitude social e isso pode ser muito dramático em termos de mudança de comportamento, mas é preciso reduzir o impacto que potencialmente enfrentamos. CA: Então, só podemos reduzir o número de oportunidades se reduzirmos o número de contatos físicos que temos com outras pessoas. E como diminuir a probabilidade de transmissão? Ela afeta a forma como interagimos. Você mencionou aperto de mão, imagino que dirá para não apertarmos as mãos. AK: Sim, mudanças como essa. Outra é a lavagem das mãos; podemos realizar as mesmas atividades de antes, mas ao lavar as mãos reduzimos a chance de espalhar a infecção de uma interação para outra, então todas essas medidas significam que, mesmo ocorrendo exposições, estamos tomando medidas adicionais para evitar que ocorra alguma transmissão. CA: A maioria das pessoas não entende completamente ou não tem um modelo claro sobre o modo pelo qual esse vírus se espalha. Você acha que as pessoas realmente entendem que não inalamos as gotículas de alguém que tossiu ou espirrou. Então, como isso se espalha? Ele fica em superfícies. Como? Uma pessoa doente simplesmente expira, toca a boca ou algo assim, depois toca uma superfície, e ela fica contaminada? Como o vírus chega às superfícies? AK: Muito pelo fato de a pessoa tossir na mão e tocar na superfície. Mas o desafio, obviamente, é desvendar as questões sobre como a transmissão acontece. Há transmissão numa família quando alguém tosse e o vírus vai para uma superfície, pelo contato direto, por um aperto de mão, e, mesmo para a gripe, trabalhamos duro para tentar entender essas coisas, qual a relação entre risco de infecção e comportamento social. Porque isso é visivelmente importante, mas realmente difícil de determinar. CA: É quase como aceitar o fato de que, na verdade, não sabemos muitas dessas coisas, e que estamos todos nesse jogo de probabilidades. Por isso a matemática é tão importante aqui. Pensar em como cada um desses números, trabalhando em conjunto, tem um papel a desempenhar. E qualquer um cuja porcentagem você puder diminuir, provavelmente contribui, não só para você, mas para todos. As pessoas não sabem em detalhes como os números se combinam, mas sabem que provavelmente todos eles importam. Precisamos que, de alguma forma, elas aceitem essa incerteza e tenham satisfação ao agir sobre cada um deles. AK: A ideia de que infectar três pessoas, em média, leva a essa situação, e como cada um pode reduzir essa taxa. Se lavarmos as mãos, quanto isso reduz, em termos de apertos de mão? O vírus poderia estar em você, mas não está mais, ou se de alguma forma você muda seu comportamento social isso evita algumas interações, a metade? Como você pode realmente intervir nesse número o máximo possível? CA: Há mais alguma coisa a dizer sobre como podemos reduzir essa probabilidade de transmissão em nossas interações? Qual distância física é aconselhável manter das outras pessoas, se possível? AK: Acho difícil definir exatamente, mas algo a se ter em mente é que não há muitas evidências de que esse vírus seja como um aerossol e que vá muito longe, são distâncias razoavelmente curtas. Não acho que, sentado a poucos metros de alguém, o vírus possa te alcançar. É em interações mais próximas e por isso vemos tantos eventos de transmissão ocorrerem em coisas como refeições e grupos muito unidos. É aí que um vírus pode ir parar nas superfícies, nas mãos e no rosto, é realmente nessas situações que precisamos pensar mais. CA: Então, de certa forma, alguns medos das pessoas podem ser superestimados, por exemplo, se você estiver no meio de um avião e alguém na frente espirra, isso incomoda, mas na verdade não é isso que deveria assustá-lo mais. Existem maneiras muito mais inteligentes de prestar atenção ao seu bem-estar. AK: Sim, se fosse sarampo, e as pessoas no avião fossem suscetíveis, teríamos muitas infecções depois disso. Lembre-se, em média, uma pessoa infecta outras duas ou três, então talvez nem todas as 50 pessoas com que você interagiu ao longo da semana estejam em risco. Mas algumas delas, especialmente os contatos próximos, é com esses que a transmissão ocorre. CA: Do ponto de vista de uma estratégia nacional, fala-se muito sobre a necessidade de "achatar a curva". O que