Chris Abani reflete sobre a humanidade
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0:00 - 0:05Minha busca é por sempre encontrar formas de narrar,
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0:05 - 0:10de compartilhar e de documentar histórias sobre pessoas, gente comum mesmo.
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0:10 - 0:15Histórias que propõem transformação, que tendem à transcendência,
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0:15 - 0:17mas que nunca são sentimentais,
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0:17 - 0:21que nunca evitam as coisas mais obscuras a nosso respeito.
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0:21 - 0:24Porque eu acredito mesmo que nós nunca somos mais belos
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0:24 - 0:26do que quando estamos mais feios.
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0:26 - 0:30Porque esse é de fato o momento em que nós realmente sabemos do que somos feitos.
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0:30 - 0:35Como o Chris disse, eu cresci na Nigéria
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0:35 - 0:37com toda uma geração - nos anos 80 -
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0:37 - 0:42de estudantes que protestavam contra uma ditadura militar, que finalmente acabou.
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0:43 - 0:45Portanto eu não estava só, havia toda uma geração de nós.
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0:45 - 0:47Mas o que eu vim a descobrir
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0:48 - 0:52é que o mundo nunca é salvo por gestos grandiosos e messiânicos,
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0:52 - 0:59mas pela simples acumulação de atos de compaixão gentis, serenos e quase invisíveis;
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0:59 - 1:01atos de compaixão diários.
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1:01 - 1:07Na África do Sul, tem uma expressão chamada ubuntu.
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1:08 - 1:10Ubuntu surge de uma filosofia que diz
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1:10 - 1:14que a única forma de eu ser humano é você refletir
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1:14 - 1:16minha humanidade de volta em mim.
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1:16 - 1:20Mas se você é como eu, minha humanidade é mais como uma janela.
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1:20 - 1:22Eu não a vejo de fato, eu não reparo nela
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1:22 - 1:25até que haja, vocês sabem, um inseto que está morto no vidro.
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1:25 - 1:29Então de repente eu a vejo, e normalmente nunca é uma coisa boa.
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1:29 - 1:31Normalmente acontece quando eu estou xingando, no trânsito,
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1:32 - 1:35alguém que está tentando dirigir seu carro e tomar café
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1:35 - 1:38e enviar e-mails e fazer anotações.
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1:39 - 1:42Então o que ubuntu realmente diz
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1:42 - 1:47é que não há como nós sermos humanos sem outras pessoas.
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1:47 - 1:50É muito simples mesmo, mas de fato muito complicado.
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1:50 - 1:53Então, eu pensei em começar com algumas histórias.
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1:53 - 1:55Eu gostaria de contar a vocês algumas histórias sobre pessoas notáveis,
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1:55 - 1:57então pensei em começar pela minha mãe.
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1:58 - 1:59(Risadas)
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1:59 - 2:01E ela era escura também.
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2:01 - 2:02Minha mãe era inglesa.
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2:02 - 2:04Meus pais se conheceram em Oxford, nos anos 50,
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2:04 - 2:06e minha mãe foi para a Nigéria e passou a morar lá.
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2:06 - 2:10Ela tinha um metro e meio, muito aguerrida e muito inglesa.
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2:10 - 2:13Veja como a minha mãe é inglesa - ou era, ela faleceu há pouco...
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2:13 - 2:17Ela veio à Califórnia, a Los Angeles, para me visitar,
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2:17 - 2:19e nós fomos até Malibu, que a deixou muito desapontada.
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2:19 - 2:21(Risadas)
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2:21 - 2:23E então nós fomos a um restaurante comer peixe,
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2:23 - 2:26e Chad, o surfista, serviu a gente,
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2:26 - 2:28e ele se aproximou e minha mãe disse,
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2:28 - 2:30"Vocês têm algum prato especial, meu jovem?"
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2:30 - 2:34Ao que o Chad diz: "Claro! Tipo, a gente tem, tipo assim, um salmão
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2:34 - 2:36que é, tipo, enrolado meio que numa crosta de wasabi.
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2:36 - 2:38Totalmente irado."
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2:38 - 2:41E minha mãe virou para mim e disse:
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2:41 - 2:43"Que língua ele está falando???"
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2:43 - 2:44(Risadas)
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2:44 - 2:46Eu disse: "inglês, mãe."
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2:46 - 2:48E ela balançou a cabeça e disse:
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2:48 - 2:50"Ah, esses americanos, nós lhes demos uma língua.
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2:50 - 2:52Por que eles não a usam?"
