Somos feitos de partes bem pequenas, e estamos inseridos num cosmos gigantesco, e a questão é que não somos muito bons em compreender a realidade em qualquer uma dessas escalas, isso porque, nossos cérebros não evoluíram para compreender o mundo nesta escala. Em vez disso, estamos presos nesta fatia bem fina de percepção, bem no meio. Mas é estranho, porque mesmo nesta fatia de realidade que chamamos de lar, não vemos a maioria das coisas que estão acontecendo. Considere as cores do nosso mundo. São ondas de luz, radiações eletromagnéticas refletidas pelos objetos, que atingem receptores especiais no fundo dos nossos olhos. Mas não vemos todas as ondas que existem. Na verdade, vemos menos de 10 trilionésimos de todas que existem. Temos ondas de rádio e micro-ondas, raios X e raios gama que atravessam o seu corpo bem agora, e você está completamente inconsciente disto, porque você não nasceu com os receptores biológicos adequados para capturá-los. Há milhares de conversas de telefones celulares passando através de você bem agora, e você está totalmente cego a isto. Agora, não é que estas coisas sejam inerentemente invisíveis. As cobras registram um pouco de infravermelho em sua realidade; e abelhas registram o ultravioleta em sua visão do mundo; e, é claro, construímos máquinas nos painéis de nossos carros para captar sinais na faixa de frequência de rádio; e construímos máquinas nos hospitais para captar a faixa de raio X. Mas você não pode sentir nenhuma destas faixas por si mesmo, pelo menos ainda não, porque você não vem equipado com os sensores adequados. Agora, o que isto quer dizer é que a nossa experiência da realidade é limitada pela nossa biologia, o que contraria a ideia comumente aceita de que os olhos, ouvidos e as pontas dos dedos captam a realidade objetiva ao nosso redor. Em vez disso, nossos cérebros mostram apenas um pouco do mundo. Agora, no reino animal, vários animais captam partes diferentes da realidade. Então, no mundo cego e surdo do carrapato, os sinais importantes são: a temperatura e o ácido butírico; no mundo do peixe fantasma negro, o mundo sensorial é ricamente colorido por campos elétricos; e para o morcego, que se orienta pelo eco, a realidade é construída a partir das ondas de compressão de ar. Essa é a fatia do ecossistema que eles podem captar e, na ciência, há uma palavra para isto: "umwelt", que é a palavra alemã para "o mundo ao redor". Provavelmente todo animal crê que o seu umwelt seja toda a realidade objetiva existente, pois, por que deveríamos imaginar que há algo além do que podemos sentir? Em vez disso, o que fazemos é aceitar a realidade do modo que nos é apresentada. Vamos deixar isto mais claro. Imagine que você seja um cão da raça sabujo. O seu mundo é só de cheiros. Você tem um longo focinho com 200 milhões de receptores de odor, e narinas úmidas que atraem e aprisionam moléculas de odor; e suas narinas têm fendas para que você possa tomar bastante ar. Tudo está relacionado ao cheiro para você. Então um dia, você para numa de suas trilhas com uma revelação. Olha para o seu dono e pensa: "Como é ter este lamentável e empobrecido nariz de humano?" (Risos) Como é inalar tão pouco ar? Como é possível não perceber que há um gato a 90 metros de distância, ou que o seu vizinho estava neste mesmo lugar há seis horas?” (Risos) Então, porque somos humanos e nunca experimentamos esse mundo do cheiro, não sentimos falta, pois estamos firmemente adaptados ao nosso umwelt. Mas a questão é: "Temos que ficar presos nele?" Como neurocientista, me interesso no modo em que a tecnologia pode expandir o nosso umwelt, e como isto vai mudar a experiência de ser humano. Já sabemos que podemos unir a tecnologia à nossa biologia, porque há centenas de milhares de pessoas andando por aí com audição e visão artificiais. Funciona assim: você pega um microfone e digitaliza o sinal; e você coloca uma tira de eletrodo diretamente no ouvido interno. Ou, com o implante de retina, você pega uma câmera e digitaliza o sinal, então pluga uma rede de eletrodos diretamente no nervo ótico. E, há aproximadamente 15 anos, muitos cientistas pensavam que estas tecnologias não funcionariam. Por quê? Porque estas tecnologias