Olá, sou Chris Anderson.
Bem-vindo ao The TED Interview.
Estamos preparando a sessão quatro
com convidados extraordinários,
mas não quero esperar por ela
para o episódio de hoje
porque estamos em meio a uma pandemia
e tenho um convidado com quem
realmente quero conversar agora.
Adam Kucharski,
um pesquisador de doenças contagiosas
que se concentra na modelagem
matemática de pandemias.
É professor associado da London School
of Hygiene and Tropical Medicine
e TED Fellow.
(Música)
(TED Talk) Adam Kucharski:
Quais comportamentos
são realmente importantes em uma epidemia?
Conversas, contato físico?
Que tipo de dados deveríamos
coletar antes de um surto,
se queremos prever
como a infecção pode se espalhar?
Para descobrir isso, nossa equipe
constrói um modelo matemático.
Chris Anderson: Quando se trata
de ter uma opinião sobre essa pandemia,
conhecida tecnicamente como COVID-19
e informalmente como coronavírus,
acho o pensamento dele incrivelmente útil.
E estou empolgado
por mergulhar nisso com você.
Peço atenção especial
dos meus amigos do Twitter
que sugeriram várias perguntas.
Sei que esse tópico
está na mente de todos.
Espero que este episódio nos dê
uma visão mais detalhada
para pensarmos sobre como essa pandemia
se desenrolou até agora,
o que ainda pode vir
e o que podemos fazer
a respeito, coletivamente.
Vamos lá.
(Música)
Adam, bem-vindo ao The TED Interview.
Adam Kucharski: Obrigado.
CA: Vamos começar com o básico.
A reação de muitas pessoas céticas,
nas últimas semanas com certeza,
talvez menos, agora,
tem sido: "Ah, não é tudo isso,
temos relativamente poucos casos,
comparado com a gripe,
com qualquer outra coisa.
Temos problemas bem maiores no mundo.
Por que tanto alvoroço quanto a isso?"
E a resposta para isso
se resume a cálculos.
Falamos basicamente sobre cálculos
de crescimento exponencial, certo?
AK: Exato.
Usamos um número para termos uma ideia
da facilidade com que o vírus se espalha
e o nível de transmissão
com que estamos lidando.
É o chamado "número de reprodução"
que, conceitualmente, é:
quantas pessoas são infectadas,
em média, para cada caso.
Isso nos dá uma ideia
de como a infecção cresce,
como vai ser esse crescimento.
Para o coronavírus,
vemos isso em diversos países,
cada pessoa transmite, em média,
para duas ou três outras.
CA: Em relação ao número de reprodução,
a primeira coisa é entender
que qualquer valor acima de um
significa que o surto vai aumentar.
Qualquer valor abaixo de um
quer dizer que vai diminuir.
AK: Exato, se for acima de um,
cada grupo de pessoas infectadas
gera mais infecções do que havia antes.
E veremos o efeito exponencial:
se for dois, a cada ciclo
dobraremos o número de infectados
e, se for menor do que um,
na média, vai diminuir.
CA: Com um valor igual a dois ou maior,
acho que todos conhecem a famosa história
do tabuleiro de xadrez
e os grãos de arroz:
se dobrarmos o número de grãos
em cada casa do tabuleiro,
nas primeiras 10 ou 15 casas
não acontece muita coisa,
mas, na 64º casa,
teremos toneladas de arroz
para cada pessoa no planeta.
O crescimento exponencial é algo incrível.
E na verdade não devemos prestar atenção
aos números baixos que temos agora,
mas sim aos modelos do que está por vir.
AK: Exato.
Obviamente, se continuarmos
com o crescimento exponencial,
podemos chegar a números
incrivelmente grandes.
Mas, mesmo observando as projeções
para daqui a um mês,
se o número de reprodução for três,
cada pessoa infecta três outras, na média,
a diferença entre esse ciclos
de infecção é de cerca de cinco dias.
Então imagine que surja um caso agora,
em um mês temos seis
desses ciclos de cinco dias.
Ao final do mês,
essa pessoa pode ter gerado
cerca de 729 casos.
Então, mesmo em um mês,
a escala de transmissão pode disparar,
se não for controlada.
CA: E isso parece acontecer na maioria
dos números que analisamos agora,
quando o vírus está
nos estágios iniciais em um país.
Você mostrou um modelo
através do qual podemos entender
mais claramente esse número de reprodução,
e me parece que essa é a essência
da forma como pensamos sobre o vírus,
como reagimos a ele
e o quanto devemos temê-lo.
No seu raciocínio,
você o separou em quatro componentes,
que chamou de DOTS:
Duração, Oportunidades,
probabilidade de Transmissão
e Suscetibilidade.
Seria realmente útil
explicar cada um deles,
porque há uma equação bem simples
que vincula esses quatro componentes
ao número de reprodução.
Fale sobre eles.
Duração, o que isso significa?
AK: Duração é o tempo pelo qual
uma pessoa pode infectar outras.
Intuitivamente,
se uma pessoa pode infectar outra
por um período maior,
vamos dizer, duas vezes mais que outra,
ela espalha a infecção
pelo dobro do tempo.
CA: E qual é a estimativa
de duração desse vírus
comparado com a gripe ou outros patógenos?
AK: Depende um pouco do que acontece
enquanto uma pessoa pode infectar outras.
Se ela for isolada rapidamente,
esse tempo diminui,
mas consideramos que ela infecta
outras por cerca de uma semana,
antes de ser isolada no hospital.
CA: E ela pode nem apresentar sintomas
durante a semana inteira, certo?
Uma pessoa é infectada,
há um período de incubação.
Durante esse período,
ela passa a infectar outras,
e pode haver um período posterior
em que ela apresenta sintomas,
e não está claro como essas datas
se encaixam, certo?
AK: Não, estamos buscando mais informação.
Um dos sinais que vemos nos dados,
que sugere que ocorre transmissão precoce,
é o intervalo que há
entre uma infecção e outra.
Isso parece ser cerca de cinco dias.
O período de incubação,
o tempo para os sintomas aparecerem,
também é de cinco dias.
Se a maioria das pessoas infecta as outras
quando está assintomática,
temos o período de incubação mais o tempo
em que elas infectam outras pessoas.
O fato de esses valores
parecerem similares
sugere que algumas pessoas transmitem
muito no início ou possivelmente
antes de apresentarem sintomas claros.
CA: Isso quase significa que, na média,
as pessoas infectam outras
tanto antes quanto depois
de apresentarem sintomas.
AK: Possivelmente.
Obviamente são dados iniciais,
mas há boas evidências
de que um número considerável de pessoas,
antes de apresentarem sintomas claros
ou quando ainda não apresentam
febre e tosse, mas se sentem mal,
espalham vírus durante esse período.
CA: Isso é bem diferente
da gripe, por exemplo?
AK: Na verdade, nesse aspecto,
é similar à gripe.
Uma das razões para a gripe pandêmica
ser tão difícil de controlar e tão temida
é porque muitas transmissões ocorrem
antes de a pessoa estar seriamente doente.
Ou seja, quando identificamos um caso,
essa pessoa provavelmente
já infectou inúmeras outras.
CA: Esse é o truque deste vírus,
e explica por que é tão difícil
fazer algo a respeito.
O vírus está adiante de nós o tempo todo,
e não podemos simplesmente prestar atenção
em como alguém se sente
ou o que está fazendo.
A propósito, como isso acontece?
Como uma pessoa infecta outra
antes mesmo de apresentar sintomas?
Normalmente pensamos
que uma pessoa espirra,
gotículas se espalham pelo ar,
outra pessoa as inala,
e a infecção acontece.
O que realmente acontece para infectar
antes de apresentar sintomas?
AK: O nível de transmissão desse vírus
não é o mesmo, por exemplo, do sarampo,
em que alguém espirra,
muitos vírus são expelidos,
e muitas pessoas suscetíveis
podem ser expostas a eles.