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2:52 - 2:58(Risadas)
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2:58 - 3:02Então, essa mulher, que se converteu da Igreja Anglicana
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3:02 - 3:04para o catolicismo quando ela se casou com meu pai,
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3:04 - 3:08e não há ninguém mais entusiástico que alguém convertido ao catolicismo,
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3:08 - 3:12decidiu ensinar, nas áreas rurais na Nigéria,
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3:12 - 3:14particularmente entre as mulheres igbo,
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3:14 - 3:16o método de ovulação Billings,
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3:16 - 3:20que era a única forma de controle de natalidade aprovada pela Igreja Católica.
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3:20 - 3:24Mas o igbo dela não era muito bom.
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3:24 - 3:26Então ela me levava junto para traduzir.
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3:26 - 3:28Eu tinha 7 anos.
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3:28 - 3:29(Risadas)
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3:29 - 3:31Então, ali estavam aquelas mulheres
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3:31 - 3:34que nunca tinham discutido suas menstruações com seus maridos,
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3:34 - 3:38e ali estava eu, dizendo a elas: "Bem, com que freqüência você menstrua?"
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3:38 - 3:39(Risadas)
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3:39 - 3:41E: "Você nota alguma secreção?"
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3:41 - 3:42(Risadas)
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3:42 - 3:44E: "A sua vulva está bem inchada?"
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3:44 - 3:49(Risadas)
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3:49 - 3:52Ela nunca teria se considerado uma feminista,
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3:52 - 3:55a minha mãe, mas ela sempre dizia:
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3:55 - 3:58"Qualquer coisa que um homem pode fazer, eu posso consertar."
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3:58 - 4:04(Aplausos)
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4:05 - 4:10E quando o meu pai reclamava desta situação,
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4:10 - 4:12em que ela levava um garoto de sete anos
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4:12 - 4:14para ensinar esse método de controle de natalidade, sabe,
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4:14 - 4:16ele costumava dizer: "Ah, você está transformando ele em...
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4:16 - 4:18você está ensinando ele a ser uma mulher."
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4:18 - 4:20Minha mãe dizia: "Alguém tem que fazer isso."
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4:20 - 4:21(Risadas)
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4:21 - 4:24Essa mulher, durante a Guerra de Biafra
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4:25 - 4:27(nós fomos capturados na guerra:
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4:27 - 4:30minha mãe com cinco crianças pequenas),
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4:30 - 4:33ela levou um ano, de acampamento em acampamento de refugiados,
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4:33 - 4:35para conseguir chegar a uma pista de decolagem de onde poderíamos voar para fora do país.
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4:35 - 4:41Em cada acampamento, ela tinha que encarar soldados
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4:41 - 4:43que queriam levar meu irmão mais velho, Mark, que tinha nove anos,
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4:43 - 4:45e fazer dele um soldado-mirim.
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4:45 - 4:47Você consegue imaginar uma mulher de um metro e meio
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4:47 - 4:50enfrentando homens armados que queriam nos matar?
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4:51 - 4:53Durante todo aquele ano,
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4:53 - 4:56minha mãe nunca chorou, nem uma vez.
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4:56 - 4:58Mas quando nós estávamos em Lisboa, no aeroporto,
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4:58 - 5:00prestes a voar para a Inglaterra,
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5:00 - 5:03uma mulher viu minha mãe vestindo um vestido
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5:03 - 5:07que tinha sido lavado tantas vezes que você praticamente podia ver através dele,
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5:07 - 5:10com cinco crianças com uma cara de fome,
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5:10 - 5:12se aproximou e perguntou a ela o que tinha acontecido.
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5:12 - 5:13E ela contou para essa mulher.
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5:13 - 5:15E então essa mulher esvaziou sua mala
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5:15 - 5:18e deu todas as suas roupas para a minha mãe, e para nós,
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5:18 - 5:21e os brinquedos dos seus filhos, que não gostaram muito daquilo, mas...
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5:21 - 5:22(Risadas)
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5:22 - 5:24Aquela foi a única vez em que ela chorou.
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5:25 - 5:27E eu lembro que, anos depois, eu estava escrevendo sobre a minha mãe
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5:27 - 5:29e eu perguntei para ela: "Por que você chorou naquele dia?"
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5:29 - 5:32E ela disse: "Sabe, você pode blindar seu coração
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5:32 - 5:35contra qualquer tipo de dificuldade, qualquer tipo de horror.
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5:35 - 5:40Mas um simples ato de bondade de um estranho
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5:40 - 5:42te desarma."
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5:46 - 5:50As anciãs da vila do meu pai, depois que essa guerra tinha acontecido,
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5:50 - 5:53memorizavam os nomes de cada pessoa morta
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5:53 - 6:00e cantavam endechas, constituídas com esses nomes.