falam a língua do Vale do Silício, e este não é o mesmo dialeto dos nossos órgãos sensoriais naturais. Mas o fato é que funciona; o cérebro descobre como usar os sinais muito bem. Agora, como conseguimos comprender? Bem, aqui está o grande segredo: o cérebro não ouve nem vê nada disto. Ele está trancado num vácuo de silêncio e escuridão dentro do seu crânio. Tudo o que ele vê são sinais eletroquímicos que chegam até ele por meio de vários cabos de dados, e isto é tudo o que ele tem para trabalhar e nada mais. Agora, surpreendentemente, o cérebro é muito eficiente em captar estes sinais, extrair padrões deles e dar-lhes significado, de modo que ele pega o cosmos interno e monta uma história do seu mundo subjetivo. Mas aqui esta o ponto-chave: o cérebro não sabe, e nem se importa com de onde ele retira as informações. Ele tenta descobrir o que fazer com qualquer informação que chega. É um tipo de máquina bem eficiente. É essencialmente um dispositivo de computação de propósito geral, e, simplesmente, capta tudo, e descobre o que tem que fazer, e isto, creio eu, libera a Mãe Natureza para experimentar vários tipos de canais de entrada. Eu chamo isto de modelo de evolução C.B., eu não quero ser muito técnico, mas C.B. significa Cabeça de Batata, e eu uso este nome para enfatizar que todos estes sensores que nós conhecemos e amamos, como nossos olhos, ouvidos e dedos, são meramente dispositivos periféricos “plug-and-play"; você os conecta e estão prontos para serem usados. O cérebro descobre o que fazer com as informações que chegam. E quando você olha para o reino animal, você encontra muitos dispositivos periféricos. As cobras têm fendas de calor que permitem detectar o infravermelho, o fantasma negro tem receptores elétricos e a toupeira-nariz-de-estrela tem um apêndice, com 22 tentáculos, que permite sentir o ambiente e construir um modelo 3D do mundo; vários pássaros têm magnetita, e assim eles podem se orientar pelo campo magnético do planeta. Isto quer dizer que a natureza não tem que, continuamente, reprojetar o cérebro. Em vez disso, com as bases da operação cerebral estabelecidas, tudo o que a natureza precisa é projetar novos periféricos. Certo. Isto quer dizer o seguinte: a lição que fica é que não há nada realmente especial ou fundamental sobre a biologia que nós precisamos discutir. É apenas o que nós herdamos de uma complexa estrada da evolução. Mas não somos obrigados a continuar assim, e nossa melhor prova deste princípio vem do que é chamado de substituição sensorial. Isto refere-se a alimentar o cérebro com informações via canais sensoriais incomuns, e o cérebro simplesmente descobre o que fazer com elas. Bom, isto pode soar especulativo, mas o primeiro artigo demonstrando isso foi publicado na revista Nature em 1969. Um cientista chamado Paul Bach-y-Rita colocou pessoas cegas numa cadeira de dentista modificada, montou uma transmissão de vídeo e colocou algo em frente à câmera, então você sentiria que a suas costas eram cutucadas por uma rede de solenoides. Então se você mexesse uma xícara de café, em frente à câmera, você sentiria isso em suas costas e, surpreendentemente, as pessoas cegas foram muito bem em descrever o que estava em frente à câmera, apenas por sentir isso nas costas. Agora, há vários modelos modernos disso. Os óculos sônicos pegam uma transmissão de vídeo na sua frente e a transformam numa paisagem sônica. Conforme as coisas se movem ao redor, e se aproximam ou se afastam, soa como "buzz, buzz, buzz." Soa como uma cacofonia, mas após algumas semanas, as pessoas cegas começam a ter um bom desempenho na compreensão do que está à sua frente, baseando-se apenas no que estão ouvindo. E não precisa ser através do ouvidos: esse sistema usa uma rede eletrotátil na testa; e tudo o que estiver à frente da câmera será sentido pela sua testa. Por que a testa? Porque você não a usa para nada. O modelo mais moderno é chamado de BrainPort, uma pequena rede elétrica colocada sobre a língua, as imagens são transformadas em pequenos sinais eletrotáteis; e os cegos se adaptaram tão bem que conseguem jogar uma bola na cesta, ou conseguem percorrer rotas complexas com obstáculos. Eles acabam vendo através da