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A Arte em Questão 5 : "Rembrandt - O Retorno do Filho Pródigo"

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    A Arte...
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    ...em questão.
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    Um jovem.
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    Um velho.
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    Testemunhas.
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    Um quadro de Rembrandt.
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    Uma cena tocante de reencontro?
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    Não é só isso.
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    Trata-se da história do "Filho Pródigo", extraída do Novo Testamento.
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    Depois de ter deixado a sua família
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    e delapidado a sua herança com mulheres e farras,
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    ele passa pela experiência da miséria como
    tratador de porcos,
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    e regressa para a casa do seu pai...
  • 0:47 - 0:50
    ...que, surpresa das surpresas, o acolhe
    de braços abertos...
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    e lhe sacrifica um novilho cevado...
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    suscitando o ciúme do seu irmão mais velho,
    trabalhador e fiel.
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    Curiosa justiça!
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    Um arrependimento tardio,
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    apaga a infidelidade e o deboche?
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    Vale mais do que uma vida de virtude?
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    Trata-se, com efeito, de exprimir os critérios
    especiais da justiça divina:
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    "Deus regozija-se mais com uma conversão
    do que com 99 justos."
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    Mas em Rembrandt
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    a história e o quadro parecem voluntariamente
    obscurecidos.
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    Nenhum sinal religioso, nenhuma presença divina.
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    Qual é a ideia?
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    Porque a ligação com Deus é evidente e implícita?
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    Ou, pelo contrário, porque Rembrandt quis
    adicionar alguma coisa no sentido religioso?
  • 1:38 - 1:43
    Episódio 5: REMBRANDT - "O Retorno do Filho Pródigo"- "A força do lado obscuro."
  • 1:44 - 1:46
    Parte 1: "A arte de obscurecer."
  • 1:47 - 1:51
    O que resta verdadeiramente da história
    do filho pródigo?
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    Em primeiro lugar, o filho!
  • 1:53 - 1:56
    De pés nus e sapatos gastos,
  • 1:56 - 2:00
    roupas descosidas, revelando as pernas.
  • 2:00 - 2:04
    Uma simples corda a fazer de cinto.
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    Crânio rapado e avermelhado
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    Rosto emaciado, pálpebras inchadas,
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    de joelhos, ele conheceu a decadência e a vergonha.
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    É um corpo de mártir.
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    A seguir, o pai:
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    Um homem possante e experimentado:
    furiosas pinceladas brancas,
  • 2:22 - 2:24
    cabelos e barba.
  • 2:24 - 2:28
    Um homem sábio e calmo; os lábios unidos
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    um olho virado para o filho, o outro abstraído
    num pensamento.
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    Um homem rico e amante: as suas vestes aquecem,
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    auréolam o rosto de vermelho,
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    desposam a curva do seu crânio.
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    As mãos reconfortam e tratam:
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    uma, fina e clara,
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    a outra, mais escura e robusta.
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    O pai envolve literalmente o seu filho.
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    O essencial está aqui, nesta cena de teatro
    em miniatura!
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    Dir-se-ia que as outras personagens são figurantes!
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    O filho mais velho, com o mesmo manto
    vermelho do pai.
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    No limiar de um alpendre acolhedor, dois servos.
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    Ao fundo, uma mulher com um pingente vermelho
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    Nada de estranho?
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    Comparemos com esta representação mais tradicional:
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    Aqui, pai e filho olham-se reciprocamente,
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    os servos trazem vestes novas,
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    os sapatos e o anel pedidos pelo pai
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    enquanto se conduz alegremente o novilho
    para o matadouro.
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    Aqui, os símbolos do sagrado abundam:
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    o sacrifício do novilho evoca o de Cristo,
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    o cão branco, a pureza e a fé.
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    Tudo é perfeitamente "claro", isto é, "didático"...
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    Trinta anos antes, Rembrandt inscrevia-se
    na mesma linha:
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    lá atrás, levam-se as vestes, abre-se uma
    portada da janela
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    à frente, a vista de perfil oferece o máximo
    de legibilidade:
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    um sapato perdido... o cajado caído...
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    ...o irmão mais velho está ausente...
