WEBVTT 00:00:00.937 --> 00:00:03.214 Quero começar com uma pergunta. 00:00:03.318 --> 00:00:05.639 Onde começa um trabalho artístico? 00:00:06.299 --> 00:00:08.955 Às vezes esta pergunta é absurda. 00:00:09.199 --> 00:00:12.553 Pode parecer enganadoramente simples, 00:00:12.707 --> 00:00:16.397 como quando fiz essa pergunta para esta obra "Planetário Portátil," 00:00:16.421 --> 00:00:18.215 que eu fiz em 2010. 00:00:18.329 --> 00:00:20.104 Eu perguntei: 00:00:20.128 --> 00:00:23.750 "Como seria construir o nosso próprio planetário?" 00:00:24.118 --> 00:00:26.341 Sei que todos perguntam isso todas as manhãs, 00:00:26.365 --> 00:00:28.512 mas eu fiz a mim mesma essa pergunta. 00:00:28.562 --> 00:00:30.196 E enquanto artista, 00:00:30.220 --> 00:00:34.327 pensava no nosso esforço, no nosso desejo, 00:00:34.427 --> 00:00:38.544 na nossa contínua ânsia ao longo dos anos 00:00:38.738 --> 00:00:41.539 de dar sentido ao mundo que nos cerca 00:00:41.563 --> 00:00:43.407 através de materiais. 00:00:43.492 --> 00:00:46.967 E para mim, tentar encontrar esse tipo de fascínio, 00:00:46.991 --> 00:00:52.252 e também uma espécie de futilidade nesta pesquisa muito frágil, 00:00:52.306 --> 00:00:54.159 faz parte da minha arte. 00:00:54.159 --> 00:00:57.244 Então, junto os materiais que encontro ao meu redor, 00:00:57.268 --> 00:01:00.546 Reúno-os para testar e criar experiências, 00:01:00.570 --> 00:01:04.229 experiências imersivas que ocupam salas, 00:01:04.253 --> 00:01:07.229 que ocupam paredes, paisagens, edifícios. 00:01:07.253 --> 00:01:10.707 Mas, ao fim ao cabo, quero que elas ocupem a memória. 00:01:10.987 --> 00:01:13.419 E depois de terminar uma obra, 00:01:13.483 --> 00:01:18.053 percebo que, habitualmente, a memória dela mantém-se na minha mente. 00:01:18.077 --> 00:01:19.867 A memória que guardo 00:01:19.891 --> 00:01:22.511 é a da impressão súbita e singular 00:01:22.555 --> 00:01:25.940 de estar imersa nessa obra de arte. 00:01:25.990 --> 00:01:29.050 Essa impressão permaneceu comigo e reapareceu no meu trabalho 00:01:29.084 --> 00:01:30.622 cerca de dez anos depois. NOTE Paragraph 00:01:30.636 --> 00:01:33.871 Mas eu quero voltar ao meu estúdio na faculdade. 00:01:34.405 --> 00:01:37.892 É interessante que, às vezes, quando começamos uma obra, 00:01:37.916 --> 00:01:40.635 precisamos de fazer tábua rasa de tudo, 00:01:40.635 --> 00:01:42.246 remover tudo. 00:01:42.300 --> 00:01:44.691 Talvez não pareça que fiz tábua rasa aqui, 00:01:44.705 --> 00:01:46.405 mas para mim, parecia. 00:01:46.448 --> 00:01:50.006 Porque estudei pintura durante cerca de 10 anos 00:01:50.030 --> 00:01:51.572 e, quando fui para a faculdade, 00:01:51.572 --> 00:01:54.617 percebi que tinha desenvolvido aptidões, mas não tinha um tema. 00:01:54.621 --> 00:01:56.185 Era como uma aptidão atlética, 00:01:56.205 --> 00:01:58.204 porque eu pintava uma figura rapidamente, 00:01:58.228 --> 00:01:59.820 mas não sabia porquê. 00:01:59.826 --> 00:02:02.173 Até podia pintar bem, mas não tinha conteúdo. 00:02:02.197 --> 00:02:06.047 Então, decidi pôr as pinturas de lado por algum tempo, 00:02:06.071 --> 00:02:08.802 e perguntar: 00:02:08.872 --> 00:02:12.669 "Como e porquê os objetos adquirem valor para nós?" 00:02:12.766 --> 00:02:17.331 "Como é que uma camisa que eu sei que milhares de pessoas usam, 00:02:17.659 --> 00:02:18.962 "uma camisa como esta, 00:02:19.016 --> 00:02:20.793 "como é que sinto que é minha? NOTE Paragraph 00:02:20.843 --> 00:02:22.780 Então, comecei uma experiência, 00:02:22.824 --> 00:02:26.399 decidi recolher materiais que tivessem uma certa qualidade. 