língua. Bem, isto soa completamente insano, não é? Mas lembre-se que toda visão é feita de sinais eletroquímicos que viajam pelo cérebro. O cérebro não sabe de onde vêm os sinais, apenas descobre o que fazer com eles. Então, meu interesse no meu laboratório é a substituição sensorial para os surdos, e este é um projeto que eu tenho desenvolvido com um aluno de pós-graduação no meu laboratório, Scott Novich, que está encabeçando-o para a sua tese. E aqui está o que queríamos fazer: queríamos que o som do mundo fosse convertido de modo que um surdo pudesse entender o que lhe foi dito. Dado o poder e a onipresença da computação portátil; queríamos ter certeza de que isso funcionaria em celulares e tablets; e também queríamos torná-lo vestível, algo que se pudesse usar por baixo das roupas. Aqui está o conceito. Conforme eu falo, minha voz é capturada pelo tablet e, então, é mapeada sobre um colete coberto por motores vibratórios, iguais aos motores do seu celular. Conforme eu falo, o som é traduzido para um padrão de vibração sobre o colete. Agora, isto não é apenas conceitual: este tablet está transmitindo em Bluetooth e eu estou usando o colete agora. Então, conforme eu falo, o som é traduzido em padrões dinâmicos de vibração. (Aplausos) Estou sentindo o mundo sônico ao meu redor. Estamos testando isso com surdos agora, e após um curto espaço de tempo, as pessoas começaram a sentir, elas começaram a entender a linguagem do colete. Este é o Jonathan. Ele tem 37 anos e possui mestrado. Nasceu com surdez profunda, o que significa que uma parte de seu umwelt está indisponível. Então, treinamos Jonathan com o colete por quatro dias, duas horas ao dia, e aqui está ele no quinto dia. Scott Novich: Você. David Eagleman: Scott diz uma palavra, Jonathan a sente sobre o colete e a escreve no quadro. SN: Onde. Onde. DE: Jonathan é capaz de traduzir este complicado padrão de vibrações para uma compreensão do que está sendo dito. SN: Toque. Toque. DN: Bem, ele não faz isso... (Aplausos) Jonathan não faz isso conscientemente, porque os padrões são bem complicados, mas seu cérebro está começando a decifrar o padrão que lhe permita descobrir o que os dados significam, e nossa expectativa é de que, após o uso do colete por três meses, ele terá uma experiência perceptiva direta de audição, do mesmo modo que uma pessoa cega, ao passar o dedo sobre o braille, entende o significado direto da página sem nenhum tipo de intervenção consciente. Bom, essa tecnologia tem o potencial para ser um divisor de águas, porque a única outra solução para a surdez é um implante coclear, e isso requer uma cirurgia invasiva. E isso pode ser feito 40 vezes mais barato do que um implante coclear, o que torna essa tecnologia acessível, mesmo para os países mais pobres. Ficamos muito encorajados pelos resultados com a substituição sensorial, mas temos pensado muito sobre a ampliação sensorial. Como podemos usar uma tecnologia como esta para adicionar novos sentidos, expandir o umwelt humano? Por exemplo, poderíamos levar dados da internet, em tempo real, direto para o cérebro de alguém, e esse alguém seria capaz de desenvolver uma experiência perceptiva direta? Este é um experimento no laboratório: um sujeito sente, em tempo real, os dados transmitidos pela internet por cinco segundos. Então, dois botões aparecem e ele tem que fazer uma escolha. Ele não sabe o que está acontecendo. Ele faz uma escolha e recebe feedback um segundo depois. Agora veja, o sujeito não tem ideia do que todos os padrões querem dizer, mas estamos vendo se ele fica melhor em descobrir qual botão deve apertar. Ele não sabe que o que estamos fornecendo são dados, em tempo real, do mercado de ações, e ele toma decisões de compra e venda. (Risos) O feedback lhe diz se ele fez a coisa certa ou não. Estamos vendo que podemos expandir o umwelt humano de modo que ele venha a ter, após várias semanas, uma experiência perceptiva direta dos movimentos econômicos do planeta. Então nós apresentaremos um relatório sobre isso depois para ver como foi. (Risos) Aqui está outra coisa que estamos fazendo: Durante as palestras esta manhã, nós filtramos automaticamente o Twitter com a hashtag TED2015, e fizemos uma análise