isso significa? AK: Isso se refere à ideia de os casos não chegarem todos ao mesmo tempo no sistema de saúde. Se nos acomodarmos, não fizermos nada e apenas deixarmos a epidemia crescer, com uma taxa de crescimento que, hoje, em alguns lugares, faz a epidemia duplicar a cada três ou quatro dias, ela vai disparar e vamos ter doentes, em estado grave, todos precisando ao mesmo tempo de cuidados hospitalares, e não teremos capacidade para isso. A ideia de achatar a curva é: se reduzirmos a transmissão e o número de reprodução, ainda pode haver um surto, mas será muito mais plano, mais longo, e aparecerão menos casos graves que podem receber os cuidados de saúde que precisam. CA: Isso significa que haverá menos casos no geral? Quando analisamos gráficos com imagens reais do achatamento da curva, parece que a área abaixo da linha é a mesma, isto é, o número de pessoas infectadas é o mesmo, mas em um período mais longo. Tipicamente é isso que acontece, e mesmo se adotarmos todas as estratégias de distanciamento social, lavarmos as mãos, etc., o melhor que podemos esperar é diminuir a velocidade, e acabaremos com o mesmo número de pessoas infectadas? AK: Não necessariamente, depende das medidas adotadas. Existem algumas medidas, como interromper viagens, que normalmente atrasam a propagação em vez de reduzi-la. Então, ainda teremos os mesmos surtos, mas sua duração será mais longa. Mas existem outras medidas. Se reduzirmos as interações, se o número de reprodução for menor, esperara-se menos casos no geral. E, por fim, teremos algum acúmulo de imunidade na população, o que ajuda, se pensarmos nos componentes da fórmula, reduzindo a suscetibilidade, além do que acontece em outros lugares. Portanto, a esperança é que as duas coisas trabalhem juntas. CA: Me ajude a entender como isso termina. A China, por exemplo. Qualquer coisa que pensarmos sobre a supressão inicial de dados e o que ocorreu depois é muito preocupante. A resposta mais intensa veio em janeiro, com a paralisação de uma imensa área do país, o que parece ter sido de fato eficaz. O número de casos está caindo em uma taxa impressionantemente alta. Caindo para quase nada. Não consigo entender isso. É um país com 1,4 bilhão de pessoas. Houve um grande número de casos por lá, mas uma pequena fração da população ficou realmente doente. E ainda assim os números caíram. Não é como se todos na China tivessem desenvolvido alguma imunidade. Será que eles foram absolutamente disciplinados quanto a interromper as viagens para as regiões infectadas e, de alguma forma, realmente investir nos testes massivamente para que, ao sinal de qualquer problema, voltassem ao modo de contenção na maior parte da China? Não consigo entender, me ajude. AK: Nas duas últimas semanas de janeiro, quando essas medidas foram implementadas, estima-se que o número de reprodução passou de 2,4 para 1,1. Portanto, a transmissão caiu cerca de 60% no espaço de uma semana ou duas. É notável e, na verdade, muito disso parece ter sido impulsionado apenas por mudanças fundamentais no comportamento social: enorme distanciamento social, acompanhamento e testes realmente intensivos. O número de reprodução reduziu o bastante para causar o declínio da curva e agora vemos, em muitas áreas, uma volta para a contenção, porque há poucos casos, a situação é mais gerenciável. Mas vemos que eles enfrentam um desafio, porque muitas dessas cidades estão bloqueadas há seis semanas e há um limite do tempo em que podem ser mantidas assim. Portanto, algumas dessas medidas são gradualmente revogadas, o que cria o risco de que casos vindos de outros países possam reintroduzir a transmissão. CA: Mas, considerando o quão infeccioso é o vírus e quantas vias e pontos de conexão existem, teoricamente, entre as pessoas em Wuhan, mesmo durante o bloqueio ou em bloqueio relativo, ou entre outros lugares onde houve alguma infecção, e o resto do país, você se surpreende com a rapidez com que a curva caiu para quase zero? AK: Sim. Bem no início, quando vimos o achatamento dos casos nos perguntamos se eles tinham um limite na capacidade de testes e estavam relatando mil casos por dia por ser esse o número de kits que tinham. Mas felizmente continuou assim, mostrando que é