00:02:26.463 --> 00:02:29.073 Eram produzidos em série, facilmente acessíveis, 00:02:29.137 --> 00:02:32.236 totalmente concebidos para o fim a que se destinavam, 00:02:32.300 --> 00:02:33.893 e não pela sua estética. 00:02:33.906 --> 00:02:37.077 Coisas como palitos de dentes, pioneses, 00:02:37.101 --> 00:02:39.048 pedaços de papel higiénico. 00:02:39.078 --> 00:02:43.680 Eu queria ver se a energia, o tempo e o trabalho que punha nesses materiais, 00:02:43.704 --> 00:02:48.336 podia criar um certo valor nessa obra. 00:02:48.787 --> 00:02:51.987 Uma outra ideia era que eu queria que a obra ganhasse vida. 00:02:52.021 --> 00:02:54.079 Eu queria tirá-la do pedestal, 00:02:54.133 --> 00:02:55.740 não ter de a emoldurar. 00:02:55.754 --> 00:02:58.395 Queria sentir a experiência 00:02:58.419 --> 00:03:00.471 de não ter de explicar que era importante, 00:03:00.494 --> 00:03:03.539 mas de serem vocês a descobrir que fora feita no vosso tempo. NOTE Paragraph 00:03:03.613 --> 00:03:07.881 Isto é uma ideia muito, muito antiga na escultura: 00:03:08.155 --> 00:03:12.266 Como é que insuflamos vida nos materiais inanimados? 00:03:12.405 --> 00:03:14.604 Portanto, eu ia a um espaço como este, 00:03:14.628 --> 00:03:15.994 onde houvesse uma parede, 00:03:16.028 --> 00:03:17.997 e usava a própria tinta, 00:03:18.021 --> 00:03:20.939 arrancava a tinta da parede, daquela parede pintada no espaço NOTE Paragraph 00:03:20.959 --> 00:03:22.495 para criar uma escultura. 00:03:22.509 --> 00:03:24.505 Porque também me interessava a ideia 00:03:24.549 --> 00:03:27.780 de que esses termos —escultura, pintura, instalação — 00:03:27.804 --> 00:03:31.046 não tinham importância na forma como vemos o mundo. 00:03:31.080 --> 00:03:33.380 Eu queria esbater as fronteiras 00:03:33.404 --> 00:03:36.708 entre os meios artísticos de que os artistas falam, 00:03:36.762 --> 00:03:40.254 mas esbater também a experiência de estar viva e de estar na arte 00:03:40.278 --> 00:03:42.488 para que, quando estiverem no vosso dia a dia, 00:03:42.522 --> 00:03:44.453 ou numa das minhas obras, 00:03:44.477 --> 00:03:48.087 e virem e reconhecerem esse dia a dia, 00:03:48.111 --> 00:03:52.473 poderem transferir essa experiência para a vossa vida, 00:03:52.487 --> 00:03:56.054 e talvez ver a arte na vida quotidiana. NOTE Paragraph 00:03:56.236 --> 00:03:58.338 Eu frequentei a faculdade nos anos 90, 00:03:58.372 --> 00:04:01.149 e o meu estúdio enchia-se cada vez mais com imagens, 00:04:01.173 --> 00:04:02.617 tal como a minha vida. 00:04:02.627 --> 00:04:05.720 Esta confusão de imagens e objetos 00:04:05.744 --> 00:04:09.664 foi uma forma de tentar fazer com que os materiais tivessem sentido. 00:04:09.688 --> 00:04:12.528 Também me interessava saber como é que isso podia mudar 00:04:12.528 --> 00:04:15.402 a maneira como realmente vivemos o tempo. 00:04:15.467 --> 00:04:17.951 Se vivemos o tempo através dos materiais, 00:04:18.021 --> 00:04:22.749 o que acontece quando imagens e objetos se confundem no espaço? 00:04:22.815 --> 00:04:27.082 Comecei então a fazer algumas dessas experiências com imagens. 