automatizada de sentimentos, quer dizer: as pessoas usavam palavras positivas, negativas ou neutras? E enquanto tudo acontecia, eu sentia tudo e por isso eu estou plugado à emoção agregada de milhares de pessoas, em tempo real, e isto é um novo tipo de experiência humana, porque agora eu posso saber como todos se sentem e o quanto vocês estão amando isso. (Risos) (Aplausos) É uma experiência maior do que um humano normalmente pode ter. Também estamos expandindo o umwelt de pilotos. Então, neste caso, o colete transmite nove medidas diferentes a partir deste quadricóptero, então balanço, movimento, giro, orientação e o rumo e isso melhora a habilidade de voar do piloto. É como se ele estendesse a pele até lá em cima, bem longe. E isto é só o começo. Pretendemos pegar uma cabine moderna, cheia de medidores, e em vez de tentar ler tudo, você o sentirá. Vivemos num mundo de informação agora, e há uma diferença entre acessar enormes quantidades de dados e experimentá-los. Então, eu acho que não existe um fim para as possibilidades no horizonte para a expansão humana. Imagine um astronauta sendo capaz de sentir a saúde geral da Estação Espacial Internacional, ou, por falar nisso, você sentir o status invisível da sua própria saúde, como o açúcar no sangue e o estado do seu microbioma; ou ter uma visão de 360 graus; ou ver em infravermelho, ou ultravioleta. Então a questão é que, conforme nos movemos para o futuro, seremos cada vez mais capazes de escolher nossos dispositivos periféricos. Não teremos mais que esperar pelos presentes sensoriais da Mãe Natureza com seus prazos, porém, como qualquer boa mãe, ela nos deu as ferramentas necessárias para definirmos nossa própria trajetória. Então a questão agora é: Como você quer sair e experimentar o seu universo? Obrigado. (Aplausos) Chris Anderson: Está sentindo isso? DE: Estou. Na verdade, esta foi a primeira vez que eu senti aplausos no colete. É legal! É como uma massagem. (Risos) CA: O Twitter está bombando. O experimento com o mercado de ações seria o primeiro experimento a assegurar o próprio financiamento para sempre, se for bem-sucedido, certo? DE: Isso mesmo. Eu não teria que escrever mais para o INS. CA: Veja, sendo um pouco cético, quero dizer, isso é incrível, mas há evidência até o momento de que a substituição sensorial funciona, mas não necessariamente a adição sensorial. Bem, não é possível que uma pessoa cega possa ver através da língua porque o córtex visual ainda está lá, pronto para processar, e que isso seja uma parte necessária? DE: Ótima pergunta. Na verdade, não temos ideia de quais são os limites teóricos de que tipos de dados o cérebro pode assimilar. O fato é que ele é extremamente flexível. Quando uma pessoa fica cega, o que chamávamos de córtex visual é ocupado por outras coisas, pelo tato, audição, vocabulário. Isto nos mostra que o córtex tem um repertório limitado. Ele apenas faz alguns tipos de cálculos sobre as coisas. E quando olhamos ao redor para coisas como o braille, por exemplo, as pessoas obtém informações nos dedos através de protuberâncias. Então, eu não acho que há razão para pensar em limites teóricos que nós conhecemos. CA: Se isto for comprovado, você ficará sobrecarregado de trabalho. Há muitas aplicações para isso. Você está preparado? O que mais o anima nisto, o rumo que pode tomar? DE: Eu creio que há várias aplicações aqui. Além da substituição sensorial, as coisas que eu tinha começado a falar, sobre os astronautas na estação espacial; eles gastam muito tempo monitorando coisas e, em vez disso, poderiam sentir o que está acontecendo, porque isto é muito bom para dados multidimensionais. A questão é que nosso sistema visual é bom em detectar manchas e bordas, mas é péssimo para o nosso mundo atual cheio de telas com uma infinidade de dados. Temos que rastrear isso com o nosso sistema de atenção. Isto é só um jeito de sentir o estado de algo, assim como você sabe qual é o estado do seu corpo quando em repouso. Eu acho que a maquinaria pesada, segurança, sentir o estado de uma fábrica, do seu equipamento, é algo que acontecerá em breve. CA: David Eagleman, esta foi uma palestra alucinante. Muito obrigado. DE: Obrigado, Chris. (Aplausos)