Logo no início, mesmo que os sintomas
sejam bem leves, talvez um pouco de tosse,
é suficiente para expelir alguns vírus,
e parte do nosso trabalho
foi tentar analisar reuniões íntimas,
refeições em que as pessoas estão
muito próximas, como em uma cabana,
e, mesmo nessas situações,
alguém pode estar levemente doente,
mas espalhar vírus suficiente
e, de alguma forma, expor os outros;
ainda não sabemos exatamente como,
mas isso é suficiente
para causar infecção.
CA: Mas se alguém está levemente doente,
ainda não apresenta sintomas?
Não há evidências de que, mesmo antes
de saberem que estão doentes,
algo esteja acontecendo?
Um artigo alemão publicado esta semana
sugere que, mesmo bem no início,
se passarmos um cotonete
no fundo da garganta de alguém,
centenas de milhares desses vírus
já estão se reproduzindo lá.
É possível alguém estar
respirando normalmente
e transmitindo alguns vírus pelo ar,
sem nem saber,
que vão infectar as pessoas diretamente
ou se instalar em superfícies?
AK: Estamos tentando definir
o quanto isso [inaudível].
Como você disse, há evidências
de que pessoas sem sintomas
podem estar com o vírus na garganta.
Então, com certeza, ele pode ser exalado,
mas será que esse é um evento muito raro
para que a transmissão real ocorra
ou vemos mais infecções
ocorrerem dessa forma?
São dados muito iniciais,
essa é uma peça do quebra-cabeça,
mas estamos tentando descobrir
como se encaixa com o que sabemos
sobre outros tipos de transmissão.
CA: Certo, então duração é
a duração do período de transmissão.
Achamos que é de cinco a seis dias, certo?
AK: Possivelmente uma semana,
depende do que acontece às pessoas
que estão no período infeccioso.
CA: E há pessoas com teste positivo
muito depois de serem infectadas.
Pode ser verdade, mas provavelmente
não infectavam tanto, na época.
Está correto pensar assim?
AK: Estamos trabalhando com essa teoria,
de que grande parte
da infecção ocorre no início.
Vemos isso para várias
infecções respiratórias,
quando as pessoas ficam
gravemente doentes,
o comportamento delas é muito diferente
de quando podem andar por aí normalmente.
CA: E comparando esse número D
com o de outros casos, como a gripe,
eles são semelhantes?
Qual é o número D da gripe?
AK: Para a gripe provavelmente
é um pouco menor
em termos do período em que as pessoas
transmitem ativamente o vírus.
A gripe passa muito rápido
de um caso para o outro, na verdade.
Possivelmente cerca de três dias
para infectar outra pessoa.
No outro extremo da escala,
temos coisas como as DSTs,
em que a duração pode ser de vários meses.
CA: Certo.
Bem, realmente nada tão incomum até agora,
em termos desse vírus em particular.
Vamos olhar para o O, oportunidade.
O que é isso?
AK: Oportunidade mede
quantas chances o vírus tem
para se propagar através de interações
no período infeccioso de uma pessoa.
É uma medida típica
de comportamento social.
Quantos contatos sociais
as pessoas fazem, em média,
que criam oportunidades de transmissão
durante o período infeccioso?
CA: Então, é o número de pessoas
das quais você se aproximou o suficiente,
durante um determinado dia,
para ter a chance de infectá-las.
E esse número,
em um ambiente urbano normal,
se as pessoas não tomarem precauções,
pode chegar a centenas?
AK: É possível, para algumas pessoas.
Fizemos vários estudos
analisando isso nos últimos anos,
e a média, em termos de contato físico,
é de cerca de cinco pessoas por dia.
A maioria das pessoas tem conversas
ou contato com cerca de 10 a 15 pessoas,
mas as saudações físicas
variam muito em cada cultura.
CA: E posso presumir que, para esse vírus,
esse número não é diferente
do que para qualquer outro.
Essa é apenas uma característica
da vida que vivemos.
AK: Para esse número,
se é afetado por esse tipo de interação,
e já vimos isso para a gripe
e outras infecções respiratórias,
as interações físicas cotidianas
e os contatos muito próximos
parecem ser os mais importantes
para a transmissão.
CA: Talvez haja uma diferença.
O fato de uma pessoa infectar outras
antes de apresentar sintomas
pode significar que nesse caso
haja mais oportunidades.
Isso faz parte da "personalidade"
desse vírus, por assim dizer.
Por não deixar transparecer
que está em alguém,
as pessoas continuam a interagir,
a ir para o trabalho,
a pegar o metrô e assim por diante,
sem nem saber que estão doentes.
AK: Exato.
E no caso da gripe, quando as pessoas
ficam claramente doentes,
seus contatos sociais diminuem.
Portanto, um vírus que pode ser infeccioso
enquanto as pessoas vivem seu dia a dia,
realmente tem uma vantagem
em termos de transmissão.
CA: Na sua modelagem,
o número de oportunidades
é maior que o da gripe?
AK: No momento,
usamos valores semelhantes,
então tentamos observar, por exemplo,
contatos físicos em diferentes populações.
Mas estamos aumentando o risco.
Então, chegamos ao termo T.
Entre cada contato,
qual o risco de ocorrer
um evento de transmissão?
CA: Tudo bem, vamos para o próximo número,
a probabilidade de transmissão T.
Como você define isso?
AK: Esse número mede, basicamente,
a chance de o vírus se espalhar
durante uma oportunidade
ou interação específica.
Pode-se ter uma conversa com alguém
sem tossir ou espirrar
ou na qual, por algum motivo,
o vírus não se espalha
e não expõe a outra pessoa.
Como mencionei, digamos que as pessoas
têm dez conversas por dia,
mas não vemos uma pessoa infectar
dez outras por dia com este vírus.
Isso sugere que nem todas
essas oportunidades
resultam na disseminação do vírus.
CA: Mas dizem que é um vírus infeccioso.
Como é esse número
de probabilidade de transmissão
comparado, por exemplo, com o da gripe?
AK: Em algumas análises observamos
as interações muito próximas.
Analisamos cerca de dez
estudos de caso diferentes
e descobrimos que um terço desses contatos
foram infectados no estágio inicial,
quando as pessoas não sabiam
que estavam doentes.
Portanto, nessas refeições
em grandes grupos,
cada contato teria, potencialmente,
cerca de uma chance em três
de ser exposto.
Para a gripe sazonal,
que tende a ser um pouco menor,
mesmo em residências e ambientes fechados,
os números não são
necessariamente tão altos.
Mesmo para a SARS,
o risco por interação
era menor do que constatamos
para o coronavírus.
O que intuitivamente faz sentido,
deve haver um risco maior por interação,
se ele se espalha tão facilmente.
Certo, e a quarta letra do DOTS
é o S, de suscetibilidade.
O que é isso?
AK: Essa é a medida da proporção
da população suscetível ao vírus.
Imagine que ocorrem interações,
um vírus se espalha,
pessoas são expostas a ele,
mas algumas pessoas
podem ter sido vacinadas
ou ter alguma imunidade
e não desenvolvem a infecção
nem infectam outras pessoas.
Portanto, temos que levar em conta
essa potencial proporção de pessoas
que não se transformam em casos.
CA: Obviamente, ainda não há
vacina para o coronavírus,
e, pelo menos até onde sabemos,
inicialmente ninguém está imune.
Você está modelando um valor bem alto
para esse número de suscetibilidade,
isso é parte do problema?
AK: Sim, a evidência é de que populações
são totalmente suscetíveis,
e, mesmo em áreas
como a China, por exemplo,
onde houve muita transmissão, mas houve
medidas de controle muito fortes,
estimamos que, ao final de janeiro,
cerca de 95% da população de Wuhan
ainda era suscetível ao vírus.
Portanto, houve muita infecção,
mas isso não afetou muito o DOTS,
os quatro componentes
que impulsionam a transmissão.