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6:00 - 6:02Endechas tão melancólicas que machucavam.
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6:02 - 6:06E elas só cantavam quando plantavam o arroz,
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6:06 - 6:08como se estivessem semeando os corações dos mortos
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6:08 - 6:10na forma de arroz.
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6:10 - 6:12Mas, quando chegava o tempo da colheita,
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6:12 - 6:14elas cantavam canções alegres,
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6:14 - 6:16que eram feitas dos nomes de cada criança
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6:16 - 6:18que tinha nascido naquele ano.
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6:19 - 6:23E, na estação de plantio seguinte, quando elas cantavam a endecha,
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6:23 - 6:26elas removiam tantos nomes dos mortos
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6:26 - 6:28quantas foram as pessoas que haviam nascido.
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6:28 - 6:34E, dessa forma, essas mulheres encenaram muita transformação,
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6:34 - 6:36uma bela transformação.
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6:36 - 6:40Você sabia que, antes do genocídio em Ruanda,
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6:40 - 6:43a palavra estupro e a palavra casamento
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6:43 - 6:45eram a mesma?
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6:46 - 6:50Mas hoje as mulheres estão reconstruindo Ruanda.
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6:50 - 6:53Você sabia também que depois do apartheid,
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6:53 - 6:55quando o novo governo entrou nas casas do parlamento,
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6:55 - 6:59não havia banheiros femininos no prédio?
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6:59 - 7:01O que parece sugerir que o apartheid
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7:01 - 7:03era inteiramente assunto de homens.
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7:04 - 7:08Tudo isto para dizer que, apesar do horror, e apesar da morte,
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7:08 - 7:11as mulheres nunca são efetivamente incluídas.
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7:11 - 7:15Sua humanidade nunca parece importar muito para nós.
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7:16 - 7:19Quando eu estava crescendo na Nigéria
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7:19 - 7:21- e eu não deveria dizer Nigéria, porque isso é muito geral,
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7:21 - 7:24mas em Urhobo, a parte igbo do país de onde eu venho -
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7:24 - 7:27sempre havia ritos de passagem para rapazes.
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7:27 - 7:31Os homens eram ensinados a serem homens de maneira a nos distinguirmos das mulheres;
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7:31 - 7:33é disso, essencialmente, que se trata.
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7:33 - 7:37E muitos dos rituais envolviam matar, matar pequenos animais,
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7:37 - 7:39progressivamente. Então, quando eu fiz 13 anos
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7:39 - 7:42- e, quer dizer, fazia sentido, era uma comunidade agrária,
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7:42 - 7:44alguém tinha que matar os animais,
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7:44 - 7:47não havia um supermercado Whole Foods aonde você pudesse ir comprar um espetinho de canguru -
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7:47 - 7:52então quando eu fiz 13, era minha vez de matar uma cabra.
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7:52 - 7:56E eu era uma criança estranha e sensível, que no fundo não conseguiria fazê-lo,
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7:56 - 7:58mas eu tinha que fazê-lo.
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7:58 - 8:00E eu deveria fazer isso sozinho.
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8:00 - 8:02Mas um amigo meu, chamado Emmanuel,
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8:02 - 8:04que era significativamente mais velho do que eu,
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8:04 - 8:06que tinha sido um menino-soldado durante a Guerra de Biafra,
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8:06 - 8:09decidiu ir comigo.
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8:09 - 8:12O que meio que fez com que eu me sentisse bem,
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8:12 - 8:14porque ele tinha visto muita coisa.
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8:14 - 8:16Sabe, quando eu estava crescendo, ele costumava me contar
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8:16 - 8:18histórias sobre como ele baionetava as pessoas
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8:18 - 8:21e seus intestinos caíam, mas elas continuavam correndo.
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8:21 - 8:24Então esse rapaz foi comigo,
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8:24 - 8:27e eu não sei se você já ouviu uma cabra, ou viu uma:
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8:27 - 8:29elas soam como seres humanos;
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8:29 - 8:32é por isso que "tragédia" significa "canção de uma cabra".
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8:32 - 8:37Meu amigo Brad Kessler diz que nós não nos tornamos humanos
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8:37 - 8:39até que começamos a cuidar das cabras.
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8:39 - 8:44Em todo caso, os olhos de uma cabra são como os olhos de uma criança.
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8:44 - 8:46Então quando eu tentei matar uma cabra e não consegui,
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8:46 - 8:51o Emmanuel se curvou, pôs sua mão sobre a boca da cabra
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8:51 - 8:54e cobriu seus olhos, para que eu não tivesse que vê-los
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8:54 - 8:56enquanto eu matava a cabra.