00:04:27.256 --> 00:04:30.863 E se voltarmos à década de 1880, 00:04:30.927 --> 00:04:34.911 foi aí que as primeiras fotografias começaram a transformar-se em filmes. 00:04:34.965 --> 00:04:39.855 Eram feitos de acordo com estudos de animais, 00:04:39.899 --> 00:04:41.618 com o movimento dos animais. 00:04:41.648 --> 00:04:44.202 Os cavalos nos EUA, as aves em França. 00:04:44.242 --> 00:04:46.079 Eram objetos de estudo de movimentos 00:04:46.107 --> 00:04:48.877 que, lentamente, como zoótropos, se tornavam em filmes. NOTE Paragraph 00:04:48.891 --> 00:04:51.417 Então decidi que ia escolher um animal 00:04:51.445 --> 00:04:53.091 e brincar com essa ideia 00:04:53.161 --> 00:04:57.779 de como a imagem já não é estática, mas tem movimento. 00:04:57.930 --> 00:04:59.353 Move-se no espaço. 00:04:59.387 --> 00:05:03.117 Assim, escolhi a chita como a minha personagem, 00:05:03.171 --> 00:05:07.101 porque é o animal terrestre mais rápido da Terra. 00:05:07.125 --> 00:05:08.678 Ela detém esse recorde, 00:05:08.698 --> 00:05:10.473 e eu quero usar esse recorde, 00:05:10.517 --> 00:05:14.151 para criar uma espécie de régua para medir o tempo. 00:05:14.291 --> 00:05:17.466 Era assim que ela se parecia na escultura 00:05:17.480 --> 00:05:19.349 enquanto que se deslocava no espaço. 00:05:19.383 --> 00:05:22.587 Uma espécie de moldura fragmentada da imagem no espaço, 00:05:22.631 --> 00:05:25.175 porque tive de usar papel de um bloco de notas 00:05:25.229 --> 00:05:27.714 e projetá-la nele. 00:05:27.868 --> 00:05:30.931 Depois fiz esta experiência: trata-se de uma espécie de corrida, 00:05:30.965 --> 00:05:33.623 com novas ferramentas e vídeos para eu experimentar. 00:05:33.687 --> 00:05:35.481 O falcão avança na frente, 00:05:35.495 --> 00:05:37.269 a chita avança em segundo 00:05:37.303 --> 00:05:39.857 e o rinoceronte tenta acompanhá-los. NOTE Paragraph 00:05:40.001 --> 00:05:43.047 Numa outra experiência, pensei em como, 00:05:43.088 --> 00:05:47.231 se tentamos recordar uma coisa que nos aconteceu 00:05:47.255 --> 00:05:49.688 quando tínhamos, por exemplo, 10 anos. 00:05:49.732 --> 00:05:53.250 é muito difícil recordar o que aconteceu nesse ano. 00:05:53.340 --> 00:05:56.103 Pessoalmente, lembro-me de uma ou duas coisas, 00:05:56.137 --> 00:06:00.633 e esse momento preciso expande-se na minha mente 00:06:01.007 --> 00:06:02.608 e preenche o ano inteiro. 00:06:02.662 --> 00:06:05.907 Não vivemos o tempo em minutos ou segundos. 00:06:06.023 --> 00:06:09.517 Isto é um pedaço do vídeo que fiz, 00:06:09.601 --> 00:06:11.591 impresso num papel. 00:06:11.625 --> 00:06:15.150 O papel está rasgado e o vídeo é projetado sobre ele. 00:06:15.323 --> 00:06:17.268 Eu queria brincar com essa ideia 00:06:17.272 --> 00:06:22.160 e ver como, numa completa imersão de imagens que nos envolvem, 00:06:22.800 --> 00:06:28.141 como uma imagem pode aumentar e perseguir-nos. NOTE Paragraph 00:06:29.030 --> 00:06:30.554 Eu tinha todas estas obras. 00:06:30.616 --> 00:06:34.432 Eram três de quase 100 experiências que fiz com imagens 00:06:34.432 --> 00:06:35.758 durante quase uma década. 00:06:35.762 --> 00:06:37.750 Nunca as tinha mostrado e pensei: 00:06:37.828 --> 00:06:41.196 “Como é que posso levá-las para fora do estúdio, 00:06:41.216 --> 00:06:42.804 "para um espaço público, 00:06:42.804 --> 00:06:45.709 "mantendo este tipo de energia próprio da experiência, 00:06:45.733 --> 00:06:49.569 que vemos nos laboratórios, que vemos nos estúdios?” 