possível reverter o quadro com esse nível de intervenção. O principal agora é ver como isso funciona em outras configurações. A Itália está realizando intervenções realmente dramáticas. Mas claro que, devido ao efeito do atraso, ao adotá-las hoje, deve levar uma semana ou duas até os resultados aparecerem. Descobrir o impacto dessas medidas será fundamental para ajudar outros países a trabalharem para conter o vírus. CA: Para termos uma ideia, Adam, de como serão os próximos dois meses, fale-nos sobre alguns cenários que você tem em mente. AK: Num cenário otimista, vamos aprender muito com lugares como a Itália, que, infelizmente foram muito atingidos. Os países levarão isso muito a sério e não teremos esse crescimento contínuo com essa enorme sobrecarga, seremos capazes de desacelerá-lo o suficiente. Teremos muitos casos, provavelmente muitos deles serão graves, mas isso será mais gerenciável; esse é um cenário otimista. Se os países não levarem isso a sério ou a população não responder bem às medidas de controle ou os casos não forem detectados, poderemos ter situações, e o Irã provavelmente está mais próximo disso, no momento, em que haja ampla transmissão generalizada e, quando a reação ocorrer, essas infecções já estarão no sistema e se tornarão casos e doenças graves. Espero que não seja nosso caso, mas cerca de dez países, no momento, podem estar a caminho da mesma situação que a Itália. Portanto, o que acontecer nas próximas semanas é realmente crucial. CA: Existe uma chance real de que alguns países tenham, este ano, muito mais mortes por este vírus do que pela gripe sazonal? AK: Em alguns países é provável, sim, se o controle não for possível, e vimos isso acontecer na China, mas lá o nível de intervenção não tinha precedentes. Realmente mudou o tecido social. Num primeiro momento, as pessoas não aceitam exatamente o que significa reduzir suas interações nessa extensão. Muitos países simplesmente não conseguirão gerenciar isso. CA: É quase um desafio para as democracias, não é? "Muito bem, mostrem o que podem fazer sem esse controle draconiano. Se não gostam desse pensamento, vamos lá, cidadãos, mexam-se, mostrem do que são capazes, que podem ser sábios, inteligentes e disciplinados, e se adiantem ao maldito vírus". AK: Sim. CA: Pessoalmente, não sou superotimista quanto a isso, porque há muitas mensagens conflitantes vindas de inúmeros lugares diferentes, e as pessoas não gostam de sacrifícios a curto prazo. É quase um caso em que... Na sua opinião, o papel da mídia tem sido útil, neste caso, ou não? É realmente útil, de alguma forma, exagerar a preocupação, o medo e fazer as pessoas entrarem um pouco em pânico? AK: É um equilíbrio muito difícil de encontrar, porque, no início, sem nenhum caso, sem nenhuma evidência de possível pressão, é muito difícil convencer as pessoas a levarem essa mensagem a sério, se não exagerar. Mas se esperar demais, se disser que ainda não é uma preocupação, que no momento está tudo bem, muitos vão pensar que é só uma gripe. Quando o surto vier com força, o sistema de saúde ficará sobrecarregado por semanas, porque, mesmo que se faça intervenções, é tarde demais para controlar as infecções que já ocorreram. É uma linha tênue, e minha esperança é que a comunicação aumente; hoje as pessoas têm exemplos tangíveis como a Itália, e podem ver o que vai acontecer se não levarem a sério. Mas, certamente, de todas as doenças que vi, e vários colegas que são muito mais velhos do que eu e têm memórias de outros surtos, é a coisa mais assustadora que vimos em termos do impacto que pode ter, e precisamos responder a isso. CA: A coisa mais assustadora que já viram. Uau. Tenho algumas perguntas dos meus amigos no Twitter. Todos estão bem por dentro deste tópico. Hipoteticamente, se todos ficassem em casa por três semanas, o surto efetivamente acabaria? Existe um modo de nos distanciarmos socialmente disso? AK: Sim, em países com famílias relativamente pequenas, no Reino Unido e nos EUA, são cerca de 2,5 pessoas, mesmo havendo uma rodada de infecção na família, ela provavelmente acabaria. Como benefício secundário, outras infecções também podem ser eliminadas. O sarampo circula apenas em humanos, então pode haver algum efeito