CA: O modo como o cálculo funciona,
devo confessar
que, em meio ao estresse
de toda essa situação,
meu lado nerd ama
a elegância da matemática,
nunca pensei nisso dessa forma,
mas basicamente
multiplicamos esses números
para obter o número de reprodução.
É isso?
AK: Sim, praticamente trilhamos o caminho
da infecção durante a transmissão
ao multiplicar esses números,
e obtemos o número de reprodução do vírus.
CA: E isso é muito lógico.
É o número de dias em que você
pode infectar outras pessoas,
e o número de pessoas, em média,
que você tem oportunidade
de infectar durante esses dias.
Multiplicamos isso
pela probabilidade de transmissão,
ou seja, a probabilidade de o vírus
se instalar nessas pessoas, como disse.
E então multiplicar
pelo número de suscetibilidade.
Nesse caso, qual você acha que é
a probabilidade de suscetibilidade?
AK: Podemos assumir que é de quase 100%
em termos de propagação.
CA: Certo, multiplicamos esses números
e, hoje, para o coronavírus,
dois a três é o número mais plausível,
e significa um crescimento muito rápido.
AK: Exato, nesses surtos não controlados,
e vemos vários países neste estágio,
esse crescimento realmente é rápido.
CA: E como essa estimativa
de dois a três se compara à gripe?
A gripe sazonal deve ter uma estimativa,
quando se espalha no inverno,
que cai bem abaixo de um
em outras épocas do ano,
para o número de reprodução.
Mas qual é a estimativa durante
o período de gripe sazonal?
AK: No início da temporada da gripe,
provavelmente acharemos
algo entre 1,2 e 1,4.
Não é incrivelmente transmissível,
se imaginarmos que a população
tem alguma imunidade pela vacinação
e outras coisas.
Portanto, pode se espalhar,
está acima de um,
mas não necessariamente dispara
tão rapidamente quanto o coronavírus.
CA: Quero voltar a dois desses elementos,
a oportunidade e a
probabilidade de transmissão,
porque eles parecem ter
mais chance de realmente agir
sobre a taxa de infecção.
Antes disso, vamos falar
sobre outro número-chave,
que é a taxa de mortalidade.
Antes de tudo,
há duas versões diferentes
da taxa de mortalidade
que talvez confundam as pessoas.
Você poderia defini-las?
AK: O que é frequentemente conhecido
como taxa de mortalidade
é a proporção dos casos com sintomas
que se tornam fatais.
Às vezes também falamos sobre
a taxa de mortalidade da infecção,
ou seja, de todos os infectados,
independentemente dos sintomas,
quantos se tornarão fatais.
Mas a maioria dos valores que vemos
é a taxa de mortalidade de casos.
CA: Então, qual é a taxa
de mortalidade deste vírus
e, novamente, como isso se compara
a outros patógenos?
AK: Alguns números estão surgindo.
Um dos desafios em tempo real é que
muitas vezes não vemos todos os casos,
há pessoas sintomáticas
que não são reportadas.
E também há um atraso.
Por exemplo, se 100 pessoas compareceram
a um hospital com coronavírus
e nenhuma morreu ainda,
não significa que a taxa
de mortalidade é zero;
precisamos esperar
pelo que vai acontecer a elas.
Quando ajustamos
a subnotificação e o atraso,
a melhor estimativa para a mortalidade
dos casos é de cerca de 1%.
Portanto, em média, cerca de 1%
das pessoas com sintomas
têm um resultado fatal.
E isso deve ser dez vezes pior
que a gripe sazonal.
CA: É uma comparação assustadora
dado o número de pessoas
que morrem de gripe.
Quando a Organização Mundial da Saúde
mencionou um número mais alto,
de 3,4%, há pouco tempo,
foi criticada.
Explique por que isso pode ter
desorientado as pessoas,
e como pensar e se ajustar a isso.
AK: É muito comum as pessoas
olharem esses números brutos,
analisarem quantos casos
e quantas mortes temos até agora,
e considerarem essa proporção.
Mesmo há algumas semanas,
esse número era 2%.
Mas, se considerarmos o efeito do atraso,
mesmo que não surjam novos casos,
ainda ocorrerão resultados fatais
ao longo do tempo,
que podem aumentar esse número.
Isso ocorreu em todas as epidemias,
da gripe pandêmica ao Ebola,
vemos isso constantemente.
Alertei várias pessoas
de que esse número aumentará,
à medida que os casos na China diminuírem,
parecerá que estão aumentando,
mas é só uma particularidade estatística.
Não há nada por trás disso,
não estão ocorrendo
mutações ou algo assim.
CA: Se entendi bem,
há dois efeitos em andamento.
Um é que o número de mortes
dos casos existentes aumentará,
o que na verdade elevará
ainda mais esses 3,4%.
Mas devemos compensar isso
com o fato de que, aparentemente,
um grande número de casos
passou despercebido
e, devido a falhas na testagem,
o número de mortes
provavelmente reflete um número
prévio de casos muito maior, certo?
AK: Exato, temos algo
que eleva esse número
e algo que o diminui.
Significa que, se as estimativas iniciais
só forem ajustadas em relação ao atraso
sem pensarmos nos casos não relatados,
começamos a ter números
realmente muito assustadores.
Podemos chegar a 20%, 30%,
o que realmente não se enquadra
no que sabemos sobre esse vírus em geral.
CA: Certo.
Há muito mais dados agora.
Do seu ponto de vista,
a taxa de mortalidade provável,
pelo menos no estágio inicial
de uma infecção,
é de cerca de 2%?
AK: No geral, podemos pensar
em algo na faixa de 0,5% a 2%,
e isso está em vários
conjuntos de dados diferentes.
Isso para pessoas que apresentam sintomas.
Em média, 1% é um bom número
para se trabalhar.
CA: Certo, 1%.
Para a gripe, costuma ser 0,1%,
então, essa doença é de cinco a dez vezes
mais perigosa que a gripe.
E esse perigo não é simétrico
entre as faixas etárias, como se sabe.
Afeta principalmente os idosos.
AK: Sim, na média é 1%,
mas, para pessoas com mais de 60, 70,
esse número realmente dispara.
Estimamos que nos grupos
de maior faixa etária
haja 5%, talvez 10% de mortalidade.
Além disso, claro, precisamos
considerar os casos graves
e as pessoas que precisarão
de hospitalização.
E esses riscos aumentam muito
nos grupos de maior faixa etária.
CA: Adam, junte esses números para nós.
Nos seus modelos, se você considerar
uma taxa de reprodução de 2% a 3%
e uma taxa de mortalidade de 0,5% a 1%
e executar a simulação,
como ela será?
AK: Se temos uma transmissão descontrolada
e número de reprodução de 2% ou 3%
e não fazemos nada a respeito,
a única maneira de o surto terminar
é com um número suficiente de pessoas
contraindo a doença,
a imunidade geral aumenta,
e o surto acabar por conta própria.
Nesse caso, espera-se que uma parcela
muito grande da população seja infectada.
É o que vemos
em muitos outros surtos não contidos,
que basicamente
se espalham pela população,
e um grande número de pessoas
são infectadas.
Com taxas de mortalidade
e de hospitalização como essas,
seria realmente muito prejudicial
se isso ocorresse.
Nacionalmente,
e a Itália é um bom exemplo no momento,
se temos uma transmissão inicial
não detectada e um crescimento tão rápido,
o sistema de saúde rapidamente
fica sobrecarregado.
Um dos aspectos
mais desagradáveis deste vírus
é que, por haver esse tempo
entre a infecção, os sintomas
e o comparecimento das pessoas
às unidades de saúde,
se o sistema de saúde está sobrecarregado,
mesmo que se interrompa
completamente a transmissão,
já temos todas as pessoas
que foram expostas,
então ainda aparecerão casos,
e alguns deles graves,
por mais algumas semanas.