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8:57 - 9:01Aquilo não pareceu ser muito para um rapaz que tinha visto tanto
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9:01 - 9:03- para quem o abate de uma cabra deve ter parecido
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9:03 - 9:05uma experiência tão cotidiana -
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9:05 - 9:09e que ainda assim teve o cuidado de tentar me proteger.
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9:11 - 9:13Eu fui um frouxo.
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9:13 - 9:15Eu chorei por um bom tempo.
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9:15 - 9:17E ele não disse uma palavra depois,
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9:17 - 9:19ele só ficou lá, sentado, me olhando chorar por uma hora.
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9:19 - 9:21E então ele me disse:
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9:21 - 9:26"Sempre vai ser difícil, mas se você chorar assim toda vez,
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9:26 - 9:28você vai morrer de desgosto.
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9:28 - 9:31Apenas saiba que às vezes é suficiente
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9:31 - 9:34saber que é difícil."
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9:36 - 9:39É claro que falar sobre cabras me faz pensar em ovelhas,
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9:39 - 9:41e não de uma forma boa.
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9:41 - 9:43(Risadas)
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9:43 - 9:47Eu nasci dois dias depois do Natal.
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9:47 - 9:50Então, enquanto crescia, eu comia bolo e tudo, sabe,
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9:50 - 9:54mas eu nunca ganhei nenhum presente, porque, nascido dois dias depois do Natal...
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9:55 - 9:58Então, eu tinha uns nove anos, e meu tio tinha acabado de voltar da Alemanha,
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9:58 - 10:01e nós estávamos recebendo o padre na nossa casa,
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10:01 - 10:03minha mãe o estava entretendo com chá,
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10:03 - 10:07e de repente o meu tio diz: "Onde estão os presentes do Chris?"
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10:07 - 10:11e minha mãe disse: "Não fale disso na frente das visitas."
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10:11 - 10:14Mas ele estava afoito por mostrar que tinha acabado de voltar,
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10:14 - 10:16então ele me chamou e disse:
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10:16 - 10:18"Vá até o quarto, o meu quarto.
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10:18 - 10:20Pegue o que você quiser da mala.
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10:20 - 10:22É o seu presente de aniversário."
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10:22 - 10:24Com certeza ele pensou que eu ia pegar um livro ou uma camisa,
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10:24 - 10:27mas eu encontrei uma ovelha inflável.
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10:27 - 10:33(Risadas)
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10:33 - 10:35Então eu a enchi e entrei correndo na sala,
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10:35 - 10:37meu dedo onde não deveria estar,
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10:37 - 10:40e eu sacudia a ovelha, que sibilava, pra lá e pra cá,
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10:40 - 10:43e minha mãe parecia que ia morrer de espanto.
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10:43 - 10:45(Risadas)
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10:46 - 10:49Já o padre McGetrick permaneceu completamente impassivo,
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10:49 - 10:51só mexeu seu chá, olhou para minha mãe e disse:
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10:51 - 10:54"Está tudo bem, Daphne, eu sou escocês."
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10:54 - 10:56(Risadas)
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10:56 - 11:10(Aplausos)
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11:10 - 11:16Meus últimos dias na prisão, os últimos 18 meses...
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11:16 - 11:20Meu companheiro de cela, durante o último ano, o primeiro ano dos últimos 18 meses...
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11:20 - 11:23Meu companheiro de cela tinha 14 anos.
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11:23 - 11:26Seu nome era John James,
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11:26 - 11:30e, naquele tempo, se um membro da família cometesse um crime,
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11:30 - 11:33os militares mantinham você como refém
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11:33 - 11:35até que seu familiar se entregasse.
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11:35 - 11:38Então, lá estava aquele garoto de 14 anos no corredor da morte.
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11:38 - 11:40E nem todos no corredor da morte eram prisioneiros políticos:
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11:40 - 11:43havia algumas pessoas muito más lá.
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11:43 - 11:46E ele tinha conseguido, clandestinamente, dois gibis, duas histórias em quadrinhos:
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11:46 - 11:48Homem-Aranha e X-Men.
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11:48 - 11:49Ele era obcecado.
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11:49 - 11:51E quando ele se cansou de lê-los,
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11:51 - 11:55ele começou a ensinar os homens no corredor da morte a ler
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11:55 - 11:57com essas histórias em quadrinhos.
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11:57 - 12:01E então eu lembro que, noite após noite,
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12:01 - 12:03você podia ouvir todos esses homens, esses criminosos super endurecidos,
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12:03 - 12:08amontoados ao redor do John James, declamando: "Toma isso, aranha!"
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12:08 - 12:10(Risadas)
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12:10 - 12:12É incrível.