indireto, se isso for possível, claro. CA: Obviamente, isso seria um grande problema para a economia, e um dos desafios inerentes é que não se pode otimizar as políticas públicas tanto para a saúde econômica como para o combate a um vírus. De certa forma, são coisas conflitantes, pelo menos o combate ao vírus e a saúde econômica a curto prazo. Essas situações estão em conflito, certo? E as sociedades precisam escolher uma. AK: É difícil convencer as pessoas desse equilíbrio, o que sempre dizemos sobre planejamento pandêmico é que colocá-lo em prática agora é barato, caso contrário, pagaremos por isso mais tarde. Infelizmente, como vimos, não houve muito dinheiro para a resposta imediata. E parece que só quando há um impacto e fica caro as pessoas aceitam esse custo. CA: Mais algumas perguntas no Twitter. O aumento da temperatura nos EUA nas próximas semanas e meses diminuirá a propagação do COVID-19? AK: Não vi nenhuma evidência convincente de que exista relação forte com a temperatura; vemos essa relação em outras infecções, mas o fato de serem surtos generalizados dificulta a identificação e, claro, há outras coisas acontecendo. Mesmo que um país não tenha um surto tão grande quanto outro, ele será influenciado por medidas de controle, comportamento social, oportunidades e coisas assim. Portanto, seria realmente reconfortante se fosse assim, mas não podemos dizer isso ainda. CA: Ainda do Twitter, existe uma recomendação global padrão para todos os países sobre como fazer isso? E, se não, por que não? AK: É isso que as pessoas estão tentando reunir, primeiro em termos do que funciona. Apenas nas últimas semanas tivemos a sensação de que isso pode ser controlado com esse nível de intervenções, mas claro que nem todos os países podem fazer o que a China fez, algumas dessas medidas têm uma carga social, econômica e psicológica enorme na população. E, claro, há o limite do tempo. Na China mantiveram por seis semanas, isso é difícil de sustentar; portanto, precisamos pensar nas trocas que podemos pedir que as pessoas façam, quais terão maior impacto na redução dessa carga. CA: Outra pergunta: como isso aconteceu, e é provável que ocorra novamente? AK: É provável que isso tenha se originado com o vírus que circulava em morcegos e que, provavelmente, passou para outras espécies, e de alguma forma chegou aos humanos; há muitas evidências disso, não há uma história única e clara, mas até para a SARS, a genômica precisou de vários anos para entender a rota exata da transmissão. Mas, certamente, acho plausível que isso aconteça novamente. A natureza dissemina vírus constantemente. Muitos deles não são bem adaptados aos seres humanos, não nos infectam, pode ter havido um desses vírus há alguns anos que infectou alguém que simplesmente não tinha nenhum contato e o vírus não foi adiante. Vamos enfrentar situações assim e precisamos pensar em como podemos nos antecipar ao ponto de ter um pequeno número de casos, e mesmo algo assim possa ser contido, em vez de chegar à situação que temos agora. CA: Parece que não é a primeira vez que um vírus surgiu de um mercado de carne de animais silvestres. Certamente é assim que acontece nos filmes. A China já tomou algumas medidas desta vez para tentar reprimir isso. Para o futuro, pode ser uma boa abordagem manter isso de forma adequada. AK: É sim, e nos últimos anos, por exemplo em 2013, vimos que a gripe aviária H7N9 emergiu como uma grande preocupação, e a China deu uma resposta muito extensa em termos de mudar a forma como operam seus mercados e a vacinação de aves, e parece ter removido essa ameaça. Então, essas medidas podem ser eficazes se forem identificadas cedo. CA: Fale sobre vacinas. Acho que essa é a medida-chave para alterar o fator de suscetibilidade de sua equação. Obviamente, existe uma corrida para obter essas vacinas, existem algumas candidatas. Como você vê isso? AK: Certamente há pesquisas promissoras acontecendo, mas há um prazo de cerca de 1 ano ou 18 meses até estarem amplamente disponíveis. Uma vacina precisa passar por testes, isso leva tempo, portanto, mesmo que até o final do ano tenhamos algo viável e que funcione, ainda haverá um tempo até podermos nos apegar a isso. CA: Isso realmente me