Esse enorme acúmulo
de infecções e sobrecarga
acaba atingindo a população
através do sistema de saúde.
CA: Então, na verdade,
há outro número-chave:
como se relaciona o número total de casos
à capacidade do sistema de saúde
de um país para processar todos eles?
Isso deve fazer uma enorme diferença
na taxa de mortalidade,
pessoas chegando com uma doença grave
em um sistema de saúde capaz de atender
ou em um sobrecarregado.
A taxa de mortalidade será
muito diferente nesse aspecto.
AK: Se alguém precisar um leito de UTI,
vai ocupá-lo por algumas semanas
e há mais casos entrando no sistema,
então a situação fica
muito difícil rapidamente.
CA: Fale sobre a diferença
entre contenção e mitigação.
São termos diferentes
sobre os quais temos ouvido falar muito.
Nos estágios iniciais do vírus,
os governos estão focando a contenção.
O que isso significa?
AK: Contenção é a ideia
de que podemos concentrar os esforços
no controle dos casos e de seus contatos.
Isso não causa perturbações
para a população em geral:
temos um caso, que será isolado,
descobrimos com quem ele teve contato,
quais foram as possíveis
oportunidades de exposição
e podemos acompanhar essa pessoa,
colocá-la em quarentena para garantir
que não ocorram transmissões adicionais.
É um método muito focado e direcionado
que funcionou muito bem para o SARS.
Mas acho que, para esta infecção,
como alguns casos não serão detectados,
devemos realmente testar
um grande número de pessoas em risco.
Mas se alguns poucos escaparem dessa rede,
possivelmente teremos um surto.
CA: Algum país foi capaz
de empregar essa estratégia
e efetivamente conter o vírus?
AK: Singapura tem feito
um trabalho realmente notável
nas últimas seis semanas.
Além de algumas medidas mais amplas,
eles fazem um trabalho incrível
para rastrear quem teve contato
com pessoas infectadas.
Analisando imagens de CFTV,
descobrindo qual táxi alguém pegou,
quem pode estar em risco,
um acompanhamento realmente completo.
E por cerca de seis semanas,
isso impediu a transmissão.
CA: Isso é incrível.
Então, alguém entra no país,
tem resultado positivo no teste,
eles vão a campo, com uma equipe enorme,
e rastreiam tudo
a ponto de dizer:
"Não sabe qual táxi pegou?
Vamos descobrir".
E quando encontram o motorista do táxi,
precisam tentar descobrir todos os outros
que estiveram naquele táxi?
AK: Eles se concentram nos contatos
próximos das pessoas em maior risco,
mas realmente diminuem a chance
de alguém escapar dessa rede.
CA: Mas mesmo em Singapura,
se não me engano, os números
começaram a se aproximar de zero,
mas, recentemente, voltaram
a aumentar um pouco.
Ainda não está claro
se eles realmente serão capazes
de sustentar a contenção.
AK: Exato.
Vimos o número de reprodução
cair para 0,8, 0,9, talvez,
portanto abaixo da taxa crucial de um.
Mas, na última semana ou duas,
ele parece ter aumentado,
e eles estão tendo mais casos.
Mesmo que estejam contendo o vírus,
acho que o mundo está passando por surtos
e continua jogando faíscas de infecção,
e fica cada vez mais difícil
acabar com todas elas
com esse nível de esforço intensivo.
(Música)
CA: No caso deste vírus,
a maioria dos países foi alertada
de que isso estava acontecendo.
As notícias vindas da China
rapidamente se tornaram muito sombrias
e as pessoas tiveram tempo de se preparar.
Como seria a preparação ideal
sabendo que algo assim está por vir
e que há muita coisa em jogo
se conseguir contê-la com sucesso
antes que ela realmente fuja do controle?
AK: Acho que duas coisas
fariam uma diferença enorme.
Uma é ter um acompanhamento
e detecção o mais meticuloso possível.
Fizemos alguns modelos
analisando a eficácia
desse tipo de contenção inicial.
E pode ser eficaz, se forem
identificadas 70% ou 80%
das pessoas que podem ter
entrado em contato com o vírus.
Mas, se não detectar
os casos novos e os contatos deles,
e no início o foco principal estava
no histórico de viagens para a China,
depois ficou claro
que a situação estava mudando,
mas como confiavam nisso
como definição de caso,
muitos outros casos que correspondiam
à definição não foram testados
porque não pareciam
estar potencialmente em risco.
CA: Então, se sabemos
que detecção precoce é a chave,
uma medida inicial essencial
é garantir rapidamente que se tenha
testes suficientes disponíveis
onde forem necessários,
para que se possa reagir,
estar pronto para entrar em ação
assim que alguém for detectado,
e muito rapidamente testar
os contatos dele e assim por diante,
para ter uma chance
de manter isso sob controle.
AK: Exatamente.
Minha linha de trabalho é
de que há valor em um teste negativo,
porque mostra que algo
que procuramos não está lá.
Portanto, um pequeno número
de pessoas testadas
não garante que não estamos
deixando casos passarem,
mas, se acompanharmos
minuciosamente os contatos,
como já vimos na Coreia,
um grande número de pessoas é testada.
Portanto, embora ainda apareçam casos,
isso garante que eles têm uma ideia
de onde estão essas infecções.
CA: Você está no Reino Unido agora,
eu estou nos EUA.
Qual é a probabilidade
de tanto o Reino Unido
quanto os EUA conseguirem conter isso?
AK: Acho bastante improvável,
nos dois casos.
Acho que o Reino Unido terá de introduzir
algumas medidas adicionais.
O momento para isso, obviamente,
depende um pouco da situação atual,
mas já testamos quase 30 mil pessoas.
Acho que os EUA passarão desse número,
dada a quantidade de evidências
de haver transmissão extensiva,
e, sem ter uma ideia clara
do número de infectados
e sem esse nível de testes,
é muito difícil realmente saber
qual é o quadro atual nos EUA.
CA: Não quero levar isso para a política,
mas você não se impressiona...
o Reino Unido testou 30 mil pessoas,
os EUA são 5 ou 6 vezes maior
e o número total de testes aqui
era de 5 mil ou 6 mil há alguns dias.
Isso te parece bizarro?
Sinceramente, não entendo
como isso aconteceu em um país letrado,
com tanto conhecimento
sobre doenças infecciosas.
AK: Sim, e obviamente há
vários fatores envolvidos,
logística e outros,
mas houve um período de alerta
de que é uma ameaça e está chegando.
Os países precisam
garantir que são capazes
de detectar o máximo possível
de casos nos estágios iniciais,
porque é quando vão identificá-los
e terão uma chance melhor de contê-los.
CA: Se não conseguirmos contê-los,
precisaremos mudar para alguma
estratégia de mitigação.
O que entra em jogo daí?
E quero relembrar
dois dos fatores DOTS: oportunidade
e probabilidade de transmissão,
pois o vírus é isso mesmo,
e não há muito a fazer quanto ao período
em que alguém pode infectar outros.
Em relação à suscetibilidade,
não podemos fazer muito
até haver uma vacina.
Podemos falar sobre isso daqui a pouco.
Mas em relação à oportunidade
e probabilidade de transmissão,
podemos fazer algo.
Talvez você queira falar sobre isso,
ou sobre como criar
uma estratégia de mitigação?
Pensando primeiro em oportunidade,
como reduzir o número de oportunidades
de transmissão do vírus?
AK: Para isso
precisa haver uma mudança enorme
em nossas interações sociais.
Considerando um número de reprodução
por volta de dois ou três,
realmente precisamos cortar
alguns aspectos dessa transmissão
pela metade ou em dois terços
para que ele fique abaixo de um.
Para isso é preciso que todas
as oportunidades de espalhar o vírus,
os contatos próximos,
sejam reduzidas,
por toda a população,
em dois terços, em média,
para controlar o surto.