00:06:49.859 --> 00:06:52.174 Eu tinha uma apresentação à porta e pensei: 00:06:52.234 --> 00:06:55.121 "OK, vou pôr a minha secretária mesmo no meio da sala." 00:06:55.185 --> 00:06:58.800 Então eu levei a minha secretária e coloquei-a na sala. 00:06:58.342 --> 00:07:01.571 Surpreendentemente funcionou, de uma maneira espantosa. 00:07:01.615 --> 00:07:06.484 Havia uma certa cintilação, devido aos ecrãs dos vídeos, ao longe. 00:07:06.518 --> 00:07:08.806 Todos os projetores apontavam para ela 00:07:08.840 --> 00:07:11.312 e criavam o espaço que o rodeava, 00:07:11.356 --> 00:07:14.333 mas éramos atraídos na direção da cintilação, como uma chama. 00:07:14.443 --> 00:07:16.656 Ficávamos envolvidos na obra 00:07:16.710 --> 00:07:19.227 numa escala muito familiar, 00:07:19.261 --> 00:07:24.094 a dimensão de estarmos em frente duma secretária, duma pia ou duma mesa 00:07:24.198 --> 00:07:27.563 e mergulharmos nessa escala, 00:07:27.587 --> 00:07:31.523 nessa escala em tamanho natural do corpo em relação com a imagem. 00:07:31.547 --> 00:07:33.470 Mas nessa superfície, 00:07:33.504 --> 00:07:37.768 tínhamos estas projeções de papéis soprados pelo vento. 00:07:37.792 --> 00:07:40.126 Havia uma confusão 00:07:40.126 --> 00:07:42.550 entre o que eram as imagens e o que eram os objetos. 00:07:42.550 --> 00:07:45.541 Isto era como a obra era vista se fôssemos para uma sala maior. 00:07:45.554 --> 00:07:47.466 Só depois de ter criado esta peça 00:07:47.490 --> 00:07:52.009 é que percebi que tinha criado o interior de um planetário, 00:07:52.323 --> 00:07:54.411 sem sequer me aperceber disso. 00:07:54.515 --> 00:07:58.815 Lembrei-me que, quando era criança, adorava ir ao planetário. 00:07:58.839 --> 00:08:00.583 Nessa época, nos planetários, 00:08:00.627 --> 00:08:03.973 víamos sempre estas incríveis imagens no teto, 00:08:04.014 --> 00:08:07.958 e também víamos o projetor a zumbir e a assobiar, 00:08:07.982 --> 00:08:11.125 e uma câmara incrível no meio da sala. 00:08:11.229 --> 00:08:15.661 Era essa experiência de ver o público em volta, a olhar para cima 00:08:15.735 --> 00:08:18.302 — porque, naquela época, havia um público de roda — 00:08:18.346 --> 00:08:21.133 de vê-lo e fazer parte do público. 00:08:21.157 --> 00:08:24.926 Isto é uma imagem que fui buscar à Internet 00:08:24.960 --> 00:08:28.148 de pessoas que tiraram fotos de si mesmas, junto da obra. 00:08:28.162 --> 00:08:29.516 Eu gosto desta imagem 00:08:29.516 --> 00:08:32.481 porque vemos como as figuras se misturam com a obra. 00:08:32.505 --> 00:08:36.916 Vemos a sombra de um visitante contra a projeção. 00:08:36.950 --> 00:08:39.688 Também vemos as projeções sobre a camisa de uma pessoa. 00:08:39.772 --> 00:08:43.100 Havia autorretratos feitos na própria obra, 00:08:43.104 --> 00:08:44.633 e depois publicados “online”. 00:08:44.673 --> 00:08:48.181 Parecia uma espécie de processo cíclico de criação de imagens. 00:08:48.205 --> 00:08:50.354 Uma espécie de pescadinha de rabo na boca. NOTE Paragraph 00:08:50.450 --> 00:08:53.529 Mas recordou-me e levou-me de novo ao planetário, 00:08:53.553 --> 00:08:55.035 àquele interior, 00:08:55.059 --> 00:08:57.085 e regressei à pintura. 