Reparem neste desenho.
Sabem dizer o que é?
Eu sou uma bióloga molecular,
por formação,
e já vi vários desenhos destes.
São conhecidos como figuras-modelo,
um desenho que mostra
como pensamos que ocorre um processo
celular ou molecular.
Este desenho, em particular,
é de um processo designado
endocitose mediada por clatrina.
É um processo através do qual
uma molécula
pode passar do exterior
para o interior da célula,
sendo capturada por uma bolha ou vesícula
que depois é incorporada pela célula.
Há, no entanto, um problema
com este desenho,
essencialmente por causa
do que não mostra.
A partir de várias experiências,
de muitos cientistas,
sabemos muito quanto ao aspeto
destas moléculas,
como se movem nas células,
e que tudo isto acontece
num ambiente incrivelmente dinâmico.
Em colaboração com Tomas Kirchhausen,
um especialista em clatrina,
decidimos criar uma nova
espécie de figura-modelo
que mostrasse tudo isto.
Começamos fora da célula.
Agora estamos a olhar para dentro.
A clatrina consiste nestas
moléculas de "três pernas"
que podem organizar-se em formas
do tipo de bolas de futebol.
Através de ligações com uma membrana,
a clatrina pode deformá-la
e formar esta espécie de taça
com este aspeto de bolha ou vesícula,
que agora capta algumas das proteínas
que estavam fora da célula.
Surgem proteínas que basicamente
destacam esta vesícula,
separando-a do resto da membrana.
Agora a clatrina concluiu a sua função.
Surgem agora proteínas,
— colorimo-las de amarelo e laranja —
responsáveis por separar
esta "gaiola" de clatrina.
Todas estas proteínas podem ser
basicamente recicladas
e usadas várias vezes.
Estes processos são demasiado pequenos
para serem vistos diretamente,
mesmo com os melhores microscópios,
pelo que as animações como esta
possibilitam
um modo poderoso
de visualizar uma hipótese.
Aqui está outra ilustração.
Isto é um desenho de como um
investigador poderá pensar
que o vírus VIH entra e sai das células.
Isto é uma grande simplificação
e já não é suficiente para ilustrar
o que realmente sabemos
sobre estes processos.
Poderão ficar surpreendidos
ao saber que estes simples
desenhos
são a única forma
de a maioria dos biólogos visualizar
as suas hipóteses moleculares.
Porquê?
Porque é difícil criar filmes
dos processos,
tal como pensamos
que realmente ocorrem.
Passei meses em Hollywood a estudar
"software" de animação 3D,
e gastei meses em cada animação.
A maioria dos investigadores
não dispõe desse tempo.
As vantagens podem,
no entanto, ser grandes.
As animações moleculares não têm paralelo
na sua capacidade de transmitir
muita informação
a vastas audiências e com grande precisão.
Estou agora a trabalhar num projeto novo
chamado "A ciência do VIH"
onde farei a animação do ciclo
de vida completo do vírus VIH
de forma tão precisa quanto possível
e com detalhe molecular.
A animação incluirá dados
recolhidos ao longo de décadas
por milhares de investigadores,
dados sobre o aspeto do vírus,
de como consegue infetar
as células do nosso corpo
e de como os medicamentos
ajudam a combater a infeção.
Ao longo dos anos, descobri
que as animações
não são apenas úteis
para comunicar uma ideia,
mas também são muito úteis
para explorar hipóteses.
A maior parte dos biólogos
ainda usa lápis e papel
para visualizarem os processos
que estudam.
Com os dados que temos agora
isso já não é suficiente.
O processo de criar uma animação
pode servir como um catalisador
que permite aos investigadores
cristalizarem e refinarem
as suas próprias ideias.
Um investigador com quem trabalhei,
que trabalha nos mecanismos moleculares
de doenças neurodegenerativas
desenvolveu experiências
diretamente relacionadas com a animação
em que tínhamos trabalhado.
Deste modo, a animação pode trazer
retorno ao processo de investigação.
Acredito que a animação
pode mudar a biologia.
Pode mudá-la no modo como
comunicamos entre nós,
como exploramos os nossos dados,
e como ensinamos os nossos alunos.
Para que essa mudança ocorra,
precisamos que mais investigadores
criem animações.
Para isso, trouxe aqui uma equipa
de biólogos, animadores e programadores
para criarem um "software" novo,
livre e aberto
— chamamos-lhe "Bloco Animado Molecular" —
que foi criado apenas para biólogos,
para criarem animações moleculares.
Nos nossos testes verificámos
que bastam 15 minutos
para que um biólogo, que nunca
utilizou "software" de animação,
possa criar a sua primeira
animação molecular
para a sua hipótese.
Estamos também a criar
uma base de dados "online"
em que todos podem visualizar,
transferir e contribuir
com as suas próprias animações.
É com grande entusiasmo que anunciamos
que a versão beta do "kit" de "software"
de animação molecular
estará hoje disponível
para transferência.
Estamos muito entusiasmados para ver
o que os biólogos criarão com ele
e que novas perceções poderão ganhar
ao poderem finalmente animar
os seus próprios modelos.
Obrigada.
(Aplausos)