intriga, e adoraria que você respondesse sobre isso como matemático. Várias empresas já acreditam ter possíveis vacinas candidatas. Como você diz, o processo de teste leva uma eternidade. É possível não estarmos pensando corretamente sobre isso, quando analisamos como os testes e os cálculos de segurança são feitos? Porque uma coisa é introduzir um medicamento novo ou algo assim, desejamos testar para garantir que não haja efeitos colaterais e pode demorar muito até fazermos todos os testes de controle, etc. Mas se existe uma emergência global, não é o caso, matemática e eticamente, de fazer um cálculo diferente? Em vez de perguntar: "Existe algum caso em que esta vacina possa causar danos?", com certeza deveríamos perguntar: "Dentro das probabilidades, não há um caso para aplicar essa vacina em escala, e ter uma oportunidade de cortar isso pela raiz?" O que estou desconsiderando ao pensar dessa maneira? AK: Em outras situações, como a vacina contra o Ebola em 2015, em poucos meses vimos evidências e resultados intermediários muito promissores em humanos, mostrando o que parecia uma eficácia muito alta. E, apesar de não ter sido totalmente licenciada, foi empregada no chamado "uso compassivo" em surtos subsequentes. Portanto, existem mecanismos pelos quais podemos acelerar as vacinas. Mas claro que hoje estamos numa situação em que não temos ideia se essas coisas vão adiantar. Precisamos acumular evidências suficientes de que podem ter um impacto, mas, obviamente, acelerá-las o máximo possível. CA: O cético em mim ainda não entende isso completamente. Não entendo por que não se coloca mais energia em ideias mais ousadas. Apesar do risco geral, todo mundo parece incrivelmente avesso a riscos na hora de formular respostas. AK: Com a ressalva de que há bons questionamentos a respeito disso, e alguns fogem um pouco da minha alçada, concordo que precisamos fazer mais para atingir os prazos. Levamos uns seis meses para escolher uma cepa sazonal da gripe e disponibilizar a vacina às pessoas. Temos que prever com antecedência quais cepas vão circular. E é algo que sabemos como fabricar e o fazemos há muito tempo. Definitivamente, é preciso fazer mais para reduzir esses prazos. Mas precisamos equilibrar isso, especialmente se um grande número de pessoas será exposto, e precisamos ter certeza de que é seguro e pode trazer algum benefício. CA: Por fim, Adam, preciso falar nisso... Há outras coisas infecciosas acontecendo em todo o mundo ao mesmo tempo, que são as ideias e a comunicação em torno desse vírus. São realmente dois sistemas infecciosos dinâmicos e interativos, há algumas informações muito prejudiciais por aí. Pode-se pensar nisso como uma batalha entre o conhecimento e medidas confiáveis contra o vírus e informações ruins? Parte do que precisamos pensar aqui é como suprimir um conjunto de coisas e impulsionar o outro, na verdade, turbinar o outro. Como pensar sobre isso? AK: Podemos pensar como sendo uma competição por nossa atenção, da mesma forma que, nas doenças, os vírus competem para infectar hospedeiros suscetíveis. Ao longo dos últimos anos com notícias falsas, informações erradas e o surgimento da conscientização, vemos uma transição para pensarmos em como reduzir essa suscetibilidade, se temos pessoas em estágios diferentes, como podemos usar a informação para nos anteciparmos. Obviamente, no desafio de um surto, no começo temos pouquíssima informação, e é muito fácil esse vácuo ser preenchido pela certeza e pela confiança. Acho que as plataformas estão desenvolvendo formas de expor o público à informação de qualidade mais cedo, para que isso proteja as pessoas contra outras coisas. CA: Uma das grandes incógnitas para mim nesse ano que continua, digamos que haverá ainda inúmeras semanas, para muitas pessoas, de autoisolamento, para aqueles de nós que têm a sorte de poder trabalhar de casa. Mas a grande injustiça dessa situação, é que há tantas pessoas que não podem ficar em casa e continuar a ganhar a vida, e esse será um grande desafio esse ano, se as taxas de mortalidade forem muito maiores no segundo grupo do que no primeiro, especialmente em um país como os EUA, onde essas pessoas nem sequer têm seguro de saúde adequado e tudo mais. Me