Pode ser através do trabalho em casa,
da mudança de estilo de vida,
se você vai a lugares e jantares lotados.
E, claro, medidas
como fechamento de escolas
e outras que tentam reduzir
os contatos sociais de uma população.
CA: Fale mais sobre
o fechamento de escolas,
porque, se bem me lembro, isso foi citado
muitas vezes em pandemias passadas
como uma medida absolutamente essencial,
que as escolas representam
esse tipo de reunião de pessoas,
quando se trata de gripes e resfriados,
as crianças são portadoras do vírus.
Mas as crianças não parecem ficar doentes
com este vírus em particular,
ou pelo menos muito poucas.
Elas podem transmitir o vírus?
Podem ser portadoras
não intencionais dele?
Ou, de fato, há evidências
de que o fechamento das escolas
pode não ser tão importante
neste caso quanto em outros?
AK: A questão do papel
das crianças é crucial,
e ainda não há uma boa base de evidências.
A partir do acompanhamento
dos contatos dos casos,
não há evidências
de que crianças sejam infectadas;
elas são expostas e, quando as testamos,
não é que não estejam infectadas,
mas não apresentam sintomas
da mesma maneira.
Especialmente para a gripe,
ao analisar as implicações
do fechamento das escolas:
no Reino Unido, em 2009,
durante a gripe suína,
houve um declínio no surto
durante as férias escolares,
pode-se ver na curva da epidemia:
ela cai no verão e sobe no outono.
Mas, em 2009, havia alguma imunidade
nas faixas etárias maiores.
Isso levou a transmissão
para os mais jovens.
Estamos tentando entender isso.
O fechamento das escolas
reduz as interações,
mas traz efeitos sociais indiretos,
podendo afetar avós
no papel de cuidadores alternativos,
se os pais têm que trabalhar.
Há muitas peças a considerar.
CA: Com base em todas as diferentes
evidências que você analisou,
se dependesse de você,
recomendaria que neste momento
a maioria dos países
analisasse com atenção o fechamento geral
das escolas como medida de precaução?
Vale a pena fazer isso
como uma estratégia dolorosa
de dois, três, quatro, cinco meses?
O que você recomendaria?
AK: O principal,
dada a distribuição etária do risco
e a gravidade nos grupos mais velhos,
é reduzir as interações que trazem
a infecção para esses grupos.
Depois reduzir as interações
entre todas as pessoas o máximo possível.
O principal é
que a carga da doença está tão localizada
no grupo de mais de 60 anos
que não se trata apenas de todos
tentarem evitar todas as interações,
mas de evitar os comportamentos
que levam as infecções a esses grupos.
CA: Isso significa que as pessoas
deveriam pensar duas vezes
antes de visitar um ente querido
em clínicas ou lares para idosos?
Devemos prestar uma atenção
muito especial a isso,
essas instalações devem tomar
muito cuidado com quem elas admitem,
verificando temperatura
e sintomas ou algo assim?
AK: Essas medidas definitivamente
devem ser consideradas.
No Reino Unido, estamos planejando
uma estratégia chamada de "encasulamento"
para os grupos de mais idade,
na qual podemos realmente
tentar isolar o máximo possível
as interações de pessoas
que podem transmitir o vírus.
Basicamente, como você disse,
não podemos atacar outros
aspectos da transmissão,
apenas reduzir o risco
de exposição desses grupos,
então qualquer coisa
que se possa fazer individualmente
para reduzir o risco de cada pessoa,
seja ela idosa ou de outro grupo de risco,
é crucial.
No âmbito geral,
essas medidas em larga escala podem ajudar
a reduzir as interações em geral,
mas se essas reduções acontecerem
sem reduzir o risco das pessoas
que sofrerão doenças graves,
essa carga incrivelmente
pesada se manterá.
CA: As pessoas precisam aplicar
essa lente dupla ao pensar essas questões?
Ao seguir com sua vida, o risco é
você se infectar, pegar esse vírus.
Mas também há o risco
de, sem querer, ser portador
para alguém que sofrerá
muito mais do que você.
E precisamos ter
essas duas coisas em mente.
AK: Sim, não é só
a mão de quem você aperta,
é a mão de quem a outra
pessoa vai apertar.
E precisamos pensar
nessas etapas secundárias:
você pode achar que tem risco baixo
e que faz parte de um grupo mais jovem,
mas muitas vezes estará
a uma distância muito curta
de alguém que vai ser atingido
fortemente por isso.
Precisamos ter uma atitude social
e isso pode ser muito dramático
em termos de mudança de comportamento,
mas é preciso reduzir o impacto
que potencialmente enfrentamos.
CA: Então, só podemos reduzir
o número de oportunidades
se reduzirmos o número de contatos físicos
que temos com outras pessoas.
E como diminuir
a probabilidade de transmissão?
Ela afeta a forma como interagimos.
Você mencionou aperto de mão, imagino
que dirá para não apertarmos as mãos.
AK: Sim, mudanças como essa.
Outra é a lavagem das mãos;
podemos realizar
as mesmas atividades de antes,
mas ao lavar as mãos reduzimos a chance
de espalhar a infecção
de uma interação para outra,
então todas essas medidas significam
que, mesmo ocorrendo exposições,
estamos tomando medidas adicionais
para evitar que ocorra alguma transmissão.
CA: A maioria das pessoas
não entende completamente
ou não tem um modelo claro sobre o modo
pelo qual esse vírus se espalha.
Você acha que as pessoas
realmente entendem
que não inalamos as gotículas
de alguém que tossiu ou espirrou.
Então, como isso se espalha?
Ele fica em superfícies. Como?
Uma pessoa doente simplesmente
expira, toca a boca ou algo assim,
depois toca uma superfície,
e ela fica contaminada?
Como o vírus chega às superfícies?
AK: Muito pelo fato de a pessoa
tossir na mão e tocar na superfície.
Mas o desafio, obviamente,
é desvendar as questões
sobre como a transmissão acontece.
Há transmissão numa família quando alguém
tosse e o vírus vai para uma superfície,
pelo contato direto, por um aperto de mão,
e, mesmo para a gripe, trabalhamos duro
para tentar entender essas coisas,
qual a relação entre risco de infecção
e comportamento social.
Porque isso é visivelmente importante,
mas realmente difícil de determinar.
CA: É quase como aceitar o fato
de que, na verdade,
não sabemos muitas dessas coisas,
e que estamos todos
nesse jogo de probabilidades.
Por isso a matemática
é tão importante aqui.
Pensar em como cada um desses números,
trabalhando em conjunto,
tem um papel a desempenhar.
E qualquer um cuja porcentagem
você puder diminuir,
provavelmente contribui,
não só para você, mas para todos.
As pessoas não sabem em detalhes
como os números se combinam,
mas sabem que provavelmente
todos eles importam.
Precisamos que, de alguma forma,
elas aceitem essa incerteza
e tenham satisfação
ao agir sobre cada um deles.
AK: A ideia de que infectar três pessoas,
em média, leva a essa situação,
e como cada um pode reduzir essa taxa.
Se lavarmos as mãos, quanto isso reduz,
em termos de apertos de mão?
O vírus poderia estar em você,
mas não está mais,
ou se de alguma forma você muda
seu comportamento social
isso evita algumas interações, a metade?
Como você pode realmente intervir
nesse número o máximo possível?
CA: Há mais alguma coisa a dizer
sobre como podemos reduzir
essa probabilidade de transmissão
em nossas interações?
Qual distância física é aconselhável
manter das outras pessoas, se possível?
AK: Acho difícil definir exatamente,
mas algo a se ter em mente
é que não há muitas evidências
de que esse vírus seja
como um aerossol e que vá muito longe,
são distâncias razoavelmente curtas.
Não acho que, sentado
a poucos metros de alguém,
o vírus possa te alcançar.