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12:13 - 12:15Eu estava muito preocupado.
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12:15 - 12:17Ele não sabia o que o corredor da morte significava.
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12:17 - 12:19Eu tinha estado lá duas vezes,
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12:19 - 12:21e eu estava terrivelmente receoso de que eu fosse morrer.
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12:21 - 12:23E ele sempre ria e dizia:
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12:23 - 12:25"Que isso, cara, a gente vai conseguir sair daqui."
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12:25 - 12:27Então eu dizia: "Como você sabe?"
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12:27 - 12:30E ele respondia: "Ah, um passarinho me contou."
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12:31 - 12:33Eles o mataram.
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12:33 - 12:36Eles o algemaram a uma cadeira
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12:36 - 12:41e pregaram seu pênis a uma mesa com um prego de 15 centímetros.
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12:42 - 12:45E então deixaram ele lá, para sangrar até a morte.
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12:45 - 12:53Foi assim que eu fui parar na solitária, porque eu extravasei meus sentimentos.
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12:54 - 12:59Por todos os lados, em todo lugar, existe gente assim.
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12:59 - 13:05Os igbos diziam que eles construíam seus próprios deuses.
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13:05 - 13:07Eles se reuniam em uma comunidade
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13:07 - 13:10e expressavam um desejo.
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13:10 - 13:12E o seu desejo era então levado a um sacerdote,
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13:12 - 13:15que encontrava um objeto ritualístico,
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13:15 - 13:17e os sacrifícios apropriados eram feitos,
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13:17 - 13:20e um santuário era construído para o deus.
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13:20 - 13:25Mas se o deus se tornasse indisciplinado e começasse a pedir sacrifícios humanos,
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13:25 - 13:27os igbos destruíam o deus.
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13:27 - 13:30Eles derrubavam o santuário
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13:30 - 13:32e paravam de dizer o nome do deus.
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13:32 - 13:37É assim que eles conseguiam recuperar sua humanidade.
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13:37 - 13:39Todos os dias, todos nós que estamos aqui
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13:39 - 13:42estamos construindo deuses que ficaram descontrolados,
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13:42 - 13:45e é hora de começarmos a destruí-los
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13:45 - 13:47e a nos esquecer dos seus nomes.
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13:48 - 13:51Isso não requer nada de extraordinário.
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13:51 - 13:55Tudo o que é preciso é reconhecer entre nós, todos os dias,
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13:55 - 13:58- os poucos de nós que podem ver - que estamos cercados de pessoas
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13:58 - 14:01como aquelas que eu citei.
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14:01 - 14:04Há alguns de vocês nesta sala, pessoas maravilhosas
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14:04 - 14:09que oferecem a todos nós o espelho para a nossa própria humanidade.
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14:10 - 14:15Eu queria terminar com uma poesia de uma poeta americana chamada Lucille Clifton.
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14:15 - 14:20A poesia se chama "Libação", e é para o meu amigo Vusi,
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14:20 - 14:22que está aqui na platéia, em algum lugar.
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14:24 - 14:26Libação,
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14:26 - 14:29Carolina do Norte, 1999.
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14:29 - 14:35"Eu ofereço a este chão este gim.
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14:36 - 14:39Eu imagino um velho chorando aqui,
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14:39 - 14:43longe dos olhos do capataz.
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14:43 - 14:46Ele empurra sua língua por uma lacuna
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14:46 - 14:50onde seu dente estaria, se ele estivesse completo.
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14:51 - 14:55Dói naquele espaço onde seu dente estaria,
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14:55 - 14:58onde sua terra estaria,
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14:58 - 15:04sua casa, sua mulher, seu filho, sua linda filha.
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15:04 - 15:09Ele enxuga a desolação de sua face
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15:09 - 15:13e põe seu dedo sedento em sua língua sedenta
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15:13 - 15:16e prova do sal.
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15:19 - 15:21Eu chamo um nome que poderia ser dele.
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15:21 - 15:25Isto é para você, velho homem:
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15:26 - 15:30este gim, esta terra salgada."
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15:30 - 15:32Obrigado.
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15:32 - 15:51(Aplausos)
- Title:
- Chris Abani reflete sobre a humanidade
- Speaker:
- Chris Abani
- Description:
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Chris Abani conta histórias de pessoas: pessoas encarando soldados, pessoas sendo piedosas, pessoas sendo humanas e recuperando sua humanidade. É o "ubuntu", diz ele: a única forma que tenho de ser humano é você refletir minha humanidade de volta em mim.
- Video Language:
- English
- Team:
- closed TED
- Project:
- TEDTalks
- Duration:
- 15:51