parece que, só isso, já poderia se tornar um grande debate, e espero que, em algum nível, seja uma enorme fonte de mudança. AK: Acho esse ponto muito importante, porque é muito fácil... tenho um trabalho que posso realizar muito bem de forma remota, é muito fácil dizer que devemos interromper as interações sociais, mas claro que isso pode ter um enorme impacto nas pessoas, e nas escolhas e na rotina delas. Isso precisa ser levado em consideração, agora e daqui a alguns meses conforme o efeito que houver. CA: Por fim, podemos dizer que o mundo enfrentou problemas muito mais graves no passado, e que, em qualquer cenário, é muito provável que dentro dos próximos 18 meses uma vacina surja e seja amplamente distribuída, e que teremos aprendido muitas outras formas de lidar com esse problema? Mas em algum momento, provavelmente no ano que vem, o mundo sentirá que atingiu o auge disso e poderá seguir em frente. É provável que seja assim, ou é mais provável que isso escape e se torne um pesadelo endêmico, que a cada ano mata mais pessoas do que a gripe atualmente? Quais são os prováveis caminhos, olhando um pouco mais a longo prazo? AK: Há maneiras plausíveis de ver cada um desses cenários se descortinando. Acho que o mais plausível é vermos um crescimento muito rápido este ano e muitos surtos grandes que não necessariamente se repetirão. Mas há uma sequência de eventos em potencial que pode levar a esses múltiplos surtos recorrentes em diferentes lugares a cada ano. Mas, provavelmente, a maior parte da transmissão estará concentrada no próximo ano. E então, obviamente, se houver uma vacina disponível, podemos superar a situação e, com sorte, aprender com ela. Muitos dos países que responderam fortemente a esse vírus foram muito afetados pela SARS. Singapura, Hong Kong, realmente foram impactados, e se apoiaram muito nisso em sua resposta a este vírus. CA: Certo. Vamos encerrar encorajando as pessoas a canalizarem seu matemático interno para pensar, especialmente, nas oportunidades e nas probabilidades de transmissão que elas podem ajudar a mudar. Lembre-nos das principais coisas que você gostaria que as pessoas fizessem. AK: Individualmente, apenas pensar muito mais sobre suas interações e seu risco de infecção, que o que vai parar em suas mãos obviamente pode acabar em seu rosto, e em como você cria esse risco para os outros. Pense também, em termos de interações, como apertos de mão e contatos que não precisa ter. Como podemos reduzi-los o máximo possível. Se cada pessoa passa o vírus a duas ou três outras, como podemos reduzir esse número para um, através do nosso comportamento. Provavelmente precisaremos de intervenções em larga escala, em termos de reuniões, conferências e outras coisas em que há muitas oportunidades de transmissão. E a combinação desse nível individual, de reduzir o risco se você está doente ou com suspeita, e também trabalharmos juntos para impedir que o vírus atinja grupos em que, se continuar descontrolado, pode realmente atingir algumas pessoas fortemente. CA: Sim, há muitas coisas que precisamos abandonar por um tempo. E talvez tentar reinventar os melhores aspectos delas. Muito obrigado. Se as pessoas quiserem acompanhar seu trabalho, podem seguir você no Twitter, por exemplo. Qual é o seu usuário? AK: @AdamJKucharski, tudo junto. CA: Adam, muito obrigado pelo seu tempo, fique bem. AK: Obrigado. (Música) CA: Professor associado e TED Fellow Adam Kucharski. Gostaríamos muito de saber o que você achou deste episódio bônus. Avalie e comente no Apple Podcasts ou no seu aplicativo favorito de podcast. Essas avaliações influenciam de verdade. Lemos e consideramos todos os comentários recebidos. (Música) O episódio desta semana foi produzido por Dan O'Donnell na Transmitter Media. A gerente de produção é Roxanne Hai Lash, e a verificadora de fatos é Nicole Bode. Este episódio foi mixado por Sam Bair. A música tema é de Allison Layton-Brown. Um agradecimento especial à minha colega Michelle Quint. Obrigado por ouvir The TED Interview. Voltaremos em alguns dias, com uma nova temporada de mergulhos profundos com grandes mentes. Espero que goste deles, quer a vida volte ao normal ou não. Sou Chris Anderson, obrigado por ouvir e fique bem.