É em interações mais próximas
e por isso vemos
tantos eventos de transmissão
ocorrerem em coisas como refeições
e grupos muito unidos.
É aí que um vírus pode ir parar
nas superfícies, nas mãos e no rosto,
é realmente nessas situações
que precisamos pensar mais.
CA: Então, de certa forma,
alguns medos das pessoas
podem ser superestimados,
por exemplo, se você estiver
no meio de um avião
e alguém na frente espirra,
isso incomoda,
mas na verdade não é isso
que deveria assustá-lo mais.
Existem maneiras muito mais inteligentes
de prestar atenção ao seu bem-estar.
AK: Sim, se fosse sarampo,
e as pessoas no avião fossem suscetíveis,
teríamos muitas infecções depois disso.
Lembre-se, em média, uma pessoa
infecta outras duas ou três,
então talvez nem todas as 50 pessoas
com que você interagiu ao longo da semana
estejam em risco.
Mas algumas delas,
especialmente os contatos próximos,
é com esses que a transmissão ocorre.
CA: Do ponto de vista
de uma estratégia nacional,
fala-se muito sobre a necessidade
de "achatar a curva".
O que isso significa?
AK: Isso se refere à ideia
de os casos não chegarem todos
ao mesmo tempo no sistema de saúde.
Se nos acomodarmos, não fizermos nada
e apenas deixarmos a epidemia crescer,
com uma taxa de crescimento
que, hoje, em alguns lugares,
faz a epidemia duplicar
a cada três ou quatro dias,
ela vai disparar e vamos ter
doentes, em estado grave,
todos precisando ao mesmo tempo
de cuidados hospitalares,
e não teremos capacidade para isso.
A ideia de achatar a curva é:
se reduzirmos a transmissão
e o número de reprodução,
ainda pode haver um surto,
mas será muito mais plano, mais longo,
e aparecerão menos casos graves que podem
receber os cuidados de saúde que precisam.
CA: Isso significa que haverá
menos casos no geral?
Quando analisamos gráficos
com imagens reais do achatamento da curva,
parece que a área
abaixo da linha é a mesma,
isto é, o número de pessoas
infectadas é o mesmo,
mas em um período mais longo.
Tipicamente é isso que acontece,
e mesmo se adotarmos todas
as estratégias de distanciamento social,
lavarmos as mãos, etc.,
o melhor que podemos esperar
é diminuir a velocidade,
e acabaremos com o mesmo
número de pessoas infectadas?
AK: Não necessariamente,
depende das medidas adotadas.
Existem algumas medidas,
como interromper viagens,
que normalmente atrasam a propagação
em vez de reduzi-la.
Então, ainda teremos os mesmos surtos,
mas sua duração será mais longa.
Mas existem outras medidas.
Se reduzirmos as interações,
se o número de reprodução for menor,
esperara-se menos casos no geral.
E, por fim, teremos algum acúmulo
de imunidade na população,
o que ajuda, se pensarmos
nos componentes da fórmula,
reduzindo a suscetibilidade,
além do que acontece em outros lugares.
Portanto, a esperança é
que as duas coisas trabalhem juntas.
CA: Me ajude a entender como isso termina.
A China, por exemplo.
Qualquer coisa que pensarmos
sobre a supressão inicial de dados
e o que ocorreu depois
é muito preocupante.
A resposta mais intensa veio em janeiro,
com a paralisação
de uma imensa área do país,
o que parece ter sido de fato eficaz.
O número de casos está caindo
em uma taxa impressionantemente alta.
Caindo para quase nada.
Não consigo entender isso.
É um país com 1,4 bilhão de pessoas.
Houve um grande número de casos por lá,
mas uma pequena fração
da população ficou realmente doente.
E ainda assim os números caíram.
Não é como se todos na China
tivessem desenvolvido alguma imunidade.
Será que eles foram
absolutamente disciplinados
quanto a interromper as viagens
para as regiões infectadas
e, de alguma forma, realmente
investir nos testes massivamente
para que, ao sinal de qualquer problema,
voltassem ao modo de contenção
na maior parte da China?
Não consigo entender, me ajude.
AK: Nas duas últimas semanas de janeiro,
quando essas medidas foram implementadas,
estima-se que o número de reprodução
passou de 2,4 para 1,1.
Portanto, a transmissão caiu cerca de 60%
no espaço de uma semana ou duas.
É notável e, na verdade,
muito disso parece ter sido impulsionado
apenas por mudanças fundamentais
no comportamento social:
enorme distanciamento social,
acompanhamento
e testes realmente intensivos.
O número de reprodução reduziu o bastante
para causar o declínio da curva
e agora vemos, em muitas áreas,
uma volta para a contenção,
porque há poucos casos,
a situação é mais gerenciável.
Mas vemos que eles enfrentam um desafio,
porque muitas dessas cidades
estão bloqueadas há seis semanas
e há um limite do tempo
em que podem ser mantidas assim.
Portanto, algumas dessas medidas
são gradualmente revogadas,
o que cria o risco de que casos
vindos de outros países
possam reintroduzir a transmissão.
CA: Mas, considerando
o quão infeccioso é o vírus
e quantas vias e pontos de conexão
existem, teoricamente,
entre as pessoas em Wuhan,
mesmo durante o bloqueio
ou em bloqueio relativo,
ou entre outros lugares onde houve
alguma infecção, e o resto do país,
você se surpreende com a rapidez
com que a curva caiu para quase zero?
AK: Sim.
Bem no início, quando vimos
o achatamento dos casos
nos perguntamos se eles tinham
um limite na capacidade de testes
e estavam relatando mil casos por dia
por ser esse o número de kits que tinham.
Mas felizmente continuou assim,
mostrando que é possível reverter o quadro
com esse nível de intervenção.
O principal agora é ver como isso funciona
em outras configurações.
A Itália está realizando
intervenções realmente dramáticas.
Mas claro que, devido ao efeito do atraso,
ao adotá-las hoje,
deve levar uma semana ou duas
até os resultados aparecerem.
Descobrir o impacto dessas medidas
será fundamental para ajudar outros países
a trabalharem para conter o vírus.
CA: Para termos uma ideia, Adam,
de como serão os próximos dois meses,
fale-nos sobre alguns cenários
que você tem em mente.
AK: Num cenário otimista,
vamos aprender muito
com lugares como a Itália,
que, infelizmente foram muito atingidos.
Os países levarão isso muito a sério
e não teremos esse crescimento contínuo
com essa enorme sobrecarga,
seremos capazes
de desacelerá-lo o suficiente.
Teremos muitos casos,
provavelmente muitos deles serão graves,
mas isso será mais gerenciável;
esse é um cenário otimista.
Se os países não levarem isso a sério
ou a população não responder bem
às medidas de controle
ou os casos não forem detectados,
poderemos ter situações,
e o Irã provavelmente está
mais próximo disso, no momento,
em que haja ampla transmissão generalizada
e, quando a reação ocorrer,
essas infecções já estarão no sistema
e se tornarão casos e doenças graves.
Espero que não seja nosso caso,
mas cerca de dez países, no momento,
podem estar a caminho
da mesma situação que a Itália.
Portanto, o que acontecer
nas próximas semanas é realmente crucial.
CA: Existe uma chance real
de que alguns países tenham, este ano,
muito mais mortes por este vírus
do que pela gripe sazonal?
AK: Em alguns países é provável, sim,
se o controle não for possível,
e vimos isso acontecer na China,
mas lá o nível de intervenção
não tinha precedentes.
Realmente mudou o tecido social.
Num primeiro momento,
as pessoas não aceitam exatamente
o que significa reduzir
suas interações nessa extensão.
Muitos países simplesmente
não conseguirão gerenciar isso.
CA: É quase um desafio
para as democracias, não é?
"Muito bem, mostrem o que podem fazer
sem esse controle draconiano.