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    o corpo do filho está tão miserável,
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    o seu rosto tão marcado
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    que o perdão do pai parece quase "merecido".
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    Tudo está literalmente como na história bíblica.
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    Mas é esse, verdadeiramente, o seu espírito?
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    Aqui, não há um "depois":
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    as personagens parecem sideradas,
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    sem ação em curso, nem intenção clara.
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    E para qualquer traço de um "antes",
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    este baixo-relevo está apenas esboçado.
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    Ele condensa o episódio do deboche com o da queda:
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    com a espada à cintura, o filho pródigo toca flauta,
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    enquanto aos seus pés, à sua espera...
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    dois suínos!
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    Colocado de costas,
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    é impossível ler a miséria e o arrependimento
    do filho:
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    o perdão do pai parece, portanto, não correspondido.
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    Rembrandt esvazia a narração e as efusões sentimentais
  • 4:57 - 4:58
    que banalizam a cena
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    e a fazem reentrar na ordem "normal" das coisas.
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    E para ser ainda mais perturbante, o pintor interpela o espetador:
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    Por um lado, ele joga com a identificação,
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    pois, que temos nós, primeiro, diante dos olhos?
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    Os pés do filho, cuja posição partilhamos.
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    Por outro lado, ele introduz elementos perturbadores.
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    Porque os rostos nos interrogam:
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    - teriam sido vocês generosos como o pai...
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    ...ou ficariam à margem, no limite da mesquinhez...
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    como o filho mais velho?
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    Mas então, porquê desenvolver esta identificação do espetador...
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    num quadro que não foi feito para uma igreja...
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    e que Rembrandt guardou no seu atelier
    até à sua morte?
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    Parte 2: "O filho pródigo era um pintor."
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    Vinte e oito anos antes, Rembrandt pintou a sua primeira visão da parábola:
  • 5:50 - 5:53
    a popular cena do deboche.
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    Ricamente vestido,
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    em plena farra,
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    num bordel luxuoso,
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    com uma prostituta sentada nos joelhos,
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    o filho pródigo convida-nos a saborear
    os prazeres de uma vida faustosa...
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    ...e a provar este pavão, símbolo do luxo e da vaidade!
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    Rembrandt inscreve-se numa tradição holandesa:
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    a coberto da cena bíblica e da denúncia moral
    dos prazeres,
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    pormenoriza-se a representação destes, com deleite.
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    Mas a cena ganha uma outra dimensão...
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    ...quando se sabe que se trata de um autorretrato.
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    Este não é um caso isolado:
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    os seus confrades representam-se nas tabernas...
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    e Dürer desenha-se no meio de suínos...
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    ...Rembrandt dá à prostituta os traços de Saskia van Uylenburgh,
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    a sua própria mulher!
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    Ele faz desta tela, a ilustração irónica
    do seu novo estatuto:
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    graças à sua riquíssima esposa, que ele exibe orgulhosamente...
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    ...ele obtém o direito de trabalhar em Amesterdão
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    ...onde as encomendas se multiplicam...
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    ...ele compra uma soberba casa num bairro elegante...
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    ...e desenvolve uma coleção.
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    Mas, ao se retratar como filho pródigo,
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    Rembrandt assume as suas tendências dissipadoras
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    e faz de Saskia, retraída, o olhar elevado, a força moderadora do casal.
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    Mas ele também é premonitório...
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    Em 1642, Saskia morre.
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    Dezasseis anos mais tarde, Rembrandt
    está arruinado,
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    a sua casa e bens vendidos,
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    e a sua reputação está afetada,
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    com o nascimento de uma criança fora do casamento,
    da sua nova companheira.
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    As encomendas acabam