00:08:57.085 --> 00:09:01.061 Pensei em como a pintura para mim, na verdade, 00:09:01.085 --> 00:09:03.969 está ligada a imagens interiores que todos possuímos. 00:09:03.984 --> 00:09:05.938 Temos muitas imagens interiores 00:09:05.982 --> 00:09:09.224 e tornámo-nos concentrados no que existe para além dos nossos olhos. 00:09:09.314 --> 00:09:12.701 Como é que guardamos as nossas memórias? 00:09:12.725 --> 00:09:15.546 Como é que certas imagens surgem do nada 00:09:15.570 --> 00:09:17.818 ou se desfazem com o passar do tempo? 00:09:17.922 --> 00:09:21.118 Comecei a designar esta série a série "pós-imagem", 00:09:21.142 --> 00:09:25.227 numa referência à ideia de que, se fecharmos todos os olhos, agora, 00:09:25.311 --> 00:09:28.054 vemos que existe uma luz trémula que se mantém, 00:09:28.104 --> 00:09:30.117 e quando reabrimos os olhos, ela mantém-se. 00:09:30.171 --> 00:09:31.746 Isto acontece sempre. 00:09:31.800 --> 00:09:37.185 Uma "pós-imagem" nunca pode ser substituída por uma fotografia. 00:09:37.295 --> 00:09:39.625 Nunca sentiremos isso numa fotografia. 00:09:39.755 --> 00:09:43.130 Isto recorda-nos os limites das lentes duma câmara. 00:09:43.178 --> 00:09:46.114 A ideia era obter imagens exteriores a mim 00:09:46.128 --> 00:09:47.759 — isto é o meu estúdio — 00:09:47.809 --> 00:09:51.690 e tentar perceber como é que eu as representava interiormente. NOTE Paragraph 00:09:52.014 --> 00:09:54.480 Então, rapidamente, vou dar uma ideia 00:09:54.502 --> 00:09:58.704 de como poderá evoluir o processo da minha próxima obra. 00:09:58.850 --> 00:10:01.227 Poderá começar com um esboço 00:10:01.371 --> 00:10:03.716 ou uma imagem gravada na minha memória, 00:10:03.740 --> 00:10:07.301 o "Coliseu" de Piranesi, do século XVIII. 00:10:07.760 --> 00:10:10.263 Ou uma maquete do tamanho de uma bola de basquetebol. 00:10:10.283 --> 00:10:12.656 Construí esta em volta duma bola de basquetebol. 00:10:12.696 --> 00:10:14.971 A escala é evidenciada pela caneca vermelha. 00:10:15.027 --> 00:10:18.054 Essa maquete pode colocar-se numa peça maior, como uma semente, 00:10:18.136 --> 00:10:20.526 e essa semente poderá dar origem a uma peça maior. 00:10:20.566 --> 00:10:23.847 E essa peça poderá preencher um espaço enorme. 00:10:24.194 --> 00:10:29.067 Mas poderá culminar num vídeo filmado com o meu IPhone, 00:10:29.257 --> 00:10:33.493 de uma poça em frente do meu estúdio numa noite chuvosa. 00:10:34.370 --> 00:10:38.505 Esta é uma "após-imagem" da pintura feita na minha memória, 00:10:38.575 --> 00:10:42.292 e esta pintura também se poderá desvanecer tal como a memória. 00:10:42.392 --> 00:10:45.656 Esta é a escala duma imagem muito pequena do meu caderno de esboços. NOTE Paragraph 00:10:45.676 --> 00:10:47.254 do meu caderno de esboços. 00:10:47.282 --> 00:10:49.410 Vejam como pode explodir 00:10:49.410 --> 00:10:52.047 numa estação do metro que abrange três quarteirões. 00:10:52.126 --> 00:10:55.086 Podem ver como, descer para a estação de metro, 00:10:55.166 --> 00:10:59.150 se parece com uma viagem pelas páginas de um bloco de esboços. 00:10:59.240 --> 00:11:03.923 Vemos uma espécie de diário duma obra, escrito num espaço público. 00:11:04.268 --> 00:11:07.033 Folheamos as páginas de 20 anos de obras de arte 00:11:07.063 --> 00:11:09.383 à medida que avançamos pela estação do metro. 