Se não gostam desse pensamento,
vamos lá, cidadãos, mexam-se,
mostrem do que são capazes,
que podem ser sábios,
inteligentes e disciplinados,
e se adiantem ao maldito vírus".
AK: Sim.
CA: Pessoalmente, não sou
superotimista quanto a isso,
porque há muitas mensagens conflitantes
vindas de inúmeros lugares diferentes,
e as pessoas não gostam
de sacrifícios a curto prazo.
É quase um caso em que...
Na sua opinião,
o papel da mídia tem sido útil,
neste caso, ou não?
É realmente útil, de alguma forma,
exagerar a preocupação, o medo
e fazer as pessoas entrarem
um pouco em pânico?
AK: É um equilíbrio
muito difícil de encontrar,
porque, no início, sem nenhum caso,
sem nenhuma evidência de possível pressão,
é muito difícil convencer as pessoas
a levarem essa mensagem a sério,
se não exagerar.
Mas se esperar demais,
se disser que ainda não é
uma preocupação,
que no momento está tudo bem,
muitos vão pensar que é só uma gripe.
Quando o surto vier com força,
o sistema de saúde ficará
sobrecarregado por semanas,
porque, mesmo que se faça intervenções,
é tarde demais para controlar
as infecções que já ocorreram.
É uma linha tênue, e minha esperança
é que a comunicação aumente;
hoje as pessoas têm exemplos
tangíveis como a Itália,
e podem ver o que vai acontecer
se não levarem a sério.
Mas, certamente,
de todas as doenças que vi,
e vários colegas que são
muito mais velhos do que eu
e têm memórias de outros surtos,
é a coisa mais assustadora que vimos
em termos do impacto que pode ter,
e precisamos responder a isso.
CA: A coisa mais assustadora que já viram.
Uau.
Tenho algumas perguntas
dos meus amigos no Twitter.
Todos estão bem por dentro deste tópico.
Hipoteticamente,
se todos ficassem em casa
por três semanas,
o surto efetivamente acabaria?
Existe um modo de nos distanciarmos
socialmente disso?
AK: Sim, em países com famílias
relativamente pequenas,
no Reino Unido e nos EUA,
são cerca de 2,5 pessoas,
mesmo havendo uma rodada
de infecção na família,
ela provavelmente acabaria.
Como benefício secundário,
outras infecções também
podem ser eliminadas.
O sarampo circula apenas em humanos,
então pode haver algum efeito indireto,
se isso for possível, claro.
CA: Obviamente, isso seria
um grande problema para a economia,
e um dos desafios inerentes
é que não se pode otimizar
as políticas públicas
tanto para a saúde econômica
como para o combate a um vírus.
De certa forma, são coisas conflitantes,
pelo menos o combate ao vírus
e a saúde econômica a curto prazo.
Essas situações estão em conflito, certo?
E as sociedades precisam escolher uma.
AK: É difícil convencer
as pessoas desse equilíbrio,
o que sempre dizemos
sobre planejamento pandêmico
é que colocá-lo em prática agora é barato,
caso contrário,
pagaremos por isso mais tarde.
Infelizmente, como vimos,
não houve muito dinheiro
para a resposta imediata.
E parece que só quando há
um impacto e fica caro
as pessoas aceitam esse custo.
CA: Mais algumas perguntas no Twitter.
O aumento da temperatura nos EUA
nas próximas semanas e meses
diminuirá a propagação do COVID-19?
AK: Não vi nenhuma evidência convincente
de que exista relação forte
com a temperatura;
vemos essa relação em outras infecções,
mas o fato de serem surtos generalizados
dificulta a identificação e, claro,
há outras coisas acontecendo.
Mesmo que um país não tenha
um surto tão grande quanto outro,
ele será influenciado
por medidas de controle,
comportamento social,
oportunidades e coisas assim.
Portanto, seria realmente
reconfortante se fosse assim,
mas não podemos dizer isso ainda.
CA: Ainda do Twitter,
existe uma recomendação global padrão
para todos os países
sobre como fazer isso?
E, se não, por que não?
AK: É isso que as pessoas
estão tentando reunir,
primeiro em termos do que funciona.
Apenas nas últimas semanas
tivemos a sensação de que isso pode ser
controlado com esse nível de intervenções,
mas claro que nem todos os países
podem fazer o que a China fez,
algumas dessas medidas têm uma carga
social, econômica e psicológica enorme
na população.
E, claro, há o limite do tempo.
Na China mantiveram por seis semanas,
isso é difícil de sustentar;
portanto, precisamos pensar nas trocas
que podemos pedir que as pessoas façam,
quais terão maior impacto
na redução dessa carga.
CA: Outra pergunta: como isso aconteceu,
e é provável que ocorra novamente?
AK: É provável que isso tenha se originado
com o vírus que circulava em morcegos
e que, provavelmente,
passou para outras espécies,
e de alguma forma chegou aos humanos;
há muitas evidências disso,
não há uma história única e clara,
mas até para a SARS, a genômica
precisou de vários anos para entender
a rota exata da transmissão.
Mas, certamente, acho plausível
que isso aconteça novamente.
A natureza dissemina vírus constantemente.
Muitos deles não são bem adaptados
aos seres humanos, não nos infectam,
pode ter havido um desses vírus
há alguns anos que infectou alguém
que simplesmente não tinha
nenhum contato e o vírus não foi adiante.
Vamos enfrentar situações assim
e precisamos pensar
em como podemos nos antecipar
ao ponto de ter
um pequeno número de casos,
e mesmo algo assim possa ser contido,
em vez de chegar à situação
que temos agora.
CA: Parece que não é a primeira vez
que um vírus surgiu de um mercado
de carne de animais silvestres.
Certamente é assim
que acontece nos filmes.
A China já tomou algumas medidas desta vez
para tentar reprimir isso.
Para o futuro, pode ser uma boa abordagem
manter isso de forma adequada.
AK: É sim, e nos últimos anos,
por exemplo em 2013,
vimos que a gripe aviária H7N9
emergiu como uma grande preocupação,
e a China deu uma resposta muito extensa
em termos de mudar a forma
como operam seus mercados
e a vacinação de aves,
e parece ter removido essa ameaça.
Então, essas medidas podem ser eficazes
se forem identificadas cedo.
CA: Fale sobre vacinas.
Acho que essa é a medida-chave
para alterar o fator
de suscetibilidade de sua equação.
Obviamente, existe uma corrida
para obter essas vacinas,
existem algumas candidatas.
Como você vê isso?
AK: Certamente há pesquisas
promissoras acontecendo,
mas há um prazo
de cerca de 1 ano ou 18 meses
até estarem amplamente disponíveis.
Uma vacina precisa passar
por testes, isso leva tempo,
portanto, mesmo que até o final do ano
tenhamos algo viável e que funcione,
ainda haverá um tempo
até podermos nos apegar a isso.
CA: Isso realmente me intriga,
e adoraria que você respondesse
sobre isso como matemático.
Várias empresas já acreditam
ter possíveis vacinas candidatas.
Como você diz, o processo
de teste leva uma eternidade.
É possível não estarmos pensando
corretamente sobre isso,
quando analisamos como os testes
e os cálculos de segurança são feitos?
Porque uma coisa é introduzir
um medicamento novo ou algo assim,
desejamos testar para garantir
que não haja efeitos colaterais
e pode demorar muito até fazermos
todos os testes de controle, etc.
Mas se existe uma emergência global,
não é o caso,
matemática e eticamente,
de fazer um cálculo diferente?
Em vez de perguntar:
"Existe algum caso em que esta vacina
possa causar danos?",
com certeza deveríamos perguntar:
"Dentro das probabilidades,
não há um caso para aplicar
essa vacina em escala,
e ter uma oportunidade
de cortar isso pela raiz?"
O que estou desconsiderando
ao pensar dessa maneira?
AK: Em outras situações,
como a vacina contra o Ebola em 2015,
em poucos meses vimos evidências
e resultados intermediários
muito promissores em humanos,
mostrando o que parecia
uma eficácia muito alta.