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    e quando Hendrickje, morre em 1663,
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    o paralelo pessoal com o filho pródigo arrependido
    torna-se evidente:
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    sozinho, arruinado, ostracizado pela Igreja,
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    o pintor aspira voltar a juntar-se à comunidade
    de crentes
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    e aos braços de Deus.
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    Ele manifesta também a sua fé protestante
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    abrindo-lhe o seu coração sem nada implorar:
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    apenas Deus, na sua infinita liberdade, lhe concederá
    ou não a Sua graça.
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    Parte 3: "A força das trevas."
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    Mas o quadro não ficou célebre
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    por causa da identificação de Rembrandt com
    o filho pródigo.
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    Na rica República das Sete Províncias-Unidas
    dos Países Baixos,
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    é a clientela burguesa que constitui o mercado.
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    E ela quer que as obras religiosas se integrem nas suas paredes forradas de quadros...
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    ...interpelando o espetador
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    numa relação com "a vida quotidiana".
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    Ou, para encenar a história religiosa,
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    Rembrandt inova de duas maneiras.
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    Primeira estratégia: "utilizar a perspetiva
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    para aproximar a história religiosa da vida contemporânea."
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    Em Lucas de Leyde, "O julgamento de Cristo" situa-se numa paisagem urbana contemporânea
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    por trás de uma multidão.
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    Com Pieter Aersten e Joachim Beuckelaer,
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    uma "Fuga para o Egito" ou um "Filho Pródigo debochado"
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    figuram por trás de apetitosas bancas dos mercados.
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    E em Bruegel, o tema essencial, "Cristo levando a cruz" ou "São Paulo",
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    tornam-se detalhes no meio da multidão.
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    A vantagem é clara: o espetador participa mais.
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    Ele tem de decifrar,
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    de se interrogar,
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    de reinterpretar o que o atraiu ao primeiro olhar
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    ...à luz de um acontecimento religioso.
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    Melhor: este último parece mais "verdadeiro"
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    porque tem uma ligação com um "mundo"
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    semelhante ao dos espetadores.
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    Rembrandt aprecia estes efeitos de perspetiva.
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    Mas, em comparação com Van Leyden, ele escolhe um enquadramento mais cerrado e mais frontal
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    e acaba por substituir a multidão no centro
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    por misteriosas aberturas.
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    As duas imagens têm, cada uma, a sua teatralidade:
  • 10:02 - 10:05
    Uma tem o lado "épico e vivo" do teatro medieval;
  • 10:07 - 10:13
    a outra, o "mistério e a intemporalidade" de
    um instante suspenso.
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    É à segunda categoria que pertence "O Filho Pródigo":
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    com as suas linhas de fuga, dirigidas tanto
    ao pai como ao filho,
  • 10:22 - 10:24
    o grande alpendre sombrio,
  • 10:24 - 10:28
    as suas personagens principais descentradas,
    como que afastadas
  • 10:28 - 10:31
    e os seus rostos com uma identidade incerta.
  • 10:32 - 10:39
    Segunda estratégia: "Abanar violentamente o espetador, através de uma teatralidade exarcebada."
  • 10:39 - 10:42
    É a teatralidade de Caravaggio, cujo estilo foi imitado
    na Holanda.
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    Rembrandt é o seu herdeiro indireto:
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    - reduzido número de personagens;
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    - efeitos de luz violentos como de holofotes;
  • 10:51 - 10:56
    personagens colocadas em primeiro plano, para
    uma identificação imediata.
  • 10:58 - 11:03
    Graças à escuridão, Rembrandt consegue unir
    dois tipos de teatralidade:
  • 11:03 - 11:07
    - a que "abana" o espetador, simplificando
    a composição...
  • 11:07 - 11:09
    - ...e a que o faz "participar",
  • 11:09 - 11:14
    deixando-o "entrever um mundo" que dá largas
    à sua imaginação.
  • 11:15 - 11:20
    Próximo episódio: "Os Embaixadores", de Holbein - "Do amor de um pai ao amor de si próprio?"
  • 11:20 - 11:26
    Mais informações em: www.canal-educatif.fr
  • 11:26 - 11:29
    Realizado por:
  • 11:29 - 11:32
    Produzido por:
  • 11:32 - 11:35
    Consultor científico:
  • 11:35 - 11:38
    Este filme existe graças ao apoio de mecenas (porque não você?) e do Ministério Francês da Cultura e da Comunicação.
  • 11:38 - 11:41
    Voz-off:
  • 11:41 - 11:44
    Montagem e videografismo:
  • 11:44 - 11:47
    Pós-produção e Som:
  • 11:47 - 11:50
    Seleção musical:
  • 11:50 - 11:53
    Música:
  • 11:53 - 11:56
    Créditos das fotografias:
  • 11:56 - 11:59
    Agradecimentos:
    Tradução: Isabel Vaz Belchior
  • 11:59 - 12:01
    Uma produção CED
Title:
A Arte em Questão 5 : "Rembrandt - O Retorno do Filho Pródigo"
Description:

Sem descrição.

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Video Language:
French

Portuguese subtitles

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