00:11:09.387 --> 00:11:12.977 Mas até o esboço tem uma origem diferente. 00:11:12.997 --> 00:11:16.267 Tem origem numa escultura 00:11:16.284 --> 00:11:19.074 que sobe à altura de um edifício de seis andares 00:11:19.154 --> 00:11:22.292 que foi escalado por um gato, em 2002. 00:11:22.426 --> 00:11:25.505 Lembro-me disso porque, na altura, tinha dois gatos pretos. 00:11:25.649 --> 00:11:28.130 Esta é uma imagem duma obra do Japão 00:11:28.455 --> 00:11:30.647 que podemos ver em "pós-imagem" no metro. 00:11:30.712 --> 00:11:32.610 Ou uma obra em Veneza, 00:11:32.653 --> 00:11:35.562 onde vemos a imagem gravada na parede. 00:11:35.612 --> 00:11:39.691 Ou a escultura que fiz em 2001 no SFMOMA, 00:11:40.035 --> 00:11:42.364 que criava este tipo de linha dinâmica, 00:11:42.404 --> 00:11:45.182 e que eu roubei para criar uma linha dinâmica 00:11:45.252 --> 00:11:48.081 na descida para o metro. 00:11:48.129 --> 00:11:50.891 Esta fusão de meios interessa-me muito. NOTE Paragraph 00:11:50.921 --> 00:11:54.518 Então, como é que se pode usar uma linha de tensão como uma escultura 00:11:54.518 --> 00:11:56.181 e imprimi-la em papel? 00:11:56.231 --> 00:11:58.846 Ou então usar uma linha como um desenho numa escultura 00:11:58.846 --> 00:12:00.922 para criar uma perspetiva dramática? 00:12:00.967 --> 00:12:04.541 Ou como é que uma pintura pode imitar o processo de impressão? 00:12:04.870 --> 00:12:08.170 Como é que uma instalação usa as lentes de uma câmara 00:12:08.170 --> 00:12:10.270 para enquadrar uma paisagem? 00:12:10.323 --> 00:12:15.428 Como é que uma pintura numa corda pode tornar-se num momento na Dinamarca, 00:12:15.488 --> 00:12:17.858 no meio de um trilho? 00:12:18.072 --> 00:12:20.957 Ou como é que no "The High Line", se pode criar uma peça 00:12:20.977 --> 00:12:23.694 que se camufla na Natureza 00:12:23.754 --> 00:12:27.773 e se torna num "habitat" para a natureza à sua volta? 00:12:28.664 --> 00:12:31.769 Vou terminar com duas obras que estou a fazer neste momento. NOTE Paragraph 00:12:31.819 --> 00:12:33.906 Esta é uma peça chamada "Fallen Sky" 00:12:33.936 --> 00:12:37.304 que vai ser uma instalação permanente no Hudson Valley. 00:12:37.304 --> 00:12:42.232 É como se o planetário descesse finalmente e ancorasse em terra. 00:12:42.728 --> 00:12:46.428 Esta é uma obra de 2013, que vai ser reinstalada 00:12:46.428 --> 00:12:50.066 e começar uma vida nova na reabertura do MOMA. 00:12:50.310 --> 00:12:53.874 E esta é uma obra em que a ferramenta é a escultura. 00:12:54.040 --> 00:12:56.584 O pêndulo, enquanto balança, 00:12:56.634 --> 00:12:59.262 é usado como ferramenta para criar a peça. 00:12:59.538 --> 00:13:02.224 Cada pilha de objetos 00:13:02.274 --> 00:13:07.859 está instalada a um centímetro da ponta do pêndulo. 00:13:08.103 --> 00:13:11.866 Há assim esta combinação da serenidade de um balancear bonito, 00:13:11.906 --> 00:13:16.110 mas também a tensão constante que pode destruir a própria obra. 00:13:16.415 --> 00:13:19.708 Não interessa realmente onde irão acabar estas peças, NOTE Paragraph 00:13:19.738 --> 00:13:22.360 porque, para mim, o importante 00:13:22.494 --> 00:13:25.591 é que elas acabem na vossa memória ao longo do tempo 00:13:25.621 --> 00:13:29.380 e criem ideias para além de si mesmas. 00:13:29.539 --> 00:13:30.777 Obrigada. NOTE Paragraph 00:13:30.993 --> 00:13:35.384 (Aplausos)