E, apesar de não ter sido
totalmente licenciada,
foi empregada no chamado "uso compassivo"
em surtos subsequentes.
Portanto, existem mecanismos
pelos quais podemos acelerar as vacinas.
Mas claro que hoje estamos numa situação
em que não temos ideia
se essas coisas vão adiantar.
Precisamos acumular evidências suficientes
de que podem ter um impacto,
mas, obviamente, acelerá-las
o máximo possível.
CA: O cético em mim ainda
não entende isso completamente.
Não entendo
por que não se coloca mais energia
em ideias mais ousadas.
Apesar do risco geral, todo mundo parece
incrivelmente avesso a riscos
na hora de formular respostas.
AK: Com a ressalva de que há
bons questionamentos a respeito disso,
e alguns fogem um pouco da minha alçada,
concordo que precisamos fazer mais
para atingir os prazos.
Levamos uns seis meses para escolher
uma cepa sazonal da gripe
e disponibilizar a vacina às pessoas.
Temos que prever com antecedência
quais cepas vão circular.
E é algo que sabemos como fabricar
e o fazemos há muito tempo.
Definitivamente, é preciso fazer mais
para reduzir esses prazos.
Mas precisamos equilibrar isso,
especialmente se um grande número
de pessoas será exposto,
e precisamos ter certeza de que é seguro
e pode trazer algum benefício.
CA: Por fim,
Adam, preciso falar nisso...
Há outras coisas infecciosas acontecendo
em todo o mundo ao mesmo tempo,
que são as ideias e a comunicação
em torno desse vírus.
São realmente dois sistemas
infecciosos dinâmicos e interativos,
há algumas informações
muito prejudiciais por aí.
Pode-se pensar nisso como uma batalha
entre o conhecimento e medidas confiáveis
contra o vírus
e informações ruins?
Parte do que precisamos pensar aqui
é como suprimir um conjunto de coisas
e impulsionar o outro,
na verdade, turbinar o outro.
Como pensar sobre isso?
AK: Podemos pensar como sendo
uma competição por nossa atenção,
da mesma forma que, nas doenças,
os vírus competem para infectar
hospedeiros suscetíveis.
Ao longo dos últimos anos
com notícias falsas, informações erradas
e o surgimento da conscientização,
vemos uma transição para pensarmos
em como reduzir essa suscetibilidade,
se temos pessoas em estágios diferentes,
como podemos usar a informação
para nos anteciparmos.
Obviamente, no desafio de um surto,
no começo temos pouquíssima informação,
e é muito fácil esse vácuo ser preenchido
pela certeza e pela confiança.
Acho que as plataformas estão
desenvolvendo formas de expor o público
à informação de qualidade mais cedo,
para que isso proteja as pessoas
contra outras coisas.
CA: Uma das grandes incógnitas
para mim nesse ano que continua,
digamos que haverá ainda inúmeras semanas,
para muitas pessoas,
de autoisolamento,
para aqueles de nós que têm a sorte
de poder trabalhar de casa.
Mas a grande injustiça dessa situação,
é que há tantas pessoas que não podem
ficar em casa e continuar a ganhar a vida,
e esse será um grande desafio esse ano,
se as taxas de mortalidade forem
muito maiores no segundo grupo
do que no primeiro,
especialmente em um país como os EUA,
onde essas pessoas nem sequer
têm seguro de saúde adequado e tudo mais.
Me parece que, só isso,
já poderia se tornar um grande debate,
e espero que, em algum nível,
seja uma enorme fonte de mudança.
AK: Acho esse ponto muito importante,
porque é muito fácil...
tenho um trabalho que posso
realizar muito bem de forma remota,
é muito fácil dizer que devemos
interromper as interações sociais,
mas claro que isso pode ter
um enorme impacto nas pessoas,
e nas escolhas e na rotina delas.
Isso precisa ser levado em consideração,
agora e daqui a alguns meses
conforme o efeito que houver.
CA: Por fim,
podemos dizer que o mundo enfrentou
problemas muito mais graves no passado,
e que, em qualquer cenário,
é muito provável que dentro
dos próximos 18 meses
uma vacina surja e seja
amplamente distribuída,
e que teremos aprendido muitas outras
formas de lidar com esse problema?
Mas em algum momento,
provavelmente no ano que vem,
o mundo sentirá que atingiu o auge disso
e poderá seguir em frente.
É provável que seja assim,
ou é mais provável que isso escape
e se torne um pesadelo endêmico,
que a cada ano mata mais pessoas
do que a gripe atualmente?
Quais são os prováveis caminhos,
olhando um pouco mais a longo prazo?
AK: Há maneiras plausíveis de ver
cada um desses cenários se descortinando.
Acho que o mais plausível é vermos
um crescimento muito rápido este ano
e muitos surtos grandes
que não necessariamente se repetirão.
Mas há uma sequência de eventos
em potencial que pode levar
a esses múltiplos surtos recorrentes
em diferentes lugares a cada ano.
Mas, provavelmente,
a maior parte da transmissão
estará concentrada no próximo ano.
E então, obviamente,
se houver uma vacina disponível,
podemos superar a situação
e, com sorte, aprender com ela.
Muitos dos países que responderam
fortemente a esse vírus
foram muito afetados pela SARS.
Singapura, Hong Kong,
realmente foram impactados,
e se apoiaram muito nisso
em sua resposta a este vírus.
CA: Certo.
Vamos encerrar encorajando as pessoas
a canalizarem seu matemático interno
para pensar, especialmente,
nas oportunidades
e nas probabilidades de transmissão
que elas podem ajudar a mudar.
Lembre-nos das principais coisas
que você gostaria que as pessoas fizessem.
AK: Individualmente,
apenas pensar muito mais
sobre suas interações
e seu risco de infecção,
que o que vai parar em suas mãos
obviamente pode acabar em seu rosto,
e em como você cria
esse risco para os outros.
Pense também, em termos de interações,
como apertos de mão
e contatos que não precisa ter.
Como podemos reduzi-los o máximo possível.
Se cada pessoa passa o vírus
a duas ou três outras,
como podemos reduzir esse número para um,
através do nosso comportamento.
Provavelmente precisaremos
de intervenções em larga escala,
em termos de reuniões, conferências
e outras coisas em que há
muitas oportunidades de transmissão.
E a combinação desse nível individual,
de reduzir o risco se você está
doente ou com suspeita,
e também trabalharmos juntos
para impedir que o vírus atinja grupos
em que, se continuar descontrolado,
pode realmente atingir
algumas pessoas fortemente.
CA: Sim, há muitas coisas que precisamos
abandonar por um tempo.
E talvez tentar reinventar
os melhores aspectos delas.
Muito obrigado.
Se as pessoas quiserem
acompanhar seu trabalho,
podem seguir você no Twitter, por exemplo.
Qual é o seu usuário?
AK: @AdamJKucharski, tudo junto.
CA: Adam, muito obrigado
pelo seu tempo, fique bem.
AK: Obrigado.
(Música)
CA: Professor associado
e TED Fellow Adam Kucharski.
Gostaríamos muito de saber
o que você achou deste episódio bônus.
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todos os comentários recebidos.
(Música)
O episódio desta semana foi produzido
por Dan O'Donnell na Transmitter Media.
A gerente de produção é Roxanne Hai Lash,
e a verificadora de fatos é Nicole Bode.
Este episódio foi mixado por Sam Bair.
A música tema é de Allison Layton-Brown.
Um agradecimento especial
à minha colega Michelle Quint.
Obrigado por ouvir The TED Interview.
Voltaremos em alguns dias,
com uma nova temporada
de mergulhos profundos com grandes mentes.
Espero que goste deles,
quer a vida volte ao normal ou não.
Sou Chris Anderson,
obrigado por ouvir e fique bem.